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Kamau lança videoclipe da música “Só”

Kamau lança seu primeiro videoclipe (Por Luciana Faria)“Minha culpa, meu mérito”

Realmente o rap tem mostrado que se não dá pra vencer no tempo normal de jogo, manda os onze pra área que a chance de gol é grande. Enquanto uns já pensam em férias (e incluam o Per Raps nessa!), outros ainda estão trabalhando.

Não bastasse os videos de DBS e a Quadrilha, Relatos da Invasão, Pentágono, Emicida, Slim Rimografia, MV Bill e Casa di Caboclo, quem chega agora é Kamau. Em um clipe que traduz muito a letra do som escolhido, “Só”, o MC é o único que dá as caras, conduzindo seu caminho.

Em versão “revisitada” com beat produzido por Nave, o clipe exalta ainda mais o trabalho realizado em “Non Ducor Duco” e fecha bem 2009. Na direção, Fred Ouro Preto, o mesmo responsável por “Triunfo”, de Emicida, que fez barulho e dispensa comentários.

Para ler mais a respeito do clipe, acesse a matéria do site NOIZ.
Leia também sobre os lançamentos de Kamau no blog Boombap-Rap.
Quer ouvir o som novo (“21/12”) de Kamau, produzido por Renan Samam e scratches do Dj Erick Jay? Clique aqui.

Artista: Kamau
Música: Só (Remix)/ Produzido por Nave (CWB)
Direção e Câmera: Fred Ouro Preto
Fotografia e Câmera: Carina Zaratin


Linha do tempo do rap nacional (parte III)

Segue a terceira e derradeira parte da nossa linha do tempo do rap nacional, que inclui algumas de nossas previsões para o ano de 2010. Saca só:

2008 – Pouquíssimos lançamentos de discos marcaram o ano. Entre eles, o que mais chamou a atenção foi o primeiro disco solo de Kamau, Non Ducor Duco, que fez parte da lista dos melhores 25 álbuns do ano pela revista Rolling Stone. Aos 45 minutos do segundo tempo, nos últimos dias do ano, o Pentágono veio com seu segundo disco, Natural, firmando o grupo como um dos principais expoentes da nova escola.

Com o disco de Doncesão, chamado Primeiramente, Dj Caíque se firmou na cena rap nacional como um dos grandes produtores do momento, além de liderar o selo 360 Graus Records, que já se mostrou muito produtivo nos primeiros anos de existência, proporcionando diversos lançamentos. Ainda falando de produção musical, o ano foi marcante para a cena de Curitiba, que se mostrou bastante proeminente, com destaque para os beatmakers Dario e Nave, responsável pelo instrumental da música “Desabafo”, do disco A Arte do Barulho, de Marcelo D2, uma das canções mais executadas do ano em todo o país.

O ano marcou também a perda de um dos nossos melhores disc-jóqueis e um dos grandes agitadores da cena nacional, o Dj Primo, vítima de uma pneumonia. Primo era também o Dj residente do recém criado programa Manos e Minas, na TV Cultura, primeiro espaço criado na televisão brasileira desde o fim do Yo! MTV.

DJ Primo

DJ Primo (foto retirada do blog do Jornal do Brasil)

Outros álbuns importantes: RenegadoDo Oiapoque a Nova York; SombraSem Sombra de Dúvida; Projeto ManadaUrbanidades; Enézimo – Um cara de sorte; Subsolo – Ordem de Despejo;

2009Emicida é o nome da fera, o dono de 2009. Ele já começou o ano com o status de “melhor MC de freestyle” do país e, com o lançamento da mixtape Pra quem já mordeu um cachorro por comida, até que eu cheguei longe – parafraseamos aqui o próprio e confirmamos – chegou ainda mais longe. Concorreu a prêmios na MTV, concedeu dezenas de entrevistas (tanto para a mídia alternativa quanto para a ‘grande’ mídia) e fez shows pelo Brasil inteiro. Indiretamente, trouxe fôlego para a cena e teve um papel fundamental para que outros artistas do gênero ganhassem espaço em casas de shows e afins.

Big Ben Bang Jhonson

O rapper MV Bill também teve um ano bem agitado em 2009: lançou o DVD ao vivo com banda Despacho Urbano, além de alguns clipes novos e diversas aparições na grande mídia. Outra novidade que balançou os ânimos dos fãs de rap foi a criação do coletivo Big Ben Bang Johnson, grupo idealizado especialmente para shows ao vivo e que conta com alguns dos principais representantes do rap paulista: Mano Brown, Ice Blue, Helião, Sandrão, Dj Cia, Dom Pixote, Du Bronks, entre outros.

O ano deixou a desejar, mais uma vez, na questão dos lançamentos, com pouquíssimos discos inteiros colocados na rua. A escassez pode indicar também uma mudança de tendências do mercado musical, com a criação e utilização de novos formatos, mas é algo que só teremos a confirmação nos próximos anos. Em compensação, tivemos ótimos videoclipes. O rap acompanhou a tecnologia da alta definição e lançou pérolas como Qui nem Judeu, de DBS e a Quadrilha, Picadilha Jaçanã, do Relatos da Invasão, É o Moio e Multicultural, do Pentágono, Triunfo, de Emicida, Sol, de Slim Rimografia, e O Tempo, do Casa di Caboclo, todos contando com uma excelente produção e se equiparando ao que de melhor existe em termos de videoclipe na música brasileira.

2010 – O fim do ano chegou e, com ele, as promessas de que 2010 será ‘o ano do rap’. Todos os (pelo menos) últimos dez anos foram anunciados por alguém como ‘o ano do rap’ e alguns deles realmente chegaram perto de se tornar realidade. O momento porém, não é dos mais propícios. O rap perdeu espaço nas periferias do país para o funk e o sertanejo, por exemplo, músicas com maior apelo popular. No entanto, a cena se encontra em um momento muito especial, tanto pela sua capacidade criativa, quanto pela sua imagem perante à mídia e à população em geral.

Durante este ano, não foi nada raro encontrar pessoas de estilos totalmente diferentes daqueles que estamos acostumados a ver em shows de rap. O rap está se tornando mais interessante pra muita gente. Porém, o público-alvo, que sempre foi a periferia, se diluiu bastante, e a periferia pouco conhece e acompanha o tipo de música que estamos acostumados a divulgar aqui no Per Raps, por exemplo. Como resgatar esse público? Não sabemos a resposta, mas o disco novo dos Racionais, prometido para 2010 por Mano Brown na entrevista para a Rolling Stone, pode ajudar a formular esse quebra-cabeça.

Fora esse, outros vários discos são aguardados ansiosamente pela cena, muitos deles com potencial para colocar a engrenagem para funcionar a todo vapor novamente. Entre os principais, estão o do RZO, Marechal (RJ), Don L., do Costa a Costa (CE) e um disco póstumo de Sabotage. Mas há muita gente surgindo por aí e a promessa é a de um ano recheado de bons lançamentos.

Nossas apostas?

Ataque Beliz (DF)

Criolo Doido

Gasper (GO)

Ogi

Rashid

Rincon Sapiência

Savave (PR)


Os shows de domingo (06/12) do Indie Hip Hop ‘09

Finalmente, a parte II do Indie Hip Hop 2009. Desta vez, você acompanhará videos feitos no domingo (06/12), dia da apresentação do coritibano Nel Sentimentum, os cariocas d”A Filial, além do encontro entre Parteum com Kamau e do Elo da Corrente junto do Mamelo Sound System.

Para você que quer relembrar ou de repente trocou o festival pela rodada final do Brasileirão, o churrasco na casa do vizinho ou assistiu o Indie no sábado e não conseguiu ingresso pro domingo, disponibilizaremos um vídeo de cada apresentação. Em breve, traremos um balanço final do Indie Hip Hop 2009.

De quebra, acompanhe também imagens do painel montado pela dupla OSGEMEOS. Curte aê!

Obs: O áudio da apresentação de Pateum e Kamau não está dos melhores por problemas técnicos, mas vale pelo registro do importante momento.

Mural OSGEMEOS

Nel Sentimentum (CWB)

A Filial (RJ)

Parteum e Kamau

Elo da Corrente e Mamelo Sound System


Dia da Consciência Negra ’09

O dia 20 de novembro foi escolhido para representar o Dia da Consciência Negra no Brasil. O motivo: nessa mesma data, em 1695, morria Zumbi os Palmares, símbolo da resistência negra em uma época em que a escravidão negra dominava o país. Desde lá, segue a luta pela igualdade, tendo a cultura hip hop como um forte braço. O Per Raps destacou abaixo algumas atividades bem interessantes que vão rolar por diversos pontos no Brasil.

Em 2009,mais de 300 cidades adotaram o Dia da Consciência Negra. O feriado ainda não é considerado nacional e será facultativo em algumas cidades. Confira a lista das cidades que aderiram ao feriado.

[Alagoas, Jaraguá]
Em Alagoas, entre os dias 16 e 20, acontece no Museu da Imagem e do Som de Alagoas (Misa), em Jaraguá, o projeto Misa Acústico 2009. Na sexta-feira (20), Dia Nacional da Consciência Negra, o público confere a apresentação da Orquestra de Tambores, que será realizada na Praça Dois Leões, em frente ao Misa.

Todos os shows da programação estão marcados para as 20h30. Os ingressos custam R$ 5 (inteira) e R$ 2 (meia). O espetáculo da Orquestra de Tambores, na praça, será de graça.

[Bahia, Salvador]
Na Bahia, em Salvador, acontece no dia 24 de novembro (terça-feira), um ciclo de palestras e debates com os temas. Os temas serão diversos, entre eles: “A vida e obra de Lima Barreto”, “A importância de Cruz e Souza para Literatura Brasileira”, “Mestre Bimba: Símbolo da Cultura Nacional” e “A Revolta da Chibata”. Tudo acontecerá na Universidade Católica, na Avenida Joana Angélica, na Lapa, das 08h às 16h. Além disso, rola o lançamento do livro “Capoeira Angola: Educação Pluriétnica, Corporal e Ambiental”, do autor Jorge Conceição, às 16h.

No dia 28 de novembro (sábado), acontece o lançamento do CD do grupo de Rap Nova Saga, na Praça Tereza Batista, Pelourinho, às 19h, de graça.

[Paraná, Irati]
No Paraná, rola o “Seminário Identidade e Território: Negros na região Sul”, na cidade de Irati. De 16 a 20 de novembro, na Universidade Estadual do Centro-Sul, será feita uma reflexão crítica sobre a influência étnico-racial e a educação a serviço da diversidade na região centro-sul do Paraná, marcada pela imigração alemã, italiana, polonesa e ucrâniana. Endereço: PR 153, Km 7, Riozinho.

[Rio de Janeiro, Rio de Janeiro]
No Rio de Janeiro, rola um programa cultural com mostra de cinema com a “trilogia negra“, de Cacá Diegues no Centro Cultural Parque das Ruínas, em Santa Teresa, no centro, a partir da sexta-feira (20). Os filmes Gamba Zumba, Quilombo e Xica da Silva vão ser exibidos em três sessões diárias, até o domingo (29). A mostra inaugura a sala de cinema do centro com 80 lugares e terá entrada franca.

No Dia da Consciência Negra, a programação começa às 6h30 com a lavagem do Busto de Zumbi, na Praça 11, no centro do Rio, por integrantes do afoxé Filhos de Gandhi, e segue até as 19h, com shows de Arlindo Cruz, da bateria da Mangueira e da Acadêmicos do Cubango.

[São Paulo, São Paulo]
Em São Paulo, para entrar no clima do Dia da Consciência Negra, nada melhor que curtir nesta quarta-feira (18), o lançamento da mixtape do Dj Venom, do Projeto Manada, na Jive Club. A festa faz parte do projeto Hip Hop Series e contará também com a discotecagem do Dj Duenssa e pocket show com o UmDegrau. A Jive fica na Alameda Barros, 376, em Higienópolis. Os homens pagam 10 reais e mulheres, cinco.

Na sexta-feira (20), o evento de destaque tem início a partir das 10h, na Praça da Sé (programação completa), centro da capital paulista. Lá será possível ver o encontro de congadas e missa afro-brasileira com o Coral da Orquestra Sinfônica do Estado e o Coral da Família Alcântara na Catedral da Sé. No palco principal, rola a apresentação, a partir das 12h, o bloco afro Ilê Aiyê, Quinteto em Branco e Preto, vários DJs, Luiz Melodia, Elza Soares e Kamau, acompanhado de Jeffe nos vocais e do DJ Erick Jay.

Além deles, haverá um Momento Hip Hop, que também trará ao palco o rapper brasiliense Gog e o paulistano DJ King. Fechando esse importante momento, a DJ Vivian Marques assume os toca-discos até a próxima atração.

Ainda em Sampa, rola nesta sexta-feira (20/11) a tradicional “Rinha dos Mcs” com o grupo “Primeira Função”. Também participarão desa edição especial, os poetas Akins Kintê e Elizandra Souza, que recitarão versos sobre a consciência negra. Para completar, rola a tradicional discotecagem com os Dj’s DanDan, Marco e Kiko.

Quer saber de mais eventos? Confira nossa agenda especial Consciência Negra. Quer sugerir um evento? Mande para perrapsblog@gmail.com com o assunto [Agenda].


Tire suas dúvidas sobre o Indie 09

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Rodrigo Brandão (Foto retirada do blog danortepromundo.blogspot.com)

O Indie Hip Hop celebra 10 anos desde o primeiro Dulôco – por E. Ribas

O festival Indie Hip Hop comemora 10 anos em 2009, desde a primeira edição do Dulôco, back in 99′. Por esse motivo, essa edição será toda especial: terá exposição de fotos de Indies passados, trará duplas de grupos e MC’s juntos no palco para celebrarem o evento, além do povo que lançou trabalho nesse ano e uma das atrações internacionais mais aguardadas em todo o festival: o nova-iorquino Mos Def.

Apesar do festival estar marcado para o primeiro fim de semana de dezembro, algumas dúvidas restaram sobre o formato das apresentações, por exemplo. Eis que o Per Raps fez essas perguntas para um dos organizadores, Rodrigo Brandão, para que não reste dúvida alguma sobre o assunto.

Uma das coisas que mais impressionou foi a mudança de formato do festival, já que teremos muitos nomes no palco. Por quê a mudança? “O Indie foi ampliado pra comemorar uma década de trabalho, feito com amor e dedicação”, concretiza Brandão. Segundo ele, o festival é um evento bem-sucedido, ainda mais se repararmos que foi feito em um “campo minado e pantanoso”.

Outra novidade importante é a forma como essas atrações nacionais foram divididas. Tudo acontecerá em dois blocos, sendo que o primeiro contará com apresentações em duplas de grupos e MC’s que fizeram história no evento. Serão eles: Inumanos (RJ) e Max B.O., Contra Fluxo e Espião (Rua de Baixo), Kamau e Parteum (Mzuri Sana), e Mamelo Sound System junto do Elo da Corrente. O outro bloco seguirá o modelo tradicional, que abrirá espaço para os nomes que fizeram barulho durante o ano, lançando trabalhos relevantes.

Eis que ai terão espaço dois representantes de Sampa City, Pizzol e o grupo Pentágono, um carioca, A Filial, e o curitibano Nel Sentimentum. Todos presentes no palco terão 20 minutos de apresentação, até para que todos possam mostrar seus trabalhos.

Para complementar as apresentações e deixar o evento ainda mais agitado, assumem as pick-ups os Dj’s PG e Pathy Dejesus, além do internacional Mista Sinista (EUA), conhecido como um dos mestres do turntablism, que também ministrará uma oficina para Dj’s especializados em scratch no domingo, das 16h às 18h, aberta ao público ouvinte.

Aqueles que comparecerem ao evento também encontrarão uma exposição de fotos, que marcará 10 anos de evolução do rap nacional e mostrará a passagem de diversos nomes de peso do rap mundial por Santo André, Brasil. Para quem acompanhou, foram pedidas algumas fotos do Indie via Twitter, mas quem explica o critério de escolha das imagens que participarão da exposição é o próprio Rodrigo. “Foi feita uma pesquisa, e a partir daí uma seleção baseada no critério artístico. Nem sempre é a atração principal do evento, mas sim a melhor imagem”. Sendo assim, se a foto marcar um momento importante do festival, terá mais valor do que uma foto tecnicamente bem feita ou da atração gringa do dia.

Outro motivo que animou muita gente a participar do Indie deste ano será a presença do MC e ator, Mos Def. Parceiro de Talib Kweli no conceituado “Black Star”, que também comemorou 10 anos há pouco tempo, o rapper estava em turnê após lançar seu ótimo quarto disco, “The Ecstatic”. Muito se falou em uma possível apresentação com a Banda Black Rio, já que eu seu último CD, Def usou um sample dos brasileiros para criar “Casa Bey”. Mas vai realmente acontecer esse encontro no palco entre um MC mais que renomado e um a banda lendária? “O Mos Def quer fazer a faixa ‘Casa Bey’, sampleada da versão de ‘Casa Forte’ feita pela Black Rio, no clássico disco Maria Fumaça (1977), com a banda nesses shows. A principio será só essa faixa, mas nunca se sabe o que pode rolar quando eles se encontrarem pra ensaiar!”, responde Rodrigo Brandão empolgado.

A última pergunta que não quer calar se refere a Emicida, que foi um dos nomes que mais movimentou a cena rap brasuca em 2009. No entanto, ele lançou apenas uma mixtape, e já foi esclarecido em outras oportunidades que o critério do Indie Hip Hop exige que o artista tenha lançado um CD. No entanto, não foi esse o motivo da não-presença do rapper no quadro de atrações. “Ele foi convidado a participar, mas declinou a proposta por conta do tempo de show ser curto”, relata Brandão. No entanto, assim como o próprio organizador complementou, “fica pruma próxima”.

Os demais elementos da cultura hip hop não foram esquecidos; serão representados pelo b-boy Ken Swift (EUA) e pelos irmãos OsGemeos, que dispensam apresentações e trazem ainda pintores convidados, apresentando um panorama de estilos e gerações variadas. Confira abaixo a programação completa do evento.

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O resultado do sucesso do Indie Hip Hop 08': casa cheia

Festival INDIE HIP HOP ’09: Especial 10 anos Dulôco

SÁBADO (05/12), das 16h às 22h
Dj PG e MC Xis
Pizzol, Pentágono, Inumanos+Max B.O., Contra-Fluxo+Espião e Mos Def (participação da banda Black Rio).

DOMINGO (06/12), das 16h às 22h
Dj Pathy Dejesus e MC Thaíde
Nel Sentimentum, A Filial, Kamau+Parteum, Mamelo Sound System+Elo Da Corrente e Mos Def (participação da banda Black Rio)

SESC Santo André (Espaço de Eventos)
Rua Tamarutaca, 302 – Vila Guiomar
Santo André – SP
Tel.: 11 4469-1200

Ingressos: R$ 16,00 [inteira], R$ 8,00 [usuário matriculado no SESC e dependentes, +60 anos, professores da rede pública de ensino e estudantes com comprovante] , R$ 4,00 [trabalhador no comércio e serviços matriculado no SESC e dependentes]


Todos por um!

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Os mosqueteiros do rap – por Carol Patrocinio

Uma das coisas mais legais do rap é que não importa o que aconteça, é motivo de levantar a cabeça e se esforçar para mudar a realidade. O “Todos por um”, que rola hoje na Livraria da Esquina, é um evento que prova isso.

Há algum tempo, em Diadema, Dj Dandan foi surpreendido ao saber que seus equipamentos haviam sido levados de um local em que tocaria. Se alguém deu a letra ou não, é o que menos importa, a questão é: como um Dj vai tocar sem equipamento? E o pior, parte desse equipa era emprestado!

Crime é crime independentemente da pessoa que ele atinge, mas dói ainda mais quando a vítima é um cara que está no corre para melhorar a situação de todo mundo, lutando por um mundo melhor, um guerreiro do rap.

E hoje você tem a chance de ajudar o Dj Dandan – junto com Kamau, Pentágono, Criolo Doido, Sombra, Dj KL Jay, DJ Mayra, Dj Vivian Marques, Dj Ajamu, Dj Célio, Dj Itamar, DJ MF, Dj Ney e Dj Will – e ainda curtir uma festa que promeeeeeete! Se liga no vídeo que vai te fazer sair de casa e curtir a noite para ajudar o rap!


É hoje: Festival Dialeto!

“Avisa o IML, chegou o grande dia…”*

Arte de Gustavo Mendes, de Jacareí, vencedor do concurso "Faça a sua arte"

Arte de Gustavo Mendes, de Jacareí, vencedor do concurso "Faça a sua arte", promovido pela Nike Sportswear

Hoje (10) é um dia importante para quem aprecia rap. Akira Presidente, Criolo Doido, Emicida, Kamau, Max B.O., Pentágono, Dj Dandan e Dj Marco vão registrar um momento histórico no palco do Hole Club (região central) – o Festival Dialeto.

Em performances homeopáticas e calorosas, as atrações apresentam versões reduzidas de seus shows, na sequência. Músicas novas, versões e interações estão previstas no repertório desse time que, mesmo independente, tem colocado o rap em circulação na boca do povo e da mídia.

Emicida atraiu olhares vendendo sua elogiada mixtape de mão em mão, e, junto com Kamau, que tem colhido os frutos de seu também aplaudido primeiro disco solo, foram indicados ao VMB 2009, da MTV. A emissora também gostou do Pentágono, que ganhou blog e muitos acessos do videoclipe “É o Moio” no portal. Akira Presidente, do Rio de Janeiro (RJ), coloca disco na rua ainda este ano. Max B.O. lançou site, em breve um EP e continua na TV como MC Rappórter. Criolo Doido, velho de guerra no hip hop, mantém a Rinha dos MCs, um dos encontros mais tradicionais do Brasil, junto com o DJ Dandan, que coordena a Casa do Hip Hop de Diadema, e o DJ Marco, que assume os toca-discos e programações nos shows da cantora Céu. Isso só para citar.

Artistas participaram de coletiva na última terça, por Janaína Castelo

Artistas participaram de coletiva na última terça, por Janaína Castelo

É muita gente trabalhando para pouco espaço nos palcos e uma cena ainda embrionária. “Você vê tanto festival de música independente no país, e não vê quase nenhum de rap”, explica Pedro Gomes, um dos organizadores do Dialeto.”Gostaríamos que fosse num espaço grande, tipo um Sesc, temos público pra isso. Vamos lutar para isso acontecer nas próximas edições”, acrescenta Pedro, que pretende realizar edições anuais do festival. “Alguém tinha que começar algo e é o que estamos fazendo”.

Os ingressos antecipados são vendidos a R$ 15 na loja Drump, na Galeria do Rock (região central). Na porta, custará R$ 20 e deve ser pago na entrada, em dinheiro.

Conheça os envolvidos:

Akira Presidente

por Dudu Llerena

por Dudu Llerena

Akira Presidente vem do Rio de Janeiro para o festival. O MC lançou um EP, disponível na web, enquanto seu disco de estreia não chega às ruas. Akira fala de mulheres, rap e qualquer outro assunto que lhe interessa, numa levada bem aceita nas pistas de dança. “Essa é a hora de mostrar que o rap não está parado, que estamos evoluindo. O Dialeto vai ser uma noite também para curtir, dividir palco com quem admiro”. myspace.com/akirapresidente

Criolo Doido

Divulgação

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Idealizador e mestre de cerimônia da Rinha dos MCs, Criolo Doido está prestes a lançar seu DVD, em comemoração aos 20 anos de carreira. Indicado ao Prêmio Hutúz, Criolo prepara seu segundo disco (o primeiro saiu em 2006), em que mistura rap com elementos da música turca, francesa e jamaicana. “Esse festival é um embrião, é uma retomada. Somos uma família e nos reunimos para buscar uma evolução, outras “famílias” podem fazer isso. Não estamos segregando, estamos mostrando que é possível”. myspace.com/criolomc

 

Emicida

por Janaína Castelo

por Janaína Castelo

Emicida não está na cena há tanto tempo, mas já tinha os holofotes sobre si desde as batalhas de freestyle e de quando a música “Triunfo” ganhou as pistas. E as luzes sobre ele só aumentam: em maio, lançou a elogiada mixtape “Pra Quem Já Mordeu um Cachorro por Comida, Até que Eu Cheguei Longe”, que gravou de forma caseira em CD-R e saiu vendendo de mão em mão. Também lançou videoclipe da “Triunfo”, que rendeu a ele a terceira indicação no VMB 2009, da MTV. myspace.com/emicida

Kamau

por Flávio Samelo

por Flávio Samelo

Kamau fez um dos melhores discos de 2008, segundo o ranking da revista “Rolling Stone”. Há dez anos participando ativamente da cena –principalmente em grupos, como o Simples, o Consequência e o Quinto Andar–, o MC paulistano ganhou mais notoriedade quando lançou seu primeiro disco solo, “Non Ducor Duco”. A trajetória rendeu uma indicação ao VMB 2009, na categoria Rap, ao lado de MV Bill, Emicida, Relatos da Invasão e RZO. “Esse festival vai ser como uma mixtape acontecendo. Espero que a gente consiga dar continuidade aos shows, para renovar a energia e manter a mesma vibe na pista”. http://www.planoaudio.net

Max B.O.

por Leandro Gonçalves

por Leandro Gonçalves

 

Virtuose do improviso, o MC Max B.O. tem uma trajetória respeitada no hip hop nacional. Nos palcos fazendo freestyle usando os R.G.´s do público e na TV conduzindo o MC Rappórter –no programa “Brothers” (Rede TV!), dos irmãos Suplicy–, o rapper agora investe na internet: www.maxbo.com.br. myspace.com/maxbo

 

 

 

Pentágono

por Rogério Fernandes

por Rogério Fernandes

Com pé no reggae e uma das melhores dinâmicas no palco, o Pentágono já disputou a categoria de melhor videoclipe de rap no VMB 2006, com a música “Namoral”, do primeiro disco do grupo “Microfonicamente Dizendo”. Com quatro MCs –Rael da Rima, Apolo, Massao, M.Sário e mais o Dj Kiko, o quinteto lançou o segundo trabalho, “Natural”, em 2008. Foi desse álbum que saiu “É o Moio”, faixa que ganhou videoclipe e muitos acessos no portal da MTV, onde eles também têm um blog. myspace.com/pentagono5

Dj Dandan

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Além de Dj da Rinha dos MCs, Dandan é 2° secretário da Zulu Nation Brasil e produtor cultural da Casa do Hip Hop de Diadema. O projeto, que visa oferecer atividades culturais à população local e difundir a cultura do hip hop, está no Centro Cultural Canhema há dez anos e conta com uma equipe que inclui King Nino Brown, presidente de honra da Zulu Nation Brasil. “A música tem o poder de transformar, temos que pensar que mensagem transmitimos para quem está ali nos vendo, ouvindo. É essa troca de energia que espero de um festival de música”. myspace.com/cassianosena

Dj Marco

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Um dos mais ativos do hip hop, Dj Marco é residente do Sintonia (Dj Club), às quintas, junto de KL Jay, Ajamu e Will, e da Rinha dos MCs (Executivo Bar), quinzenalmente às sextas, com MC Criolo Doido, Djs Dandan e Kiko. Coordenador da programação do Hole Club, onde acontecem a maior parte dos shows de rap em São Paulo, Marco é também Dj da cantora Céu e do compositor Rodrigo Campos. “Os festivais de música marcam época, com os grupos que estão na atividade. Sabemos que na plateia, além dos fãs, estará gente que faz a cena acontecer também. Na próxima edição do festival, eles poderão estar ali no palco, participando daquilo tudo”.

*Texto de Mayra Maldjian publicado ontem (9) no Guia da Folha de S. Paulo
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Reconhecimento

Aproveitando a oportunidade, vale a pena falar um pouco sobre o papel que a Dj Mayra vem desempenhando nesse momento tão importante para o rap. Além de contribuir para a divulgação de diversos eventos e artistas, ela tem emplacado dezenas de matérias com artistas independentes (ex: Céu, Rodrigo Campos, Emicida, Kamau…) na Folha de S. Paulo, o jornal de maior circulação do Brasil. A importância e a amplitude disso pode ser ignorada por alguns, mas não deve ser por nós, que trabalhamos com comunicação e sabemos o quão difícil é o diálogo com os grandes veículos.

Não foram poucas as vezes que criticamos a grande mídia pelo tratamento dado ao hip hop nos últimos anos. Erros conceituais, troca de nomes, falta de conhecimento sobre o assunto; tudo isso nos incomodava. E termos um representante legítimo da cena independente lá, entre eles, significa um enorme avanço. Significa que o hip hop está sendo tratado, na gigante Folha de S. Paulo, da forma como nós queremos, como achamos que merece ser tratado.

Parabéns Dj Mayra, pelo aniversário comemorado ontem e, principalmente, pela atenção que tem dedicado à boa música. E parabéns também a todos os amantes da cultura que propagam o hip hop de forma responsável nos meios de comunicação espalhados por aí!

Dj Marco
Um dos mais ativos do hip hop, DJ Marco é residente do Sintonia (DJ Club), às quintas, junto de KL Jay, Ajamu e Will, e da Rinha dos MCs (Executivo Bar), quinzenalmente às sextas, com MC Criolo Doido, DJs Dandan e Kiko. Coordenador da programação do Hole Club, onde acontecem a maior parte dos shows de rap em São Paulo, Marco é também DJ da cantora Céu e do compositor Rodrigo Campos. “Os festivais de música marcam época, com os grupos que estão na atividade. Sabemos que na plateia, além dos fãs, estará gente que faz a cena acontecer também. Na próxima edição do festival, eles poderão estar ali no palco, participando daquilo tudo”.

VMB da discórdia

Wanessa e Ja Rule_VMB2009

Wanessa e Ja Rule levaram o rap (?) ao palco do VMB - Divulgação

#fail?por Eduardo Ribas e Carol Patrocinio

Nós assistimos ao Vídeo Music Brasil, acompanhamos todos os momentos de revolta e, assim como você, ficamos desapontados – assim como o Neo encontrando o Arquiteto (Matrix Reloaded) – mas depois voltamos ao mundo real e lembramos que essa é a grande mídia, a votação é do público e a audiência é feita basicamente por adolescentes.

Pior do que o VMB, só o Rio de Janeiro ter ganho a disputa para sediar as Olimpíadas de 2016!

Por que o MV Bill ganhou o prêmio na categoria RAP?
MV Bill é hoje um dos MC’s brasileiros que mais aparece na mídia, ao lado de Marcelo D2, quer você goste/concorde ou não, tanto a sua música como seu trabalho social permitem que o trabalho do “Mensageiro da Verdade” seja mais difundido e como a votação foi feita pela internet… Ligue os pontos.

Além disso, o rapeiro tem feito inúmeros shows pelo Brasil e levando seu nome para os mais diversos lugares. Se fizermos uma comparação com os outros prêmios que a MTV entregou, a lógica é a mesma: os artistas com mais visibilidade tiveram mais votos e ganharam o prêmio. Então, nenhuma novidade.

Parabéns ao MV Bill, que ainda entregou um prêmio e fez uma apresentação bem legal no pré-VMB – se a gente não levar em conta a plateia formada por adolescentes do rock que batiam palminhas enquanto ele rimava.

Ao rap, as migalhas?
Algumas pessoas que acompanham ou fazem parte da cultura hip hop olharam a premiação da MTV como uma entrega de migalhas ao rap nacional. A afirmação é totalmente compreensível, visto que, indicado em cinco categorias, o rap apenas saiu vitorioso na categoria que só poderia dar o rap! As três indicações de Emicida e a indicação de Marcelo D2, acabaram ficando para outros grupos.

Cabe aqui uma observação: Vale recordar que, na verdade, o prêmio do rap para o rap seria o Hutúz, não o VMB.

Mas isso não deve ser visto como algo apenas negativo. A indicação dos MC’s/grupos na categoria rap, e no caso especial de Emicida, indicado também como aposta e melhor clipe, podem trazer mais visibilidade ao trabalho dessas pessoas. A curiosidade pode fazer com que pessoas que nunca ouviram falar no Kamau, por exemplo, busquem por suas músicas.

É claro que as perspectivas não são boas, uma vez que as pessoas que gostam de músicas variadas, geralmente, buscam com mais frequência pelo novo e pelo diferente. As pessoas que buscam música pelo rádio ou pela TV, acabam geralmente sendo direcionados pela chamada “cultura de massas”. Mas no rebanho sempre existe uma ovelha esperando para ser salva; o foco é chegar nessa ovelha!

Por que a decepção com o VMB?
Muita gente depositou esperança nos prêmios que poderiam ser conquistados por representantes do rap, até pelo fato da MTV não ter incluído sequer a categoria de “ritmo e poesia” nas últimas duas edições. Órfãos do Yo! e crentes em uma mudança de pensamento ou atitude, os fãs do gênero musical não devem se sentir lesados ou levianos por terem acreditado. Se a esperança de que algo fora do script pudesse ter acontecido não existisse, então muita gente não se daria ao trabalho de sequer fazer um videoclipe.

A maioria dos rimadores, dos que trabalham pelo rap e lutam para seu crescimento o faz por amor, por acreditar que a saída para os problemas está na cultura, na liberdade, na mudança do cenário atual. A ideia é sempre crer em tempos melhores, mesmo observando o mundo de um modo cético. Acreditar é uma das poucas coisas as quais podemos nos agarrar, não é o momento de achar que não vale a pena ter esperança.

Por que o EMICIDA não levou nenhum prêmio?
Se a MTV tivesse dado um prêmio ao Emicida, estaria dando um tiro em seu próprio pé. Por quê? Explicamos. A maioria esmagadora dos vencedores dos prêmios possuem contratos com grandes gravadoras, que investem muito em cada banda. Premiar um artista independente do rap, que vende suas mix a R$2, faz show a preços populares e que, segundo a Folha de S. Paulo é “empreendedor”, seria dar um exemplo de que é possível chegar ali sem precisar das tais gravadoras.

Lembrando, nesse caso, a música é tratada como negócio. Por trás da premiação há patrocínios, cobranças, comerciais e intervalos caríssimos e uma indústria musical que ainda está repensando como “vender” música, tendo a internet como principal “vilã” para impedir seus planos.

Mas, e agora?
É possível que no ano que vem o rap permaceça com espaço na Music TeleVision, isso permitiria que clipes como o do Slim Rimografia, DBS, Funkero, Casa di Caboclo e tantos outros recém-lançados entrem na programação.

A perspectiva em relação a prêmios é de possibilidade remota, até porque continuarão os grandes investimentos das gravadoras em nomes e em modismos, afinal, essa é e sempre foi a cultura (de massa) que é dada ao povo. O grande boom que veio com o hype em volta do nome do Emicida ainda pode trazer boas perspectivas, que não seriam migalhas, já que, se o hip hop, ou mais especificamente o rap, quer ter a possibilidade de chegar para mais pessoas, precisa saber se utilizar dos espaços que ele tem possibilidade de fazer parte.

Criticar a Globo, a MTV ou as rádios é fácil, mas para fazer com que o cara que ouve Cine, simplesmente porque toca na rádio, mude de gosto musical, é preciso fazer com que a música se propague. E não é apenas a internet que fará isso. Lembrando que o hip hop é uma cultura marginal e seria interessante que, mesmo sendo um dia mais difundida, seus representantes tivessem “controle” dela.

Na gringa isso acontece, mas percebemos claramente a influência de grandes grupos corporativos em certos rumos. Não que o rap tenha que ser apenas independente ou música de protesto, longe disso. Rap é música! Mas que essa música seja controle de propriedade de quem a faz e não de gravadoras. Se para estar na MTV – ou em qualquer outro espaço – for preciso “cultivar a franja e fechar com o Bonadio”, então cabe a cada um saber qual é o seu rumo.

“Ache um rumo pra chamar de seu…” – Parteum, “Rumo”


Kamau e Júlia Says

Conversa musical: Júlia Says e Kamau

O Per Raps destaca nesse fim de semana o show promovido pela Agência Alavanca, que propõe o encontro entre os pernambucanos do Júlia Says e o paulista Kamau. A mpb-eletrônica vinda do Recife tende a combinar de forma bem interessante com o rap de Kamau.

Aproveitando a oportunidade, o Per Raps conversou com ambos para ver se realmente existe a chance do encontro fazer sucesso. Antes de Júlia Says e Kamau subirem ao palco, quem agita o público é a Dj Mayra (da crew Applebum).

Paulo Dias e Anthony Diego formam o Júlia Says - Divulgação

Pauliño Dias e Anthony Diego formam o Júlia Says - Divulgação

Júlia Says
O Júlia Says é uma dupla vinda de Recife-PE, que ultimamente faz a ponte com São Paulo para apresentar os sons de seus dois EP’s. Tímidos, porém descontraídos, a dupla chega na miúda, mas promete fazer barulho. Misturando influências de MPB com nuances de música eletrônica, o duo faz até versões de músicas de grupos como Beastie Boys e Prodigy em seus shows.

Pauliño Dias fica na responsa da guitarra e do violão e Anthony Diego conduz a bateria. Ainda há espaço pra um sintetizador, que dá peso ao som. Falando mais das influências musicais do Júlia Says, encontramos Gorillaz, Prodigy, John Frusciante, os brasileiros Wado, Lucas Santanna, Mart’nalia, e os animes Akira e Ghost in the Shell.

A dupla curte internet e responde pelos seus perfis em redes sociais. Além disso, acompanham alguns sites e blogs, principalmente ligados a música. “Temos uma comunidade no orkut e costumamos usar o Twitter para anunciar os shows da banda”, conta Diego.

Pra quem nunca viu um show do “Júlia”, Diego revela alguns detalhes. “O show da gente é diferente dos dois EP’s. Tem violão no EP e, no show usamos guitarra. É mais instigado”, completa. O som ao vivo também promete ter uma pegada bem mais agressiva. Na formação de palco, a guitarra fica com Pauliño.

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Kamau
Kamau chega com os sons de seu primeiro álbum, Non Ducor Duco, que fez sucesso entre fãs do rap e críticos da música. Com um show repleto de letras com temas diversos e refrões cantados ao vivo por seu parceiro Jeffe, o paulista ainda conta com o Dj Erick Jay, último representante brasileiro no DMC, campeonato mundial de Dj’s, realizado esse ano em Londres.

Perguntado sobre suas influências, Kamau cita o jazz de John Coltrane, Miles Davis, além do rap dos gringos do A Tribe Called Quest e De La Soul e os brazucas Racionais MCs, Parteum, Pentágono, Emicida, com espaço ainda para Los Hermanos, Hurtmold e os roqueiros da Plebe Rude. Isso, além de tudo que acontece a seu redor.

O rapper confessa gostar de estar bem informado e passou a se ligar mais na internet quando pesquisava letras de rap em um site norte-americano. Os programas Soulseek e Napster serviram em um segundo momento para que o MC conhecesse também novos sons. Para ele, leitura obrigatória pra quem quer se manter atualizado em relação ao rap são os blogs Okayplayer e 2DopeBoyz (que hoje são parceiros) e o Nah Right.

Sobre o tão falado Twitter, não usa o microblog para “simplesmente” contar seu dia a dia. Ele conta que agora toma mais cuidado com o que diz e tenta passar algo de positivo, já que tem “a atenção de várias pessoas”.

Para quem ainda não curtiu um show de Kamau, ele mesmo diz o que se pode esperar. “No show, eu explico melhor o que quis dizer no disco, e em casa a pessoa tem uma interpretação mais livre”. Ele explica que o CD é uma espécie de história num livro e já o show é uma apresentação de teatro sobre esse livro. Mas e quem já viu, vai encontrar o que de diferente? “Nunca dá pro show ser igual ao CD. E eu também sempre procuro mudar a ordem das músicas”, explica. No palco, Dj Erick Jay, Jeffe (na dobra e cantando refrão) e é claro, Kamau.

Sobre o que esperar dessa conversa musical na Livraria da Esquina, Kamau responde. “Espero que as pessoas que forem tenham mais vontade de ouvir o disco”. Non Ducor Duco, por parte do Kamau e “Júlia Says” e “Menos e Mais”, ambos EPs do Júlia Says.

Saiba mais:
http://www.myspace.com/kamau76
http://www.myspace.com/juliadisse

Noite Alavanca convida Júlia Says e Kamau
Discotecagem: DJ Mayra (Applebum/Guetoteca)
Sábado, 26 de setembro de 2009
A partir das 23h
Livraria da Esquina: Rua do Bosque, 1.254 – Barra Funda – São Paulo, SP
Entrada: R$ 10 (aceita todos os cartões)
Estacionamento: conveniado ao lado (R$ 10)
Telefone: (11) 3392-3089
Site: www.livrariadaesquina.com.br



A novidade completa: Festival Dialeto

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Lembra que a gente tinha falado que vinha coisa nova e queeeente por aí? Agora a gente tem todas as informações! Quer saber? O que vai acontecer no dia 10 de outubro é um festival de rap, isso mesmo, o Festival Dialeto! Rola em São Paulo e vai ter shows de Kamau, Emicida, Pentágono, Criolo Doido, Max B.O., Akira Presidente, Dj Marco e Dj Dan Dan. Pois é, vão estar juntos os caras que a galera mais curte ultimamente!

O que a organização do Dialeto quer é mudar esse panorama em que festivais de rap são muito raros. Um dos produtores, o Pedro Gomes, contou pra gente que tem a intenção de tornar o evento anual – “Gostaríamos que fosse num espaço grande, tipo um Sesc, temos público pra isso. Vamos lutar pra isso acontecer nas próximas edições. Nós (produtores e artistas) estamos investindo nesse momento, para poder montar um bom portfólio e posteriormente correr atrás de outras opções”.

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Clique na imagem para ampliar!

Mixtape ao vivo
Essa foi a definição que Kamau deu para a festa. Como serão vários MC’s num mesmo palco, as apresentações serão reduzidas, mas ainda assim cheias de boa vibe. Dj Dan Dan, outro artista que vai participar do evento acha que “vai ser um festival como já não temos há muito tempo, um evento pra engrandecer o hip hop”.

Emicida acredita que esse festival vai ser a bomba que faltava pro fim do mundo! “Depois do dia 10, não vai existir mais nada. Vai ser o apocalipse, a febre do rato, o final dos dias, nós vamos adiantar 2012 que nem previram no calendário maia”, profetizou. E a explicação direta e reta do Criolo Doido diz tudo o que se espera deve festival: “Vai ser um balde de água suja”.

Pra começar a sentir a sujeira que rola no Festival Dialeto, você pode dar uma olhada nos vídeos que todo mundo que vai participar gravou e colocou no Vimeo!

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Enquanto não vem…

Você aproveita a sexta-feira depois do trabalho, vai pro happy hour e escuta um seleção de Pedradas Musicais do DJ Tamenpi. Pra você ter uma noção do que vai rolar, o cara fez um medley especial aqui pro blog pra te animar nessa véspera de fim de semana! Se liga no som!


Agenda + video da semana

O video da semanaE. Ribas

Muita gente já deve ter acompanhado a estréia do videoclipe de Emicida na internet, assim como no canal da MTV. Os acessos foram vários e o destaque foi dado em diversos sites e blogs. O Per Raps não poderia ficar de fora, e por isso destacou esse video que pode até não ser unanimidade, mas que deve passar bem perto dela se o assunto for “o melhor video da semana”.

Com ótima direção e uma fotografia que revela da melhor forma a estética da rua, o clipe contempla a força de uma música que quando tocada, literalmente faz o chão tremer – por sua força e pela energia que gera no palco e na pista. Agora, além dos vídeos de batalhas de improviso que circulam pela internet, Emicida ganha um registro impecável do caminho que trilhou até aqui e que deverá continuar seguindo nos próximos anos.

O video trouxe mais uma boa surpresa para Emicida, seus fãs e também para o rap: uma indicação a melhor videoclipe do ano, no VMB 2009. Vote!

Artista: Emicida

Música: Triunfo
Direção: Fred Ouro Preto
Direção de Fotografia: Carina Zaratin & Fred Ouro Preto
Câmera : Carina Zaratin & Felipe Igarashi
Edição: Fred Ouro Preto
Assistente de produção: Felipe Rodrigues da Silva

Programa Manos e Minas
Para quem é de São Paulo, não perca a exibição do programa gravado com Emicida.
Sábado 05/09 às 19h
Reprise: Sábado para domingo (06/09), 01h30 e segunda-feira(07/09) às 12h30

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Festas

Curitiba (PR)

hhsnel 0409

Nel Sentimentun @ Hip Hop Sessions [04/09]
Sohounderground: R. Visconde do Rio Branco, 870
M: Free até 00h l após R$ 5
H: R$ 5 até 00h l após R$ 7
Contato: hiphopsessions@hotmail.com
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São Paulo (SP)

Rinha

Rinha dos MC’s @ Especial com o Dj MF [04/09]
*Mês de setembro especial valendo vaga e transporte para a Liga dos MC’s no RJ
Executivo Bar: R. 7 de abril, 725 (Metrô República)
Preço único: R$ 10 l R$ 5 c/ flyer
Mulheres VIP até 00h

TOPO_FINAL_blog

Pizzol @ Zoeira Hip Hop na Vila Mariana (SP) [05/09]
Abertura Ogi
Participações de Dr. Caligari, Doncesão, Nocivo Shomon, Roko, Jeffe e Dj Big Edy
Preço: R$ 15 ou R$ 10 c/ flyer l 50 primeiras mulheres VIP até 00h30
lista: zoeirahiphop@gmail.com

emicida lança

Emicida @ Lançamento do clipe “Triunfo” [05/09]
Sábado, 5 de setembro, às 23h30
Onde: Hole Club (R Augusta, 2203 SP)
Quanto: de R$ 10 a R$ 15

Sombra @ Divulgação (Myspace)

Sombra @ Divulgação (foto: Jozzu)

Sombra @ Sarajevo Club [06/09]
Neste domingo, 06 de setembro
Local: Rua Augusta, 1397 Consolação
Fone: 3253-4292
Preço Único: R$ 10,00
Com Flyer: R$ 5,00 (até 1 h.)
As primeiras 50 mulheres não pagam

Kamau e Pathy de Jesus @ Fya Bun [06/09]
Espaço Forasteiros | 23h30
Rua Valentim Ramos Delano, 52
Altura do nº 2250 da av. Robert Kennedy
Preço: R$ 10 ou R$ 8 (listafyabun@gmail.com)
As 20 primeiras pessoas não pagam
Informações: 5669-3451

SALADAGROOVEENEZIMO

Salada Groove @ Enézimo [06/09]
Discotecagem com os Dj’s Jamal, Lord, Mano P, Spaique (Thaíde)
Preço: R$ 8 ou R$ 5 c/ flyer
Mulher VIP até 00h
Princípios Bar: R. Marechal Deodoro, 640 – centro de São Bernardo do Campo (ABC)
F: 8521 1090

Programação

9º Campinas Street Dance Festival @ Campinas [05 a 07/09]
Preço: R$ 10 l Fórum e aulas abertas
Venda: Colégio Liceu Salesiano
R. Barão Geraldo, 330 – Bairro São Domingos (Campinas)
As atividades de fórum, aulas, workshops, batalhas e shows acontecerão do dia 05 (sábado) ao dia 07/09 (segunda-feira)
Mais informações no site da Battle Brazil.

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Rio de Janeiro (RJ)

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Black Friday @ Clandestino Bar [04/09]
Dj’s Joca-San, Tamenpi e convidados
Sexta-feira, às 23:00
Preço: R$ 10 até 0h / R$ 15 depois (sujeito a aletração)
Clandestino Bar: Rua Barata Ribeiro, 111 – Copacabana/Rio de Janeiro
F: 2132090348 ou jocavidal@gmail.com

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Festa B.E.A.T.S. @ 3º aniversário do site Expresso22.com [06/09]
Batalha de Beatmakers (A última do ano!)
DJs: Eduardo Salles (Miami Bass) + DJ Erik Scrätch (Hip Hop)
Shows: Fluxo e Beleza (U-Flow)
H: R$15,00 M: R$5 até 00:00h
R$10,00 (com nome na lista ou flyer)
Lista (Comunidade Expresso22) : http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=13261488
Clandestino: Rua Barata Ribeiro 111, Copacabana – RJ
(próx. Metrô Cardeal Arcoverde)

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Belo Horizonte (MG)
Gurila Mangani na Arcadium

Gurila Mangani @ Original Sundays [06/09]
Domingo, a partir das 20 horas.
Com os Dj’s Jahnu, Rafa, Rasnego, Cubanito, Xeréu, Bené e Murda.
Endereço: Arcadium, R. Santa Rita Durão, 645 – Belo Horizonte – MG
Ingressos a R$ 20
Info: (31) 91366193
http://www.myspace.com/theoriginalsundaysbh
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Palhoça (SC)

roda de rima

Roda de B.Boys @ Centro de Palhoça [04/09]
Sexta-feira, a partir das 19h
Praça 7 de setembro , Centro de Palhoça-SC
Evento Aberto
Mais informações:
http://www.azeaerre.blogspot.com/
http://www.myspace.com/100sort


Kamau: o guerreiro silencioso do rap

Foto de Ênio César

Foto de Ênio César

“Porque sucesso é caminhada e não a linha de chegada” por Carol Patrocinio

São 12 anos de carreira, uma mixtape solo, lançada em 2005 e o álbum “Non Ducor Duco”, de 2008, além do EP com o Consequência, em 2002, e um disco com o Simples, de 2006. Depois de aparecer como repórter do Yo! MTV Raps – “Eu nunca fui repórter do Yo! A diretora do programa na época, disse que eu podia sugerir as pautas que quisesse e até mesmo fazer parte dessas pautas. Apareci mais duas ou três vezes fora isso por falar inglês e estar por perto na hora” e fazer um freestyle em uma das edições do VMB, Kamau foi indicado para o prêmio de Rap deste ano. E aí, isso muda alguma coisa na correria?

O trabalho do rapper é divulgado do jeito que dá: “Tenho alguns amigos que tem contatos, tenho alguns contatos próprios, uso a internet pra mostrar vídeos e falar sobre o que tenho feito e às vezes sobre o que pretendo fazer. Não tenho métodos mirabolantes de divulgação. Queria ter uma eficácia melhor nesse sentido”, comenta. Mas a indicação só agrega e “muda a visibilidade e a credibilidade com alguns, dentro e fora do rap”. Se liga no papo que a gente bateu com ele.

Per Raps: Muita gente fala sobre o rapper de sucesso como alguém que se vendeu, qual a sua posição em relação a isso?
Kamau: É um pensamento meio egoísta do público, mas não acho que isso seja exatamente a “definição”. O cara que se vende é o que deixa de ser o que era pra ganhar dinheiro. Trai convicções e cai em contradição em busca de retorno estritamente financeiro. Nem todo mundo que faz sucesso se vendeu. Vai me dizer que Racionais não faz sucesso? E nem todo mundo que se vendeu faz sucesso.

Per Raps: Você acredita que a relação da mídia com o rap pode abrir ou fechar as portas?
Kamau: Os dois. Temos que ficar bem espertos em relação à mídia pois na maioria das vezes ela quer nos testar, mesmo quando acha que está ajudando o artista. Entrevistas por telefone, textos (mal) editados, matérias editadas por quem não estava presente. Essas são algumas das armadilhas em que já caímos. Mas existem alguns bem-intencionados que conseguem reproduzir o que dizemos fielmente. Aí vai do artista saber usar o espaço da melhor maneira pra si e pro que ele representa.

Per Raps: Qual a sua relação com o rap pop?
Kamau: Minha relação com a música é simples. Gosto ou não gosto. É assim com o que ouço e com o que faço. Não me apego a rótulos.

Per Raps: Na sua opinião, rap precisa passar uma mensagem ou pode ser apenas diversão?
Kamau: Muitos colocam uma grande responsabilidade no colo do rap sem perguntar se é isso que ele realmente quer. Deixem que a música seja música e absorvam o que ela oferece. Eu tento fazer o que é natural pra mim.

Per Raps: Você já foi repórter do Yo! MTV Raps e teve outras participações na MTV, inclusive fazendo um freestyle em uma das edições do VMB. Qual a sensação de participar agora como indicado a uma categoria de prêmio?
Kamau: Eu nunca fui repórter do Yo! A diretora do programa na época, Tatiana Ivanovici, me chamou pra fazer um teste pra ser o apresentador junto com outros MC’s, quando o KL Jay saiu. Mesmo não tendo sido aprovado pela TV, ela disse que eu podia sugerir as pautas que quisesse e até mesmo fazer parte dessas pautas. Foi assim que sugeri a entrevista com Sabotage em seu primeiro grande show e fiz a matéria sobre novos nomes do Hip Hop no metrô São Bento. Apareci mais duas ou três vezes fora isso por falar inglês e estar por perto na hora.

Ser indicado foi uma surpresa e é uma honra por estar na mesma lista de nomes como Emicida, MV Bill, RZO e Relatos da Invasão. Cada qual tem sua caminhada, seu estilo e sua época. Espero que o rap se sinta bem representado por qualquer um de nós.

Per Raps: Você acha que suas rimas são “difíceis” de se consumir, já que você foi recentemente premiado no Hutuz por um música que já tocava há tempos e agora, após mais de dez anos de carreira, uma indicação na MTV?
Kamau: Muito pelo contrário. Acho que as rimas já caíram no gosto dos ouvintes. Mas as pessoas que coordenam esses prêmios não estão realmente atentas ao que tem acontecido e costumam lidar com o que lhes cai no colo ou o que não tem como evitar. Um bom exemplo disso é o Bill e o Emicida. Tem como negar o barulho que eles tem feito?

Meu nome significa Guerreiro Silencioso. Mas isso não quer dizer que eu não tenha feito barulho. Mas alguns demoraram mais a ouvir.

Per Raps: Quem você acha que leva o prêmio? E quem você acha que mais merece o prêmio?
Kamau: Não sei quem leva. Mas quem corre pelo certo e fortalece realmente o rap merece um prêmio. E existem vários desses.

Per Raps: Quais são os mc’s que não podem deixar de ser ouvidos?
Kamau: Emicida, Parteum, Slim, Pentágono, Brown, MV Bill. E acho que eu também.

Quer votar no Kamau? Corre lá!

Essa semana ainda rola entrevista com todos os indicados ao prêmio, numa parceria do Per Raps com o iG Street. Não perca!

logotwit_radar urbanoNão deixe de acompanhar também o especial que o Radar Urbano está fazendo com os indicados do VMB. O grupo entrevistado da vez é o Relatos da Invasão. Acompanhe um trecho:

Radar Urbano – Quanto aos demais indicados, foi justa a escolha? Faltou alguém? Existe Favorito?

Relatos – Bom, eu Thig vou dar minha opinião sobre o fato confesso que estou meio confuso sobre as indicações e o criterio que eles ultilizaram pois ainda não sei qual tera sido mais enfim. Se o critério for video clipe como de costume, acho que faltou o clipe do Pentágono que também teve estréia na mtv esse ano.

Continue lendo no Radar Urbano.

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Ao vivo

Um ano de lançamento do álbum “Non Ducor Duco” e a comemoração de estar entre os 25 melhores discos de 2008, eleitos pela Rolling Stone, além da indicação ao VMB 2009. Um show na Hole, em SP, com o acompanhamento de uma banda.

Guilherme Scabin e Toca Mamberti (guitarra), Sorry (bateria), Filiph Neo (teclado e voz) e J. Mossil (baixo), Erick Jay e Jeffe vão estar ao lado de Kamau para apresentar versões originais de algumas das 17 canções do álbum.

Antes e depois do show, rola discotecagem dos DJs Nyack e Erick Jay.

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Serviço
Quando? Sábado, 29 de agosto, 23h30
Onde? Hole Club (R Augusta, 2203, Jardins – SP)
Quanto? H: R$ 15 ou R$ 12, M: Vip até 0h; depois R$ 12 e R$ 10


Marcela Bellas: parcerias de respeito

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“O resultado deu samba e ficou Rap”por Carol Patrocinio

É bem possível que você nunca tenha ouvido falar sobre Marcela Bellas e até torça o nariz ao saber que ela é uma cantora de MPB. Agora é a hora que você se pergunta por que um texto sobre alguém assim no Per Raps. E a gente te responde: porque Marcela Bellas junta tudo e faz música boa. No fim, é isso que importa, não é?

Um dos primeiros shows da baiana em São Paulo rolou na Livraria da Esquina, mesmo lugar que rolou a festa do blog, e duas participações especiais foram acrescidas ao som sem nenhum plano anterior, tudo aconteceu na hora, naturalmente. Os caras convidados para subir ao palco foram Kamau e Emicida, velhos conhecidos aqui do Per Raps.

Os dois MC’s conheceram o trabalho de Marcela por causa do Myspace – “Ouvi, gostei de algumas faixas e comentei que se ela tocasse “Por Favor”, eu iria ao show. Ela disse que ia tocar e eu fui”, comenta Kamau. No show seguinte, Emicida também compareceu: “Perdi uns dois shows e num terceiro, numa quarta-feira, eu colei e fui abençoado com uma apresentação dela”.

Nesse mesmo show os dois fizeram uma participação. “Foi inusitado pois estávamos lá apenas pra assistir. Era minha segunda vez no show dela e a primeira do Emicida. O produtor dela, Fernando Montanha, perguntou se a gente faria uma rima num som que tem um rap no disco (“Esse Samba”). Aceitamos, se tivesse como irmos pra casa depois, já que a condução acabaria. Eles arrumaram um jeito e a gente participou”, comenta Kamau. Emicida também ficou surpreso: “No meio do show eu já vi os cara posicionando os microfones olhando pra gente e convidaram de surpresa. Subimos e fizemos uma sessão, foi legal pra caralho”.

E então, agora ficou interessado em conhecer um pouco mais do trabalho dessa baiana que está fazendo diversos shows em São Paulo? A gente bateu um papo com ela, dá uma olhada.

Per Raps – Quando começou o interesse pela música?

Marcela Bellas – Ainda na infância, desde que comecei a falar. Adorava cantar. Cantava tudo o que ouvia e aprendia. Para mim, naquela época, todas as músicas eram de Roberto Carlos. Ele aparecia na televisão e era a imagem que eu tinha de um cantor. Minha avó conta sempre uma história que quando me perguntavam o que eu queria ser quando crescer eu dizia: ‘Roberto Carlos’ (risos).

Per Raps – Quais foram suas influências?

Marcela Bellas – Sempre ouvi muita música brasileira, com certeza esta é a minha base. Ouvia de tudo: Novos Baianos, Ademilde Fonseca, Secos e Molhados, Caetano Veloso, Dorival Caymmi, Chico Buarque, Gal Costa, Cazuza, Maria Bethania, Paralamas do Sucesso, Gil, Olodum, as músicas do carnaval da Bahia… Acho que o que me influenciou foi justamente essa diversidade.

Quando eu ouvi o rock dos Beatles e trip hop inglês do Portishead, cheguei à sonoridade que faltava pra mim. Toda a qualidade do som produzido lá fora, dos timbres de guitarra, o recurso da música eletrônica… Tudo influencia. O cotidiano, os sentimentos, o tempo.

Cada vez mais venho descobrindo sonoridades e me identificando com elas, como o Reggae e o Dub, que demorei um pouco mais pra assimilar, mas que têm me inspirado bastante; o Rap entrou na minha música de uma forma muito natural. Em casa já estou até arriscando umas rimas (risos).

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Per Raps – Como você conheceu o trabalho do Emicida e do Kamau? Por que eles foram os escolhidos para participar do seu show?

Marcela Bellas – Conheci os meninos através do Myspace. Fiz o lançamento do álbum ‘Será que Caetano vai gostar?’, que está disponível para download no site e no Myspace e Kamau já tinha escutado por lá. Ele me escreveu e disse que se eu fosse cantar “Por favor” (música preferida dele do meu disco), iria no show. Eu respondi ‘com certeza’ e eles foram! Depois do show ficamos conversando e aí rolou aquela energia! Em seguida fiz um show na Livraria da Esquina e eles estavam lá. Chamei os dois para subir no palco e foi muito legal! Tem sido uma troca maravilhosa, eles são muito bons, já virei fã!

Per Raps – Por que a escolha do Dj KBça para participar do disco?

Marcela Bellas – Quando vim para São Paulo, no começo do ano, morei um tempo na Pompéia e KBça era meu vizinho. Ele passava o dia todo tocando Black music (risos) e produzia umas coisas de Rap com Lucky (Poesia gangster). Mostrei o disco a ele (KBça), que se interessou em fazer um remix da música “Esse samba”. Depois convidei Lucky pra entrar na brincadeira e o resultado deu samba e ficou Rap (risos)!

Per Raps – Qual a sua ligação com o Rap?

Marcela Bellas – A minha ligação com o Rap vem primeiro da admiração. Assim como o Reggae, Rap pra mim é uma luta de paz, é a expressão do povo pela igualdade social, pelo amor, pela fé. E essa também é a minha missão como artista. Ritmo e poesia fazem a minha cabeça!

Per Raps – Quais são seus artistas preferidos do gênero?

Marcela Bellas – Racionais MC´s, Kamau, MV Bill, Rappin’ Hood e Emicida… Não sou uma grande conhecedora do gênero, mas tenho a impressão de que essa lista ainda vai crescer bastante!

_________

E o que essas incursões musicais podem trazer de bom ao rap? Kamau acredita que, como o rap sempre teve fontes variadas de boa música, essas parcerias agregam valores musicais e pessoais ao som e “apresenta nossa música para pessoas que talvez demorassem pra chegar até nós e vice-versa”.

Emicida crê que as parcerias agregam não só ao rap, mas aos outros estilos também. “O que não pode haver são pessoas achando que estão fazendo favores ao rap, porque o rap não precisa de favores”, completa. O MC conta que o caso da parceria com Marcela foi bom por ter acrescentado – “Foi uma sessão bem ‘louca’ de rima, uma parada tipo partido alto, improviso, ‘nóiz’ com a banda, com o público. Parcerias sempre são boas quando há respeito de ambos os lados”, finaliza.

Nesta quinta (16), Marcela Bellas participa do show do Mão de Oito ao lado de Kamau e Emicida

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Mão de Oito @ Studio SP

Local: Studio SP – Rua Augusta, 591 (Centro)
Entrada: Homem/R$ 25,00 ou R$ 15,00 com nome na lista
Lista: studiosp@studiosp.org

E a sua opinião, qual é? As parcerias são positivas para o rap? O que achou do som de Marcela Bellas?


“Faixa a Faixa” – Non Ducor Duco por Kamau – Parte II / Videoclipe “É o Moio”

Kamau em ação por Acauã Novais

Kamau em ação por Acauã Novais

Pra quem achou que tínhamos esquecido, segue a segunda parte da resenha faixa a faixa do disco Non Ducor Duco, dixavado pelo próprio Kamau. Boa leitura!

10 – Domínio

Todo mundo quer saber do Dominantes, mas a gente fala no começo da música: não é grupo. Não pretendemos lançar nada. Já tive a idéia de fazer algo com o Parteum, mas pela incompatibilidade de tempo não rolou. Na minha parte da letra, eu falo de dominar a minha vida e na segunda parte eu falo de dominar o que eu faço, que é rimar, de falar o que eu quero falar. Sobre o Rick, a história de porque ele não participou já foi contada, mas tem uma coisa muito importante a ser falada agora: o Simples não acabou.

11 – Resistência
O Kl Jay é um dos maiores exemplos de longevidade, de evolução dentro do hip hop. Acho que as duas maiores referências que a gente têm são ele e o Brown, que continuam relevantes hoje em dia. Não que as outras pessoas não sejam relevantes, mas muita gente perde o fio da meada e se perde lá pra trás, ou quer pular demais de fase e acaba se tornando outra coisa. O Kl Jay continua sendo ele, o Brown continua sendo ele, e os caras estão à frente de muita gente que chegou agora, e continuam, na minha opinião, tão relevantes quanto no Holocausto Urbano, no Consciência Black.

12 – Sabadão
Eu sempre saí bastante, desde de uns 18 anos, mas nunca foi pra arrebentar na balada, foi sempre pra trocar idéia com o pessoal, me divertir. Aí eu parei um pouco de sair pra me concentrar no disco, mas eu ainda sou uma pessoa da madrugada, de ficar pensando milhões de coisas, escrever, ouvir música, ficar na net. Eu parei um pouquinho de sair uma época, mas esse é meu trampo né, eu gosto de ouvir música, de ver as coisas acontecendo, de conhecer pessoas.

Muita gente veio falar pra mim: “Pô, mas você ta reclamando dos caras que pedem VIP pra entrar nos rolês!” Mas ninguém prestou atenção que no começo eu ligo pra alguém pra conseguir um VIP. Porque às vezes as pessoas têm grana, mas pedem VIP pra falar que é VIP. Eu não gosto de ficar pedindo não, mas às vezes eu quero muito e não tenho grana, e aí eu peço mesmo. E eu peço pra quem eu sei que eu posso pedir, pra alguma pessoa que eu sei que vai me entender, que a gente já se conhece. Mas tem gente que eu nunca falei, nem conheço, que me liga pra pedir, e é desses caras que eu falo na música. Imagina eu ligar pra produtora do show do Kanye West: “E aí, eu sou do rap, não tem como você me arrumar um ingresso?” Não é assim.

Geralmente nessas músicas que falam de balada, ou o cara se deu bem ou ele se deu muito mal, nem chegou na balada. E essa daí é só uma balada ruim, ta ligado? Mas é assim mesmo que funciona, é mais real pelo menos, a balada tava ruim e eu fui embora.

13 – Komwé
Hoje em dia todo mundo é paparazzi, todo mundo é crítico, e muita gente fala da vida da pessoa sem saber de nada. Só porque a gente vê uma pessoa toda semana, em um pedacinho do dia dela, a gente vai saber como ela é? Não é assim. E tem um monte de gente falando de mim, do Emicida, do Kl Jay, do Mano Brown, do Rappin’ Hood, do B. Negão e de sei lá mais quem, tudo sem saber do que está falando.

Os caras não sabem como é, então quem fala o que quer escuta o que não quer mesmo. Komwé é tipo “E aí?” em Angola, quem me ensinou isso foi o MC Kappa (MCK) que é de lá e que eu conheci por aqui.

14 – Amar é
Em todas as músicas de relacionamento que eu já fiz, cada uma foi direcionada pra uma ou mais pessoas. Essa é uma música de amor em que eu tento definir o que é o amor. Existem várias formas de amar, de amar várias coisas, pessoas, formas diferentes. Quando a gente ama, a gente sente várias coisas que eu falo na rima mesmo, a gente se esforça sem esperar por retorno. Faz porque acha legal, sem esperar nada em troca. Eu estava numa situação estranha na época também, refletindo bastante sobre isso e acabou saindo a letra.

15 – Tambor
Tambor é um resgate do que é a nossa música, de como era feita a música na África e muita coisa não chegou pra gente aqui do jeito que era lá, porque as pessoas que trouxeram os escravos pra cá não queriam que a cultura se perpetuasse, só queriam usar pra finalidade de trabalho, usar a mão de obra mesmo, não era um intercâmbio. Mas ao mesmo tempo a parada é tão forte que não tem como tirar isso da pessoa.

E a linguagem do tambor, que veio de muito tempo atrás, continua sendo ‘mais ou menos’ a mesma, e isso é uma forma de resistência também, de perpetuar a nossa idéia. O tambor mudou, mas é o que eu falo, desde o djembê até a MPC continua a mesma essência. A gente mudou o jeito de tocar o tambor, mas muitas pessoas não mudaram a idéia e só mudaram talvez o jeito de falar, para que a idéia possa ser entendida e se propagar. O Rincon e a Thalma arregaçaram nessa música.

"Não sou conduzido, conduzo" - Acauã Novais

"Não sou conduzido, conduzo" - Acauã Novais

16 – A quem possa interessar
A primeira parte é livremente baseada no meu irmão, que corre atrás de trampo, de estágio. Ele fez colegial técnico, então ele acordava cedo e não tinha muito tempo pra fazer as outras coisas que ele gostava, mas ao mesmo tempo ele gostava de estar ali. Ele gosta do trampo que ele faz porque é o que ele escolheu, mas tem muita gente que não gosta do que faz porque não escolheu aquele trampo, e por um acaso se tornou técnico de televisão, por exemplo. Mas é um trabalho digno, a pessoa se sente bem trabalhando e tendo as coisas delas, fazendo o corre dela.

Muita gente quer tripudiar em cima, às vezes você trampa 15 anos da sua vida, compra um carro, aí chega alguém falando: “Ta boy hein?” Boy? Você guardou dinheiro por 15 anos e ta boy? Não caiu do céu não, ta ligado. E a música é também pra que essas pessoas não se preocupem com aquelas que só vêem quando você conseguiu juntar, que é pra você continuar fazendo seu corre que também compensa. Correr pelo certo compensa.

A segunda parte é baseada num camarada meu da escola que estudou pra caramba pra passar no vestibular, e ele conseguiu mesmo uma bolsa num cursinho particular, passou em arquitetura na USP e hoje ele é arquiteto. Outro dia ele apareceu num show meu e disse que está trabalhando com reforma, não é bem o que ele queria, mas ele é arquiteto, ta ligado? Um camarada meu, um cara que sentava na minha frente na sala de aula, no colégio estadual, que me passava cola (eu também passava pra ele às vezes, que eu também era bom aluno), e faz o que se dedicou pra fazer.

Outra coisa que é muito importante e é um assunto que eu abordo na letra é que ninguém mais é fã de rap hoje em dia. Eu sou pra caramba. Sou fã do Rincon, sou fã do Emicida. O Emicida pra mim é um dos melhores, eu falo pra ele e ele não acredita, mas ele é inspiração pra mim, tanto quanto o Kl Jay, quanto o Brown são. E os caras têm medo de falar que são fãs, chegam em você cheio de dedos: “Aí, não é querendo não, ta ligado, não é querendo pagar mas eu gosto da sua música”. Pô, gosta do negócio, admite que gosta, que é fã, não tem problema nenhum nisso não.

Kamau mostrando suas rimas para o público da Neu (17/04) - Acauã Novais

Kamau mostrando suas rimas para o público da Neu (17/04) - Acauã Novais

17 – Homens trabalhando
Aquela conversa que rola minha e do Nave antes do beat foi uma simulação da realidade, a gente reproduziu uma conversa que tínhamos tido antes de verdade. Isso só quer dizer que a história não acabou.



Perdeu a primeira parte? Clique aqui para conferir.

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Videoclipe – É o Moio

Como prometido, o Pentágono colocou no ar, ontem (21) à noite, o videoclipe da música É o Moio, do disco Natural, dirigido por Pedro Gomes. Filmado em alta qualidade, com definição de cinema, o clipe é uma produção como nunca vista antes no rap nacional. Corra e seja um dos primeiros a assistir o vídeo, clicando aqui.

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Festa

Quateirão apresenta: Funk Buia e Dj Tano

Quateirão apresenta: Funk Buia e Dj Tano

Nesta quarta-feira (22), a festa Quarteirão recebe o MC Funk Buia e o Dj Tano na Jive Club. A discotecagem fica por conta do Dj Kefing ( Lua, Tapas)

Serviço:
Hoje (22) na Jive Club.
Al. Barros, 376. Higienópolis – Sao Paulo/SP
Informações: 3663-2684 ou http://www.jiveclub.com.br/
Lista: quarteirao2009@gmail.com
Aceitam cartões de crédito e débito Visa e Mastercard

E aí, o que achou da resenha do disco do Kamau? Gostou? Era isso mesmo que pensava das músicas? E o clipe do Pentágono, viu? Gostou? Comente e expresse a sua opinião.

“Faixa a Faixa” – Non Ducor Duco por Kamau – Parte I

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Passados cerca de oito meses do lançamento de “Non Ducor Duco“, é chegado o momento de falarmos um pouco mais do álbum que foi considerado pela revista Rolling Stone um dos 25 melhores discos brasileiros de 2008. Inspirado em uma fórmula estrangeira, o Per Raps foi ao encontro de Kamau para fazer uma espécie de raio-x desse trabalho. O MC falou um pouco sobre a repercussão do disco (que você pode conferir aqui) e ainda falou sobre cada uma das faixas separadamente, para a alegria de seus fãs. Confira:

O ÁLBUM:

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Non Ducor Duco

O disco ia chamar Parte de Mim. Aí eu vi um anúncio de um disco em algum lugar com o mesmo nome e já desisti, não dava pra ser igual. Aí eu lembrei dessa frase, “Non Ducor Duco” (Não sou conduzido, conduzo), que é uma frase que eu sempre pensei e sempre gostei por ser o lema da cidade de São Paulo. Eu gosto muito daqui. Mesmo. E eu não consigo ficar longe daqui, eu me sinto à vontade em cidades parecidas com essa, mas aqui é o lugar que eu consigo ser o que eu sou. Tudo isso me fez lembrar a frase e pensar na força dela, porque agora era tudo na minha mão mesmo. Não que não fosse das outras vezes, mas agora eu não dependi da opinião de ninguém.

AS FAIXAS:

1 – (Escuto) Vozes
Eu pensei em vários jeitos de começar a contar a história, pensei em fazer só uma rima ou só um instrumental, mas cheguei à conclusão que não devia falar nada. Eu pensei nessa parada de “escuto vozes” porque eu escutei muita coisa antes de chegar nesse estágio da minha vida, no rap. O que também é um detalhe muito importante e quase ninguém fala é que as colagens que o Dj Willian usa são rimadas. Eu gostei muito de trabalhar com ele de novo, já tinha feito a mixtape Sinopse com ele. O Primo ia fazer essa introdução, mas ele estava muito ocupado na época e ele mesmo achou que não ia conseguir encaixar bem as frases, eu tinha separado várias já. Aí falei com o Willian, ele se empolgou e encaixou tudo muito bem.

2 – Só

Tinha uma primeira versão, com a produção do Dj Zinco, que era pra ter saído na mixtape da A-Place. Aí eu falei pra ele que ia pôr no meu disco, ele até pediu pra eu esperar a mixtape, mas ela não saiu até agora, né Maurício? (risos) Então eu quis fazer a minha versão e complementar, acho que ela tem bem a ver com o meu disco. A letra tinha sido feita faz um tempo e eu complementei uma parte só pra essa versão, uma parte um pouco mais atual.

A produção dessa faixa é minha, eu produzi mais algumas faixas desse disco, mas nunca produzi muito pra fora, pra outras pessoas. Produzi o disco do Simples, algumas músicas com o Consequência, mas não faço muita batida pra fora. Eu gosto de produzir, mas não consigo chegar onde eu quero, sou chato. Então não tenho essa coisa de preferir rimar nas minhas produções. Se eu pudesse fazer um disco inteiro com o Parteum e o Nave, eu faria…

Agora que eu to me sentindo mais produtor porque eu consigo dar palpite musical pras coisas, consigo direcionar um músico pra tocar o que eu quero na minha música, e acho que isso que é ser produtor de verdade.

3 – Evolução na Locução

A idéia da rima é falar da minha evolução. Eu vou falando de uma evolução mais genérica na primeira parte, depois de estar dentro de um grupo e da carreira solo. E depois, na segunda parte, o que muita gente ainda não percebeu é que eu rimo com todos os nomes das músicas do Consequência. E ainda tem o nome do Prólogo no final…

Eu queria agradecer o Dj Suissac, do Mzuri Sana, pela base dessa música. Me sinto honrado de ser o primeiro a ter uma base dele, é a primeira que ele faz pra fora do Mzuri. Ele é bom, “Era uma vez três” é um clássico e a base é dele.

4 – Parte de Mim

O Parteum me mostrou a primeira base pra esse som durante uma sessão com o Pep Love e o Casual, do Hieroglyphics. Ele estava mostrando umas bases pros caras, aí eu comentei que ia fazer o disco, ele mostrou uma base que eles não quiseram e eu falei que queria ela pra mim. Eu cheguei até a gravar ela, mas a sessão se perdeu. Aí quando eu fui gravar a versão pra esse disco, ele encontrou a sessão, mas eu falei que queria uma nova e nós gravamos de novo.

A idéia da letra tem um duplo sentido: ‘parte de mim’, de ser um pedaço de mim, e ‘parte de mim’, das coisas que partem da minha iniciativa, da minha vontade, ou as rimas que saem de mim.

5 – Não acredite se quiser
Eu sentia a necessidade de expressar minha opinião sobre esses assuntos (mídia, história e religião) e chamar um pouco a atenção pra isso. Eu vejo muita gente abraçando a idéia, com explicações vagas sobre alguns temas, mas a gente têm a opção de não acreditar, de não escolher certas coisas. Eu sei que é fácil falar quando se está de fora, quando a gente não sabe a situação da pessoa que escolheu, que abraçou aquilo.

Muita gente fala: “na televisão passam coisas que alienam as pessoas”. Eu já assisti novela, ta ligado, hoje nada mais daquilo me chama a atenção. Mas eu sei o que aquilo quer dizer, eu não vou acompanhar a novela e fazer tudo que ela falou que é legal ou que não é legal. Eu já tenho minha opinião sobre várias coisas do mundo, a novela não vai mudar minha opinião radicalmente, não vai formar a minha opinião. Tem coisas que eu posso tirar de positivas também.

Agora a gente têm a internet pra buscar a informação, mas ao mesmo tempo tem muito lixo na internet. As pessoas falam: “não, mas eu vi na internet!” E daí que você viu na internet? Qualquer um coloca qualquer coisa lá. Então as pessoas têm que ter um filtro. É sua experiência de vida que vai formar sua opinião.

6 – Porque eu rimo

Os MCs que eu convidei são aqueles que estavam mais próximos de mim no momento e que eu achava que tinham alguma coisa a dizer. A maior ausência nesse som é o Rick, que eu queria que tivesse participado dessa também. A idéia da letra é bem simples e o que eu falo no começo né, são os motivos de rimar de cada um.

7 – Vida
Eu perdi um parceiro, chamado Skitter, que é aliado dos meninos do Primeira Função também. No meu aniversário eu fiquei sabendo que ele tinha se suicidado. Foi a primeira pessoa próxima da minha idade que eu perdi, e depois disso eu perdi mais dois primos, um assassinado e outro que sofreu um acidente de moto. Um era da minha idade, o outro era o meu primo mais novo, e foi uma parada muito estranha. A gente vê as pessoas mais velhas passando pra outra fase pelos mais variados motivos, mas geralmente é porque elas já viveram bastante, e essas pessoas ainda tinham muita coisa pra viver.

Eu não queria fazer um som lamentando a morte deles, mas queria celebrar a vida deles e ao mesmo tempo me perguntar algumas coisas, então eu fiz como se fosse uma conversa com eles. E ao mesmo tempo que a gente perde algumas pessoas, outras nascem todos os dias. E na terceira parte eu falo disso…eu não vou ser pai ainda, mas eu fiz pra um filho ou uma filha que vier. Eu acho da hora aquela música do Xis, ‘Tudo por você também’, e aí quando o filho dele nasceu ele colocou o nome que já estava na cabeça dele, que era Joshua. Eu acho legal eu poder mostrar isso pra um filho ou pra uma filha e falar: “essa música eu fiz pra você antes de te conhecer”.

Emicida, Jeffe e Kamau no Indie Hip Hop 08' por Ênio César

Emicida, Jeffe e Kamau no Indie Hip Hop 08' por Ênio César

8 – Equilíbrio

O que eu mais busco equilibrar na minha vida é entre o que eu quero e o que eu preciso. Muitas vezes a gente precisa de alguma coisa que a gente não sabe, e muitas vezes a gente quer uma coisa que a gente não precisa. É exatamente isso que eu falo: vontade e necessidade; responsabilidade e felicidade. É isso que eu tento equilibrar, tudo isso aliado à minha carreira.

9 – Instinto
É a primeira música que eu escrevi quando entrei no Instituto. Ela tem duas partes com o Instituto e uma terceira parte que eu escrevi pra esse disco. Eu acho que é uma letra meio de MC, que a gente escreve meio no instinto mesmo.  É tipo uma letra de exercício, que você vai colocando a idéia no papel e ela vai fluindo. Mesmo assim, ela não deixa de ter uma conclusão. Já tinha na segunda parte e agora ficou bem mais claro com a terceira parte. A base é minha e do Primo.

(Continue acompanhando o Per Raps, a segunda parte sai nos próximos dias).

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Festa

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Para quem fica em Sampa neste feriado, uma boa dica é colar na festa da Colex, que levará ao palco o grupo Mzuri Sana. O trio formado por Parteum, Secreto e o DJ Suissac, (com 10 anos de carreira, dois álbuns lançados pela gravadora Trama, diversas apresentações pelo Brasil, além de um DVD no forno) inaugura neste sábado (11), a noite Colex: Edição Hip-Hop.

O trio mostra composições dos dois álbuns, “Bairros Cidades Estrelas Constelações” (2003) e “Ópera Oblíqua” (2006), além de visitar composições da carreira solo do MC/Produtor Parteum, conhecido por trabalhar com gente de peso como Ed Motta, MV Bill, Rappin’ Hood, Nação Zumbi e Tom Zé, entre outros”. A responsa da apresentação do show fica com o Kamau, já a discotecagem será do DJ Willian (Contra-Fluxo).

Colex Edição: Hip-Hop com Mzuri Sana
Data: 11 de abril, sábado, às 23h
Hole Club – Rua Augusta, 2203 – Jardins/SP
Ingressos: Mulheres vip até 00:30 após R$10
Homens R$12 nome na lista/flyer ou R$15 sem nome/flyer
Censura: 18 anos/Lotação: 400 lugares
Informações: (11) 3224-9730 ou listacolex@gmail.com
Site: www.mzurisana.com

Venda de camisetas e CDs no evento


Hip Hop no Mato Grosso do Sul + Dicas

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Vida em Marte – por Pedro Nachif Nunes

Logo na minha primeira tentativa de interação com a galera do blog Per Raps, me foi dada a prazerosa porém árdua missão de escrever sobre o rap proveniente do meu querido estado, o Mato Grosso do Sul; mais especificamente, a capital Campo Grande.

Explico o porquê de o trabalho ser tão árduo assim: pra quem não tá ligado, o MS é uma espécie de Texas do Brasil. A base da economia é a agropecuária, sendo o estado um dos maiores exportadores de carne bovina no MUNDO, logo, a cultura não poderia ser diferente. Pesquisas de uma emissora de rádio local afirmam que mais de 60% da população do estado consome música sertaneja, enquanto todos os outros estilos musicais “dividem” os restantes 40% (que no final das contas, é quase nada enquanto mercado).

Dentro de tal cenário, é óbvio que não falaremos sobre grandes fenômenos, histórias e números, e sim sobre o esforço que ao longo dos anos mantém a cultura viva tanto aqui quanto nos 4 cantos do país, compondo o mosaico do hip hop mais rico do mundo: o brasileiro.

A militância no MS já beira os 20 anos e nasceu na periferia de Campo Grande com grupos de break e grupos de rap, como o lendário Falange da Rima, que em certa época já chegou até a ser freqüentador do Yo! MTV, com o clipe de “Circo dos Horrores”, clássico máximo e hino do hip hop campo-grandense. Infelizmente, não encontrei esse material no youtube, mas as mp3 não devem ser assim tão difíceis de serem encontradas; vale à pena pra quem curte história do rap nacional “fora do eixo”. Também vale lembrar que quando o assunto é a recepção de grandes grupos de fora, o público sempre representou e lotou casas de shows, de SNJ à Facção Central.

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Imagem retirada do fotolog de Tox Freak Show/MS

Apesar da história, o rap através dos anos não ultrapassou a barreira dos guetos para o grande público do Estado; isso vem acontecendo (mesmo que à passos de formiga) nos últimos anos com o advento da internet e a informação globalizada. Em 2009, Campo Grande entra definitivamente para o mapa dos shows dos artistas “lado b” do rap nacional, recebendo no primeiro semestre, nomes como a brasiliense Flora Matos e o guerreiro do underground, Marechal; e bandas de sonoridade mais pop e acessível começam a usar elementos da cultura urbana e do hip hop.

“Nossa, como essa cidade é cheia grafites bonitos!” é um tipo de frase bem comum atrelada à quem visita Campo Grande. Riquíssimo em cores, o grafite do estado se destaca entre a nova escola nacional. Você pode conferir um pouco desses trampos em portfólios como Tox Freak Show, Terreo Crew, Sagradarte Crew e Arteconstante.

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Na esfera “internet”, o myspace de rap mais movimentado (ainda que bem longe de ser um fenômeno de visitações) é o do trio La Matilha. Totalmente caseiro, new school até o caroço e ativistas pela liberdade dos arquivos na web, a crew lançou 2 EPs de 4 músicas, fez poucas apresentações ao vivo e se encontra “hibernando”, em virtude da distância gerada pelas atuais correrias individuais (1/3 do grupo atualmente mora em SP).

Um dos MCs pretende lançar álbum solo (por selo próprio) no próximo verão, sob auxilio do mesmo beatmaker da crew e vários amigos da nova cena musical da cidade envolvidos e fazendo participações. Enquanto isso, vocês podem ouvir o último (até então) dos EPs caseiros do La Matilha no myspace.
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Festas

Kamau sobe ao ringue da próxima edição da Rinha dos MC´s –um dos maiores e mais conhecidos encontros de freestyle do Brasil–, que acontece nesta sexta-feira, 3 de abril, no Executivo Bar. Acompanhado de Erick Jay nos toca-discos e Jeffe nos vocais, ele apresenta músicas do álbum “Non Ducor Duco”, que chegou às ruas no final do ano passado e é resultado de quase 12 anos de batalha pelo “ritmo e poesia” feitos no Brasil.

Antes e depois do show e durante a tradicional batalha de freestyle, os DJs DanDan e Marco comandam a trilha sonora. A festa é apresentada pelo MC Criolo Doido.

Sexta (3/4) @ Rinha dos MC’s (Executivo Bar)
Endereço: r. Sete de Abril, 425, República, São Paulo, SP.
Horário: a partir das 23h.
Preço: R$ 10 (mulher free até 0h20)

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Emicida e Mentkpta @ Noite Black do Clube Harmonia
Discotecagem com os Dj’s Peen & Monk
Clube Harmonia: Al. Princesa Izabel, 2191 – Paraná/Curitiba (CWB)
Início às 23h – Homens R$12/Mulheres: R$7 (Depois das 00h30 outro preço) 

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Neste sábado (04), a atração da Zoeira SP é o rapper Renegado (BH), que fará um pocket-show para divulgar o lançamento do seu primeiro disco e do novo clip. Ele contará com a participação especial de Funk Buia.

O primeiro CD do Renegado é intitulado “Do Oiapoque a Nova York”, e foi produzido por Daniel Ganjaman. A música “Santo Errado” foi a escolhida para virar clip e será exibido na festa. Vale lembrar que o Renegado foi premiado como “Artista Revelação do Prêmio Hutuz 2008”, vencendo também na categoria de “Melhor Site”.

Os DJs são os já conhecidos Dandan (Rinha dos MCs), Kefing (cantora LUA e Tapas Club) e os Selectors Bside (Primous). Nos telões, projeções de fotos de Giovani Castelucci. Haverá também sorteio de shapes de skate ProModels da campanha CBSK, promovida pelo skatista Alessandro Mcgreggor. Os Mcs Lenda (Patchol’s) e Marcello Gugu (Afrika Kids Crew) serão os apresentadores da festa.

Zoeira Hip Hop com Renegado (BH)
Dia 4 de abril, sábado
Preço: R$15,00 (com flyer) R$ 10,00 (nome na lista) | MULHER FREE ate meia 00h
Lista: zoeirahiphop@gmail.com
Hole Club – Rua Augusta, 2203 – Galeria América – Jardins/SP
Telefones: (11) 3086-1083


Emicida – Das ruas da norte, um novo rumo pro rap (parte II)

Depois de muitas cobranças, cá está a segunda parte da entrevista com Emicida. Nesta sequencia, o MC relatou ao Per Raps histórias de sua infância e adolescência, contando detalhadamente como o hip hop entrou em sua vida. Desde os bailes que os pais ajudavam a organizar na Vila Zilda até quando se envolveu efetivamente com o rap, passando a frequentar os eventos no centro de São Paulo. Confira:

Emicida cresceu no ambiente dos bailes da Vila Zilda

Emicida cresceu no ambiente dos bailes da Vila Zilda (Enio César)

Infância e as primeiras influências

Meu pai era Dj, dançava break também e ajudava a montar um baile lá na Vila Zilda. Minha mãe também ajudava ele e os equipamentos ficavam guardados lá em casa. As caixas de som, toca-discos, caixas de bebida…porque esse que era o esquema do baile, eles compravam um goró, juntavam os equipamentos, aí de noite levavam tudo pra rua e rolavam som pra galera curtir.

Eu tinha 4 ou 5 anos nessa época e tenho até saudade porque hoje em dia não acontece mais isso. Eu ficava maravilhado com aqueles equipamentos dentro de casa, ficava mexendo, nem sabia ligar, nem sabia nada, mas ficava apertando os botões, quebrando tudo.

Até aí eu não sabia nada de rap. A primeira coisa que eu escutei de rap foi Pepeu: “Fiquei sabendo que tem um tal de Pepeu, que canta rap bem melhor do que eu” (cantou). Eu achei isso muito foda. Meu contato com o rap mesmo foi em 1993, quando saiu o Racionais, Raio-X do Brasil. Eu até comentei outro dia com o Kl Jay, porque essa foi uma parada que mudou mesmo a forma como eu via a música. Eu sempre fui muito livre, eu nunca fui tão apegado com esse negócio de rap, pelo menos nessa época aí, hoje eu sou muito mais, né.

Mas antes eu gostava de escrever minhas paradas. Meu padrasto tinha um gravador e eu ficava gravando as minhas músicas sem nem saber que era rap. Os caras dão risada quando eu falo, mas na Vila Zilda tinha uns cultos, a igreja evangélica começou a se ocupar ali e tinham vários cultos na casa de todo mundo. Todo mundo cantava vários hinos de igreja e eu comecei a cantar meus hinos de igreja também.

Foi assim que eu comecei a improvisar, porque eu não sabia que as pessoas escreviam música, iam pro estúdio, gravavam, mixavam, lançavam um disco. Pra mim todo mundo sabia a letra já, então eu comecei a inventar meus hinos de igreja em casa e daí que nasceu a idéia de fazer umas rimas. Às vezes tinham uns cultos lá em casa também. A gente vivia numa miséria fudida, então pra qualquer santo a gente estava rezando. Se viesse de Buda ou de Oxalá era nele mesmo que a gente ia.

Eu lembro que eu catei uma fita dos Racionais com um vizinho e em um dia eu sabia todas as músicas. Também era um tempo que Racionais tocava no rádio, estourou na rua, foi sucesso total, todo mundo sabia. Era muito louco, naquela época se você não fosse do rap, você era exceção.

Agora as paradas mais musicais, de improvisar dentro do rap vieram bem depois, na época da escola, lá pela sétima série. Eu tinha um camarada, o Porquinho, que a gente voltava rimando da escola. Só que a gente não sabia rimar em português. Então a gente voltava o caminho todo rimando em inglês (risos), sendo que a gente não falava inglês, né. Era muito engraçado, a gente ficava horas lá enrolando a língua e quem passava achava que a gente era louco. Aí com o tempo eu fui colocando umas palavras em português…o Porquinho rima em inglês até hoje.

Aí eu fui vendo que tinha uma identidade, que gostava de fazer aquilo, mas fiquei na minha, não saí falando pra todo mundo que fazia umas rimas. E eu fazia uns grafites na época com os caras daqui, o Djose, o Tico, e tava sempre ouvindo rap. É muito louco como o hip hop nunca se separou, porque os caras iam ali fazer um grafite e iam fazendo um freestyle no caminho. A gente se trombava as 8 horas da manhã, fazia um grafite aqui no Tucuruvi, descia na frente da auto escola que tinha um piso lisão e ficava dançando break. Essa que era a rotina, durante anos a gente viveu dessa maneira. Isso aí mostra pra mim como o hip hop é e como sempre foi, é uma parada só.

Eu conhecia o Kamau de vista, de ouvir falar. Eu gostei do Kamau antes de ouvir o som dele. Porque todo mundo falava bem do Kamau e aí eu comecei a falar bem dele também. Chegava uns caras que indicavam um som pra mim, eu virava e falava: “Mano, você tem que ouvir Kamau” (risos). Mas eu nunca tinha ouvido, vim ouvir muito tempo depois, depois que já tinha falado muito dele. Graças a Deus que ele é bom né, senão eu ia ter feito uma puta propaganda enganosa do cara.

Meu contato com o hip hop de verdade foi com esses caras daqui, o Djose…foi com esses caras que eu aprendi todas essas coisas de quatro elementos, de rua, de fazer o que a gente gosta de fazer. No grafite tem essa parada, o cara pinta porque ele gosta, não é porque vai passar um olheiro ali de uma produtora, não, é porque ele precisa escrever o nome dele naquela parede. No break também, o cara dança porque ele gosta. No rap, tem vários caras que rimam porque gostam, mas também tem uns caras que parece que o foco deles é se tornarem profissionais, só. Quer carteira assinada, ta ligado, mas a parada é você fazer porque você gosta.

As primeiras rimas

Eu sempre escrevi bastante. Aí chegou uma fase da minha vida que eu queria ter um trampo. Minha mãe estava pagando um veneno na época com o trampo dela, ela trabalhava de empregada, aí uma vez ela veio reclamar comigo e falou alguma coisa de grana, que tava foda. Aí no outro dia eu acordei cedão, desci pro mercado, fiquei o dia inteiro carregando sacola e voltei com 75 centavos. Aí minha mãe ficou puta, me deu mó ralo porque eu tinha ficado andando sozinho na rua e tal.

Aí eu fui procurar um trampo mesmo. Perto da minha casa tinha um ateliê de artesanato, eu aprendi a fazer as paradas e fiquei lá um tempo. Aí eu comprei um microfone e um saco de fita cassete, e já tinha um duplo deck em casa. Na época tinha saído uma matéria em uma revista sobre Dub que eu vi e lá tinha várias caixas de som empilhadas, um monte de fiações e eu pensei: “Isso é o que eu preciso pra fazer música, só precisa estar bagunçado”. Deixei mó zona lá em casa, liguei o microfone e aí começou.

Na época eu estudava de manhã…tinha que sair de casa às 6 horas e ficava até às 4 da manhã lá gravando rima. E como não dava pra gravar em várias pistas, eu pegava uma fita cassete, passava do deck A pro deck B, gravava de novo, tocava um bumbo…aí minha mãe me deu um teclado. Foi o primeiro voto de confiança dela. Mas foi naquelas, a intenção era: “Seu negócio é tocar um teclado e arrumar um trampo”. Ela sempre teve um pé atrás com isso aí. Mas aí quando eu ganhei o teclado eu me emocionei, aí eu já nem dormia mais antes de ir pra escola, dormia na escola.

E isso tudo sozinho. Os outros caras estavam mais na pegada de ir atrás de umas mina, botar umas roupas do rap, e ficar na esquina com cara de mau. Eu queria fazer o som, era isso que eu queria, tanto que eu nem tinha as roupas, usava uma camisa do Mickey, curtinha (risos). Meu irmão estudava na fanfarra do Sesi, tocava violão, fez aula…e ele é menor do que eu, hoje ele tem 19 anos, mas ele era pequenininho na época e eu ficava escravizando ele, pedindo pra ele tocar um violão direto pra gravar minhas bases.

Aí eu ia, gravava bumbo, caixa, ximbau, no final das contas sumia o violão. Você gravava um em cima do outro e sempre sumia o que você tinha gravado antes. O violão pegava o ximbau, que pegava a caixa, que pegava o bumbo…aí quando você ia gravar a voz virava Spoken Words, ta ligado (risos)?

"E pior que o que eu cantava naquela época, vários caras estão cantando hoje"

"o que eu cantava naquela época, vários caras estão cantando hoje"

Hoje se eu escuto essas gravações eu até gosto, acho que eu tava no caminho certo, que foi necessário falar o que eu falava antes pra chegar na idéia que eu tenho hoje. E pior que o que eu cantava naquela época, vários caras estão cantando hoje (risos). Mas era ruinzão…acho que todo mundo que começou a fazer rap, começou fazendo rap de protesto. Comigo foi igual, eu tinha uns raps sanguinários demais, que se minha mãe ouvisse me enchia de porrada. Eu tinha que gravar escondido.

Mas essa fase de sanguinário não durou muito não, porque eu sabia de mais coisas, eu sempre li bastante, também escutava outras músicas, então sempre quis falar de outros bagulhos também. Eu nem ouvia a 105, fui conhecer a rádio em 2001, então já sabia o que eram várias outras coisas.

Aí um camarada meu que chama Tonelada me deu uma fita cassete que tinha Marechal, Black Alien, De Leve…A primeira vez que eu escutei o Marechal eu odiei. O cara falava muito rápido, vários bagulho difícil, mas eu grudei o ouvido e fiquei lá tentando entender. E o pior, alguém falou pra mim que o Marechal não escrevia as rimas, que era tudo improviso. Quando eu fiquei sabendo disso, minha opinião mudou totalmente: “Esse cara é um monstro. Como que ele faz isso?” Aí eu comecei a querer melhorar no freestyle pra ser bom que nem o cara. Eu pensei: “Se esse é o nível dos caras então eu não vou meter a cara enquanto não estiver nesse ritmo aí”. E voltei pra casa e continuei com as minhas fitinhas até melhorar…

Primeira vez no palco

Um negócio legal que aconteceu é que em 2001 teve um concurso de história em quadrinhos no Estado de São Paulo e eu ganhei em primeiro lugar. O prêmio era uma viagem pra Recife e eu fui. Foi a primeira vez que eu saí do meu bairro também, o meu mundo se resumia a esse cantinho da norte aqui, Vila Zilda, Tucuruvi e Santana, ta ligado? O máximo que eu já tinha ido é Santana.

Pra mim o metrô não existia, era um bagulho de boy. Tipo: “Os caras vão trampar de metrô? Vixi, eles devem ganhar mó grana”. Eu saía muito pouco da Vila Zilda, ficava o dia inteiro na quebrada mesmo. Então o primeiro rolê que eu fiz sozinho foi pra Recife. Na verdade eu fui com a minha avó, porque eu precisava que fosse um responsável comigo e minha mãe trampava. Aí minha cabeça foi a milhão, aí que eu descobri como o mundo era grande.

No avião, os caras deram um jornal que tava falando sobre o Itaú Cultural, duma oficina de quadrinhos que ia ter, e como eu tinha ido na editora, na Cia. das Letras – saiu uma revista minha pela Cia. das Letras – eu participei de umas reuniões com uns caras lá, uns designer, só que eu era mó bicho-grilo, né mano. Ficava com a cara fechada lá, a “cara de rap”, que nem eu via numas revistas. Bom, mas aí sobre o jornal, quando eu vi que ia ter essa oficina eu pensei e resolvi que ia fazer. Já estava encaminhado mesmo, já tinha ganhado o concurso, resolvi que quando voltasse pra São Paulo ia me inscrever.

Eu voltei uma semana depois e quando fui lá no Itaú Cultural as inscrições já estavam encerradas, já tinham preenchido todas as vagas. Aí eu pensei: “Fodeu. Vou voltar pra depressão da quebrada, acabou o mundo”. Aí eu vi num cartaz que ia rolar um workshop de rap. Eu nem sabia o que era workshop, mas tinha rap no meio e eu me inscrevi. Aí cheguei no dia e tinha uma mina que chamava Janaína, que era jornalista e tava lá falando sobre rap. Era tipo uma conversa de rap pra quem não era do rap. De cara que era da rua mesmo tinha eu,mais um moleque e o Dj, que era do Sistema Racional e foi lá pra mostrar uns sons pros caras.

Até então eu nunca tinha subido num palco. E esse outro moleque era maluco, enquanto rolava a palestra ele ficava me acelerando, conspirando: “Nóis vamo fazê uma rima nesse baguio! Quando eles moscá nóis vai subir, tomá o microfone e dar várias idéia na mente desses boy!” E eu pensando: “Sai de perto de mim, você é maluco”. Eu tava na primeira fila, e aí chegou um momento que o cara jogou o microfone na minha mão. Eu subi no palco e engasguei, mó vergonha. Todo mundo pensando que eu ia arrebentar e eu engasguei.

Só que eram dois dias de workshop. No segundo dia, todo mundo ia ter que se apresentar, tinha que subir no palco e dar uma idéia no microfone. Aí eu pensei: “Você quer ver eu pegar esses caras? Vou escrever uma rima, decorar entre hoje e amanhã, quando eu chegar os caras vão pensar que é freestyle, vou arregaçar”. Voltei pra casa, fiquei a madrugada inteira escrevendo, lendo, decorando. Decorei tudo.

Cheguei no segundo dia, na hora que jogaram o microfone na minha mão, esqueci tudo. Aí saiu um freestyle mesmo, da magia do bagulho. Todo mundo vibrou, bateu palma, uns lá falaram que tava arrepiado. Esse foi o primeiro momento que eu peguei no microfone mesmo.

Mas aí eu voltei pra quebrada, continuei trampando com o artesanato no ateliê, e um dia, numa sexta-feira à noite, um dos caras que tava lá no workshop me ligou, era o Carlos Magalhães, que é músico, trampa com publicidade. Ele me falou de um desenho animado, que tinha um personagem que falava tudo rimando, que eles tavam precisando de alguém, me convidou pra fazer esse lance de dublagem e eu fui lá ver como era. No dia de ir eu estava tão ansioso que nem dormi. Fui tomar um suco de maracujá no metrô, no caminho, e tava tão nervoso, tremendo, que caiu suco na minha camisa, manchou tudo. Aí comprei outra camisa no caminho e fui.

Lá eu conheci um cara que chama Felipe Vassão, que é o cara que produziu a Triunfo. E quando eu cheguei lá eu gostei dele de cara, porque ele viu que eu era um bicho-grilo mesmo, que estava no estado mais bruto que podia ser. Aí ele começou a trocar uma idéia comigo pra eu me soltar e tal, porque eu não ria né, e desenho animado tem personagem feliz, tem que sorrir. Aí eles me trancaram no aquário do estúdio e eu fiquei improvisando uma cara, falando vários bagulho, de quebrada, de pegar uns boy (risos), e ele se ligou que uma hora esses assuntos tinham que acabar. Aí ele deixou gravando lá e chegou uma hora que eu comecei a falar outras coisas mesmo…Eu tinha um texto e tinha que criar as rimas em cima daquele texto, fiquei improvisando horas. O desenho era sobre um foguetinho que ficava rodando no espaço, mas acabaram nem lançando isso aí.

Depois eu voltei pra casa, pra quebrada, os caras nem ligaram mais e eu continuei trampando com artesanato, escrevendo, gravando as fitinhas. Nessa época eu já colava em uns eventos, mas ia sozinho, porque os moleques da quebrada já tavam em outro role…Não tinha um rap do 509-E que o Afro-X falava: “Axé comigo, na fé bandido”? Então, os caras entenderam que axé, era axé music. Os caras entravam numas comigo e falavam: “Não mano, o Afro-X deu a idéia que axé é nóis também”. E eles começaram a ir nuns roles de axé com roupa de rap.

O início no rap

Eu que vi que eles tavam entendendo tudo errado e não fui no peão com os caras, comecei a colar nuns rolês de rap lá no centro, na 20 de novembro, essas paradas. Mas eu colava e ficava na minha, não me envolvia, eu nem sabia trocar idéia. A galera sempre ia numas rodinhas e eu ficava sempre de canto. A primeira vez que eu me envolvi foi na Olido, quando rolava sessão de rap. Porque lá eu não tinha que trocar idéia, eu tinha o microfone. Eu trocava idéia depois de rimar.

As rimas de Emicida ganharam popularidade em um curto espaço de tempo (Enio César)

As rimas de Emicida ganharam popularidade em um curto espaço de tempo

A primeira vez que eu peguei o microfone na Olido foi engraçada, se você perguntar isso pro Kamau ele vai chorar de rir. Eu tinha conhecido ele uma semana antes e ele me falou que tava rolando essa parada na Olido e me chamou pra ir. Porque a primeira vez que eu fiz batalha de freestyle foi logo contra o Kamau. Acho que foi isso que me deixou retardado também porque eu já tinha pegado ele mesmo, o que podia vir de pior? Eu já não tinha medo de ninguém.

Foi um lance numa rádio comunitária lá de Santana do Parnaíba, que tinha um programa de rap. Aí um amigo meu, o Bruno, questionou os caras por que eles tinham um programa de rap e não tinham um cara do rap lá pra participar. Ele me indicou, passou meu telefone e os caras me ligaram pra eu fazer um freestyle, improvisar lá na rádio. Aí eles falaram que iam me buscar no trampo e me trazer de volta, eu falei: “Demorou”.

Eu fui, cheguei lá e quem tava lá era o Kamau. Eu paralisei. Um cara virou pra mim e falou: “Então, você vai enfrentar ele ali”, apontando pro Kamau. Até então ele era o cara que eu falava bem pra todo mundo, mas nunca tinha visto…tremi né. Mas na hora da rima eu segurei, mandei bem, o Kamau até veio me elogiar. E nessa que ele me chamou pra rimar na Olido.

E nessa primeira vez que eu colei na Olido estavam o Kamau e o Arnaldo Tifu fazendo freestyle. Eu lembro que eu colei no meio da galera, fiquei olhando, aí o Kamau me viu, já falou alguma coisa no ouvido do Tifu pra ele me chamar no microfone. Aí o Tifu já mandou uma rima terminando com ida e “eu vou chamar aqui o meu parceiro Emicida”. Aí eu até meti uma mala, pensei: “os caras já me conhecem, já tão ligado como funciona” (risos). Mas foi foda, porque aquela foi a primeira vez que eu ia pegar o microfone e rimar pra tanta gente.

A solução que eu arrumei foi rimar de costas pra platéia. Eu também não sabia segurar o microfone, segurava lá embaixo e nem saía o som direito. O Kamau vendo aquilo ficava tentando me ajudar, falando pra eu levantar o microfone e eu, todo mala, virava pra ele e falava: “É meu estilo, mano” (risos). Essa foi a primeira sessão de rap mesmo que eu fiz, e foi a partir desse momento que eu comecei a conhecer os caras. Comecei a colar lá com mais freqüência, comecei a trocar uma idéia e falar com os caras que eram do rap mesmo. Foi aí que eu descobri que eu não era o único cara que fazia improviso, ta ligado?

Estúdio / Felipe Vassão

Certo dia, os caras do estúdio que eu tinha gravado as rimas pro desenho me ligaram porque eles precisavam de alguém que fizesse uma rima pra uma lan house francesa que ia lançar um cd. Aí eu fui lá, escrevi uma rima, gravamos, eu conheci uma galera lá que também trampava com produção, mas na hora não deu em nada. Ganhei uma ajuda de custo e voltei. Mas uma semana depois os caras me ligaram perguntando se eu não queria trampar no estúdio. Aí eu saí do ateliê, onde eu tirava uma grana boa pra mim na época e fui pra lá onde os caras só bancavam minha condução e o rango.

Eu fiquei um ano e meio, quase dois anos trabalhando lá de assistente, até um dia que eu fui pedir um aumento, pedir um salário e aí os caras não aceitaram e eu saí de lá. Mas essa fase foi muito importante pra mim, porque o Felipe Vassão fazia uns trampos de freelancer lá e ele me ensinou praticamente tudo de música, ele que me ensinou a ouvir de tudo. Tanto que hoje quando eu encontro com ele, a gente troca idéia do disco novo da Madonna, por exemplo. E a gente ainda elogia, porque dentro daquilo tem coisa que a gente acha interessante e tem coisa que a gente gosta.

A gente troca umas idéias que pra vários caras seria bizarro pensar que a gente estaria falando daquilo, mas é extremamente natural. Ele me ensinou a ter essa liberdade, uma idéia de que você escutar um outro tipo de som, conhecer outras coisas, não vai te fazer ser menos você. Você vai crescer e conhecer mais, informação nunca é demais.

E fora isso ainda aprendi muita coisa técnica, tive meu primeiro contato com o Pro Tools (programa de gravação e edição de áudio), outros programas. Ainda vi o ritmo de estúdio, como funcionava…porque até então na minha cabeça gravar uma música era um negócio mágico, você escrevia, aparecia uma música de algum lugar e surgia o disco. Do nada. Foi lá que eu aprendi que as pessoas escreviam, faziam a base, iam pro estúdio, gravavam, mixavam, tinha uma gravadora que lançava. E eu fiquei ligeiro nessas paradas de organização, prestava atenção, ficava pesando nos caras que iam lá gravar. Comia a mente dos caras mesmo, era chatão, perguntava de tudo.

Emicida comprou a MPC do estúdio onde trabalhou por algum tempo

Emicida comprou a MPC do estúdio onde trabalhou por algum tempo

E tinha uma MPC lá. Antes, eu só tinha visto uma MPC em uma revista de som gringa que eu achei na rua, e tinha uma matéria de MPC. Eu vi lá escrito “rap”, “MPC”, aí achei que tinha a ver comigo e traduzi a matéria em casa, falava de produção, de usar a MPC junto com uns teclados, tal. A partir daquele momento eu pus na minha cabeça que eu precisava ter uma daquelas, mas nem imaginava aonde procurar uma. Aí quando eu vi a MPC no estúdio, meus olhos brilharam: “Caralho, você tem uma MPC!”. E eles perguntaram: “É, por que, você conhece?”. E eu: “Ôôôôô. É uma MPC!” (risos). Mas eu nem sabia de nada. Hoje em dia eu tenho uma MPC, comprei justamente essa que estava nesse estúdio.

Com essa MPC eu costumo fazer umas prés, eu tenho idéia de uma batida, aí eu programo ela e passo as idéias pra frente, não produzo as músicas inteiras ainda. A produção do meu disco deve ficar na mão do Felipe, que produziu Triunfo também. Porque a gente tem umas idéias muito parecidas, o trabalho flui bem.

(Na semana que vem, o Per Raps traz uma promoção exclusiva em que iremos sortear camisetas da Na Humilde Crew aos nossos leitores. Continue acompanhando…)


Vídeos: M-Phazes e Evidence + Dicas

O carnaval terminou e o Per Raps volta a aquecer os motores com dois vídeos que foram publicados no site especializado Okayplayer.

No primeiro, o superprodutor australiano M-Phazes remixa um instrumental feito para o MC Pharoahe Monch e “da uma aula” de produção, com um beat sensacional. É só o refrão, mas já da pra ter uma idéia de como vai ficar a música.

O segundo é o clipe de For Whom the Bell Tolls, do rapper Evidence, integrante do grupo Dilated People, de Los Angeles, e produzido por Khrysis. O som e o vídeo têm participações de Phonte, do Little Brother, e Blu nas rimas, além de Will.I.Am nos refrões. A música faz parte do EP The Layover, lançado por Evidence no final do ano passado.

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Dica

No blog de cultura de rua Mixtape BMX, do parceiro Cae Oliveira, você encontra um texto escrito por Eduardo Ribas sobre o rapper Blu. O MC californiano, que é mais conhecido por sua parceria com o produtor Exile, dessa vez recebe o destaque por sua última mixtape; “Her Favourite Colo(u)r”, lançada em 2009 e disponível para download. 

Blu costumava cantar em corais de igreja quando menor e iniciou no rap por influência de DMX. Celebrado como um dos novos artistas mais interessantes pela mídia especializada, o rapper apresenta um trabalho maduro e bem feito.”

 Tem tempo ainda de passar por idéias pessoais sobre seus caminhos na vida, reavaliando seu passado ligado à Igreja. Eu costumava ter paz e serenidade/Ensinando sobre o divino/ Partindo o pão, bebendo o sangue, comendo ao lado de inimigos/ Cego, pensando se fomos feitos pra ser/ Isso, aquilo ou talvez uma terceira opção/ Mano, será que aprendi (?), mesas viraram“. (Blu no som “Amnesia”)

Continue lendo no blog Mixtape BMX.

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Festa

O rap tem vez no Sarajevo com a comemoração do aniversário do Kamau neste domingo, 1º de março. A apresentação trará convidados ao palco, além dos já conhecidos Erick Jay e Jeffe. O show é baseado no álbum “Non Ducor Duco”, considerado pela edição brasileira da revista Rolling Stone como um dos 25 melhores discos nacionais de 2008. 

A festa começa ás 20h e traz a discotecagem do Dj Nyack, B8 e outros convidados. Você tem a opção de pagar R$ 10 de entrada ou R$ 20 com direito a consumação. Quem chega com o flyer (que pode ser impresso do site da casa) paga R$ 5. As primeiras 50 mulheres não pagam. O Sarajevo fica na Rua Augusta, 1397, sentido centro, próximo ao metrô Consolação.

Serviço:

Kamau e convidados no Sarajevo
Domingo, 1º de março, 20h
Rua Augusta, 1397, Consolação
Tel.: 3938-7163 ou 3253-4292
Acesse o site do Sarajevo para imprimir o flyer de desconto


J-Dilla mudou minha vida (1974-2006) – III

Nuts, Rodrigo Brandão, Daniel Sanchez, Munhoz, Rump, Parteum, Tamenpi e Nave

Nuts, Rodrigo Brandão, Daniel Sanchez, Munhoz, Rump, Parteum, Tamenpi e Nave

8 histórias e uma influência

“O Jay Dee já era presente na minha vida, antes até de eu pensar exatamente em produzir minhas coisas ou de eu estar atento pra quem ele era”. Essa frase de Tiago Munhoz – conhecido apenas pelo seu sobrenome, seus trabalhos como MC (hoje no Contra Fluxo) e sua produção de beats – exemplifica bem o primeiro contato com Dilla. Não só ele, como várias outras pessoas curtiam suas produções, sem saber exatamente de quem eram. Isso aconteceu também com o produtor curitibano Nave. “Comecei ouvindo os sons do A Tribe (Called Quest) e do Busta (Rhymes), as músicas que eu mais gostava eram nos beats dele, e quando descobri fui saber mais sobre o trampo dele“, relembra.

Imagine a sensação de descobrir que a maioria dos sons que você mais curtia eram produzidos por uma mesma pessoa? Para o Dj Tamenpi serviu de incentivo para ir atrás de outros sons. “Quando fui ligando uma coisa a outra, vi que era ele que tinha produzido vários dos meus sons prediletos. Daí foi só pesquisa, peguei tudo que o cara fez e piro com grande parte desses sons”. Mas se um disc-jóquei gosta de um tipo de música, então aqueles que estão na pista saberão do que se trata. “Nos meus sets, com certeza uns cinco sons que o cara produziu você vai escutar!”

Esse contato com as produções do até então Jay Dee se mostrou tão poderoso, que mudou alguns caminhos. “O primeiro contato foi no segundo do Pharcyde, Labcabincalifornia. Eu já gostava do grupo, tinha o álbum de estréia, mas quando ouvi esse disco minha vida mudou, fiquei com uma fita K7 rolando no carro sem parar por mais de ano, juro!“, relembra nostálgico o MC Rodrigo Brandão, do Mamelo Sound System. O trabalho de produção desse álbum do Pharcyde acabou se mostrando importante para outras pessoas também.

“Eu sempre tive a mania de ler a ficha técnica dos álbuns que comprava, não foi diferente com Labcabincalifornia. O primeiro single do álbum, “Runnin’ “, foi lançado em agosto de 1995. Quando o álbum saiu em 1996, o primeiro impulso foi ver o que o ilustre desconhecido de Detroit havia feito no resto do álbum”, conta o MC/produtor Parteum. A partir desse trabalho tão diferente e inovador, fica difícil não ser influenciado. “Levo para vida o que senti quando ouvi ‘Bullshit’ pela primeira vez, o bumbo desquantizado, a caixa na frente, mais a frente dos outros elementos, um clap secundário cheio de reverb. Era uma outra noção de espaço”, completa.

Para outros, a lembrança é mais específica e relembra que a assinatura de Jay Dee no início era outra. “Ouvia suas produções para o De La Soul, Pharcyde, A Tribe Called Quest quando ele assinava beats como Ummah (coletivo de produtores de Detroit)”, afirma o paulistano e hoje internacional, Dj Nuts. Os mais novos, como é o caso do MC/produtor (Tiago) Rump, de 22 anos, tiveram um contato com trabalhos mais recentes, mas não menos importantes e inovadores. “Comecei a ouvir quando saiu o Jaylib. Levou um tempo pra eu entrar na vibe, foi quando eu conheci o trampo dele e o do Madlib. Com o tempo fui buscando tudo que ele tinha lançado. Quando o promo do Donuts vazou na net, uns dois meses antes do lançamento, não tive dúvidas de que ele era o melhor produtor de hip hop pelos meus padrões do que deveria ser um produtor”.

A importância de uma figura que partiu prematuramente do “jogo” que mais amava se mostrou mais traumática para alguns. Mas o ponto que une todos se dá em relação às influências. No caso de Munhoz, a primeira opção seria a mais apropriada. “Eu não lidei bem com a partida do Dilla. Nunca imaginei na minha vida que fosse me emocionar com a morte de alguém que eu nem conheci. E não lidei bem com a morte do DJ Primo, que foi alguém que eu tive contato, tocamos juntos, tinha uma história”.

Mas o que James “Dilla” Yancey tinha de tão diferente de outros nomes que estavam produzindo em sua época? “Se ele tivesse parado depois de produzir o já citado Pharcyde e do The Love Movement, do A Tribe Called Quest, teria seu nome na história garantido. Mas isso foi só o começo! Depois vieram De La Soul, Erykah Badu, Busta Rhymes, Common, D’Angelo, Soulquarians, e por aí vai. Sem falar no trabalho solo autoral, nas fitas Fantastic, Vol.1 (Slum Village) e Ruff Draft… Creio que ele é o equivalente no hip hop ao que um Thelonious Monk representa pro jazz”, vislumbra Rodrigo Brandão.

Além do trabalho com grandes nomes, Dilla trouxe inúmeras inovações ao modo de se produzir um beat. Quem explica melhor é Rump. “Não é algo fácil de traduzir em palavras, mas parece haver uma profundidade nos beats do Dilla, muito maior do que a média; uma busca por achar os timbres que casem perfeitamente; baterias programadas meticulosamente fora do tempo; uma mistura precisa do convencional com o não convencional, às vezes incorporando cadências de música clássica em suas bases, às vezes usando acordes que em nada se encaixam nas regras de harmonia tradicional”, teoriza.

Para quem pensa que Jay Dee só foi importante para a música rap, se engana. Pelo menos é o que o Dj Tamenpi pôde constatar. “O cara criou um estilo de beat. E num é só no rap que nêgo considera! Já troquei idéia com produtores de música eletrônica de Detroit que adoram o estilo do cara. O estilo dele influencia todo mundo. E com essa morte tão cedo, ele meio que se tornou uma lenda. Geral reconhece e paga pau”. Já Rump acredita que a importância vai além das imposições de estilo da indústria e do público. “Acho que transcende o underground e o mainstream, pelo menos em relação aos produtores. Tem muito produtor underground daqui, da Holanda, da África do Sul e de outros lugares tendo o Dilla como uma das principais referências.”

Quem tem as produções do saudoso produtor como norte, acaba sendo reconhecido facilmente, segundo o produtor Nave. “Quando você ouve Hocus Pocus e os beats do 20syl, você entende a importância dele. Ouve Kamau e Parteum, você entende a importância dele”. A partir dessa referência chamada J-Dilla, pode-se perceber uma finesse característica nos beats. “Quase tudo no rap que tem algum requinte, sofisticação, talvez não existiria se não fosse por ele”, completa Nave. Outro produtor, Munhoz, vai ainda além. “Velho, ele é o produtor dos produtores! Acho que ele deve ser comparado aos grandes. Influenciou tanto quanto os caras que o influenciaram, como o Premier ou o Pete Rock”.

B+)

J-Dilla e Madlib fazem compras de discos no Brasil (foto: B+)

A passagem de Dilla pelo Brasil

Para falar da vinda de J-Dilla ao país é preciso se abrir um parênteses nesta história. Você conhecerá um pouco melhor da parceria do produtor e MC com outro companheiro de funções, Madlib, no trabalho denominado Jaylib.

Jaylib – “Champion Sound”

Jaylib – Ao Vivo 2004

http://stonesthrow.com/jukebox/jaylib-live-2004.mp3″

O disco começou a ser idealizado a partir do momento em que Madlib rimou em uns beats do Dilla, que estavam em uma fita do Dj J Rocc. Isso chegou aos ouvidos de Dilla, em Detroit, que perguntou: Quem é esse cara rimando nos meus beats? Como Dilla já conhecia Madlib, entrou em contato. A partir daí, a parceria se concretizou. O MC paulistano Kamau comenta especialmente sobre a parceria entre Dilla e Madlib, que na opinião dele, não poderia dar errado. “Dois dos maiores sampleadores das mais diversas fontes se unindo pra fazer música. Claro que o resultado seria esperado e cabuloso! Nada mais apropriado que o nome do disco: Som de Campeão”.

O mais curioso em “Champion Sound” é a produção de metade dos beats pro Madlib com rimas de Jay Dee e outra parte com rimas de Madlib e beats de Dilla. O álbum foi lançado oficialmente em 2003, e serviu para firmar a parceria que aconteceu em dois pontos específicos: Detroit (Dilla) e Los Angeles (Madlib). Eles adotaram um sistema de gravação de trilhas e compartilhamento dos arquivos a distância, o que agilizou o processo de produção.

Nave é direto na opinião sobre o álbum. “É aquela parada que quando ouve-se os samples você manda o tradicional ‘filha da p…!’!”. Ele aproveita para confessar a importância dessa parceria para ele, além do que ela de fato representou. “Ouvi muito, volta e meia ouço. Acho que foi o encontro da amizade com uma dose bem grande de insanidade e genialidade”, conclui.

Jaylib na pista por Mr. Mass/França (via Stones Throw)

Jaylib na pista por Mr. Mass/França (via Stones Throw)

Mas o segredo para o sucesso vai além, na opinião de Kamau. “Admiração e respeito. Dois dos melhores produtores a pegar o microfone, na minha opinião. Estilos únicos se complementando em batida e rima”. A relação entre o som produzido na parceria Jaylib ultrapassa barreiras da relação com a música. “Sou muito fã dos dois e já conversei com um deles. Mas mesmo assim ambos mudaram minha vida. Se o rap é minha vida, mudaram mesmo!”, completa. Munhoz confessa que a parceria Dilla/Madlib lhe rendeu boas lembranças. “O Jaylib, me lembra o DJ Primo, foi um disco que ele tocou muito, que ele gostava muito, e que me remete a uma época boa da minha vida”.

(Fecha parênteses)

De volta à história, o responsável por trazer Dilla ao Brasil foi Rodrigo Brandão. No entanto, essa não é uma tarefa nova para ele, que traz as atrações do Indie Hip Hop, além de alguns outros artistas para se apresentarem ao longo do ano. Quem relata a história, é o próprio Rodrigo. “A coisa rolou por conta da Primeira Mostra De Filmes Hip Hop De São Paulo, em 2005. O Keepintime* tava na programação, e o B+ era o diretor convidado. Como o Madlib participa da fita, surgiu a idéia e a oportunidade de trazê-lo pra se apresentar na festa de abertura do evento. É pública a timidez e notória a aversão por palcos do Loopdigga, então já foi uma surpresa ele topar fazer o show. Quando a Suemyra* escreveu dizendo que apesar de estar com a saúde frágil, o Jay Dee viria junto, pra realizar o sonho de conhecer o Brasil, e que então tratava-se do Jaylib ao vivo, nossas expectativas ficaram ainda maiores!”

No entanto, a apresentação acabou não se concretizando. Para o fã de Dilla, Daniel Sanchez, a expectativa no dia era grande. “Eu lembro que eu encontrei o (Dj) FZero na porta e disse: veio ver o Madlib? Ele: nada, vim aqui pra ver o J-Dilla!“. O Dj Nuts foi um dos que chegou a ter contato com Dilla em terras brasucas e conta como foi. “Meu contato com ele foi breve. Ele descobriu no Brasil que estava doente e teve que ir embora no dia de sua apresentação! Ele nem tava tão animado quando foi comprar disco e também para comer”.

J-Dilla e Madlib apresentando o projeto Jaylib, por Scott Dukes

J-Dilla e Madlib apresentando o projeto Jaylib, por Scott Dukes

Quem segue contando a história, é Rodrigo. “Na véspera do acontecimento ele passou mal, teve que ser hospitalizado aqui e só pode ser transferido pro centro médico interno do LAX (aeroporto de Los Angeles) depois que o doutor brasileiro falou com o enfermeiro-chefe de lá e com o médico particular do ‘Mr. Yancey‘, devido à gravidade da doença dele. Durante os dois dias e pouco em que esteve aqui, pouca gente encontrou com ele, mas quem viu não esquece”. Parteum teve essa chance por meio do próprio Rodrigo Brandão, que o chamou para conhecê-lo. “Troquei idéia, entreguei vinil, mixtapes. O Madlib me trata bem, quando me encontra, por conta daquele dia”.

“No fim, o Madlib subiu acompanhado apenas pelo Dj Eric Coleman, e fez um show que até hoje divide opiniões: alguns amaram, outros se decepcionaram. Mas a verdade é que não deve ter sido nada fácil pra ele encarar a parada preocupado, sem o parceiro que, vale ressaltar, era um monstro no palco”, pontua Rodrigo Brandão. Apesar de ter gostado da apresentação de Madlib, foi difícil para Daniel Sanchez esconder a decepção por não ter visto seu ídolo no palco. “Fui no show, no palco avisaram que ele teve que voltar“. No fim das contas, o estado de saúde de Jay Dee o impediu de aproveitar a passagem pelo Brasil. “Por aqui ele ficou no quarto de hotel fazendo fumaça e comendo pizzas”, comenta o Dj Nuts.

Dilla voltou para os Estados Unidos, foi internado e por lá ficou. Chegou a produzir músicas em seu quarto no hospital, e inclusive finalizou o álbum “Donuts” neste mesmo lugar. No dia 10 de fevereiro de 2006, James “Dilla” Yancey partiu. Para aqueles que o consideravam, ficou a boa lembrança e o respeito. Além disso, restaram as homenagens. Tamenpi conta o que rola nos Estados Unidos e fala também sobre os discos clássicos de Dilla que disponibiliza em seu blog todo ano. “Sempre na semana que faz anos da morte do cara, rolam várias festas nos Estados Unidos, só com os caras que colavam com ele. E vê-se uma movimentação no mundo todo em lembrar do cara. É aquilo, o maluco virou uma lenda no hip-hop. Eu homenageio no blog porque é uma forma de deixar os discos do cara sempre por ali, pra quem quiser, baixar. Porque vale a pena pra car%#@!”.

O reconhecimento também serve para se manter a memória dessa lenda. “Penso que se algum dia o rap se levar a sério ao ponto de termos um museu, o nome de James Dewitt Yancey tem de estar lá. Ele trabalhou para que falássemos de Jazz, Stereolab e Busta Rhymes na mesma sentença. Ele trabalhou para que os beats fossem mais cheios, para que mudanças de tempo fossem populares em rap. Trabalhou com Daft Punk bem antes de Kanye West. Ajudou na construção de diversos álbuns clássicos. O legado é inegável”, diz Parteum.

O fã Daniel Sanchez publicou dois vídeos em homenagem a Dilla, que tiveram milhares de visitações do Brasil e do mundo. “Quando criei os vídeos, um em homenagem e o outro um remix, não imaginava a repercussão que teria. Pude ter uma dimensão real da importância do músico pro mundo do hip hop. Quando digo ‘mundo do hip hop’ me refiro ao planeta Terra como um todo”.

O Dj Nuts prestou uma homenagem que se tornou famosa no mundo inteiro. Recriou em uma apresentação do Brasilintime, a versão brasileira do Keepintime*, o beat de Runnin’, do Pharcyde, e com produção de Dilla. Isso faz lembrar a importância de Dilla para Nuts. “Ele foi um dos primeiros a usar música brasileira em seus beats. O uso de Stan Getz com a música ‘Saudade vem correndo’ acabou sendo o tema que reconstruímos para a noite do Brasilintime ao lado do Dj Primo e o Pupillo (baterista do grupo Nação Zumbi)”.

Caso J-Dilla ainda estivesse vivo, provavelmente estaria na ativa, segundo Rodrigo Brandão. “Sem dúvida, o Dilla é um dos artistas mais talentosos, inovadores e criativos que já pisaram na Terra, então me parece claro que ele estaria emanando música boa sem parar!”. Munhoz também é da mesma opinião – “Com certeza estaria fazendo música! Morreu fazendo música”. Já o curitibano Nave, aposta que ele elevaria o nível do rap. “Seria melhor porque teria mais rap bom sendo feito, mais classe, mais originalidade”. Tamenpi ressalta o amor de Dilla pelo que fazia. “Acho que estaria vindo pedra atrás de pedra. Ele era fo%@! E não parava, amava muito o que fazia”.

De segmento, ficam as bases que surgem a cada dia e são creditas a Dilla, além do trabalho do jovem Illa J. Nave tem gostado do que ouve do garoto. “Tenho ouvido, e muito. Tem gosto de nostalgia, é algo como ‘O estilo clássico Jay Dee nos beats’”. O produtor e MC, Rump, faz uma análise completa. “Gostei do disco do Illa J, mesmo do EP anterior, que ele mesmo produziu a maior parte dos beats. Acho que ele tem que ter cuidado para não fazer a carreira em cima do nome do irmão, mas acho ele talentoso, assim como tantos outros caras de Detroit (Dwele, Elzhi, Guilty Simpson, Black Milk, Waajeed). Detroit é a cidade de onde mais parece vir coisa nova e de qualidade hoje, e a sonoridade tem muito a ver com o que foi criado pelo Dilla”.

*Traremos informações sobre esses assuntos em textos futuros.

simpsons-dillajay-dee-simpsons-iiEssa história não poderia terminar sem um agradecimento especial à todos envolvidos nesta série de posts “J-Dilla mudou minha vida (1974-2006) – partes I, II, e III”. Obrigado pela atenção, paciência, informações e dicas e a prontidão nas respostas.

“Nada disso tem valor, se você não faz por amor”/ Paulo Napoli – “Com amor”

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The Suite For Ma Dukes EP

Capa do álbum orquestrado "Suite For Ma Dukes", à venda no iTunes

Capa do álbum orquestrado "Suite For Ma Dukes", à venda no iTunes

Mais um projeto em apoio a Ma Dukes, mãe de J-Dilla, chega às praças. Dessa vez, um álbum com versões orquestradas de grandes produções de James Yancey, em prol de sua família e de inúmeras fundações que visam o tratamento do Lúpus.

O álbum é na verdade um EP, The Suite For Ma Dukes EP, idealizado por Carlos Nino e Miguel Atwood Ferguson. São 4 faixas, incluindo “Fall in Love”, do grupo Slum Village. Adquira o seu no iTunes.

Se você quiser saber mais sobre J-Dilla, o Per Raps separou alguns links bem interessantes. Acompanhe:

> Texto da revista Vibe Magazine com um player so de sons produzidos por Jay Dee. Clique!

> “Slick Boy e Sir Moog”, texto escrito em 2006 por Parteum para o site Coquetel Molotov, de Recife.

> Listagem de uma série de sites no mundo que homenagearam Dilla esse ano no blog do Rump.

> Texto publicado sobre os 3 anos sem “Mr. Yancey” no Central do Rap.


Invincible lança som contra os ataques em Gaza

Protesto feito no consulado israelense de São Francisco por Vanessa Huang

A MC Invincible no protesto feito no consulado israelense de São Francisco por Vanessa Huang

Em resposta aos terríveis ataques de Israel à Faixa de Gaza, a MC de Detroit, Invincible, lançou uma nova faixa, “The Emperor’s Clothes” (algo como “As roupas do Imperador”) com download gratuito. O som teve a produção de K-Salaam & Beatnik.

Invencible tocou essa música pela primeira vez ao vivo no protesto feito no consulado israelense de São Francisco, nos Estados Unidos, há algum tempo atrás (ver foto acima). A situação em Gaza é crítica, com danos enormes às infra-estruturas civis e registro de mais de 1.300 palestinos mortos, além de 5.300 feridos. Leia mais sobre a crise em Gaza no ElectronicIntifada (em inglês). Encontre informações históricas aqui e a situação atual do conflito aqui (em português).

Esse som deixa claro que uma das estratégias mais efetivas que podemos tomar agora é boicotar, privar e sancionar Israel por meio de campanhas. Isso, pois exigimos um fim das investidas de Israel contra a vida e a liberdade da Palestina. Leia mais sobre isso e se envolva na campanha global BDS.

Kareem Edouard, diretor do aclamado videoclipe “Sledgehammer!” está trabalhando em um vídeo para a faixa “The Emperor’s Clothes”. Fique atento às novidades!

Ouça o som e acompanhe a letra:

“The Emperor’s Clothes” -Invincible

http://raps.podomatic.com/enclosure/2009-01-29T04_15_12-08_00.mp3″

Fase 1: Air strikes all day and all night
Fase 2: Rockets hit the Gaza strip with phosphorus
Fase 3: Ground attack how we gonna counteract?

Boycott Divest and Sanction

Israel– you should be ashamed
Kill and maim 1,000’s of civilians in our name
Claim you hitting terrorists but children in your aim
Even murder relief workers blood spilling from they brain
While they tried to drive the ambulance, damn they couldn’t stand a chance
Even bomb students, hospitals, mosques, Rafah, and Khan Yunis
Shot em in the back like the cops to Oscar Grant…
And in each case the good ol’ united states sponsored that
7 million a day that we pay tax and AIPAC’s lobbyists is robbin us
Sometimes it feels like they’re ain’t no stopping this
BUT now no body can deny it cuz you made it too obvious
Naked truth exposed like the emperor’s clothes
The struggles getting hotter and the temperature rose
Since 1948 when you formed the state
Palestinian people still defending their homes
They aint been surrendering, NO

Boycott Divest and Sanction
Cuz they even bombed the United Nations

Look, i’m Israeli, my government’s so arrogant
War criminals who call Palestinians terrorists
For resisting extinction and occupation
Comparing this to genocide and reservations of Native Americans
Its a massacre! Kick out they ambassadors!
Divest from their apartheid like South Africa
Boycott em like King to Montgomery buses,
Show them we want peace but only with real justice
They murdering the media and witnesses left
We gonna stop shopping at all the businesses that invest
In building they settlements and gentrifying our corners
Illegal walls over there and the US-Mexico border
Build a worldwide movement til the truth is heard
And supporting the Israelis who refuse to serve
All the C.O.s who AWOL when deployed to Iraqi stations
All the people rallying while the cops are chasing
If we enlisted in the system we got an obligation
We ain’t got the patience, time to stop the occupation

Boycott, Divest, and Sanction
Til there’s right of return for displaced and reparations

Ps.: Ainda não foi possível traduzir a letra, mas assim que rolar, vamos disponibilizar aqui.

Fonte: Emergence Music

Dica: Kamau

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Shows

Falando em Kamau, hoje (29) tem show dele no Studio SP.

picture-11

E no dia 31 tem show em Brasília:

contrast

Aproveite e acompanhe um teaser que o MC gravou:


Pentágono – Natural (2008)

Capa do disco Natural, do Pentágono, lançado em dezembro de 2008

Capa do disco Natural, do Pentágono, lançado em dezembro de 2008

Clique aqui antes de ler o post:
http://raps.podomatic.com/enclosure/2009-04-03T18_26_45-07_00.mp3″
Pentágono, “É o Moio”

Você que acompanha o Per Raps deve ter percebido que comentamos aqui algumas vezes que o rap brasileiro andou com o freio de mão puxado em 2008. Pois é, realmente, esse ano não foi dos melhores. Tivemos alguns bons lançamentos, como o disco do Kamau, por exemplo, que foi eleito um dos 25 melhores álbuns do ano pela respeitada revista Rolling Stone, mas ficou o sentimento de que muito mais poderia ter acontecido.

Porém, quando todos já depositavam suas esperanças em 2009, eis que surge a ave fênix: no dia 20 de dezembro, o Pentágono colocou à venda nas lojas das grandes galerias, no centro de São Paulo, o disco que já era esperado por seus fãs há mais de um ano, Natural. Depois de muita luta e problemas com a distribuidora, finalmente podemos falar sobre esse álbum, que, devido a toda essa espera, tem até música entre as mais tocadas nas festas de rap do país.

A pergunta…valeu a pena esperar?

Valeu.

E muito.

Se desse tempo (e se o rap fosse levado mais a sério), seria obrigatório que Natural também participasse dessa lista da Rolling Stone e de diversas outras divulgadas pelos meios de comunicação neste final de ano. A evolução do trabalho do grupo formado por Rael da Rima, Apolo, Massao, M.sário, Dodiman e Dj Kiko, desde o disco Microfonicamente Falando, é impressionante. A maturidade alcançada nos beats, nas letras, levadas e entrosamento dos MCs coloca o grupo como grande expoente dessa nova geração de grupos e artistas de rap no país.

Rael da Rima, M.sário, Dodiman, Dj Kiko, Massao e Apolo

O time (esq. pra dir.): Rael da Rima, M.sário, Dodiman, Dj Kiko, Massao e Apolo

Com Natural, o Pentágono aprendeu ainda a utilizar o seu grande trunfo e maior diferencial em relação a outros grupos do Brasil: a voz de Rael da Rima. Às vezes MC, às vezes cantor, Rael toma conta dos refrões e, a cada um deles, aproxima mais o rap de todos os outros estilos musicais, se utilizando de belas melodias, proporcionadas pelos seus ótimos recursos vocais. Reggae, samba, soul…tem pra todo mundo.

A maioria das produções ficou por conta de Apolo, que no disco e nos seus últimos trabalhos com outros MCs, assina como A.G.Soares. E produção no sentido literal. A.G.Soares vem se revelando não apenas um grande beatmaker, mas também um músico de mão cheia, tocando diversos instrumentos por todo o disco e ainda ficando responsável pela mixagem e masterização de boa parte dele. Os beats variam bastante no estilo, mas a pegada dancehall, com um BPM acelerado, é bastante presente por todo o disco.

São vários os destaques dentre as 14 faixas do álbum. Natural, música-título e a primeira do cd, já mostra a que vieram os seis integrantes do grupo neste trabalho. Com rimas dos cinco MCs, o tema varia entre todos os sentidos da palavra “natural”, com levadas furiosas de todos, principalmente de Massao e Rael, que impõe um estilo mais voltado ao ragga. Em seguida, a já conhecidíssima É o Moio, faixa que já está no ouvido e na boca da galera há um bom tempo e dispensa apresentações.

“Tive um presságio, talvez que essa vai tocar na rádio…” é o tema de Presságio, que tem participações de Slim e Kamau, e se encaixa bem no estilo do disco. Musicalmente, principalmente pelos refrões e trechos mais cantados, esse trabalho pode ser considerado bem comercial. No entanto, em momento algum isso se reflete em algo negativo, tanto nos beats quanto nas letras. Os temas e a forma como são abordados seguem a linha inicial do grupo e de toda a cena alternativa, incentivando a reflexão sobre os problemas e vitórias de todo ser humano.

Outras faixas que chamam a atenção são Se Mova e Assim Seja, com dois belos refrões de Rael e, na última, flows contagiantes de M.sário e Dodiman principalmente, além do ótimo instrumental, bem pra cima e com um lindo sample de flauta na parte final. Do Senhor ainda traz uma bela mistura com samba, assim como o grupo fez com Abre Alas no primeiro disco e, mais uma vez, arranca elogios pelas melodias de Rael da Rima.

Por fim, a música Swing também merece atenção especial pelas ilustres participações – Emicida, Max BO e o carioca Marechal – mas, principalmente, por um dos últimos beats produzidos pelo imortal Dj Primo, numa pegada bem funkeada e marcada por claps. “Tem que ter swing, mané…”

Esse é o Pentágono

Cinco pontas de rap.

Cinco pontos pro rap.

Ps.: Agradecimentos a jornalista Flávia Durante, blogueira de longa data, que destacou o Per Raps como um dos blogs que ela mais curtiu em 2008! A notícia já é antiga, mas ainda vale a observação! Acompanhe o post que ela fala sobre isso no Blah Blah Blog. Valeu pelo reconhecimento!


Como foi o Indie Hip Hop 2008

casa cheia

O resultado do sucesso do Indie Hip Hop 08': casa cheia

A edição deste ano do festival Indie Hip Hop se foi deixando saudades e já cria novas expectativas quanto ao ano que vem. Com o Sesc Santo André lotado com quase 3 mil pessoas, no sábado e no domingo, o público brasileiro (pessoas de vários estados vieram especialmente para o evento) assistiu a grandes apresentações dos grupos brasileiros e ao esperado show de Talib Kweli, principal atração do evento, que não decepcionou ninguém e agitou a galera com performances de mais de uma hora nos dois dias. Uma pena é saber que, para ver algo semelhante, realmente teremos que esperar até o final do ano de 2009.

A apresentação que abriu o festival veio com o peso e a qualidade de quem também poderia tê-lo fechado. Doncesão e Dr. Caligari (heterônimo de Dj Caíque), ambos da zona norte da Capital, fizeram um show cheio de “fúria” e energia. Acompanhados no palco por alguns membros da 360 Graus Records, os dois, que lançaram seus discos nesse ano, transformaram a desconfiança de quem ainda não conhecia os trabalhos dos dois, em aplausos.

Doncesão e sua banca marcaram a abertura do Indie 08' (D. Cunha)

Doncesão e sua banca marcaram a abertura do Indie 08' (D. Cunha)

Doncesão e Dr. Caligari cantaram músicas dos seus álbuns, Primeiramente e É o Terror, respectivamente, e agitaram a galera principalmente com os sons “Eu deixo a vida suspirar”, “Davi, o verdadeiro gigante”, ambas de Doncesão, e “A nossa hora” e “Querem me corromper”, de Dr. Caligari, que fechou o show mandando um sonoro “vai se f@#$%” para aqueles que não acreditam no rap nacional. Doncesão, muito emocionado, desceu do palco durante uma das músicas e, perto da galera, gritou uma frase que resgata as raízes da cultura: “Se eu posso, vocês também podem!!!”.

Na seqüência, o MC Sombra, ex-SNJ, trouxe ao Indie uma pitada da velha escola do rap nacional, e apresentou seu disco solo lançado recentemente, Sem Sombra de Dúvidas. Mesmo não sendo freqüentemente associados ao cenário do rap alternativo, Sombra e o SNJ têm uma grande parcela de contribuição por serem pioneiros em apresentar um discurso positivo no rap nacional, e são influência para muitos MCs que hoje fazem parte do jogo.

Expulsos do 5° Andar, mas agora no Subsolo (E. Ribas)

Expulsos do 5° Andar, mas agora no Subsolo (E. Ribas)

A última apresentação nacional do sábado foi a volta do principal grupo de rap alternativo do país: o Quinto Andar, que parou de pagar o condomínio e foi morar no Subsolo. A reunião de um mês em um sítio no interior de São Paulo resultou em um trabalho bem pouco parecido com o estilo do Quinto Andar. Os temas podem ser recorrentes, mas a abordagem é totalmente diferente. “Já não é como antes…”, diz Kamau na rima “Ordem de Despejo”.

Os beats agora têm mais peso e chegam a ser sombrios, em alguns pontos lembrando até o rapper inglês, Roots Manuva. Shawlin, Xará, Pai Lua, Kamau, Lumbriga Tremosa, Gato Congelado e Matéria Prima dominaram o palco com suas rimas e tiveram o Dj Mako completando o grupo e incrementando a performance com seus riscos. Durante o show, Lumbriga sintetizou a impressão do público em um recado para a galera: “O som é esquisito, mas vocês vão se acostumar”.

O segundo dia de Indie Hip Hop começou literalmente com uma Manada passando. Para ser mais específico, o Projeto Manada estava no palco apresentando os sons do seu novo CD, Urbanidades. Enquanto os MCs Macário e Prizma disparavam suas rimas esbanjando presença de palco, os MCs/Djs Leco e Mister Venom transitavam entre o front do palco e a responsa das pickups. 

Os MCs Macário e Prizma mostrando os sons de "Urbanidades"

Os MCs Macário e Prizma mostrando os sons de "Urbanidades"

Com certeza, nesse trabalho o som está mais pesado. O slogan do grupo, “imagine uma manada entrando em seus ouvidos”, corresponde exatamente ao que rola no palco; rappers de peso com rimas conscientes e provocativas embaladas por beats empolgantes.

Em seguida, o “prata da casa” Enézimo convidou a banca do Pau-de-dá-em-doido, de Santo André, para participar de seu show e apresentar as músicas de seu disco solo, Um cara de sorte. Ele mandou alguns sons sozinho, acompanhado pelo Dj Nato, e depois chamou seus parceiros para dar seqüência à festa: Arnaldo Tifu, Preto R, Sagat, Stefanie, Carlus Avonts e Max Musicamente subiram ao palco e esbanjaram energia, cantando, dançando e acompanhando Enézimo.

O MC Enézimo representouo rap do ABC Paulista (E. Ribas)

O MC Enézimo representouo rap do ABC Paulista (E. Ribas)

Ao final, Max Musicamente ainda emendou um freestyle que arrancou gritos e aplausos empolgados da platéia, ao comparar o preço dos ingressos do Indie com o de outros show de artistas estrangeiros quando vêm ao Brasil. Crítica extremamente válida, em tempos em que shows de rap chegaram a custar 300 reais.  

Antes da última e derradeira apresentação de Talib Kweli em terras tupiniquins, o público que compareceu ao Indie assistiu ao show mais aguardado entre as atrações nacionais: o do MC Kamau, que lançou seu primeiro disco solo, Non Ducor Duco, no meio deste ano. Como o disco já está há algum tempo na rua, era de se esperar que as novas músicas fossem cantadas em coro pelos fãs do rapper, que acompanharam cada palavra de “Vida”, “Só” e “A quem possa interessar”, principalmente.

Outro ponto alto foram as participações: primeiro a de Parteum, em “Dominum”, reeditando mais uma vez a parceria que já resultou em diversas composições veneradas pelo fã de rap; e a de Emicida, que rimou com Kamau em “Komwé”, ainda disparou “Triunfo” e viu sua música, que só saiu na internet, ser a mais cantada do festival.

Talib Kweli, aquele que busca a verdade (E. Ribas)

Talib Kweli, aquele que busca a verdade (E. Ribas)

Talib Kweli

Se compararmos os dois dias de apresentação, percebemos que foram dois Talib Kweli no palco: um mais tímido no sábado, e um que se sentiu em casa, no domingo. O MC de Nova-Iorque mostrou porque é tão celebrado por aqueles que apreciam o rap, com um setlist de tirar o fôlego.

Dos clássicos aos sons do trabalho mais recente, Eardrum. Uma das faixas do último CD que mais empolgou foi “Hostile Gospel”, seguida também por “Hot Thing”, música produzida por Will.I.Am, que participou de forma virtual no show, cantando o refrão na tela ao fundo do palco.

Apesar de ninguém ter certeza se a parceria com Mos Def, em Blackstar, seria mencionada, houve a grata surpresa de alguns sons serem tocados. “Definition” e “Respiration” balançaram o Sesc. Outro sucesso foi a rima de Talib em um som de Kanye West, “Get ‘Em High” (que também conta com a colaboração de Common).

No entanto, o destaque em termos de empolgação ficou para uma produção de Kanye West, “Get By” (do álbum Quality, de 2002), que teve a parte do refrão feita por um coral, cantado por várias pessoas: “This morning, I woke up, Feeling brand new/ and I jumped up, feling my highs, and my lows, in my soul, and my goals/ Just to stop smokin, and stop drinkin/ And I’ve been thinkin: I’ve got my reasons/ Just to get (by)”.

Dj Chaps ao fundo e Talib Kweli mostrando os sons de Eardrum

Dj Chaps ao fundo e Talib Kweli à dir. mostrando os sons de Eardrum (E. Ribas)

A única coisa que parece não ter funcionado da melhor maneira foi a comunicação entre público e MC, já que às vezes não rolava a interação esperada. Em uma das vezes, Rodrigo Brandão auxiliou Talib e traduziu uma frase, pedindo para o público fazer o máximo de barulho possível. Aí sim, a resposta foi imediata.

Em uma apresentação passada, mais especificamente a do grupo Jurassic 5, o MC Kamau fez a tradução do que era dito pelos rappers, e isso funcionou muito bem. Uma homenagem à velha escola foi feita por Talib Kweli e o Dj EQ, que tocaram clássicos do rap e chamaram b-boys ao palco para ilustrarem essa parte do show. Falando em homenagem, Talib fez questão também de homenagear nos dois dias o Dj Primo. “This one is for you, Primo!”

R.I.P. Dj Primo

Kamau revelou em vários momentos que aquele era um show muito especial para ele. O principal motivo foi a ausência de alguém que participou de todo processo do disco e era ainda uma das figuras mais queridas e respeitadas no rap brasileiro. Dj Primo morreu em setembro deste ano, vítima de uma pneumonia, e foi, sem dúvida nenhuma, o grande homenageado do Indie Hip Hop 2008.

Não só Kamau, como todos os grupos envolvidos, incluindo Talib Kweli, prestaram homenagens ao amigo, em formas de músicas, palavras…e até uma performance especial do Dj Kl Jay dedicada à Primo, com imagens suas no telão. Muita emoção na frente do palco, onde estavam os pais e familiares de Alexandre Muzzilo Lopes, o Dj Primo.

* Texto e fotos por Daniel Cunha e Eduardo Ribas.
** Props to Karolina (pelo vídeo), do blog Fita K7.

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A História do Indie Hip Hop no Sesc – Parte II

Além de MC e produtor de eventos nas horas vagas, Rodrigo Brandão é ainda um dos maiores conhecedores de hip hop do Brasil, e tem contato direto com monstros da história da cultura, como o próprio Afrika Bambaata. Por esse e outros motivos, sua opinião sobre o atual momento do hip hop no país deve ser considerada essencial para entendermos a época de ‘vacas magras’ em que o hip hop se encontra por aqui.

Na segunda parte da matéria exclusiva com ele, você confere, além dessa visão, outras informações sobre a edição do festival Indie Hip Hop deste ano, que terá a participação de Talib Kweli, e ainda uma novidade sobre o eterno Sabotage, considerado por Brandão um dos padrinhos do festival. Para os fãs do grupo Mamelo Sound System, ele adiantou que sua parceira Lurdez da Luz está finalizando um EP de nove músicas, que será lançado no ano que vem.
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Preconceito

“Sempre existiu muito preconceito em relação ao hip hop, que muitas vezes até se justifica, por um pensamento recorrente de: ‘ah não, esses boy tão vindo aqui pra tomar’, existe muito ainda esse tipo de atitude. Fora isso existe, do outro lado, preconceito mesmo com o hip hop, com rap, por parte de quem é de fora, do olhar exterior. Por um lado interno do hip hop ainda existe muita má organização, muito preconceito, muita falta de noção de que as coisas tem quem andar pra frente e você tem que se relacionar.

Se você for parar pra pensar, tanto musicalmente quanto em termos de atitude mesmo, pensando em grana, o hip hop lá fora só virou grande do jeito que está hoje porque foi aprendendo ao longo dos anos a englobar informação e samplear estilos de música cada vez mais variados, e ainda valorizar a coisa nova, a coisa ‘fresh’. Aqui no Brasil é o contrário.

Mano Brown fotografado nos batidores de um show por João Wainer

Mano Brown fotografado nos batidores de um show por João Wainer

O tempo todo, até hoje, a maioria das pessoas tá tentando imitar o Racionais, que é do caralho, eu sou fãzasso dos caras, original pra caralho, mas o melhor jeito de você ser fã de Racionais é você se espelhar na atitude, na independência, no histórico dos caras, mas tentar espelhar aquilo ali dentro do que você é. Eu amo o Mano Brown, é o meu herói com certeza, mas eu vou meter uma bombeta igual à dele, vou falar as gírias iguais a dele? Não vou, vai ser ridículo, vai ser até pior porque eu vou estar tentando sugar o que o cara é e tentar me aproveitar do que ele conquistou.

E aí, enquanto isso não acontecer, realmente os caras que tão olhando de fora vão ter razão de olhar com preconceito pro hip hop. Junta isso ao que aconteceu na Sé no ano passado, aí fodeu. Porque o que aconteceu? O rap já era considerado esquisito naquela época, mas tinha uma coisa que era super popular, que é o Racionais. Eu estava no palco, vi o que aconteceu e foi bola cantada na caçapa.

Naquele dia, a polícia de São Paulo foi ali pra bagunçar, tava ali pra criar um evento que tornasse a situação do Racionais e conseqüentemente do hip hop em geral, muito pior. Porque é um troço que é contestador, que não se curvou, e aí pensaram: ‘os caras vão cantar na Sé no palco principal do maior evento de cultura da cidade…então agora mesmo que nós vamos acabar com isso aí!’.

E o que a gente ouve falar, não é uma informação que alguém do Racionais me falou, é que eles tão tendo dificuldade pra marcar show. E isso se reflete em toda a história, ninguém está conseguindo marcar show de rap. Contratante de rap lembra do episódio com a polícia, pensa que vai dar errado. Infelizmente isso ecoa e o que acontece é que o grupo mais importante, que chegou mais longe fazendo rap no Brasil, agora se vê numa sinuca de bico. E se eles que são a ponta de lança da história estão travados, tudo que vem atrás está travado também.

Então o hip hop no Brasil está numa situação extremamente complicada, em termos de conseguir sobreviver mesmo. E nas periferias, com a invasão do funk, o que acontece é que o pessoal do funk aceita o rap, mas o pessoal do rap não aceita o funk, então tende ao lance do hip hop ficar cada vez mais apertado, cada vez mais fechado.

Indie Hip Hop / Trabalho

A verdade é que o festival já me toma muito mais tempo do que eu gostaria. Se tiver que partir de mim essa idéia de ampliar, fazer outra edição, levar pra outro estado, aí que eu não vou fazer meu som mesmo. E na verdade, tudo que me move é fazer música. O meu sonho é que existisse um circuito de festivais de rap e também de outro tipos de som que englobassem o hip hop, e eu não precisasse fazer isso.

Eu acredito na parada da seguinte forma: se eu tenho a oportunidade de fazer, eu vou fazer até onde der pra mim, porque eu já estou fazendo mais do que eu gostaria, entendeu? Se eu pudesse, queria estar fazendo turnê do Mamelo pelo Brasil inteiro. Ao mesmo tempo, se você tem paixão por uma cultura e enxerga isso, um pouco eu vou fazer, mas eu não vou parar minha arte, aquilo que eu acredito, pra virar arauto de uma cultura.

Querendo ou não, é uma cruz que eu tenho que carregar também. O ano inteiro chega gente pedindo pra tocar no Indie, pedindo pra participar, quando na verdade o lema é: não dá pra ajudar quem não se ajuda. Tipo assim, quem tá fazendo o seu trabalho corretamente e direito, é natural acabar sendo convidado.

Enéas aka Enézimo lançará o CD "Um cara de Sorte" no Indie 08'

Enéas aka Enézimo lançará o CD "Um cara de Sorte" no Indie 08'

Vou te dar um exemplo palpável disso, que é a rapaziada de Santo André, do Pau-de-dá-em-Doido. Eu já conhecia o Enéas de muito tempo, ele é do Armageddon, aí no ano passado a gente foi fazer um show do Mamelo na prefeitura de Santo André, num projeto que chama Canja Com Canja. Aí chegou o Enéas, me entregou a mixtape do Pau-de-dá-em-Doido e falou: ‘a gente acabou de lançar. Escuta aí!’. E eu falei: ‘valeu’. Ele não virou pra mim e falou que queria tocar, que isso, que aquilo.

Aí eu escutei o trampo, achei bacana, apresentei pro pessoal do Sesc, eles também gostaram. Os caras foram, entraram no elenco do festival, fizeram um show do caralho, uma puta surpresa pra quem não conhecia o trabalho deles, se destacaram. Esse ano os caras continuam na correria, então é gente que tá trabalhando e é natural que isso acabe crescendo e ecoando.

Isso é a coisa de uma cultura, de uma teia de gente trabalhando pra coisa funcionar. E acho que enquanto não tiver mais Enéas, mais Kl Jays, mais Djs Natos, mais Rodrigos e mais Per Raps, o bagulho não vai rolar, tá ligado? Eu acho que quando tiver todo mundo trabalhando pra coisa dar certo, aí sim a gente vai se encontrar e dominar os espaços que existem pra ser dominados.

Eu acho que a coisa tem que partir mais nesse sentido de: ‘o que eu posso fazer pra crescer o meu e o de todo mundo?’. O Kl Jay é um exemplo disso. Ele poderia ter feito uma mixtape só com música gringa, ou até com algumas coisas nacionais, mas não, ele fez questão de fazer só com música brasileira e ainda chamou um monte de gente que não está nos vinis que ele usou pra participar também.

Kl Jay, um exemplo a ser seguido no Hip Hop (divulgação)

Kl Jay, um exemplo a ser seguido no Hip Hop (divulgação)

O cara criou oportunidade pro trabalho de um monte de gente ser mostrado dentro do trabalho dele. Esse é o tipo de mentalidade. Ele vai parar de discotecar, de fazer o Sintonia, pra produzir evento? Não vai. Mas vai, dentro do possível, produzir evento que ele possa participar e trazer mais gente, o meu ponto de vista é o mesmo.

O que mais falta é gente trabalhando pro hip hop. Ao mesmo tempo que é legal que a coisa é muito de rua, tem essa falsa aura de facilidade, que é só pegar um mic, rimar Brandão com sangue bom e já era. E na verdade não é isso, existe toda uma história de lírica de rap, de fonética, de dialogar aquilo com uma musicalidade, porque senão vira um discurso só, tem ainda a coisa de habilidade de Dj, e tudo isso tem uma sintonia fina que faz parecer fácil mas que é muito difícil.

Tem uma música do Beans de uns anos atrás em que ele fala isso, o problema é que tem “too many emcees and not enough listeners” (“muitos MCs e poucos ouvintes”). Tem muita gente querendo ser artista e poucos fãs, pensando: ‘pô, eu gosto do bagulho então vou trabalhar com isso, vou produzir evento’. É essa história.

O hip hop é uma cultura que nasceu de uma atitude de você fazer as coisas por você mesmo, e agora chegou num ponto que tá ao contrário, nego tá querendo ser carregado no colo e não fazer nada por si mesmo. Acho que as pessoas que tão chegando agora tem que sacar de pensar: ‘beleza, isso aqui mexeu comigo de certa maneira a ponto de eu querer fazer parte disso, então eu vou buscar retribuir pra cultura, além de só buscar tirar da coisa’.

Critérios

A partir de 2005, começamos a trabalhar com uma regra: o artista tem que ter lançado um disco oficial no ano, e ter tido destaque. Nas últimas três edições, funcionou desse jeito. O grande problema é que nós estamos na era do mp3. Esse ano, quem lançou disco e fez barulho ao longo do ano foi só o Kamau, principalmente, e na seqüência o Doncesão e o Dr. Caligari, ambos com o Dj Caíque.

Então chegou uma hora que eu me reuni com um pessoal do Sesc e perguntei: ‘nós vamos usar essa regra pra ajudar ou pra atrapalhar’? Porque do jeito que estava combinado não ia dar muito certo, só iam ter esses shows aí. Então abriu-se a exceção no seguinte sentido: quem já tem uma certa relevância no cenário e vai estar com disco oficial sendo vendido no dia do evento, pôde participar. Com isso abrimos pra participação do Enézimo, do Projeto Manada e do Subsolo, que vão estar com cd à venda no Indie. O único cd que já chegou, desde o dia em que a gente marcou foi o Sombra (além de Kamau, Doncesão e Caligari). A regra tem que ser moldada de acordo com a realidade, e eu acho que o festival está se tornando até mais do que uma coisa de passar quem fez barulho no ano, mas uma plataforma de lançamento.

Curitiba

Eu cheguei até a apresentar o material do Savave pro pessoal do Sesc, porque o som é bacana, o show é bacana e o formato do trampo é muito original, com o cd pequenininho. Mas aí ficou aquela história de que aquilo ali também pode ser considerado uma mixtape, e aí se abrisse, tinha vários outros trabalhos e ia complicar essa seleção.

Outro cara que foi uma pena, que eu só tive a certeza de que ele estava prensando o cd depois que o elenco já estava fechado, é o Nel Sentimentum. E Curitiba é foda porque é o seguinte, todo ano desde o Hieroglyphics os caras fecham um busão e vem. Então eles tem uma representatividade na parada e a gente tem mó vontade de colocar alguma coisa de lá e de Santo André também, que a primeira vez que teve alguma coisa foi o Pau-de-dá-em-Doido no ano passado, porque o pessoal de lá vai pra caramba e a gente tem essa vontade de dar espaço pra rapaziada até pra retribuir esse amor que vem de lá.

Alternativo x Gangsta

Pros gringos que vêm tocar aqui, em geral, o que pauta o evento é o nome do artista, a representatividade que ele tem, e o caráter do rap dele. Por exemplo, eu sou muito fã do Scarface, mas não vou tentar trazer o Scarface pra tocar no Indie, não dá né, é outro ponto de vista. É até bom deixar claro que o nosso festival é uma festival de rap alternativo, então o artista tem que ter o mínimo de identificação com essa proposta. A coisa do gangsta não nos diz respeito mesmo, até tem várias coisas que eu gosto, mas não é o caráter do Indie.

Homenagem ao rapper Sabotage pelos Racionais MC´s em 2003

Homenagem ao rapper Sabotage pelos Racionais MC´s em 2003

É aquela história, não tem como rotular a verdade de ninguém, tem cara que nasceu aquilo, viveu aquilo e a arte do cara é cabulosa. O Sabotage foi um exemplo claro disso. A lírica dele era 100% gangsta, mas o jeito que o cara fazia a coisa, a mensagem que ele passava, ele se encaixaria facilmente na proposta do Indie e eu considero ele um dos padrinhos do festival.

Eu acredito que, com a morte do Sabota, morreu muita esperança no rap brasileiro, porque ele era um cara que misturou todo mundo. Era uma época em que estava todo mundo muito próximo de um jeito que nunca aconteceu antes e nem depois. A perda dele foi maior do que só da pessoa dele, do talento e do artista cabulosíssimo que ele era, mas também foi a perda de uma pessoa que estava literalmente fazendo o equilíbrio da parada. E dia 24 de janeiro completa meia década sem ele. Cinco anos depois, não aconteceu nada.

(O produtor Rica Amabis, do Instituto, estava junto durante a entrevista e informou que o disco com músicas póstumas e inéditas do “Maestro do Canão” está na fase final de produção e deve sair até o meio do ano que vem. Aguardem.)


A história do Indie Hip Hop no Sesc

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O festival Indie Hip Hop entra em sua sétima edição neste ano com o status de único grande evento destinado ao rap alternativo no Brasil. Além de concentrar grupos e artistas nacionais do gênero, a marca registrada do Indie é a presença anual de um conceituado artista de fora do país. Em 2008, o presente ao público que estará no Sesc Santo André, no ABC paulista, nos dias 13 e 14, é nada mais nada menos do que Talib Kweli, MC nova-iorquino que lançou o aclamado disco Eardrum no ano passado e parceiro de Mos Def no clássico álbum Blackstar.
 
O MC Rodrigo Brandão, do grupo paulista Mamelo Sound System, tem uma relação direta com o festival e participa da organização desde o início do Indie. Ele falou ao Per Raps para contar algumas histórias sobre o evento e ainda falar um pouco da edição deste ano, matéria que você confere em duas partes.
 
Brandão começou a se envolver com a produção de eventos de rap em 1999, com a vinda de Afrika Bambaataa para tocar em uma festa de São Paulo. Após o contato com o precursor da cultura hip hop, as conversas tomaram um rumo um pouco diferente do que ele esperava, o colocando na linha de frente da produção de eventos de rap alternativo com a participação de artistas estrangeiros, em virtude de seus contatos e da vontade de fortalecer a cena nacional.
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Rodrigo Brandão, MC do Mamelo Sound System

Produção de eventos
 
“Nós não somos uma produtora, não temos uma equipe, sou eu e minha mulher. Eu escrevo os projetos, faço os contatos com o pessoal do meio artístico, monto as propostas, e ela fica com a parte de orçamento, de contratar o pessoal. Pintou um trampo, a gente contrata uma rapaziada freela que a gente sabe que é sangue bom, que funciona, e faz aquele trampo. Não é uma produtora, mas é um jeito de fazer que a gente viu que funciona.
 
Minha mulher é fotógrafa, dirige clipe, tá dirigindo documentário, e eu também, se eu pudesse viver de fazer meu som, é o que eu queria, mas no Brasil é muito difícil. Então entre trampar no banco pra pagar as contas e fazer um evento que vai acrescentar na cultura aqui e ainda pode te trazer contatos no meio, te fazer evoluir, eu prefiro ficar com essa parte de eventos.
 
Eu penso muito por esse lado também de acrescentar na cultura porque é uma coisa que rola lá fora bastante, a história do ‘pay dues’. Você chegar na cultura e pensar ‘como eu posso engrandecer essa cultura’. Mas aqui no Brasil rola o contrário, é sempre gente chegando pra tirar dinheiro dali ou pra não gastar, pra entrar de graça nas festas. Então eu acho legal, se você acredita nisso, você tentar trabalhar para que a cultura cresça.

O MC Posdnuos, do De La Soul, no palco do Indie em 2006

O MC Posdnuos, do De La Soul, no palco do Indie em 2006 by Sérgio Carvalho

Esse é o nono ano que a gente tá trabalhando com isso, ano que vem completa uma década trabalhando desse jeito: trazendo artistas de hip hop estrangeiro, tanto pro pessoal daqui poder ver, sacar o show, e também pra terem acesso e poderem evoluir no que fazem.

Tem o lado também de usar os gringos como escada, tá ligado? Porque os caras não levam a gente pra lá nunca, né? Então isso serve pelo menos pro pessoal daqui poder ter uma oportunidade de se apresentar com um equipamento legal, com uma luz legal e pra um público um pouco maior, que não sairia de casa só pra ver esse grupo. Então, a gente também tem que saber disso e tentar equilibrar, usando eles como escada. Na consciência de terceiro mundo, é quase uma obrigação a gente usar eles um pouquinho também, porque os caras vêm pra cá, tiram mó barato, ganham em dólar, voltam pra casa deles felizes e a coisa aqui continua do mesmo jeito.

Não tem patrocínio. O Sesc prefere otimizar e fazer uma coisa deles, com um evento grande no final do ano bem feito. O que acontece é o seguinte: é muito difícil você equalizar ideologia com corporativismo. Se eu tenho a oportunidade, como eu tenho no Sesc, de fazer o evento sem precisar de patrocínio de empresas, de marcas, eu prefiro, porque não é meu perfil, até esse momento, negociar com pessoas desse meio corporativo. Não tem muito a ver comigo.

Se chegasse alguém de alguma marca grande falando que o festival é muito louco e que eles vão bancar o evento do jeito que a gente faz, é claro que eu aceitaria: ‘Lindo, Sr. Marca grande. Passa o dinheiro pra cá, seu logo vai estar lá, tá tranqüilo’. Só que o que acontece é que em geral esse pessoal tende a não querer apoiar aquilo que você já faz, do jeito que já acontece e dá certo, mas sim ‘comprar o seu c…’, ta ligado? Então iria virar o “Tal marca grande Hip Hop”. E aí não é, não é o que a gente quer. Na hora que esse tipo de mentalidade chegar em quem investe o dinheiro aqui, de apoiar os eventos da forma como são, aí a gente começa a conversar.

Aori já subiu ao palco do Indie em 2005 e 2006 by Acauã Novais

Aori já subiu ao palco do Indie em 2005 e 2006 by Acauã Novais

Muitas vezes você vê festival corporativo, o cara brasileiro que vai tocar tá com o som baixinho, aí entra o gringo com o som bombando. No Indie isso não rola. Desde o começo, a primeira banda tem o mesmo som que o Talib vai ter, tá ligado? Coloca pelo menos em condição de igualdade e usa os caras nesse sentido, porque muita gente não sairia de casa pra ir até o Sesc Santo André só pra ver o show do Doncesão, por exemplo, mas essas pessoas todas vão lá pra ver o show do Talib. E vão acabar vendo o show do Doncesão e os outros shows que vão rolar nesse ano.
 
O que é bom ressaltar é que tudo isso só aconteceu por pura necessidade. Ninguém hora nenhuma quis, produção de evento é um saco. Tem que ficar marcando passagem, o maluco não quer, aí desmarca, tem que ficar marcando horário de passagem de som, então tem toda essa parte técnica. A gente faz por necessidade, porque se não fizer, não tem quem faça pela gente. Melhor fazer do que ficar chupando o dedo, mas eu preferia que tivesse alguém fazendo e poder colar só pra tocar. O Indie nasceu, em 2002, dessa necessidade extrema”.  
 
O começo
 
“Em 99, quando a parada começou, foi quando veio o Bambaata pra cá pra fazer uma festa do extinto Club Lov.e. A gente também foi chamado pra tocar e, através do contato com o Bambaata, nessa primeira vez, ele percebeu que aqui tinha uma galera que gostava do som, e lá fora a coisa do old school não estava tão valorizada. Ele falou que tinha que vir um pessoal e a gente falou: beleza, vamos fazer.
 
Ele disse que ia falar pessoalmente com uma galera pra fazer, e através do contato dele rolou o DuLôco 99, nos SESCs Belenzinho e Itaquera, um evento que foi muito legal e até hoje ecoa. Só que aí no ano seguinte, a gente tava jurando que o Sesc ia querer fazer de novo, mas eles recusaram com o argumento de que não tinham o costume de reeditar projetos, porque a marca do evento poderia ficar maior do que a marca do Sesc.
 
Aí em 2000, no perrengue, conseguimos trazer o Rahzel no final do ano. Em 2001 apareceu, do nada, um contato do Pharcyde, um outro maluco que morava aqui, que trampava com a Ninja Tune, tinha o canal do Kid Koala, e as coisas foram rolando de uma maneira meio tortuosa.
 
Aí em 2002 rolou com um produtor daqui, que trabalha com rock. Ele falou pra mim que o pessoal de uma agência gringa que ele trabalhava tinha oferecido uns artistas de rap. Era essa rapaziada do Quannum, por isso o primeiro ano foi Lyrics Born, e o segundo foi Blackalicious, que foram justamente os dois primeiros anos do Indie”.
 
Indie Hip Hop

“O Indie surgiu em 2002 em um momento conturbado. Por um lado, era o auge de umas festas de playboy, que só rolava uns black pop, e por outro lado, o rap nacional também tava num momento bem forte. No segundo semestre de 2002 saiu o Nada como um dia após o outro dia, dos Racionais, que tava estouradasso, e ainda tinha RZO, Xis, e outros grupos que também estavam num momento bom, então existia esperança de que esses caras conseguiriam alcançar o tamanho dos Racionais.

A coisa do rap nacional mais tradicional tava muito forte e não sobrava espaço pro tipo de rap que eu faço. A parada do Mamelo e de toda essa rapaziada de rap alternativo: não existia show, não tinha aonde se apresentar, não tinha nada. Então, o Indie também nasceu com essa idéia de a gente ter um evento nosso pelo menos uma vez por ano, trazer alguém de fora…e a história foi essa.
 
A idéia foi começar um festival que fosse de rap, mas nessa linha mais alternativa, com mensagens mais positivas. A primeira edição se chamou Nos Porões do Hip Hop e a partir do segundo passou a ser Indie. Também por causa dessa história do Sesc não querer, a princípio, reeditar eventos, então a gente pensou nesse começo em fazer o evento uma vez por ano, cada vez com um nome diferente (risos). Mas aí a partir do segundo ano eles curtiram a idéia, viram que dava certo e resolveram continuar fazendo.
 
Aí começou a rolar, no segundo ano teve Blackalicious, e a partir do terceiro ano aconteceu um negócio que fez muita diferença pra gente, que foi uma menina da Caxemira criada na Califórnia, chamada Suemyra Shah, que veio pra cá fazer intercâmbio na Bahia. Lá na Bahia, conheceu o Dj Primo, e através dele, ela chegou em São Paulo, entrou em contato com a cena daqui, e ficou muito a fim de começar a fazer alguma coisa.
 

Através do Primo e do Kamau ela chegou até mim, a gente marcou, trocou idéia, e ela (que é uma pessoa muito legal, muito bem intencionada), curtiu a proposta do festival. Eu levei ela no Sesc Santo André pra conhecer, ver que é um negócio sério, fazer uma reunião com a equipe de lá. Aí ela ficou a fim, disse que queria fazer e falou: ‘Vamos começar essa parceria com um pessoal que é amigo meu, o Hieroglyphics.” A partir daí, foi sempre tudo com ela.
 
Como ela também tinha essa vontade de fazer coisas com alto nível de qualidade com preço mais barato possível, fácil acesso, bateu totalmente com a idéia da gente. Eu acredito que pra coisa crescer no Brasil tem a ver com você colocar o máximo possível de cultura, um negócio de melhor nível possível, ao preço mais barato possível, do jeito mais acessível. Desde então a gente têm trabalhado com ela.
 
A Suemyra conhece muita gente de muitos estilos de rap porque ela trabalhou muito tempo na TV do Al Gore promovendo eventos de rap. Então ela conhece muita gente, e esse pessoal que tem a ver com o espírito do festival é até o pessoal mais próximo dela, então acaba sendo uma coisa natural. Se tiver que trabalhar com outros tipos de artistas, ela tem contato também, mas a filosofia passa por aí.

Então foi isso. Em 2004 veio Hieroglyphics, em 2005 teve a 1ª Mostra de Filmes Hip Hop de São Paulo, que veio o Madlib e até veio o Jay Dee, mas ele teve que voltar porque passou mal aqui; Jurassic 5 no final do ano, De La Soul em 2006. Em 2007 teve a 2ª Mostra com Pete Rock, e no final do ano, o Pharoahe Monch. A gente tentou fechar o Talib, tava conversando com ele, não fechou porque ele não respondeu até o dia que a gente precisava, aí o Pharoahe Monch já tava engatilhado, fechamos com ele, e no dia seguinte o Talib ligou topando, mas já era tarde.
 
O que aconteceu é que de lá pra cá, a coisa das festas de playboy acabou, rap nacional também acabou entrando numa situação meio complicada com a invasão do funk na periferia de São Paulo, e aí no final das contas, sobrou a gente, tá ligado? O único evento que rola, se você pegar a agenda anual, as coisas que eu sei que rola de show de rap é Hutuz, que é outra coisa, outro ponto de vista dentro da história, e o Indie.
 
E o Hutuz realmente não tem muita intersecção com esse tipo de rap que a gente faz, o máximo ali é o Kamau, que ganhou o prêmio desse ano, mas o resto da galera não é nem cogitada pra tocar ou pra ganhar os prêmios do Hutuz. Já no Indie a gente até tem uma rapaziada desse rap nacional mais tradicional participando, mas com uma mensagem positiva.
 
Porque uma das poucas restrições que o Sesc é: discurso de gangster realmente não interessa a eles propagar, porque vai contra a filosofia da instituição. E particularmente vai contra o que eu acredito na vida também, eu não tenho a mínima intenção de destinar o tempo da minha vida na terra a propagar isso no mundo, acho que tem coisas que podem ser propagadas e vão fazer a coisa ficar mais legal”.
 
Sonhos de consumo

Grupo The Roots

Grupo The Roots

“O que a gente gostaria que tivesse acontecido é ter vindo o Del na época que veio o Hieroglyphics, mas até o empresário dele é separado. E tem outras coisas que a gente ainda quer que venham no decorrer dos próximos anos, como Mos Def, The Roots, e outros. Vamos trabalhar pra isso”.
 
Edição mais marcante
 
“Pra mim foram momentos. Por exemplo, na primeira edição, na hora que acabou o show do Mamelo, a gente desceu do palco e encontrou o Sabotage inteiro vestido de terno branco. Ele abraçou a Lurdez (Da Luz) de um lado, eu de outro, segurou a gente e falou: ‘Esse show foi demais, me passa um pouquinho dessa energia positiva!’, e foi a última vez que eu vi ele na vida… isso pra mim é inesquecível.
 
Ainda ter tido a oportunidade de se apresentar com o Black Alien e o Dj Primo, todo mundo junto, também é inesquecível. Ainda tem o show do Jurassic, que foi foda, todo mundo pirou, mas particularmente, pra mim, o show do De La Soul foi o que mais emocionou até agora, porque faz parte da minha formação musical. Tem cinco grupos que eu considero que me fizeram estar aqui até hoje: Beastie Boys, Run DMC, Public Enemy, A Tribe Called Quest e De La Soul. Então, um show deles de uma hora e meia, tocando coisas que eu nunca tinha visto nem em vídeo, aquilo ali é coisa que nego não esquece”.

Gostou das informações sobre o Sesc Indie Hip Hop? Continue acompanhando o Per Raps para ler a parte II dessa história, além de muito mais!

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