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Lauryn Hill se redime em segunda passagem por SP

Nesta terça (07), os paulistanos assistiram a segunda passagem de Lauryn Hill pelo Brasil. Apesar de estar aparentemente mais motivada do que em seu primeiro show por aqui, em 2007, Ms. Hill foi alvo de críticas por parte mídia dita especializada em música e por parte dos fãs.

A principal reclamação foi em relação aos arranjos das músicas, que estavam bem diferentes das versões originais de hits como “X-Factor” e “To Zion”, entre outros. No entanto, a banda de Lauryn não se limitou a reproduzir os beats clássicos do álbum “The Miseducation of Lauryn Hill”, mas sim ultrapassar esses limites, permitindo que a própria cantora e MC tivesse a chance de improvisar e mostrar sua potência vocal.

Nós do Per Raps conferimos o show e aprovamos! Como as opiniões do público e crítica foram adversas e cada um possui seu argumento pró ou contra, ai vai nossa singela ideia sobre a passagem de Ms. Hill por São Paulo.

O sermão do monte, por Ms. Hill Eduardo Ribas

Volte a 1993. Agora imagine a figura de Whoopi Goldberg de batina, à frente de um coral de jovens revoltados com a vida (Mudança de Hábito 2). Se não tiver referências para ir tão longe, imagine a figura de um reverendo, daqueles que comandam os corais das igrejas com potentes corais negros que vivem aparecendo em filmes e videoclipes, sabe? Agora jogue isso tudo fora e substitua a figura do reverendo por Lauryn Hill.

A partir daí, o show vira um sermão e a banda acompanha a “pastora” Ms. Hill, junto de seu coral de três vozes no palco com um público que se revelaria próximo de 7 mil participantes. “Lost Ones” abre a pregação: “É engraçado como o dinheiro muda a situação, falta de comunicação leva a complicação”. Seguindo, “X-Factor”; “tudo poderia ter sido tão simples, mas você preferiu complicar”, entoa Ms. Hill.

Os espectadores do sermão celebram, mas em dúvida, já não compreendem se aquelas palavras ditas de maneira tão diferente eram as mesmas que estavam acostumados antes. Mas eram, só que alguns poucos entenderam.

Percebendo o rebanho disperso, a pastora recupera suas ovelhas relembrando seu passado de glória de sermões ainda mais acalorados, junto de seus companheiros de paróquia, digo, de Fugees. “Fe-gee-la”, “Ready or Not”, “Killing me Softly”. E se ouve um “aleluia” em alguma parte do salão. Desprestigiada se comparada às outras, “Killing me Softly” recebe um repeat, agora com o arranjo original de 1996, que mais pseudo-original que esse, só teria amostra em versão de 1973 por Roberta Flack. “Aleluia!”

Uma rápida passagem pelo sermão acústico, uma breve saída, um pedido de bis, gritos, urros, aplausos e de repente, uma quase onomatopeia após a volta: “Doo Wop” e pronto, “amém”. Alguns saíram sem entender nada, outros meio bravos porque o CD que compraram não era igual ao cânticos que ouviram naquela noite. Outros saíram felizes e alguns até em transe, graças ao contato com o divino em forma musical. A multidão se dissipa e Ms. Hill parte para sua próxima missão.

Per Raps Adverte: O texto faz analogia a um sermão religioso, mas não tem como função ou objetivo depreciar qualquer religião, seita, culto, grupo, filosofia ou pessoa. Àqueles que de alguma forma possam ter se sentido lesados pela utilização de algum termo ou pela analogia em si, reiteramos que a proposta segue de encontro a essa possibilidade.


*Video por Luciana “Playmobile” Faria.


Duelo de MCs celebra aniversário em Belo Horizonte

“Celebrar é preciso!”por Eduardo Ribas

Quem acompanha o rap, ou qualquer outra cena (com viés) independente, sabe das dificuldades que se encontra pelo caminho. Casas que não abrem espaço para festas e shows, produtores que oferecem uma coxinha e três refrigerantes como pagamento, jornalistas que estigmatizam o gênero em seus textos, os materiais para DJs (pick-ups, mixers, serato etc) e MCs/Beatmakers (microfones, mpcs etc) são muito caros e por ai vai.

Resistir a esses obstáculos é tarefa para poucos, tanto que a cada dia assistimos festas chegando ao fim, grupos terminando e a cena enfraquecendo. Um desses exemplos de resistência está a 586 quilômetros de São Paulo, especificamente em Belo Horizonte, Minas Gerais. Há cerca de três anos, surgia o Duelo dos MC’s. Seguindo o exemplo e molde de eventos como a Batalha do Conhecimento (RJ) e o Microfone Aberto (SP), apenas para citar alguns, o Duelo traz semanalmente um encontro que junta representantes do elementos da cultura hip hop no mesmo palco.

Inspirado na Liga dos MCs, evento tradicional que acontece no Rio de Janeiro, que teve uma edição especial em BH, Osleo (lê-se osléo), da Família de Rua, e o Vuks (ex-Rima Sambada) compraram a ideia e iniciaram um evento similar, sem saber exatamente a proporção do que estavam fazendo. “Na primeira edição tinha umas 50 pessoas, na segunda, umas 150. Quando a gente foi ver, o evento tava dando média de 400 pessoas por noite, pessoal de imprensa procurando, geral querendo saber o que era aquilo”, relembra Luiz Gustavo aka Gurila Mangani, MC e beatmaker que observou de perto o início do projeto.

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A ideia central do evento é abrir espaço para todos os elementos do hip hop, e não apenas para as batalhas de MC. “O carro-chefe é a batalha (de freestyle), mas a preocupação é que seja um evento de hip hop, sempre tem roda de b-boy, de 15 em 15 dias tem grafiteiro pintando o viaduto”, conta PDR, o Pedro Valentim. Pedro é hoje um dos organizadores do evento, junto de Osleo, DJ Roger Dee e Monge (todos fazem parte da Família de Rua). Além de todos esses elementos, vez ou outra ainda há espaço para pocket-shows com artistas diversos. Já passaram por lá nomes como Shaw (RJ), Slim Rimografia (SP) e Simpson (MG) entre outros.

Sobre a batalha de freestyle, começou no formato simples: MC contra MC, sem muita imposição. Depois, se assemelhou aos moldes da Batalha do Conhecimento (RJ), com temas sugeridos. Hoje, o duelo é no esquema de “bate-volta”, um MC rima oito barras (tamanho de um verso regular de rap), o outro responde com outras oito e por ai vai. A cada sexta-feira, o estilo muda: duelo tradicional de freestyle, temático e batalha no “bate-volta”.

O palco para o Duelo dos MCs é o Viaduto Santa Tereza, localizado na região central de Belo Horizonte. O local é histórico, mas antes do evento era habitado por moradores de rua, a sujeira tomava conta e sinalizava o abandono da área. “Não tinha luz, era escurão, tipo um ‘guetão’, submundo da cidade”, conta Mangani. Três anos depois, a revigoração feita pelo Duelo trouxe de volta ao espaço a cultura. “Nós começamos a ocupar, o Duelo trouxe vida nova ao espaço”, completa PRD.

Local de fácil acesso, ao lado de uma estação de metro e de ônibus, o Duelo dos MC’s atrai público mais diverso possível, “desde cara do rap até patricinha”, segundo Gurila Mangani. As edições rolam todas as sextas, a partir das nove da noite, acabando por volta da meia-noite.

E falando nisso, nesta sexta-feira (27) rola a edição de aniversário do evento. Na programação, show com o MC B.Réu, presença de MCs convidados, roda de dança, intervenção de grafite e mais. Serão vendidos bottons comemorativos do Duelo dos MC’s, a três reais cada.

Alguns dirão que três anos não é o suficiente para ressaltar a importância de um evento, festa ou seja o que for. Outros vão enaltecer a iniciativa e imaginar: “queria poder colar nesse rolê hoje”. Mas nada disso importa. Como já disseram, “só quem é de lá sabe o que acontece”. Nada melhor do que ler as palavras de um dos frequentadores do Duelo dos MCs para entender o que você pode estar perdendo. “Você tem que vir aqui pra ver como é… é muito loca a vibe, você vai achar que tá no Bronx!”, finaliza Gurila Mangani.

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Manos e Minas volta à grade da TV Cultura

“Unidos venceremos?”por Carol Patrocinio

Quando li que o programa Manos e Minas, o único na televisão a ter espaço totalmente aberto à cultura hip hop, seria tirado da grade da TV Cultura senti o sangue esquentar. Sabe aquele sentimento de quando você é adolescente e tem a plena certeza de que pode mudar o mundo com as próprias mãos? Foi essa a sensação.

E, de volta aos 16 anos, me uni com pessoas que acreditavam no mesmo que eu – o programa não podia acabar, não assim, sem briga. Muita gente entrou no protesto, primeiro via internet, e não foi um, não foram dois, foram vários, cada um por um motivo.

A luta saiu do espaço virtual e foi pras ruas, tornou-se política. Senador Suplicy nos representou (graças a Gisele Coutinho e seus contatos). Músicos, artistas e formadores de opinião deram sua palavra nos vídeos feitos por Zeca MCA e Rodney Suguita (aka Maniaco da Camera). Pelo Brasil todo as pessoas encontraram maneiras de mostrar sua insatisfação (graças ao bendito Twitter).

O descontentamento geral criado pelo fim de um programa que poderia dar espaço ao que cada um de nós pensa, gerou barulho a ponto das coisas mudarem. A partir daí, foi provado por A mais B que o mundo pode dar ouvidos a nós, desde que se saiba como gritar.

Mas o que queremos, dar um pequeno passo ou correr transformando cada coisa que não nos parece certa? A cultura hip hop sempre foi contestadora, lutou por aquilo que acreditava ser certo e provou que organização é o primeiro passo pro sucesso de uma empreitada. Mas como disseram, foi o primeiro round.

A mobilização virtual, que foi levada adiante e seguiu às ruas, recebeu a notícia da vitória. E agora? Chega, ou o gostinho de vencer vai te levar à próxima batalha? Mais uma vez me sinto obrigada a usar palavras do poeta Sérgio Vaz:

“Não confunda briga com luta. Briga tem hora pra acabar e luta é para uma vida inteira”.

A briga pela volta do programa Manos e Minas terminou, mas e a luta contra as injustiças que estão sendo feitas na televisão estatal de que diversos manos e minas estão sendo demitidos por uma posição de João Sayad, que visa apenas lucro e corte de gastos? Pessoas não são gastos, cultura não pode ser medida por valores.

Quem vai salvar os manos e minas da TV Cultura e do resto do país?

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Manos e Minas: Protesto ganha as ruas


Manos e Minas: protesto ganha as ruas

Pelas palavras do presidente da TV Cultura, João Sayad, o Manos e Minas acabou, no entanto, a repercussão do ocorrido e as ações em prol do programa, seguem a pleno vapor. Em São Paulo, duas grandes mobilizações: uma audiência pública e um show no Studio SP.

A audiência partiu de uma conversa realizada em um protesto ocorrido no Sarau da Cooperifa, no último dia 11, e foi marcada no auditório Franco Montoro, na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, nesta terça-feira (24), às 19h. Estarão presentes diversos nomes ligados à cultura hip hop, que deverão questionar as mudanças que estão programadas para o canal Cultura. Serão recolhidas também assinaturas para o abaixo-assinado em favor do Manos e Minas.

Já na quinta-feira (26), Kamau, Emicida, Max BO e Funk Buia sobem ao palco do Studio SP junto do Instituto, na festa Seleta Coletiva, contra o fim do único programa dedicado exclusivamente à cultura de rua no Estado mais rico do Brasil. Além do protesto, a boa música marca presença, assim como um dia esteve presente no palco do teatro Franco Zampari, onde o programa era gravado. Para o organizador da festa, Daniel Ganjaman, o fato é uma “perda irreparável”.


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Outro grande nome da cultura hip hop que manifestou seu apoio à causa foi Mano Brown, que apontou o lado político da escolha pela retirada de Manos e Minas da programação da TV Cultura. Para o Brown, há condições de se conseguir um espaço ainda melhor, e que esse pode ser um ciclo que recomeça, agora mais articulado e experiente. “Tudo que é bom, recomeça”, aponta no video.

Ainda na semana passada (14), a Sintonia Crew, formada majoritariamente por jovens, realizou uma batalha de freestyle com o tema #salveomanoseminas, em Ipatinga (MG). O resultado da connversa sobre o tema e os improvisos foram registrados em vídeo.

Na grande mídia o destaque fica para a coluna de Maria Rita Kehl no jornal O Estado de S. Paulo deste sábado (21). A crítica, muito bem fundamentada, questiona o motivo de João Sayad ter aceitado o cargo de presidente da TV Cultura, “um empreendimento que ele não conhece, não parece interessado em conhecer e, acima de tudo, evidentemente não gosta”. Dentre outros questionamentos, o programa Manos e Minas é tido como exemplo.

Escolho, para terminar, o triste exemplo de um programa que já foi extinto pela atual direção: Manos e Minas. Um corajoso programa de auditório dedicado ao hip hop (…). Manos e Minas não precisa de argumentos de segurança pública para se justificar. Dar espaço ao rap na televisão é importante por si só. Mas a decisão de acabar com o programa nos faz refletir sobre o modo como a elite paulista concebe a inclusão simbólica da periferia na produção cultural da cidade: não concebe. Daí que a pobreza, aqui, seja um problema exclusivo de segurança pública. A extinção de Manos e Minas lembra, não pelo conteúdo, mas pelo princípio operante, as desastradas políticas de “limpeza” da cracolândia. Quem mais, senão uma TV pública, poderia investir na visibilidade dos artistas da periferia?

E assim como Maria Rita Kehl, perguntamos: Quem mais, senão uma TV pública, poderia investir na visibilidade dos artistas da periferia?

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Audiência Pública em prol do Manos e Minas
Quando? Terça-feira, 24
Onde? Avenida Pedro Álvares Cabral, 51 – São Paulo/SP
Auditório Franco Montoro, na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo [Clique para ver mapa] A sessão é aberta ao público
A partir das 19h.

Seleta Coletiva contra o fim do Manos e Minas
Quando? Quinta-feira, 26
Onde? Studio SP – Rua Augusta, 591 – São Paulo/SP
Quanto? $25 na porta/$15 na lista [www.studiosp.org]
A partir das 01h.


Entrevista: Lurdez da Luz, Pathy Dejesus e Lívia Cruz

Lívia Cruz por Stephanie Sidon, Pathy Dejesus (divulgação) e Lurdez da Luz (divulgação)

“Muito além do ser mulher” – por Carol Patrocinio

Quando as pessoas pensam em rap já imaginam um homem, de preferência negro, com roupas largas, cara de mau, muita marra e um microfone na mão. Ei, mundo real, chamando! Rap é música, expressa sentimentos, vivências, histórias. E isso todo mundo tem: branco, preto, amarelo, homem, mulher, religioso ou ateu. E é aí que entram as personagens do texto de hoje, três mulheres que ganharam espaço e notoriedade num mundo que – queriam que elas acreditassem – não tinha espaço pra elas. O mundo estava enganado!

Lurdez da Luz, Pathy Dejesus e Lívia Cruz. Mulheres. Bonitas. Femininas. Elas são feitas de sorrisos, olhos, unhas. E como as mulheres de outras cenas, querem estar bonitas, gostam de como são, não querem mudar para agradar e acreditam que o talento fala mais alto do que qualquer coisa.

Preconceito? Existe. Por ser mulher, por ser bonita, por ser branca ou por ser negra. Desafios? Estão aí para serem deixados pra trás e lembrados como vitórias. Qualidade? Tem de sobra. Essas mulheres provam que o que importa é fazer com o coração e aí o respeito vem, quando menos se espera.

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Per Raps: Pra você, como o preconceito é demonstrado no rap?

pathy dejesusMeu pai me falou uma parada que ainda ecoa na mente e infelizmente faz o maior sentido até os dias de hoje: se você quiser ser alguém, ser bem sucedida no caminho que escolher, vai ter que trabalhar duas vezes mais pra ter o mesmo reconhecimento porque é mulher”

Lurdez da Luz: Acho que o rap brasileiro está mais consciente nesse sentido do que o norte-americano de um modo geral, no que diz respeito as músicas misógenas é mais tranquilo. Acho que o machismo está tão arraigado que nem sei onde começa e onde termina e num é privilegio do rap não, em toda sociedade e nichos musicais rola só que de diferentes formas. Vide o número de instrumentistas mulheres em qualquer show de música, seja lá de que estilo for, sempre muito menor que o de homens.

Infelizmente ainda rola esse lance de muitas mulheres não se sentirem representadas por outras que estão no palco, que é reflexo de uma cultura machista, de de repente achar que você tá ali pra “aparecer” ou por causa dos caras, ignorando toda a dificuldade que é fazer arte, ainda mais rap. Mas comigo, pessoalmente, não é só o fato de ser mulher, tem o lance da pele clara, me vestir de um jeito estranho, ter um discurso talvez não muito simples de interpretar e desde do começo num ficar me explicando, deixar as pessoas livres pra pensarem o que quiser ao meu respeito.

Pathy Dejesus: Gosto de ver as coisas sempre por um ângulo mais positivo. Falta muito ainda, mas já foi bem pior… Ainda somos uma minoria dentro desse processo. Ainda existem as letras que inferiorizam, ridicularizam, menosprezam e ofendem mulheres (o que aliás já é bem batido, né?). Ainda tem homem que torce o nariz quando vê uma mulher no mic, nos toca-discos, dançando, grafitando. Mas o mundo é isso! Preconceito não é exclusivo do rap. Ele só é reflexo (talvez em maior intensidade) de uma sociedade preconceituosa (lê-se machista também). Ele está aí e não pode servir de empecilho pra quem realmente quer fazer parte.

Existem várias mulheres que quebraram e estão quebrando esse paradigma. Desde seu início, lá nos EUA entre os anos 70 e 80, a cultura é uma coisa “pra homens” e raríssimas mulheres conseguiram invadir esse espaço. As que conseguiram eram todas excepcionais (Roxanne, Salt n’ Pepa, Queen Latifah, MC Lyte, dentre várias) e fizeram a diferença! Se hoje parece difícil, imagina há três décadas. Se essas pioneiras não tivessem insistido, batido de frente pra demonstrar seu talento e sua paixão pelo hip hop, dificilmente estaríamos conversando agora.

Aqui no Brasil não é diferente… o hip hop entrou na minha vida em 94. Lembro da Rúbia, da Dina Di, da Rose MC, depois Negra Li. Tente pesar a determinação dessas mulheres naquela época… Quando fiz 13 anos, meu pai me falou uma parada que ainda ecoa na mente e infelizmente faz o maior sentido até os dias de hoje: se você quiser ser alguém, ser bem sucedida no caminho que escolher, vai ter que trabalhar duas vezes mais pra ter o mesmo reconhecimento porque é mulher. E mais duas vezes porque é negra. De onde venho as coisas nunca foram fáceis. Graças a Deus, cresci num ambiente onde ao invés de só lamentar e apontar culpados pela situação desvantajosa, batemos de frente e não desistimos tão facilmente dos nossos sonhos.

Lívia Cruz: O preconceito contra as mulheres? Eu já disse isso várias vezes, o preconceito e discriminação contra as mulheres no rap não é diferente do que a gente vê na sociedade em geral, as manifestações tão aí a toda hora, vão das cantadas e dos barulhos obscenos que a gente é obrigada a escutar quando está simplesmente passando na rua, até uma atitude mais extrema de violência física e psicológica. Esse assunto é sério e delicado, acho que a educação, como em quase, tudo é a chave, e a música, sem dúvida, tem grande papel de formação.

Per Raps: O que significa fazer um rap feminino atualmente?


Parece fácil ser MC, mas num é não. Seja homem ou mulher”

Lurdez da Luz: Atualmente já está tudo um pouco mais fácil pra todo mundo, existe uma evolução em relação a acesso a tecnologia, a informação e o fluxo de dinheiro dentro da cultura aumentou (ainda é pouco), o respeito fora do rap aumentou também. Eu comecei a fazer isso em 1999, só existia a Dina Di, que era uma rapper cabulosa mas que eu num me identificava e a Rose MC e Lady Rap, que num tinham muitas faixas gravadas pra gente ter algum ponto de partida. Eu curtia muito o estilo da SharyLaine, mas que já num lançava nada há anos… Enfim tive que inventar um jeito de fazer minhas rimas e levadas.

Lembro que mostrei meu primeiro rap pra Cris do SNJ, que também é minha contemporânea, e ela falou: “legal esse tipo de som, parece um pouco rap até”, eu ri e percebi que tava com uma parada que ia demorar pra ser compreendida. Pra mim o importante é ter em mente a expressão artística e as posições politicas, sempre em prol da evolução pessoal assim como da cultura e não “ser alguém dentro do rap”, parece fácil ser MC, mas num é não. Seja homem ou mulher.

Pathy Dejesus: Existe fazer um rap feminino? Dá separar a arte e subclassificar? Não acredito nisso. Odeio rótulos. Existe talento ou não. Existe paixão ou não. Existe rap bom e rap ruim. E isso independe do sexo de quem está fazendo.

Lívia Cruz: Pra mim, no meu rap, significa mostrar o ponto de vista genuíno da mulher, eu gosto de contar historias e ainda acho que a gente se pauta muito no que os homens do rap vão pensar das nossas letras, das nossas atitudes, e isso torna os nossos relatos muito tímidos… Quero ver isso mudar, e tô fazendo minha parte pra essa mudança.

Per Raps: Beleza ajuda ou atrapalha? Como?

Muitas vezes me sinto subestimada, vejo isso nítido nos olhares das pessoas quando subo no palco, mas depois que começo a cantar isso muda”

Lurdez da Luz: Acho que ajuda a abrir portas mas talvez até atrapalhe em ter credibilidade. Como disse sobre posições políticas na resposta acima, num é só saber em quem vai votar, o porquê é bem mais amplo, como por exemplo não acreditar em padrões de beleza impostos, tipo a magra, alta, de olho azul ou até mesmo a “rainha de ébano”, claro que deve ser uma benção de deus ser lindo, mas ficar impondo isso que nem a Rede Globo num deveria ser papel do rap.

Pathy Dejesus: Acho que a pergunta correta seria: ser feminina ajuda ou atrapalha? Li uma entrevista da Negra Li (de quem sou fã) uma vez falando sobre isso. Da postura supostamente correta para ser respeitada num ambiente onde ela era minoria… Usar roupa larga, nada de maquiagem, ficar séria o tempo todo pra não chamar a atenção. Pra não lembrarem que se tratava de uma mulher… Imagina a barra!

Por isso digo que as coisas estão evoluindo! E vai de nós, mulheres, nos impor, nos preservar, e sermos levadas a sério. Sou vaidosa e não vou mudar minha personalidade pra fazer o que amo. Aliás, isso não faz o menor sentido, né?! Acho lindo quando vejo Lívia [Cruz], Lurdes [da Luz], Nathy [MC], Flora [Matos], as DJs do Applebum… Todas maravilhosas, nenhuma abre mão do seu estilo pra rimar, pra discotecar. O respeito não é imposto. É conquistado!

Lívia Cruz: Por incrível que pareça, acho que atrapalha mais do ajuda. Existe um preconceito de que mulher bonita não é inteligente, muitas vezes me sinto subestimada, vejo isso nítido nos olhares das pessoas quando subo no palco, mas depois que começo a cantar isso muda, e é divertido também, surpreender pro bem. A beleza vai muito além da estética, eu gosto de quem sou, não quero mudar pra agradar ninguém, e isso transparece nas minhas músicas e na minha conduta, algumas pessoas se incomodam, mas paciência… Bonito mesmo é ser feliz!

Per Raps: Hoje você é respeitada na cena por seu trabalho, independentemente do seu sexo, o que você acha que fez com que isso acontecesse?

pathy dejesus Sou movida a grandes desafios, não nasci pra concordar, pra aceitar. Minha maior concorrente sou eu mesma, e não alivio, não facilito, não tenho pena de mim mesma”

Lurdez da Luz: Em primeiro lugar fico honradíssima, dinheiro é bom e todo mundo precisa, mas respeito pra mim vale ouro. Acho que foi resistir em primeiro lugar, se mantar fiel ao que se é e não balançar em relação ao que ” tá pegando no momento”. Foco no som e amor por esse tipo de música em especial mais do que por qualquer outra.

Pathy Dejesus: Repito que venho de uma criação (obrigado Pai e Mãe) onde sempre me lembraram quem eu sou, de onde vim e de como as coisas seriam mais difíceis por isso. Mas essa situação de “desvantagem” sempre me foi mostrada de uma forma que eu tivesse vontade de bater de frente pra conquistar meus objetivos.

Sempre fui “minoria”. Mulher negra é minoria duas vezes. Sempre tive que batalhar dobrado pra ter reconhecimento. E sinceramente, gosto disso! Sou movida a grandes desafios, não nasci pra concordar, pra aceitar. Receber um inicial “não” como resposta sempre me motivou a melhorar, buscar mais conhecimento, me preparar cada vez mais. Tem horas que realmente dá vontade de desistir… Mas minha maior rival não me pouparia, não me perdoaria. Minha maior concorrente sou eu mesma, e não alivio, não facilito, não tenho pena de mim mesma. Acho que vem daí o respeito no meu trabalho. E na vida!

Lívia Cruz: Esse respeito veio naturalmente por um conjunto de coisas, meu trabalho vem em primeiro e com ele o desejo de fazer virar, acreditar, ousar, perseverar, e por consequência algumas pessoas no meu caminho me ajudaram muito, sem essas pessoas, provavelmente, eu estaria bem mais longe do ponto que me encontro agora.

Time do Loko apresenta Lurdez da Luz, Lívia Cruz e Pathy de Jesus
Quando? Sábado, (14), às 00h
Onde? Hole Club (R Augusta, 2203 – Jardins/SP)
Quanto? R$15 (H) e R$10 (M)

Mais?
Novidades de 09′: Lívia Cruz
Lurdez da Luz fala de seu novo trabalho


Manos e Minas: a luta continua

Na semana passada, especificamente na quinta-feira (5), foi anunciada a saída do programa Manos e Minas da programação da TV Cultura. No entanto, uma grande movimentação partiu da internet às ruas pedindo a volta de um dos únicos programas dedicados ao hip-hop no quinto maior país do mundo em extensão territorial, com mais de 190 milhões de habitantes e composto por 26 estados e um distrito federal. Mas isso tudo você já sabe.

Além do protesto no microblog Twitter, que fez o termo #salveomanoseminas permanecer entre os tópicos mais citados na tarde da quinta, foram colhidas assinaturas de pessoas contrárias a ordem de João Sayad, atual presidente da TV Cultura, na festa de aniversário da Rinha dos MC’s.

Voltando à internet, vídeos começaram a “pipocar” com falas de pessoas representativas no rap e na cultura de forma geral, como KL Jay, Edy Rock, Gilberto Dimenstein, Pedro Alex Sanches, Ganjaman, Criolo Doido e Ale Youssef, que apresentaram sua insatisfação e argumentaram sobre a importância da manutenção do Manos e Minas na TV aberta.

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Outra figura importante que “comprou” a briga foi o senador Eduardo Suplicy, que recebeu uma carta enviada por representantes do hip-hop a ser encaminhada para João Sayad. Suplicy inclusive chegou a realizar a leitura da carta no Senado, alertando a movimentação preocupante de um canal que leva a cultura em seu nome.

Em texto publicado pela agência AdNews nesta quarta (11), João Sayad mostrou sinais de contradição: “A grande questão aqui é que eu não represento o meu gosto, eu represento o que o público quer”. No entanto, suas ações mostram o contrário. Sua resposta padrão para o fim do Manos e Minas é que o novo programa de música da TV Cultura também trará o rap como um do gêneros representados.

Ainda assim, as movimentações em prol do programa continuam acontecendo. Mande seu vídeo, sua manifestação de apoio ou o serviço da sua festa em prol da volta do programa Manos e Minas à TV Cultura nos comentários do post e a gente ajuda a divulgar.

* Na noite desta quarta-feira (11), o Sarau da Cooperifa teve uma edição especial de protesto ao fim do programa Manos e Minas, nas palavras do idealizador do evento, Sérgio Vaz, “o único [programa] que não mostra as pessoas da quebrada de cabeça baixa, algemadas ou pedindo alguma coisa para apresentador de TV”.

* Em Minas Gerais, mais especificamente na cidade de Ipatinga, a Sintonia Crew realizará uma batalha de freestyle com o tema #salveomanoseminas, no Shopping do Vale, neste sábado (14), às 20h.

*Assine o abaixo assinado do site Rap Nacional em prol do Manos e Minas.

Sobre o Manos e Minas

Manos e Minas surgiu de um desdobramento do quadro “Mano a Mano”, parte do programa Metrópolis da mesma TV Cultura, e era apresentado por Rappin Hood. O formato inicial do programa contava com auditório, DJ Primo nas pick-ups, b-boys e b-girls dançando e grafiteiros convidados para pintar painéis durante a gravação.

O programa teve início em 7 de fevereiro de 2007 e contou com o sambista Jorge Aragão como primeiro convidado. Após a saída de Rappin Hood, assumiram a apresentação Thaíde, e logo depois, o MC Max BO. Manos e Minas trazia a cada edição uma banda/grupo apresentando seu trabalho, além de reportagens e quadros com nomes como Alessandro Buzo, o escritor Ferréz e mais tarde, o rapper Emicida.

Gravado no teatro Franco Zampari, ao lado do metrô Tiradentes, todas as segundas-feiras a partir das 16h, Manos e Minas era televisionado todo sábado às 19h30 na TV Cultura, com reapresentação aos sábados à 1h.

Leia também o post Manos e Minas deixa a grade da TV Cultura
Quer saber o que as pessoas acham sobre o fim do programa? Dê uma olhadinha no mural do Manos e Minas no site da TV Cultura!


Resenha: MV Bill, Causa e Efeito

Agressividade e melodia em quarto álbum de estúdio – por Stefanie Gaspar*

“Ocupar vários espaços é o nosso plano de paz”, anuncia MV Bill na faixa O Bonde Não Para, um dos muitos destaques de seu quarto álbum de estúdio, Causa e Efeito. O novo trabalho do rapper é o manifesto cantado de sua ambição: uma revolução social que consiga dissociar periferia e violência e unir os dois mundos por meio da conscientização da comunidade – para ele, rima sem ação é fazer pose em um mundo que não dá espaço para o vacilo.

O mano mais polivalente do hip hop brasileiro não é daqueles que fala mas não faz: MV Bill comanda trabalhos importantes junto à comunidade da Cidade de Deus, já lançou três livros (em parceria com Celso Athayde), Cabeça de Porco, Falcão – Meninos do Tráfico e Falcão – Mulheres e Tráfico e recorre a tudo e a todos para levar os motes e ideiais da periferia para fora do gueto, pregando por circuitos que vão desde o programa do Faustão até a cidade-luxo da Daslu.

O homem que levou a realidade do tráfico, da morte, do tiro e do sangue para o horário nobre da Rede Globo mostrou em Causa e Efeito uma coragem adicional, que já se anunciava desde o DVD Despacho Urbano, de 2009: que suas letras violentas e contundentes precisam se apoiar em uma musicalidade rica e variada para que sua música vá além das palavras.

Seu álbum anterior, Falcão – O Bagulho é Doido, de 2006, já anunciava esse comprometimento com outros gêneros musicais, englobando ritmos como o soul e o samba-rock para seu repertório. Causa e Efeito segue essa mesma intenção, e Bill leva muito a sério a ideia de que o rap não pode se fechar em si mesmo.

E a incorporação de outros gêneros musicais não mudou em nada a violência das letras bruscas, ultra realistas e contundentes do rapper, que pegou pesado nas rimas e não poupou ninguém de sua língua afiada. Em Mulheres, a delicadeza dos arranjos faz o contraponto à violência da história: “Cada mãe sabe a dor que sente, quando vê o filho sendo queimado como indigente”, “ausência do amor com a presença do dinheiro, faz a mãe levar a filha junto pro puteiro. Saliva com sêmem, meninos que gemem, as pernas e as estruturas se tremem”.


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Em Cidadão Refém, Bill rima sobre o ódio entre a relação da periferia com a polícia em um ritmo que chega a lembrar um freestyle, em uma música que conta com a participação especial de Chorão, do Charlie Brown Jr. O músico não acrescentou muito à música, que traz letras repetitivas em relação as demais faixas do álbum.

A música seguinte, Liberte-se, começa com uma surpresa: um trecho da música Fumando Espero, cantada por Dalva de Oliveira. Na letra, o rapper rima com rapidez sobre a fugacidade da vida e a dificuldade de vencer em um universo restrito por regras e injustiça social.

O bom ritmo da canção é um aquecimento para a verdadeira pérola do álbum, Transformação. A música é uma pancada de extrema violência após a suavidade de Liberte-se, e traz uma melodia profundamente triste acompanhada por uma crítica ao mundo do rap: “Ficaram parados no tempo, envaidecidos dividiram o movimento. Veja só o rap, virou o partido da cara feia, com grandes bonés, pequenas ideias, falso reinado, coroa de rei, castelo de areia”. Transformação conta com a ótima participação de Chuck D, MC do Public Enemy, e a produção de KL Jay, dos Racionais, e é uma das faixas mais interessantes da carreira do músico.

Em Sou Eu, MV Bill critica o mundo da música mainstream, comandado pelas mãos poderosas das gravadoras. “Se eu tivesse o dinheiro do Jay-Z, mudaria várias coisas que acontecem por aqui (…) É o dinheiro que manda, todo mundo baba ovo de determinada banda que gravadora lança, que toca até que cansa, e um ano depois ninguém mais traz na lembrança”.

Causa e Efeito é sombrio. Não poupa quem ouve das características mais injustas da vida. Mas MV Bill acredita no poder da transformação e do rap, e na música Corrente deixa bem claro que está rimando porque tem esperanças. “Transformando o gueto com o poder de uma caneta”.

O álbum também traz ótimas participações da irmã do cantor, Kmila CDD (que divide com Bill um dos duetos mais inteligentes, afiados e engraçados de sua discografia, na faixa Estilo Vagabundo II) e Silveira (em Amor Bandido).

Causa e Efeito traz repertório variado e letras explosivas, mas seu verdadeiro trunfo está em seu simbolismo: o álbum é até agora o manifesto mais consistente do discurso de MV Bill de que é possível tirar a periferia do gueto sem declarar guerra.

* Stefanie Gaspar tem 22 anos, é jornalista, viciada em música e acha que o pancadão ainda vai mudar o mundo. Apaixonada por livros e colecionadora de vinil, aproveita todo o tempo possível para ouvir música e tentar conhecer tudo ao mesmo tempo.

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MV Bill


Per Raps TV: Ogi e as crônicas da cidade cinza

Crônicas da selva de pedra

Ao contrário do que possa parecer, no Brasil o rap não é feito de glamour. É sinônimo de esforço, correria, noites em claro. Viver de rap também não é tarefa para muitos, é possível contar nos dedos quantos conseguem. Entre aqueles que tentaram e estão no caminho do sucesso está Ogi, MC do grupo paulistano Contra Fluxo, que está prestes a lançar seu primeiro trabalho solo, “Crônicas da Cidade Cinza”.

Entre portas que se abrem e oportunidades que são negadas, o rapper retrata em rima no melhor estilo “contador de histórias” tudo aquilo que vive, que pensa, que sente e o que acha de sua cidade, de seus parceiros, do rap, da vida. Lembranças das épocas de pixo e throw up, até a primeira vez que ouviu o “Sétimo volume da enciclopédia letra H”, Ogi narra o que vê e o que vive na cidade cinza.

Para conhecermos o processo criativo de seu novo CD, além de entender um pouco mais sobre a figura de Ogi, a Per Raps TV traz uma entrevista exclusiva com o MC. Confira!

Para mais informações e novidades exclusivas, siga o Per Raps no Twitter!

Sobre Ogi

Nascido em São Paulo, Rodrigo Hayashi, também conhecido como Ogi, conheceu o rap por volta de 1991 e três anos depois começava a fazer seu próprio som. Formou o grupo Contra Fluxo junto do DJ Big Edy e o MC DejaVú, que depois ainda incorporou Munhoz, Maskot e DJ Willian. O grupo lançou dois discos, “Missões e Planos”, em 2005 e “SuperAção”, em 2007.

Com influências do samba de raiz (há pouco Ogi começou a gravar um podcast muito bacana chamado Lira do Samba) e adepto à rima no formato storytelling , Ogi foi indicado ao prêmio de melhor artista rap pela MTV, após lançar o clipe “Premonição” e dois singles.

Ogi, que também é integrante da crew 360 graus (encabeçada pelo DJ Caíque), já é considerado um dos destaques da cena rap atual, mesmo antes de lançar um CD. Seu primeiro trabalho solo, “Crônicas da Cidade Cinza”, deverá ser lançado em setembro de 2010.

Confira a resenha de “SuperAção” (Contra Fluxo, 2007) por Daniel Cunha.

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Lira do Samba


5 raps entre amigos no dia da amizade

“Quem é que não tem um amigo?”. Não, não é Criança Esperança, e sim uma pequena celebração ao Dia da Amizade. No dia 20 de julho é comemorado em diversas partes do mundo o Dia do Amigo. Aqui no Brasil, essa data é celebrada dia 18 de abril, então pra não perder o rumo da prosa, ficamos com o Dia da Amizade, em julho.

Controvérsias a parte, o Per Raps aproveitou a desculpa e fez uma pequena lista com músicas que foram feitas por parceiros musicais no rap, mas que também são amigos na vida. Para não ficarmos presos a estilos (underground, pop, comercial, gangsta ou sej ao que for), tentamos focar nos sons que foram importantes para o rap de alguma forma, já deixando claro que essas escolhas darão brecha para discussão: “Vocês esqueceram essa! Mano, como esqueceram aquela? Pô, esse Per Raps só dá falha!”.

Mas a ideia é que cada um lembre de uma bela parceria e mande nos comentários, assim teremos no final uma enorme lista de grandes raps feitos por amigos. Bóra?

*Props Oga Mendonça, Zeca MCA e Fióti.

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Xis e Dentinho, “De Esquina”
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“Esquina paranoia delirante”, essa frase ecoou por festas e quebradas por muito tempo, além de ter reverberado até de forma acústica após um convite que Cássia Eller fez a Xis, em 2001. A música originalmente faz parte da coletânea “O Poder da Transformação” (Paraddoxx, 1997) e o single vendeu cerca de 8 mil cópias em apenas seis meses.

Em entrevista à revista +Soma, Xis contou como a música começou a estourar: “A gente colocou ‘De Esquina’ na 24 de Maio (rua que concentra galerias com lojas de discos no centro de SP), demos de mão em mão e a música começou a estourar cada vez mais.”

SP Funk com RZO e Sabotage, “Enxame”
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O clipe desse som era presença constante no finado Yo! Raps MTV, um dos sucessos da madrugada. “Enxame” apresenta bem o grupo que foi apadrinhado por nada menos que Thaíde & DJ Hum já em seu primeiro álbum, “O lado B do Hip-Hop” (2001), que apareceu com rimas inusitadas e analogias complexas para a época. Por si só já é um som de peso, mas contando ainda com a participação de Sabotage, Helião e Sandrão, criou um clássico instantâneo.

“A amizade vai fortalecer, você vai ver/ Nem que eu tenha que exercer, meu proceder” (Sabotage em “Enxame”).

Marcelo D2, Aori e Marechal, “L.A.P.A.”
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L.A.P.A. foi lançada no CD “Meu Samba é Assim” (2006), que veio logo depois do grande sucesso de “A Procura da Batida Perfeita”. Os três MC’s que aparecem nessa rima são parceiros de longa data; Aori e Marechal se conheceram por meio de Black Alien há cerca de 10 anos, Marcelo D2 conheceu Aori por seu trabalho e o convidou para sua primeira turnê como artista solo.

Já Marechal trabalhou com D2 no acústico feito para a MTV. O trio chegou a fazer outros sons, juntos e separados, entre elas “Sábado Zoeira” (Marcelo D2 , Aori & Marechal), “Loadeando” (Marcelo D2 e Marechal) e “Voo dos Dragões” (Marechal e Aori).

Mano Brown e Dom Pixote (U-Time), “Mente do Vilão”
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A dupla foi apresentada em meados de 2005 juntamente com o Sabotage e o RZO, durante um dos ensaios da Escola de Samba Vai-Vai. Foi nesse dia que Brown falou para Pixote que o Rap estava precisando de gente como ele, que ele deveria voltar a rimar. Eis que o MC voltou! Vez ou outra chamado por Brown de Fiote, Dom Pixote aprendeu a ouvir Racionais com o irmão mais velho, já falecido.

Hoje os dois MC’s são amigos e parceiros de rima, acumulam produções juntos e atuam no Big Ben Bang Johnson. O som “Mente do Vilão” foi lançado em 2009 e deverá fazer parte do novo trabalho dos Racionais MC’s, que deverá sair ainda em 2010.

Emicida, Rashid, Projota e Fióti, “Ainda Ontem”
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Emicida é irmão de Fióti e os dois conheceram Rashid e Projota por volta de 2005 lá na Galeria Olido, no saudoso Microfone Aberto apresentado por Kamau. A música “Ainda Ontem” foi ideia inicial do Rashid, que chegou com o refrão, mostrou para seus amigos e parceiros que ficaram vidrados na hora. Começaram a escutar um disco do Dom Salvador para ter mais ideias e deixar o som com uma cara bem brasileira. A energia desse projeto foi tão boa que Rashid convidou Emicida e Projota para cada um escrever 8 linhas e criar a faixa juntos.

O Fióti entrou na história quando acompanhava a produção da música e involuntariamente começou a tocar no ritmo do beat com seu cavaco e impressionou quem ouvia, depois disso não teve como deixá-lo de fora. “Ainda Ontem” faz parte da mixtape “Pra quem já Mordeu um Cachorro por Comida, até que eu Cheguei Longe”, de 2009. A música traz os mais jovens dessa lista e representa o futuro promissor do rap.

Homenagem: Black Alien & Speed Freaks

Quem é que nunca ouviu um som da dupla de MC’s mais conhecida de Niterói (RJ)? Apesar de Black Alien não lançar nada novo faz um tempo, essa lembrança serve de homenagem a memória de Speed, assassinado no início de 2010. A dupla trabalhava junta desde 1993 e tem diversas músicas no currículo. Destacamos aqui uma delas, “Krishna Budahh”, em um dos raríssimos videos dos dois encontrados na web. Speed Freaks, Rest in Peace!

Menção honrosa: “Dominum” (Non Ducor Duco, 2008)  de Kamau e Parteum + Rick; “Zulu/Zumbi“(Velha Guarda 22, 2007) do Mamelo Sound System e Nação Zumbi (Jorge Du Peixe), “Destruir” (Ordem de Despejo, 2008) do Subsolo, “Um Cara de Sorte” (CD quase inteiro) do Enézimo, “Amigos”, Slim Rimografia.

Comente e nos ajude a lembrar de grandes parcerias entre amigos no Rap!


Crianças fazem cover do Racionais MC’s

Um dia desses vi no twitter uma mensagem da assesora d’A Família, Nina Fideles, dizendo que o rap tinha que rir mais. Junto dessa mensagem veio um link de uma espécie de paródia do som mais conhecido do grupo, “Castelo de Madeira”.

Concordei com o que Nina disse e achei que talvez uma simples homenagem poderia realmente se tornar algo engraçado, por que não? Se liga nessa pérola do youtube, que traz uma molecada cantando Racionais MC’s com direito a “afoga essa vaca dentro da piscina” e tudo!

Recomendação: tente assistir o video sem preconceito de achar que ele é um desrespeito, um absurdo, blasfêmia e blábláblá. Cover é homenagem e homenagem é algo positivo, certo? Simplesmente assista!

*Props Luiz Pattoli, que lançou o video no twitter e postou no blog dele, o Churrasco Grego, pra @ligelena, que deu a dica e pro Motilla, responsável por um dos personagens mais engraçados do rap, o ABARRÉTA™ (imagem do post).


Q-Unique lança Between Heaven & Hell

A “biosfera” de sites e blogs que divulgam o rap felizmente possui uma grande diversidade. Alguns são mais underground, outros visam mais o mainstream, mas a maioria costuma ter espaço para ambos.

Escolhas a parte, um blog que costumava apresentar sons que nem o digger mais profissa conseguiria encontrar e que os analizava com tamanha precisão e romantismo, que dava vontade de parar e ouvir o som, é o Boombap-Rap, escrito por Felipe Schmidt.

Infelizmente, o blog anda meio parado, e o Per Raps entende isso perfeitamente, já que não é fácil manter sites e blogs atualizados, sabendo que na vida temos também o trabalho que nos garante a renda mensal, além da namorada(o) e amigos, família e etc. Essa introdução toda serve para abrir o post da colaboradora Cissa Maia que nos traz, dessa vez, uma entrevista com o rapper e ex-integrante da lendária Rock Steady Crew, Q-Unique.

Seu trabalho é interessante e não é do tipo que se acha fácil por aí. Daí a lembrança e comparação com o conteúdo do site do parceiro Felipe. Conheça Q-Unique e seu último álbum, Between Heaven & Hell (2010), no melhor estilo Boombap-Rap. Curte ae!

Q-Unique: Da carnificina a flamejantes rimaspor Cissa Maia*

Se o inferno é na terra, o rapper e produtor Q-Unique já esteve “destinado a destruição”, fugindo de casa para morar nas ruas, ao longo de um ciclo de provocação aos demônios, o qual reforçou sua paixão pela vida. Muito embora Q. seja um tipo discreto, por outro lado é sinônimo de força e atitude na hora de rimar. Sendo assim, aclamado pelos críticos e fãs ao redor do mundo, provando que ser único no rap é para poucos.

Nascido no Brooklyn, nos anos 70, ainda jovem foi integrante de um dos grupos mais importantes da cultura de rua, o Rock Steady Crew. Para além da própria carnificina às ruas do Bronx, Q-Unique fez parte de momentos como WildStyle, StyleWars e BeatStreet. “É parte da minha história. Eu amo e respeito todos os elementos do hip hop, mas há muitas outras coisas na vida que adicionam as minhas influências”, diz com ar intrépido. Mas para quem já esteve à margem da escuridão, o icônico b-boy não sucumbiu ao desespero para desafiar as palavras em flamejantes rimas.

Com apetite voraz, foi no gueto de Bushwick, na primeira metade dos anos 90 – ao lado de D-Stroy, Freestyle, Sweel B e Jise One – que Q-Unique inflamou o rap com “The Arsonists”. “Foi um momento especial, quando não rolava muito isso de discos independentes por aí. Para nós, The Arsonists, nos tornamos uma máquina, quando não estávamos no processo de gravação, nós estávamos montando nosso show. E se não estávamos fazendo isto, nós íamos às ruas promover nosso grupo”, relata sobre a cena do rap independente na época. Já os álbuns “As the World Burns”(1999) e “Date of Birth”(2001) venderam milhares de cópias em todo o mundo, dando-lhes sucesso nacional e internacional, entre turnês mundiais, votados como melhor performance ao vivo pela Hip Hop Magazine e New York Times.

Mas o fim do grupo aconteceu no auge do sucesso, quando os integrantes começaram a traçar projetos paralelos, assim seguindo destinos diferentes. Porém Q-Unique não estava desamparado; a parceria com Ill Bill do Non Phixion e CEO do selo Uncle Howie Records fez com que o rapper retornasse ao laboratório. O álbum solo de estreia “Vegeance is Mine” (2004) impressionou pelas rimas agressivas e pungentes, que representam um mundo completo de dor, alegria, amor, ódio, veneno e luta. “Em cada momento que eu gravei o álbum fui sincero comigo mesmo, é isto que faz um bom álbum. Também dividir meus pensamentos mais profundos e experiências de vida, fazendo com que muitos refletissem é o que causou tanto impacto dessa vez. Em geral, eu levo muito a sério a questão de fazer música e com Ill Bill por perto exigindo o melhor, em relação as gravações anteriores, é o que vincula tudo isto.”

Q-Unique é veterano na indústria da música, embora longe dos holofotes da mídia, carrega em cada respiração a essência do genuíno rap. “Eu realmente não ligo para o que outros artistas fazem e no que eles acreditam ser música. Eles tem a vida deles e façam dela o que quiserem. Não estou aqui para ser juíz. Eu sou um artista envolvido em variados aspectos da música, que alcançam o que vem das ruas ao jazz e até mesmo o metal”. E não para por aí: “KRS, Rakim, Nas, Jay Z, Redman, Wutang, La Coka, Busta Rhymes, Ill Bill, Necro, Pharoahe, Lord Finesse, Big Pun, Big L, Joel Ortiz, André 3000, Ice Cube são alguns dos caras que fazem rap” acrescenta.

É em cada linha de tiro, o cérebro de alto calibre do rapper explode em um denso leque de emoções. Em 2009, o álbum “A Brand You Can Trust” do La Coka Nostra trouxe Q-Unique na faixa Nuclear Medicienemen. “Ser membro da Uncle Howie, Rock Steady Crew e La Coka Nostra é uma honra e privilégio. É mais um lance de família para mim”. Se o desejo é por mais batidas brutas e intensas, que estimam a originalidade das letras, o novo álbum “Between Heaven & Hell” está pronto e vai ser lançado no verão nova iorquino pela PLR Records. “E eu sempre tenho que agradecer aos meu fãs por apoiarem minha música” conclui.

*Cissa Maia é do Rio, grafita e colabora esporadicamente com o Per Raps.

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Os rap’s da Seleção Brasileira

“Rap e futebol estreitam os laços” – por Daniel Cunha

Quem aí não se lembra do hit “Sou Ronaldo”, que o rapper carioca Marcelo D2 emplacou durante a Copa do Mundo de 2006 homenageando o atacante da Seleção Brasileira? Ronaldo não conseguiu mudar o destino do Brasil naquela Copa, mas mesmo assim, a música virou febre e a trilha sonora oficial de matérias e reportagens envolvendo o craque na televisão. Ponto pra D2.

Quatro anos depois, na Copa da África, outros rappers mostram que aprenderam bem a lição e, inspirados no carioca, criaram músicas-temas para outros destaques da Seleção. Assim como em um bolão, as músicas são ‘palpites’, tiros ao alvo, mas com um pouquinho de sorte, podem dar aos seus autores exposição semelhante à de D2 na última Copa. E eles sabem bem disso…

O primeiro a surgir com um tema foi o rapper paulista Professor Pablo, no final do ano passado, com uma música dedicada ao artilheiro Luís Fabiano. Seguindo alguns passos da fórmula de Marcelo D2, Pablo usa em “Prazer! Luís Fabiano” um instrumental com elementos de samba e fala na letra sobre a história de vida do jogador. A iniciativa ganhou espaço na mídia, rendeu entrevistas a Pablo e foi abraçada pelo próprio jogador, que passou a divulgá-la também em seus canais pessoais de comunicação.

Professor Pablo – “Prazer! Luís Fabiano”
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Baixe a música

Há alguns dias, foi a vez de Kaká, craque do Real Madrid, ganhar sua homenagem. Para isso, ninguém melhor do que Pregador Luo, principal rapper gospel do país, com 20 anos de história dentro do Hip Hop. Recheada de sintetizadores e num clima bem futurista, a música aborda, além da história de vida do jogador, sua relação com a fé e devoção a Deus.

Pregador Luo – “Nasci para honrar”
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Baixe a música

Nesta semana, outro craque dos microfones chegou com um novo tema para um jogador da Seleção. E, novamente, o alvo foi o artilheiro Luís Fabiano, que já se destacou na última partida, contra Costa do Marfim, com dois gols na vitória brasileira por 3 a 1. “O dono da 9” é o nome do som, cortesia de Max B.O., que cantou em um instrumental de A.G.Soares utilizado primeiramente no álbum de estreia de Akira Presidente. O belo sample foi retirado da música War, do Hypnotic Brass Ensemble.

Max B.O. – “O dono da 9”
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Baixe a música

Ainda sobraram alguns que rendem temas bacanas, hein. Maicon, Robinho, Felipe Melo…E aí, quem se habilita?

PS: Só não me venham com tema do Dunga. Parece que com esse papo de “Cala Boca Galvão” se esqueceram das babaquices desse sujeito, que não sabe se o Apartheid foi bom ou ruim porque não estava lá pra dizer…



Resenha: Meu Sotaque, Meu Flow

Akira Presidente por João Gabriel/Divulgação

Ignorando fronteiras e misturando estilos com ginga de malandro – por Stefanie Gaspar*

Dê o play em “Que Pena”, de Akira Presidente
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“Rap nunca foi moda, e a verdade é o que importa”. É assim que o rapper carioca Akira Presidente define o gênero de seu coração em seu primeiro lançamento, o EP O Que Tu Qué. Lançado em 2009, o trabalho já mostra que o rapper Paulo Ferreira soube chegar chutando a porta com seu rap cheio de ginga, letras afiadas e influências globais.

Agora em 2010, Akira volta em grande estilo. Mantendo a pose de dândi repaginado, o carioca lança seu primeiro álbum: Meu Sotaque, Meu Flow. Logo de cara, o novo trabalho de Akira lembra muito o rap cheio de batidas e melodias intensas do Pentágono – não a toa, tanto o álbum quanto o primeiro EP do rapper foram produzidos por um dos integrantes do grupo paulistano, Apolo. É ele quem assina as melodias e a produção de grande parte das faixas de Meu Sotaque Meu Flow, criando uma base rica e equilibrada para as letras afiadas de Akira.

E que surpresa deliciosa é a audição deste álbum. Para quem gosta de repetir os clichês típicos do gênero – de que rap é um estilo fechado, sem melodia, com pouca variedade e sisudo – é hora de repensar a validade de todos esses preconceitos e se jogar de cabeça na proposta que Akira Presidente oferece nesse seu primeiro álbum de estúdio.

Por mais que a expressão esteja datada, Meu Sotaque Meu Flow é um CD global – consegue juntar referências e sonoridade de diversos estilos e regiões sem cair no pitoresco ou no caricato. Tem de funk carioca a soul e toques de samba. Tudo junto sem perder a essência.

Meu Sotaque, Meu Flow de Akira Presidente

O segredo do álbum é trabalhar, sempre, com o inesperado, mostrando que o rap pode – e deve – reunir outros estilos para sair de sua zona de conforto e englobar sonoridades que estão por aí, nas ruas. Em Gueto, primeira faixa do álbum, Akira já desce o verbo e conclama “as cachorras que mexem a bunda”. Ao fundo, o som de um canto africano. E entra, majestosa, a batida do funk carioca, mostrando que é possível conciliar a energia do pancadão com o groove natural do som de Akira.

Logo em seguida, o pancadão vira batida gatuna, sacana, na segunda faixa, Minha Área. É incrível como as batidas escolhidas por Akira, além dos scratches de DJ Alves e a masterização de DJ Roger, conseguem dar uma identidade extremamente característica ao som das primeiras faixas. É um equilíbrio típico de quem consegue reunir ambição e conhecimento dos elementos musicais necessários para se fazer rap de verdade. Rimar na rua pode ser simples, mas o som de Akira é de responsa, já que é, ao mesmo tempo, espontâneo e calculado, fruto da vontade de fazer algo além do que já existe no rap hoje.

E a misturada não para por aí – em Qué Dindin, Akira resolve apostar em um funkeado poderoso, seguido pelo clima tropical de Rio, que conta com a participação de Sain (o Stephan, filho de Marcelo D2) e a atriz Priscila Marinho. Mas a composição chave do álbum é mesmo o pancadão de Mexe Mina, que traz uma base digna de Major Lazer. A produção da faixa pode ser de Apolo, mas Diplo ficaria orgulhoso do resultado e do mix provocante de funk carioca, marcha militar, dubstep e um pézinho no electro. Um rap tão diferenciado e com tantas referências dá gosto de ouvir.

Ao final das doze faixas de Meu Sotaque, Meu Flow, a vontade é de ouvir mais, muito mais. Agora é esperar que esse carioca cheio de gingado prepare rapidinho um segundo álbum – e que inove com tanta propriedade e tesão quanto nessa primeira empreitada.

* Stefanie Gaspar tem 22 anos, é jornalista, viciada em música e acha que o pancadão ainda vai mudar o mundo. Apaixonada por livros e colecionadora de vinil, aproveita todo o tempo possível para ouvir música e tentar conhecer tudo ao mesmo tempo.

Quer mais?
MV Bill pra senador? Akira Presidente!, por Daniel Cunha
Coletivo MTV fala de “Meu Sotaque, Meu Flow”
MySpace do Akira Presidente


Quem é J. Cole?

Nasce uma estrelapor Eduardo Ribas

Se você ouviu o último álbum de Jay-Z, The Blueprint 3, então sabe de quem estou falando: J. Cole. Ali pelo meio do álbum, na faixa nove, Jigga anuncia o nascimento de uma nova estrela. Mas se você é do tipo que duvidaria da aposta do Jigga Man, então conheça melhor o MC que promete fazer barulho em 2010.

Dê o play em “A Star is Born”, Jay-Z feat. J. Cole (The Blueprint 3/2009)
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Cole, you got a glow like a lil’ Lightsaber / Cole, você tem um brilho igual ao de um Sabre de Luz (A Star is Born, The Blueprint 3)

O jovem nascido na Alemanha, mas criado em Fayetteville, na Carolina do Norte (EUA), não vendia drogas e nem levou tiros antes de ser rapper, muito pelo contrário; é estudioso e formado pela universidade St. John (Nova Yorque). Já fazia algum sucesso na internet em blogs como Nah Right ou Okayplayer, quando teve a chance de mostrar seu talento nos álbuns “Attention Deficit” (Wale), “Blueprint 3” (Jay-Z) e “Revolutions Per Minute” (Reflection Eternal). Dali em diante, a indicação pela já conceituada lista da XXL Magazine como um dos 10 “Freshmen” de 2010, assim como outras participações que surgiram em mixtapes e álbuns, apenas aumentaram as atenções ao nome de Cole.

No entanto, sua segunda mixtape lançada em 2009, “The Warm Up”, deixava claro aos mais atentos que Jermaine Cole faria barulho e teria um futuro promissor. Fã do estilo de rima em storytelling (contar histórias, assim como Mano Brown ou Ogi) e baterias mais limpas e “cruas”, Cole apresenta em sua música menções claras ao melhor do rap da década de 90 com um toque nouveau.

Aos 24 anos (idade que tinha quando lançou sua mix), mostrou coragem e competência na rima usando beats clássicos como “Dead Presidents II”, de Jay-Z (produzido por DJ Ski Beatz) e “Get By”, de Talib Kweli (produzido pro Kanye West), contando sua história com uma sinceridade que anda em falta no mercado norte-americano.

Em “Grown Simba”, uma de suas rimas mais inspiradas, Cole conta que sonhava com um contrato (com uma gravadora) aos 13 anos, que ao contrário dos outros garotos passava seu tempo ensaiando e “como o pequeno Simba, não via a hora de tornar-se o rei”.

Eu produzo minhas próprias paradas, Royal Flush (The Warm Up/2009).

Não bastasse sua qualidade lírica e levada (flow) envolvente, o emcee também produz; e bem. Filho de pai negro e mãe branca, Cole cresceu com influências diversas de grupos de rock de seu lado materno, como Foo Fighters e Red hot Chilli Peppers. A mistura de seu background amplamente variado com o soul e R&B trouxe uma sonoridade particular a seu som.

Fato curioso: em um de seus shows, o rapper e beatmaker usou uma camisa com uma estampa que dizia algo como “Produza para Jay-Z ou morra tentando”, fazendo alusão ao nome do álbum de 50 Cent, “Get rich or die trying”.

J. Cole ainda não produziu Jay-Z, mas viu o fruto de seu trabalho lhe render o primeiro contrato para um rapper pela Roc Nation, selo do Jigga Man, além da participação na tour de Blueprint 3. Seu álbum tem previsão para sair ainda em 2010, mas enquanto isso, o rapper segue em tour com Jay-Z e Jeezy. No meio tempo, pretende realizar uma college tour, dessa vez sozinho.

*Com informaçõe das revista BRM.

Leia mais sobre Blueprint 3, de Jay-Z.
Baixe a mixtape The Warm Up
Ouça “Grown Simba”, “I Get Up”, “Dollar and a Dream II” e “Losing my Balance”.

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Per Raps entrevista Amanda Diva

Recentemente, uma matéria da revista norte-americana XXL Magazine fez um levantamento sobre o que estava acontecendo com as mulheres no rap. Passado o primeiro boom com MC Lite, depois Foxy Brown, Queen Latifah, Lil’ Kim, Missy Elliott, além da mais promissora, mas que se tornou a mais reclusa, Lauryn Hill, nada de muito empolgante surgiu.

A mesma revista sugeriu como “esperança” a aposta de Lil’ Wayne e da Young Money, Nicki Minaj, que vem realizando diversas parcerias, seguindo os passos de seu “boss” e de seu parceiro, Drake. No entanto, aqui no Per Raps lançaremos o olhar sobre outra MC: Amanda Diva. Dona de aparições no programa de poesia (spoken word) preferido dos norte-americanos, o Def Jam Poetry, apresentado por um longo tempo por Mos Def, além de programas da MTV2 e, recentemente no aclamado álbum de Q-Tip, The Renaissance, no som “Manwomanboogie“, Diva vem aos poucos alcançando seu espaço na música.

O curioso é que nosso contato com a MC surgiu de forma rápida e direta, primeiramente via twitter, depois por email. Sua irmã e produtora, Janise Chaplin, proporcionou a ponte que nos permitiu receber as resposta de Diva. A entrevista, originalmente, faria parte do especial que o Per Raps fez em maio para o mês das mulheres. No entanto, por um problema e outro, a matéria especial acabou ficando para maio.

Contamos nessa entrevista com colaboração do ilustre Oga Mendonça aka Macário do Projeto Manada. Além dele, a Núbiha Modesto aka Mocha, do Rapevolusom participou junto com o Per Raps, trazendo perguntas que serão publicadas em um futuro breve.

Conhecendo a Divapor Eduardo Ribas

Dê o play e ouça Amanda Diva, “40 MC’s”
http://raps.podomatic.com/enclosure/2010-05-24T13_11_25-07_00.mp3″

Ao bater o olho pela primeira vez, você poderá confundir Amanda Diva com uma brasileira, no entanto é a sua descendência caribenha, mais especificamente de Granada, que acaba contribuindo com isso. Nascida Amanda Seales, a MC/atriz/apresentadora de rádio e personalidade da TV, protagonizou recentemente programas como o “VH1’s 100 Greatest One Hit Wonders of the 80s“, no qual comentava clipes dos anos 80. E é exatamente a admiração por esta década que faz o visual colorido de Diva se destacar.

A respeito disso, a MC faz um comparativo entre a golden era e os dias de hoje. “Eu acho que tinha mais espaço para a originalidade e havia também um forte senso de originalidade do que vinha dos artistas. Hoje parece que as imagens estão sendo mais criadas pelos marketeiros do que representam a expressão de um indivíduo de forma única. Por outro lado, antigamente o pessoal não tinha tanto acesso aos fãs e dependiam muito do rádio e das gravadoras, hoje, com a internet, o artista consegue estar mais próximo do público e vice-versa. Acho que a cultura precisa disso agora mais do que nunca”, aponta.

Seguindo o que parece ter se tornado um pré-requisito para se estar no jogo nos Estados Unidos, Diva estreou primeiro na TV, em uma série do canal Nickelodeon. No entanto, seguir os passos de nomes como Will Smith ou Common parecem não ser fatores que possam garantir uma boa recepção para seu trabalho na música. “É engraçado, as pessoas dificultam que você cruze qualquer fronteira se você já estiver estabelecido em um ‘lado’ específico. Para a maioria, eles me introduzem como a apresentadora da MTV2 ou como a atriz-mirim da Nickelodeon, então eles não estão verdadeiramente abertos para meu lado musical. Mas como tudo na vida, se você continuar insistindo e continuar produzindo com qualidade, as pessoas eventualmente vão deixar você ‘entrar’.”

No rap, a MC começou sua carreira em 2004 com a mix “It Bigger Than Hip Hop, Vol 1“. Depois disso, se dedicou ao rádio, aos palcos de teatro e lançou um livro de poesia, até que em 2007 veio “Life Experience“, o primeiro EP de uma trilogia. Já no ano seguinte foi lançado “Spandex, Rhymes and Soul”, que está disponível para download no site de Diva. Como o seu último trabalho foi recebido? “Eu fiquei muito satisfeita com a resposta. As pessoas continuaram baixando um ano após eu ter disponibilizado o trabalho e as reações tem sido super positivas. Eu me dediquei bastante ao SRS e eu queria que todos soubessem que eu não estava brincando de ser artista. Creio que tenha atingido esse objetivo”.

Foi também em 2008 que Diva participou do álbum de Q-Tip, The Renaissance, que estreou em décimo primeiro no Top 200 da Billboard e concorreu ao Grammy de melhor álbum rap (Eminem acabou levando). Na música, Diva aparece cantando no refrão, que inclusive ganhou um videoclipe. Mas será que Amanda Diva se considera uma MC que canta ou uma cantora que consegue rimar? “Era uma vez o tempo em que eu me considerava uma MC que cantava, mas hoje é mais o contrário”.

Apesar disso, as metáforas e tiradas de Diva em suas rimas são dignas de respeito. Em uma de suas letras mais interessantes, “40 MC’s”, a rapper faz piada com MC’s de uma nota só, que vivem tratando do mesmo assunto em suas músicas, vendendo falsas verdades etc. Pensando nisso, quais as características que um MC deve ter para ser respeitado, na opinião de Diva? “Originalidade, talento lírico e sinceridade”, curto e grosso.

Apesar do pessimismo dos críticos e especialistas, que apontam que as mulheres não tiveram representantes significativas na última década, Diva aposta que a mudança no papel desempenhado pela mulher no rap hoje em dia só deverá mudar se as mulheres apresentarem qualidade em seus trabalhos. “As mulheres hoje tem mais espaço que nunca. Tivemos tantas oportunidades e liberdade para alcançar e aspirar. Eu acho que o primordial é que continuemos a trabalhar e nos mantenhamos respeitáveis por nosso poder e graça do que “perder” as oportunidades que nos foram oferecidas. No rap, as mulheres estão hoje mais nos bastidores do que no front, mas suas vozes vão continuar sendo ouvidas. Assim como disse antes. Quando você mantém a consistência e continua mostrando qualidade, você eventualmente vai ganhar!”.

Formada pela Universidade de Columbia em estudos afro-americanos, Diva hoje se dedica às artes plásticas e é designer. Possui uma loja que vende desde bolsas até posteres. Sobre seu futuro, a pergunta que não quer calar: seu foco é assinar um contrato com uma major, assim como a maioria dos rappers? “Nah, esse não é um foco meu. Tenho sorte de ter um grande número de coisas rolando e por isso não dependo de um contrato significando que eu serei ouvida/vista. Indie é o caminho para mim!”.

Mais:
Myspace
Site Amanda Diva
Baixe Spandex, Rhymes and Soul


Conheça e faça o download da Arte de Samplear

Bruce Slim Beats - Arte de Samplear 2010

Antes de tudo, dê um play no som e aí você começa a ler o texto. Fechado?

Você pode conhecê-lo como Slim Rimografia mas nesse trabalho o MC atua como produtor e assina como Bruce Slim. O cara é o mesmo, a qualidade do trampo também e – depois do fim de contrato com uma gravadora que gerou problemas – Slim entra numa nova fase e apresenta um trabalho cheio de novos nomes e sons inéditos. “Eu sempre penso nos artistas que gosto independente de quantas pessoas os conheçam. Se acho que tem a ver com os beats, ‘vamo que vamo’”.

O próprio Slim não sabe como nomear o novo trampo. Não é uma mixtape, mas é como se fosse. “É uma alternativa de utilizar os beats que eu já tinha produzido aqui em casa e a vontade de trabalhar com outros artistas também”. Na verdade, é “Arte de Samplear 2010” e pronto!

Dessa vez, o rapper rima em poucas faixas e atua muito mais como produtor. Um tempo na escrita para limpar a cabeça e esperar a hora certa – que já está chegando – de lançar o terceiro álbum, Slim Rimografia & Thiago Beats.

Os sons que você está ouvindo – se aceitou a indicação do Per Raps – foram todos produzidos, gravados, mixadas e masterizadas no Estúdio Mokado por Bruce Slim. Tem material de dezembro de 2006 até fevereiro de 2008. As fotos são do Tiago Rocha, o projeto gráfico de Rafael Parisotto-Reajalab e os scratchs do DJ RM.

Mais em:
MySpace
Baixe a Arte de Samplear 2010 completa


Mister Bomba fala do álbum “De Ponta a Ponta”

No final do mês de março, o Per Raps trouxe aos leitores a primeira parte da entrevista feita com Mister Bomba, MC e produtor do grupo SP Funk. Trazemos agora a segunda parte da conversa que tivemos com Bomba, dessa vez falando sobre seu trabalho solo – “De Ponta a Ponta” -, twitter e outros assuntos.

Falando em álbum, o disco terá festa de lançamento no dia 14 de julho, na Matilha Cultural, no centro de São Paulo. Fique atento!

Não deixe também de ler também “O outro lado de Mr. Bomba“, a primeira parte da entrevista feita pelo Per Raps, em que o MC e beatmaker falou sobre seu início no rap, um pouco de sua rotina, seu modo de produzir sons e sobre seu grupo, o SP Funk.

Falando “De Ponta a Ponta” – por Eduardo Ribas

Dê o play em Mister Bomba, “Gênesis” (De Ponta a Ponta/2010)
http://raps.podomatic.com/enclosure/2010-05-18T10_07_29-07_00.mp3″

Per Raps: Pra começar, como está o andamento da produção do “De ponta a ponta”?
Mr. Bomba:Tá na reta final. Já ta mixadão, a arte da capa tá quase pronta, mas de última hora eu resolvi incluir mais 3 músicas, que vão estar prontas até a data da masterização.

O nome do álbum faz alusão a temática preferida do Planet Hemp, no Brasil, e Cypress Hill, na gringa ou é apenas uma coincidência?
Mr. Bomba: Cada um vai entender como prefere mas, o nome tem a ver com o lance de eu produzir e rimar, por isso é Mr. Bomba De Ponta a Ponta, tanto na produção, como nas letras.

Per Raps:O “De ponta a ponta” já tem previsão de lançamento? Pretende convocar beatmakers ou a produção será só sua?
Mr. Bomba: O álbum iria sair em abril. Tem participação do Coral Kadoshi, Sombra, Bio Rima aka Obaminha, Tio Fresh e Criolo Doido, Bukassa e Mc Jota. Me dediquei pra fazer aquela produção artesanal com muita alma em todas as faixas, daí o nome do disco – Mr. Bomba De Ponta a Ponta -, mas eu não fiz sozinho. Tive a ajuda de músicos como Munari, Cabralha, Marcelinho, Nadinho, Tadeu Dias, João Lavraz e cada um trouxe suas ideias. No futuro eu planejo trabalhar com outros produtores, mas nesse eu fiz todas. Composto, produzido, arranjado e rimado by Tio B.

Per Raps: Em uma entrevista para um site, o Highsnobiety, você disse que o estilo de “Biriri” era o “tranco”. Pretende investir nesse estilo novo ou foi apenas uma maneira de explicar a pegada diferente do som?
Mr. Bomba: Era não, é. E eu estou investindo tempo e esforço nisso porque, se liga na fita, o Hip Hop se espalhou no mundo todo, mas em cada lugar tem uma identidade nacional, um tipo de rap local, quem tem a influência do Rap americano misturado com a cultura local. Na Jamaica tem o Dancehall, em Porto Rico tem o reggaeton, em Angola tem o Kuduro, no Rio de Janeiro tem o Funk e até no Tecnobrega do norte e no Axé do nordeste tem influência do Rap.

Todos esses estilos que citei fazem muito mais dinheiro do que nós, com esses preconceitos, daí entra na questão de que é um por amor e dois por dinheiro, mas hoje em dia nem amor tá vivendo sem dinheiro. Até nos EUA, se você for ver, em Chicago tem o Juke, no sul o Dirty South e o Crunk, então, quando me perguntaram se São Paulo tem uma identidade eu disse: “tem, é o Tranco”, porque eu já estava pensando nesse nome fazia tempo, chega de imitar os manos, vamos fazer o nosso, e se quem estiver lendo e quiser somar com bases, danças e músicas novas, é só chegar!

Per Raps: Reparamos que você tem se utilizado bastante do Twitter, o que acha dessa ferramenta e qual a importância do uso da web para o seu trabalho?
Mr. Bomba: Nos dias de hoje, quem não tá na net fica quase impossível entrar no jogo, então eu tento estar conectado o máximo de tempo possível e agora com o twitter eu posso centralizar mais. Youtube, Myspace, Facebook e Orkut, todos conectados. Eu nunca pensei que pra você ser rua e ser falado na rua teria que estar mais na frente do computador do que na própria rua.

Per Raps: Você acha que rolou uma mudança de mentalidade em termos de ideia nas rimas do Bomba do SP Funk e o Bomba que vai rimar no “De ponta a ponta”?
Mr. Bomba: Muita gente pensou que o SP Funk tava querendo ser “os intelectuais do Rap”, mas não era nada disso, com o tempo foram aparecendo vários – não vou citar nomes, mas vários, um mais complicado que o outro -, mas se for ver, as ideias são simples. Mas é muita ideia por música, as ideias estão todas aí, a gente só tem que ser uma antena e ficar na sintonia pra que elas cheguem com nitidez pra quem vai ouvir. Quem ouvir o “De Ponta a Ponta” vai ver que eu continuo com a mesma mentalidade de busca por um som novo e original, que sempre foi o ideal do SP Funk.

Per Raps: Na entrevista concedida ao Programa Freestyle, você apresentou no programa o som “Gênesis”, que deverá estar no novo trabalho. A música teve inspiração no som “This Way”, do Dilated People com o Kanye West?
Mr. Bomba: Quando eu vi o Coral Kadoshi cantar foi tipo uma luz que bateu, tipo um clarão, e eu pensei: “eu tenho que gravar com eles”. Desde que eu fiz o beat achei que ficou bem épico, então eu resolvi chamar nesse som, pra abrir o disco com essa vibração. Aí fui pro estúdio MCR no dia da gravação com o coral sem nada, nem melodia nem letra e nós – eu e o Marcelo, do Caral – escrevemos essa letra em menos de cinco minutos, parecia psicografia. Foi um momento mágico e ficou registrado no disco.

Per Raps: Falando nisso, definiu o formato: EP, mixtape, virtual ou convencional?
Mr. Bomba: CD, download e uma edição limitada em formato surpresa. Também estou trabalhando em mais três mixtapes e nas bases do novo do SP Funk.

Per Raps: Sobre o single “Biriri”, esperava tanto barulho? A ideia de gravar um clipe desse som partiu de você?
Mr. Bomba: Na hora que eu fiz o refrão eu já soube que ia fazer barulho, sempre soube. Eu nem tinha a letra, só o refrão e a base, e já sabia que era sucesso. E aí eu agradeço os DJ’s que acreditaram e fizeram que uma ideia se tornasse um hit. Dj’s como Ahlemão, Tubarão, Silvinho, Milk, Flash, Puff, Marquinhos Da Pesada, Kefing, Scratch, KL Jay – que às vezes até usa de fundo pro programa de rádio -, ao Cia, Negralha, Heron, Jason Salles, Marcynho, Hadji, Marks, RJay, ao Tchicky Al Dente – que já chegou a rolar duas vezes seguidas no Favela Chic, em Paris -, ao Kassiano, ao Sandrinho, Roger Flex, Zeu, Naomi, Spinha, André Heat, Anão, Master Ney, Caio Gentil e todos que fortalecem no Brasil – vocês sabem quem são.

Aí veio a ideia do clipe. Fizemos com a estrutura que deu, só pra ser um street vídeo mesmo. Mas o mais da hora é que várias pessoas colocaram na net videos caseiros com a música. E tem vídeo com mais de 250 mil acessos. Louco também é que as pessoas acham que é um funk mas, se for ver, ela é um Rap puro e bem cru em termos de produção. Ela não tem um refrão R&B pra ficar mais comercial. Ali eu to rimando do começo até o fim, se é um novo estilo eu não sei, eu só quero fazer o meu som e provar que hip hop não pode ter barreiras porque a música é uma só.

Não deixe de ler a primeira parte da entrevista feita com Mister Bomba

Mais:
Myspace
Programa Freestyle com Mister Bomba e Tio Fresh (SP Funk)

*Agradecimentos ao Marcílio, do Programa Freestyle pela força neste post.


Common lança mixtape antes de “The Reminder”

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Dê o play em Common feat. Queen Latifah, “Next Time” (Just Wright Version) [prod. Kanye West]
http://raps.podomatic.com/enclosure/2010-05-12T12_46_53-07_00.mp3″

No final do ano passado, o Per Raps noticiou detalhes da produção do novo álbum do rapper Common. O já intitulado “The Reminder” marcará a volta do MC ao estilo de som que o consagrou, assim como a parceria com produtores como No I.D e Kanye West, responsáveis pelos clássicos de Common.

A grande novidade que antecede esse lançamento é uma mixtape, “Go! Common Classics”, que chega com 11 faixas no dia 25 de maio. Na mix, sons como “The Light”, “The Corner” e uma gravação de 1996, “The Bitch In Yoo”.

Os fãs tiveram acesso a faixa “Next Time”, que está na mixtape e que marca a parceria com Queen Latifah, servindo de trilha sonora para seu último filme, o romance “Just Wright”. A carreira de Common como ator segue em ritmo ascendente, mas aparentemente a ideia do rapper é não deixar que isso faça com que sua música perca qualidade.

Atento às tendências e seguindo o caminho de outros rappers como Lil’ Wayne, Drake e Kid Cudi, Common aumenta a expectativa de um novo álbum de sucesso entre crítica e fãs. No trabalho anterior, o “Universal Mind Control” (2008), o rapper apresentou uma proposta mais dançante e trouxe Pharrell Williams na produção da maior parte das faixas.

Baixe Common feat. Queen Latifah, “Next Time” (Just Wright Version)


Per Raps TV: Rapadura e sua fita embolada

Leia ainda a matéria complementar no site Central Hip Hop

Agenda
Há poucos dias, Rapadura gravou sua participação no “Manos e Minas” (TV Cultura), programa que será exibido nas próximas semanas. E, nesta terça-feira (11/5), das 18h às 21h, ele fará um bate-papo com seus fãs na livraria Suburbano Convicto (rua 13 de Maio, 70 – 2º andar – Bixiga – São Paulo/SP – Fone: (11) 2569-9151). Na ocasião, ele vai vender e autografar exemplares do CD “Fita embolada do engenho”.

Mais
Veja “Periferia tem talento”, do DVD ao vivo de GOG, com Rapadura rimando ao lado de Lindomar 3L
Visite o My Space de Rapadura
Siga Rapadura no Twitter
Acesse o site oficial do artista


Rap perde espaço na Virada Cultural 2010

Nesta terça-feira (27/04) foi divulgada a programação completa de um dos eventos que mais crescem em São Paulo: a Virada Cultural. Apesar dos nomes consagrados da música do Brasil e alguns bons artistas novos, 2010 é o ano que o rap brasileiro mais perdeu espaço nos palcos do evento.

Em 2009, o rap ficou restrito a aparições em CEUs e um espaço dedicado aos DJs, na São Bento. Um ano antes, em 2008, a situação também não foi das melhores. O Hip Hop teve um palco dedicado, mas era o mais distante dos demais e o único com presença de revista policial.

O ponto-chave da repressão ao rap teve início após a fatídica apresentação dos Racionais MC’s, em 2007, no palco principal da Virada Cultural São Paulo. O episódio, que ficou marcado por um tumulto, serviu de “desculpa” para manchar a imagem do rap para a opinião pública.

Ao contrário do que se podia imaginar, a edição 2010 da Virada Cultural conseguiu reduzir o pouco espaço que o rap teve em 2009. Entre os poucos representantes deste ano estão Rappin Hood, Emicida e Z’África Brasil, todos com shows marcados em CEUs, além de oficinas de grafite e workshops de dança em outros pontos da cidade.

Será que o rap ainda paga pelo tumulto ocorrido em 2007 ou o fato é também culpa dos grupos, que não estavam preparados para atender ao pedido da burocrática documentação necessária para o ingresso no line up do evento? Resumindo, quem curte rap e pretendia ficar na região central, onde a maioria dos eventos da Virada Cultural acontecerão, vai ficar no prejuízo? Comente!

Leia também o texto que Daniel Cunha fez em 2009 sobre o rap na Virada Cultural, que conta com as opiniões do jornalista André Maleronka (Vice Brasil), o gerente de conteúdo do Central Hip Hop, Cortecertu, entre outros.

Confira a programação completa no site da Virada Cultural.
Acompanhe o Twitter da Virada Cultural.


Estreia da Per Raps TV: Cabal fala sobre AC/DC

Dê o play e ouça Cabal (C4), “Faz Assim”
http://raps.podomatic.com/enclosure/2010-04-22T11_07_32-07_00.mp3″

Depois de quase três anos preparando seu novo disco, o rapper Cabal está de volta com o “AC/DC” (Antes de Cabal/Depois de Cabal), que está previsto para chegar às lojas no mês que vem. O segundo trabalho oficial do MC – o primeiro foi “PROva Cabal“, com lançamento pela Universal em 2006 – vem com uma proposta mais definida: é um disco feito pras pistas. Recheado de beats acelerados, synths e efeitos como o autotune, “AC/DC” é a nova empreitada de Cabal na sua missão de tentar levar o rap de volta à mídia.

Após a passagem por uma grande gravadora, o rapper fez contatos importantes, adquiriu experiência e, para lançar o disco, já conta com uma estrutura maior do que a grande maioria dos artistas do gênero. O álbum terá distribuição pela Tratore, que cobre a maior parte do Brasil e tem entrada em megastores, o que se encaixa perfeitamente na ideia de Cabal de levar sua música a outros públicos que não apenas o do rap. “Eu quero abrir portas. Eu acredito que qualquer artista de rap que consiga um espaço legal na mídia faz com que ela volte os olhos pros outros artistas que também fazem rap, independente do estilo”.

Desde quando começou sua carreira como rapper até hoje, um dos principais desafios de Cabal é lutar contra o estigma de que ele não seria ‘verdadeiro’. “Eu acho engraçado como tem gente que ainda fala isso, que eu não sou verdadeiro. O rap é 110% da minha vida, não dá pra ser mais verdadeiro que isso. É que infelizmente no Brasil as pessoas confundem as coisas: marra com falta de humildade, humildade com pobreza. Foi criado um estereótipo que, pro rapper ser verdadeiro, ele tem que ser pobre. Eu sou um dos caras que tentam mudar essa parada”.

O novo disco foi todo produzido (e muito bem, diga-se de passagem) por Dima “Ritztocrat”, também integrante do grupo SevenLox, de Guiné-Bissau, mas cujos integrantes residem atualmente no Brasil. A qualidade e a quantidade de detalhes nas produções impressiona, e “Ritztocrat” pode ser a aposta certa para suprir a carência de bons produtores no país quando o assunto é o rap comercial, direcionado às pistas.

Outro ponto a ser discutido em “AC/DC” é que Cabal está mais calmo. Ele mantém a marra e os versos de bragadoccio em várias das faixas, mas dessa vez ele pegou bem mais leve e poupou nos ataques. “Eu aprendi muita coisa nesse tempo todo também, fiz muita coisa por inexperiência, era muito novo quando rolou toda aquela história de diss”, afirma. No final da entrevista em video, Cabal fala um pouco mais sobre suas desavenças no rap.

Opinião:
Com excelente produção e um dos melhores rimadores da cena (qualidade técnica, flow e métrica), o disco “AC/DC” tem mesmo tudo para decolar. O álbum tem uma proposta bem definida, que é a de emplacar hits pelas rádios e pistas de baladas do país. É um ótimo disco para o que se propõe, disso não há dúvidas. Várias das músicas poderiam facilmente substituir algumas das canções gringas mais tocadas nas baladas, sem deixar nada a desejar na qualidade.

Mais:

PROHIPHOP
Cquarta


Rap em luto pela morte de Guru

Adeus, Guru

No início de março veio a notícia de que Keith Elam, o Guru, estava internado e em coma devido a um enfarte. Os boatos de melhoras da saúde do MC apareceram, mas nunca se firmavam como um quadro com 100% de recuperação. Nesta terça-feira (20/04), veio a notícia que ninguém gostaria de ouvir: a morte de Guru (43).

O diagnóstico estava sendo mantido em sigilo, mas veio a tona que a doença do MC era na verdade um câncer, que há um ano travava uma dura batalha com Guru. Em meio a doença e sua subsequente morte, polêmicas corriam a web envolvendo dois parceiros do MC: o Dj Premier, que fez dupla por muitos anos com o rapper no Gang Starr (1985) e Solar, MC e produtor que vinha trabalhando com Keith ultimamente. Mas assim como as polêmicas surgidas após a morte de Michael Jackson, isso é o que menos importa no momento.

Guru fez parte da era de ouro do rap, na década de 90, e quebrou barreiras com o inesquecível projeto em quatro volumes, que apresentou ao mundo o “acid jazz”, Jazzmatazz. Sua voz suave e suas rimas ácidas encantaram amantes da cena e apreciadores mais contidos, sendo presença constante em programas de jazz ou world music, inclusive no Brasil.

Por todos os clássicos produzidos, por tudo que representou para o rap e para a cultura Hip Hop, além das barreiras quebradas com seu acid jazz, o Per Raps deixa sua homenagem com três videos marcantes de Guru e suas parcerias.

Rest in peace, Guru.

Guru/Jazzmatazz – “No Time To Play”

Gang Starr (Guru e DJ Premier) – “Full Clip”

Guru e Solar – “Hood Dreamin”


O outro lado de Mr. Bomba

Há cerca de um mês, me foi dada a chance de entrevistar um das figuras mais ativas da cena: Mr. Bomba. A ideia era que o post fosse para o blog da XXL, no entanto o Per Raps acabou ganhando esse “presente” dos parceiros. Foram trocados quase 10 emails para chegarmos a conclusão da matéria, por isso decidimos não desperdiçar o material e publicar a entrevista em duas partes. Na primeira delas, você conhecerá quem é Mr. Bomba, como ele produz, quais são suas influências, seus trabalhos anteriores e outros detalhes. Na segunda parte da entrevista, você terá acesso aos detalhes de seu novo trabalho, “De Ponta a Ponta”, que promete agitar o rap nacional. Entre outros papos, não poderíamos deixar de falar de seu grupo, o SP Funk. Curte ae!

Buemba! Buemba! Mr. Bomba – por E. Ribas

Dê o play em “Biriri”, de Mr. Bomba
http://raps.podomatic.com/enclosure/2010-03-30T11_36_20-07_00.mp3″

Marcelo Mendonça de Menezes ou Mr. Bomba é conhecido por muitos pelo seu trabalho no SP Funk, grupo que surgiu no final dos anos 90, e desde lá já mostrava junto de seus colegas que não fazia parte do rap apenas para mostrar sua marra. O lançamento do primeiro CD (2001) comprovou isso, trazendo Sabotage, Z’áfrica Brasil e RZO nas participações e rimas que abalaram as estruturas do rap na época. Bomba foi inclusive o responsável pela criação do SP Funk em 2005, junto de Primo Preto. Com a saída do parceiro para assumir o comando do YO! Raps, veio o convite para firmar parceria com Fresh, Maionezi e QAP para fechar a formação do grupo.

No entanto, nem todos sabem que Mr. Bomba era o responsável por grande parte dos beats dos dois CDs que o SP Funk lançou. É ai que seu pseudônimo no rap faz ainda mais sentido: suas produções soam como verdadeiras bombas. Trabalhou também com o rapper Cabal, produzindo o beat para “Mexe seu corpo”, do álbum “Prova Cabal” (2005). Já no ano seguinte, Bomba fez o beat para um som de Marcelo D2, o single: “Gueto”, que contava também com a participação de outro Mister, o Catra. Junto de Cabal e P. Rima criou o grupo Braza, que trazia MC’s de rap rimando em batidas do funk carioca. Misturavam também palavras do português e do inglês, buscando expandir as fronteiras do rap nacional.

Como MC, Bomba mostra que tem compromisso com o rap e tem registro de participações em grupos dos mais diferentes estilos, entre eles a Academia Brasileira de Rimas, o CD “Brooklyn Sul” do Sabotage e “Enemy of the Enemy”, dos ingleses do Asian Dub Foudation. Para conhecer mais sobre sua rotina, suas influências e novidades sobre o SP Funk, acompanhe a entrevista.

Per Raps: Como o rap passou a fazer parte da sua vida?
Mr. Bomba: Foi o meu irmão o Guilherme, que também é músico, trompetista e produtor da banda Guizado. A gente curtia mais rock, aí um dia ele apareceu com um disco do Run DMC, o “Raising Hell”, que foi o primeiro disco de rap que eu ouvi. Ai vieram Kool Moe Dee, Beastie Boys e o interesse foi aumentando. Começei a ouvir o programa da Zimbabwe, na Band, ouvi os primeiros nacionais dessa época com Thaíde, Pepeu, até que veio o Public Enemy, daí eu passei a escrever e tentar entender o inglês de verdade.

Fui bombardeado de rap pelo meu parceiro Dj Wagner, que na época comprava disco na galeria (antiga Guetto Records), alí pra mim foi uma descoberta de um mundo novo. Ele só comprava de 20 [discos] pra cima e deixava comigo, às vezes até antes de ele levar pra casa pra eu poder gravar em fita cassete, eu escrevia o nome de todas as músicas do disco com a letra bem pequena pra caber no papel da caixinha. Quase 20 anos depois, só tenho a agradecer a todos os responsáveis.

Per Raps: Qual a rotina de Mr. Bomba de segunda a domingo?
Mr. Bomba: Acordo 10, 11h e faço tudo que eu tiver pra fazer na rua até umas 3, 4h depois vo direto pra net e telefone, resolvendo tudo que tiver pra resolver vendendo meus shows, já que sou eu mesmo que faço isso, depois lá por 8h começo a trampar na música e daí o processo é bem confuso, de repente tô fazendo um trampo pra alguém, paro no meio, faço um beat do nada, volto pro trampo, sempre escrevendo algumas ideias. Ah, de vez em quando encaixa aquele skateboardizinho básico que ninguém é de ferro.

Per Raps: Quem são seus referênciais na produção?
Mr. Bomba: Timbaland, Bangladesh, Pollow Da Don, RedOne, Daft Punk, Dre, Kanye West, Disco D, Benny Blanco, G.Master Duda, Riztrocrat, Nave, Zegon, Cia, Ganjaman.

Per Raps: Que equipamentos prefere usar? Inclui samples ou só beats originais?
Mr. Bomba: MPC 2500, teclados Microkorg e Fantom, e ProTools. Gosto de samplear e criar melodia, é que às vezes sampler limita um pouco, só que depois de um certo tempo bate a a saudade, mas quase sempre faço um detalhe ou outro no teclado.

Per Raps: O que se ouve por ai é que você tem trabalhado numa linha mais dançante, acha que a ideia de under ou pop no rap influencia seu trabalho?
Mr. Bomba: Eu sempre gostei de som dançante, desde Bomb the Bass, New Order até Kraftwerk, Devo, e os funks do Rio, desde 1997 eu vou nos bailes no Rio com o Primo e o Mr.Catra, isso me fez abrir os olhos e a mente pra um som mais pista. Nos dois discos do SP Funk, sempre teve um som ou outro mais club, hoje o que a gente tá vendo é todos estilos de música querendo estar no baile, acho que o baile é o meio mais eficaz na música, mas o disco tem seus momentos reflexão também. Por enquanto ainda existe a divisão under e pop, mas a gente tá lutando pra que fique uma coisa só, sem barreiras, nosso estilo ja tem muita barreira fora, então se ficar unido fica mais forte.

Per Raps: No passado você trabalhou com o rapper Cabal, que está prestes a lançar um trabalho novo também. Esse poderá ser um dos nomes que participará de seu novo álbum?
Mr. Bomba: Eu gravei uma música “Traz de Volta” no trampo novo dele, e estamos conversando pra voltar o Braza também, que foi o trampo com o P. Rima e o produtor Disco D.

Per Raps: Falando no projeto “Braza”: a ideia do grupo era promover essa mistura de rap com funk e música eletrônica na gringa ou só se divertir?
Mr. Bomba: Sim, a ideia era e continua exatamente essa, eu acho que não pode ter preconceito porque funk também é Hip Hop, vem da mesma origem do Miami Bass, e que os MC de funk tão cantando? É rap! O que a gente quer é mostrar a cultura de rua do nosso país se eles não aceitam música em outras línguas, a gente rima em inglês, por que não? Fazer o que gosta, o que sabe, e se divertir, por que não? E entrar nos EUA, assim como meu mano Zegon tá fazendo, mostrando pra noiz que é possível pra um brasileiro entrar no mundo do rap lá de fora.

Per Raps: Agora, a pergunta que não quer calar: o SP Funk acabou ou só deu um tempo?
Mr. Bomba: Só fazendo uma média… Estamos fazendo cada um com seu projeto separados, mas sempre com a essência do SP em cada trampo, fazendo na bola de meia, mas tâmo fazendo músicas novas. Se preparem!

Per Raps: No segundo aniversário do Programa Freestyle rolou uma apresentação do SP Funk, vocês têm se apresentado ou foi apenas uma união para um momento especial?
Mr. Bomba: Não tanto quanto sozinho, mas estamos trabalhando pra ter material novo porque se não fica tipo banda velha tocando os mesmos sons por obrigação, tem que botar lenha na fogueira, se não apaga. Olha o Rolling Stones, Aerosmith, esses caras fazem música nova até hoje. A gente faz show e quando faz é loko, todos que tiveram oportunidade de assistir sabem que o barato é loko, quande a gente se junta a energia do público invade o palco, parece que vai acabar o mundo.

Per Raps: Adianta alguma novidade sobre o CD novo do SP Funk ou é tudo surpresa?
Mr. Bomba: A única coisa que eu posso dizer é que ano que vem nós vamos entrar em estúdio com uma ideia, do naipe de uma “Fúria de Titãs”: uma frase, uma imagem, que vai ser o tema pra fazer esse trabalho novo, sempre pensando no futuro.

Mais
Myspace

Na parte II, acompanhe a história do hit “Biriri” e saiba como anda a produção do álbum “De ponta a ponta”. Fique ligado!


Dica Musical: Conheça Anita Tijoux

Especial mulher por Oga

Na ideia de trazer diferentes trabalhos de mulheres nesse mês especial, convidamos um dos caras que mais dá dicas boas de som por ai: Oga Mendonça, o Macário do Projeto Manada.

Ele nos apresenta o trabalho da MC Anita Tijoux, que vem cheia de referências e sons para que você possa conhecê-la bem. Aproveite a dica do Macário e depois nos conte o que achou!

Rimas precisas e graciosas – por Oga Mendonça aka Macário da Manada

Certamente você já ouviu falar do Funk Como Le Gusta, certo? Aquele grupo paulistano que, desde os final dos 90, faz um a mistura de swing, jazz, rap e… Qualquer outro tipo de ritmo que tenha levada groove. Mas, agora, quero falar justamente de uma das participações especiais do primeiro disco dessa banda, mais precisamente na faixa Funk hum. Nela podemos ouvir Anita Tijoux colocando suas rimas precisas e graciosas. Na época, ela ainda assinava como Anita Makiza.

Se você não conhece o grupo Makiza, fica a sugestão de ler este texto e baixar todos os discos, pois são verdadeiras aulas de rap. Desde muito cedo, os garotos chilenos desse projeto mostraram muita maturidade nos beats e nas rimas (estou falando de 97!). Eles conseguiram, como ninguém, captar toda a “good vibration” da “golden era” norte americana, e misturar com a nossa latinidade, sem parecer forçado ou estereotipado. Muitas vezes o sujeito pega um sampler de jazz, um “boom bap” qualquer e mete umas maracas para ficar com uma cara latina, uma levada de “salsa”. Bem, asseguro que no trabalho deles isso não aconteceu.

Anita Tijoux ficou um tempo no Makiza como MC. Ela participou do álbum independente Vida selvagem (1998) e, já na “major” Sony, engatou no lançamento do segundo trabalho do grupo, o Aerolíneas Makiza (1999). No entanto, em 2001, ela desencanou da música e rumou para a França – praticamente um retorno às origens, já que ela nasceu lá. A viagem durou quatro anos, tempo que a cantora de estilo despropositado se afastou da indústria fonográfica. Em 2004, ela voltou pro Chile e também para a música. Começou a cantar no grupo Aluzinati, algo bem parecido com o Funk Como Le Gusta – diga-se de passagem. De leva, ela se reuniu novamente com os MCs do Makiza e elevou a produção de um ótimo disco chamado Casino Royale. Mas, o que a projetou numa esfera mainstream foi um dueto com a cantora pop mexicana Julieta Venegas para o filme Subterra.

Em 2007, ela grava o seu primeiro solo, chamado Kaos, um trabalho meio irregular, no qual ela mostra todas as suas múltiplas habilidades, como cantora e MC. O disco tem desde refrões cantados melancólicos a hits radiofônicos feitos para embalar as pistas, como Despabilate. Numa outra faceta nos deparamos com faixas que lembram o estilo que ela cunhou no Makiza, a exemplo de A veces que conta com a participação do MC Hordatoj. Nesta época, ela emplacou mais um hit com Julieta Venegas, o Eres para Mí, que também bombou muito no mercado latino.

Mas o trabalho dela que mais me surpreendeu foi o último disco “1977”. Disco impecável que tem como carro chefe o poderoso single que leva o mesmo nome do álbum. Neste trabalho, ela volta as suas origens, abre mão dos “modernismos” e “flows” ousados do disco anterior e mantém o foco nas excelentes rimas. Para todos os saudosos do rap mais puro, este disco tem verdadeiras pérolas, como o refrão de Crisis de un mc, no qual ela rima:

Crises de homens, crises de mcs, crises de seres que queriam ser feliz
Crises de humanos com cicatrizes…que rimando descobriram suas diretrizes”

Já na faixa Mar adentro, ela fala sobre a perda de alguém que já partiu desse plano. Destaco o beat perfeito e as boas participações do Panty & Decel. Também não posso deixar de destacar a participação da super MC Invencible, na música Sube.

Não se preocupe se você não está habituado a ouvir rap em casteliano, pois é muito fácil de entender. Na segunda vez que você escuta, já parece que ela está falando nossa língua. Bem, vou parar por aqui, pois poderia resenhar o disco inteiro, mas prefiro que vocês tenham suas próprias impressões. Depois de ouvir, fala pra gente o que vocês acharam! Enquanto isso, eu vou voltar ao disco mais uma vez do início.