Blog de informações sobre hip hop, rap brasileiro e cultura de rua

Posts com tag “MV Bill

Resenha: MV Bill, Causa e Efeito

Agressividade e melodia em quarto álbum de estúdio – por Stefanie Gaspar*

“Ocupar vários espaços é o nosso plano de paz”, anuncia MV Bill na faixa O Bonde Não Para, um dos muitos destaques de seu quarto álbum de estúdio, Causa e Efeito. O novo trabalho do rapper é o manifesto cantado de sua ambição: uma revolução social que consiga dissociar periferia e violência e unir os dois mundos por meio da conscientização da comunidade – para ele, rima sem ação é fazer pose em um mundo que não dá espaço para o vacilo.

O mano mais polivalente do hip hop brasileiro não é daqueles que fala mas não faz: MV Bill comanda trabalhos importantes junto à comunidade da Cidade de Deus, já lançou três livros (em parceria com Celso Athayde), Cabeça de Porco, Falcão – Meninos do Tráfico e Falcão – Mulheres e Tráfico e recorre a tudo e a todos para levar os motes e ideiais da periferia para fora do gueto, pregando por circuitos que vão desde o programa do Faustão até a cidade-luxo da Daslu.

O homem que levou a realidade do tráfico, da morte, do tiro e do sangue para o horário nobre da Rede Globo mostrou em Causa e Efeito uma coragem adicional, que já se anunciava desde o DVD Despacho Urbano, de 2009: que suas letras violentas e contundentes precisam se apoiar em uma musicalidade rica e variada para que sua música vá além das palavras.

Seu álbum anterior, Falcão – O Bagulho é Doido, de 2006, já anunciava esse comprometimento com outros gêneros musicais, englobando ritmos como o soul e o samba-rock para seu repertório. Causa e Efeito segue essa mesma intenção, e Bill leva muito a sério a ideia de que o rap não pode se fechar em si mesmo.

E a incorporação de outros gêneros musicais não mudou em nada a violência das letras bruscas, ultra realistas e contundentes do rapper, que pegou pesado nas rimas e não poupou ninguém de sua língua afiada. Em Mulheres, a delicadeza dos arranjos faz o contraponto à violência da história: “Cada mãe sabe a dor que sente, quando vê o filho sendo queimado como indigente”, “ausência do amor com a presença do dinheiro, faz a mãe levar a filha junto pro puteiro. Saliva com sêmem, meninos que gemem, as pernas e as estruturas se tremem”.


Para mais informações e novidades exclusivas, siga o Per Raps no Twitter!

Em Cidadão Refém, Bill rima sobre o ódio entre a relação da periferia com a polícia em um ritmo que chega a lembrar um freestyle, em uma música que conta com a participação especial de Chorão, do Charlie Brown Jr. O músico não acrescentou muito à música, que traz letras repetitivas em relação as demais faixas do álbum.

A música seguinte, Liberte-se, começa com uma surpresa: um trecho da música Fumando Espero, cantada por Dalva de Oliveira. Na letra, o rapper rima com rapidez sobre a fugacidade da vida e a dificuldade de vencer em um universo restrito por regras e injustiça social.

O bom ritmo da canção é um aquecimento para a verdadeira pérola do álbum, Transformação. A música é uma pancada de extrema violência após a suavidade de Liberte-se, e traz uma melodia profundamente triste acompanhada por uma crítica ao mundo do rap: “Ficaram parados no tempo, envaidecidos dividiram o movimento. Veja só o rap, virou o partido da cara feia, com grandes bonés, pequenas ideias, falso reinado, coroa de rei, castelo de areia”. Transformação conta com a ótima participação de Chuck D, MC do Public Enemy, e a produção de KL Jay, dos Racionais, e é uma das faixas mais interessantes da carreira do músico.

Em Sou Eu, MV Bill critica o mundo da música mainstream, comandado pelas mãos poderosas das gravadoras. “Se eu tivesse o dinheiro do Jay-Z, mudaria várias coisas que acontecem por aqui (…) É o dinheiro que manda, todo mundo baba ovo de determinada banda que gravadora lança, que toca até que cansa, e um ano depois ninguém mais traz na lembrança”.

Causa e Efeito é sombrio. Não poupa quem ouve das características mais injustas da vida. Mas MV Bill acredita no poder da transformação e do rap, e na música Corrente deixa bem claro que está rimando porque tem esperanças. “Transformando o gueto com o poder de uma caneta”.

O álbum também traz ótimas participações da irmã do cantor, Kmila CDD (que divide com Bill um dos duetos mais inteligentes, afiados e engraçados de sua discografia, na faixa Estilo Vagabundo II) e Silveira (em Amor Bandido).

Causa e Efeito traz repertório variado e letras explosivas, mas seu verdadeiro trunfo está em seu simbolismo: o álbum é até agora o manifesto mais consistente do discurso de MV Bill de que é possível tirar a periferia do gueto sem declarar guerra.

* Stefanie Gaspar tem 22 anos, é jornalista, viciada em música e acha que o pancadão ainda vai mudar o mundo. Apaixonada por livros e colecionadora de vinil, aproveita todo o tempo possível para ouvir música e tentar conhecer tudo ao mesmo tempo.

Mais?
MV Bill


Linha do tempo do rap nacional (parte III)

Segue a terceira e derradeira parte da nossa linha do tempo do rap nacional, que inclui algumas de nossas previsões para o ano de 2010. Saca só:

2008 – Pouquíssimos lançamentos de discos marcaram o ano. Entre eles, o que mais chamou a atenção foi o primeiro disco solo de Kamau, Non Ducor Duco, que fez parte da lista dos melhores 25 álbuns do ano pela revista Rolling Stone. Aos 45 minutos do segundo tempo, nos últimos dias do ano, o Pentágono veio com seu segundo disco, Natural, firmando o grupo como um dos principais expoentes da nova escola.

Com o disco de Doncesão, chamado Primeiramente, Dj Caíque se firmou na cena rap nacional como um dos grandes produtores do momento, além de liderar o selo 360 Graus Records, que já se mostrou muito produtivo nos primeiros anos de existência, proporcionando diversos lançamentos. Ainda falando de produção musical, o ano foi marcante para a cena de Curitiba, que se mostrou bastante proeminente, com destaque para os beatmakers Dario e Nave, responsável pelo instrumental da música “Desabafo”, do disco A Arte do Barulho, de Marcelo D2, uma das canções mais executadas do ano em todo o país.

O ano marcou também a perda de um dos nossos melhores disc-jóqueis e um dos grandes agitadores da cena nacional, o Dj Primo, vítima de uma pneumonia. Primo era também o Dj residente do recém criado programa Manos e Minas, na TV Cultura, primeiro espaço criado na televisão brasileira desde o fim do Yo! MTV.

DJ Primo

DJ Primo (foto retirada do blog do Jornal do Brasil)

Outros álbuns importantes: RenegadoDo Oiapoque a Nova York; SombraSem Sombra de Dúvida; Projeto ManadaUrbanidades; Enézimo – Um cara de sorte; Subsolo – Ordem de Despejo;

2009Emicida é o nome da fera, o dono de 2009. Ele já começou o ano com o status de “melhor MC de freestyle” do país e, com o lançamento da mixtape Pra quem já mordeu um cachorro por comida, até que eu cheguei longe – parafraseamos aqui o próprio e confirmamos – chegou ainda mais longe. Concorreu a prêmios na MTV, concedeu dezenas de entrevistas (tanto para a mídia alternativa quanto para a ‘grande’ mídia) e fez shows pelo Brasil inteiro. Indiretamente, trouxe fôlego para a cena e teve um papel fundamental para que outros artistas do gênero ganhassem espaço em casas de shows e afins.

Big Ben Bang Jhonson

O rapper MV Bill também teve um ano bem agitado em 2009: lançou o DVD ao vivo com banda Despacho Urbano, além de alguns clipes novos e diversas aparições na grande mídia. Outra novidade que balançou os ânimos dos fãs de rap foi a criação do coletivo Big Ben Bang Johnson, grupo idealizado especialmente para shows ao vivo e que conta com alguns dos principais representantes do rap paulista: Mano Brown, Ice Blue, Helião, Sandrão, Dj Cia, Dom Pixote, Du Bronks, entre outros.

O ano deixou a desejar, mais uma vez, na questão dos lançamentos, com pouquíssimos discos inteiros colocados na rua. A escassez pode indicar também uma mudança de tendências do mercado musical, com a criação e utilização de novos formatos, mas é algo que só teremos a confirmação nos próximos anos. Em compensação, tivemos ótimos videoclipes. O rap acompanhou a tecnologia da alta definição e lançou pérolas como Qui nem Judeu, de DBS e a Quadrilha, Picadilha Jaçanã, do Relatos da Invasão, É o Moio e Multicultural, do Pentágono, Triunfo, de Emicida, Sol, de Slim Rimografia, e O Tempo, do Casa di Caboclo, todos contando com uma excelente produção e se equiparando ao que de melhor existe em termos de videoclipe na música brasileira.

2010 – O fim do ano chegou e, com ele, as promessas de que 2010 será ‘o ano do rap’. Todos os (pelo menos) últimos dez anos foram anunciados por alguém como ‘o ano do rap’ e alguns deles realmente chegaram perto de se tornar realidade. O momento porém, não é dos mais propícios. O rap perdeu espaço nas periferias do país para o funk e o sertanejo, por exemplo, músicas com maior apelo popular. No entanto, a cena se encontra em um momento muito especial, tanto pela sua capacidade criativa, quanto pela sua imagem perante à mídia e à população em geral.

Durante este ano, não foi nada raro encontrar pessoas de estilos totalmente diferentes daqueles que estamos acostumados a ver em shows de rap. O rap está se tornando mais interessante pra muita gente. Porém, o público-alvo, que sempre foi a periferia, se diluiu bastante, e a periferia pouco conhece e acompanha o tipo de música que estamos acostumados a divulgar aqui no Per Raps, por exemplo. Como resgatar esse público? Não sabemos a resposta, mas o disco novo dos Racionais, prometido para 2010 por Mano Brown na entrevista para a Rolling Stone, pode ajudar a formular esse quebra-cabeça.

Fora esse, outros vários discos são aguardados ansiosamente pela cena, muitos deles com potencial para colocar a engrenagem para funcionar a todo vapor novamente. Entre os principais, estão o do RZO, Marechal (RJ), Don L., do Costa a Costa (CE) e um disco póstumo de Sabotage. Mas há muita gente surgindo por aí e a promessa é a de um ano recheado de bons lançamentos.

Nossas apostas?

Ataque Beliz (DF)

Criolo Doido

Gasper (GO)

Ogi

Rashid

Rincon Sapiência

Savave (PR)


Linha do tempo do rap nacional (parte I)

A história do rap no Brasil, desde o começo do bate-latas na Estação São Bento do metrô, em São Paulo, já tem mais de 20 anos. Porém, foi de uma década pra cá que o gênero começou a se popularizar e ganhar adeptos dos mais diferentes estilos e origens sociais. Faremos aqui, inspirados em matéria da ótima The Find Magazine, uma linha do tempo começando de 1999 (10 anos atrás) para tentar situar os mais novos e relembrar os mais velhos sobre o que de mais importante aconteceu envolvendo o rap no país, inclusive em sua relação com a mídia.

Lembrando que não temos a pretensão de fazer deste artigo a “retrospectiva definitiva” e corremos o grande risco de  estar esquecendo ou supervalorizando alguns fatos, baseados em nossa localidade (São Paulo), opinião e experiências pessoais. Mas vamos lá:

1999 – O rap nacional havia acabado de ganhar notoriedade com os Racionais MC’s, que lançaram o clássico “Sobrevivendo no Inferno” dois anos antes e foram os grandes vencedores do prêmio VMB, da MTV, no final de 1998, na categoria Escolha da Audiência. A música Diário de um detento foi exaustivamente tocada na grande mídia e alçou o grupo a um patamar nunca antes conhecido por um artista do gênero. O rap esteve em evidência também com MV Bill, que fez uma apresentação bombástica no Free Jazz Festival com uma arma na cintura e chocou o país levando o canto dos excluídos ao alcance da elite, apresentando músicas de seu primeiro trabalho, “Traficando Informação”, que fora lançado no ano anterior.

Além disso, 99 foi o ano em que nasceu a Academia Brasileira de Rimas, um dos grupos pioneiros do rap alternativo, referência até hoje, formado inicialmente por Akin, Kamau, Max B.O. e Paulo Napoli, e que ganhou alguns integrantes a mais durante sua breve, mas importante história. Também foi nesse ano em que ocorreu o Du Loco, evento pioneiro no Brasil que reuniu estrelas do rap internacional como Afrika Bambataa, Common Sense, De La Soul e Jungle Brothers. Foi o pontapé inicial para o que vem a ser hoje o festival Indie Hip Hop, realizado todos os anos desde 2002 no Sesc Santo André, em São Paulo.

Mv Bill por Ralf Sorgi (flickr.com/photos/ralfsorgi)

Mv Bill por Ralf Sorgi (flickr.com/photos/ralfsorgi)

Outros álbuns importantes: De Menos CrimeSão Mateus pra Vida; Facção Central – Versos Sangrentos; Face da MorteO Crime do Raciocínio; JigabooAs aparências enganam; Planet HempA invasão do sagaz homem fumaça;

2000 – Foi o ano de Xis. O paulista da zona leste havia lançado o disco “Seja Como For” em 99 pela 4P, seu selo ao lado de Kl Jay, dos Racionais, e ganhou o VMB com o melhor clipe de rap, pelo vídeo de Us mano, as mina. Com isso, ganhou visibilidade e relançou o disco pela Trama em 2000. Foi nesse ano também que a dupla de presidiários Afro-X e Dexter lançou o primeiro trabalho do 509-E, o elogiadíssimo “Provérbios 13”, diretamente do Carandiru para o resto do Brasil.

A banda de Recife (PE), Faces do Subúrbio, lançou o disco “Como é Triste de Olhar”, chamando a atenção do resto do país para o som permeado por elementos regionais (principalmente a embolada) e de outras vertentes musicais como rock e funk. Mais tarde, eles seriam destaque novamente, concorrendo ao Grammy Latino.

Acontecimento importante (e lamentável) também foi, cinco anos após o fim da ditadura, a censura da música e do videoclipe de Isso aqui é uma guerra, do grupo Facção Central, sob alegação de apologia ao crime, que gerou discussões sobre ética e glamourização da violência nos meios de comunicação.

O ano também marcou o início do Prêmio Hutuz, realizado no Rio de Janeiro, a maior premiação especializada em hip hop do país e que terá sua última edição agora em 2009.

Outros álbuns importantes: Doctor Mc’s – Mallokeragem Zona Leste; GOG – CPI da Favela; Ndee Naldinho –Preto do Gueto; Thaíde e Dj Hum – Assim caminha a humanidade; A.R.M.A.G.E.D.O.N.A.R.M.A.G.E.D.O.N.

2001 – Foi a vez de um outro grande ídolo nascer para o público. Com malandragem e desenvoltura únicas, Sabotage lançou seu primeiro disco solo, “Rap é Compromisso”, indiscutivelmente um dos melhores álbuns da década, e ganhou a simpatia de grandes expoentes da mídia brasileira. Além dele, Rappin Hood, o “negrinho magrelo com uma mancha no olho”, que já havia feito muito barulho com a música Sou Negrâo, uma ousada mistura de rap com samba, se estabeleceu definitivamente no cenário com seu disco de estreia, “Sujeito Homem”.

Um outro trabalho muito importante de 2001 foi o “Lado B do Hip Hop”, do grupo SP Funk, que trazia uma temática diferente nas letras, recheadas de metáforas e irreverência. Seguindo essa linha, outro trabalho que merece destaque, mais pela representatividade do que popularidade, é o “Produto Mentalfaturado”, do Ascendência Mista, grupo formado por Munhoz, Venom e Zorack. Foi um dos primeiros discos do chamado “rap alternativo” brasileiro, com letras e produções bem diferentes das que estávamos acostumados a ouvir na época.

Outros álbuns importantes: Potencial 3O melhor ainda está por vir; Apocalipse 162ª Vinda – A cura; Facção CentralA Marcha Fúnebre Prossegue; SNJSe tu lutas, tu conquistas; Kl Jay na batida vol. 3

2002 – O ano de 2002 foi marcado por uma grande produção de rap nacional, com músicas influenciadas por samba, soul e MPB. Foi um ano em que surgiram dezenas de boas novidades, mas nada alcançou o barulho que fez o disco duplo dos Racionais MC’s, “Nada Como um Dia Após o Outro Dia”, que consagrou o grupo como hors concours do gênero.

O rap estava na mídia como nunca conseguiu chegar de novo no Brasil: Sabotage destacou-se por emplacar a trilha sonora do filme ‘O Invasor’, de Beto Brant; Xis fez barulho com a participação na Casa dos Artistas; Nega Gizza foi a primeira mulher a fazer sucesso no estilo, com o disco “Na humilde”.

Além disso, tivemos o estouro na internet do coletivo Quinto Andar, um dos precursores da mistura de rap com jazz no Brasil. Com integrantes de várias partes do país, o grupo ganhou notoriedade rapidamente e até concorreu ao Hutuz como revelação, no mesmo ano. Ainda falando de rap alternativo, o clássico grupo Consequência, formado por Kamau, Sagat e Dj Ajamu, lançou neste ano o EP Prólogo, disco marcante por também apresentar novas possibilidades para a criação de música rap no país. Também foi o ano de estreia do festival Indie Hip Hop.

Um ponto negativo e que fez com que o rap começasse a perder um pouco de espaço foi a invasão das chamadas festas Black, onde o rap nacional começou a ser deixado de lado pelos Dj’s, preteridos pelos R&Bs dançantes  dos rappers americanos, que viraram uma febre entre os jovens do país.

Outros álbuns importantes: 509-E – MMDC (2002 Depois de Cristo); Da GuedesMorro seco mas não me entrego; DMNSaída de Emergência; MV BillDeclaração de Guerra; Z’Africa Brasil – Antigamente quilombos, hoje periferia

2003 – O ano começou com a triste morte de Sabotage, que foi assassinado na zona sul de São Paulo, e iniciou um processo de decadência no rap brasileiro. Se, assim como nos EUA, por aqui também tivemos uma Golden Age, podemos dizer que nossos Anos Dourados foram do fim da década de 90 até 2003. De qualquer forma, continuamos tendo alguns bons lançamentos, como o “A Procura da Batida Perfeita”, segundo disco solo de Marcelo D2, que fez sua carreira decolar definitivamente.

Marcelo D2 por Deco Rodrigues (flickr.com/photos/decorodrigues)

Marcelo D2 por Deco Rodrigues (flickr.com/photos/decorodrigues)

Outra boa novidade foi o “Evolução é uma Coisa”, segundo disco do RZO, que apresentou ainda uma legião de novos rappers, integrantes da chamada Família RZO, entre eles: DBS, Marrom, Nego Vando, Negra Li, Negro Útil, Pixote e o próprio Sabotage. O grupo, inclusive, integrou no fim deste mesmo ano o evento Hip Hop Manifesta, em Floripa e no Rio de Janeiro, patrocinado por uma marca de cerveja e que causou muita polêmica no meio do rap, com alguns artistas (como os Racionais) sendo contrários à participação. Este também foi um momento chave para entendermos o distanciamento do rap com a grande mídia que ocorreu nos anos posteriores, pois foi mais um dos fatores que contribuíram para esse “esfriamento”.

Outros álbuns importantes: Mzuri SanaBairros, cidades, estrelas e constelações; Mamelo Sound SystemUrbália; DBS e a QuadrilhaO Clã da Vila; B Negão e os Seletores de FrequenciaEnxugando Gelo; Clã NordestinoA peste negra; DMNEssa é a cena; Facção CentralDireto do Campo de Extermínio; Consciência HumanaAgonia do Morro; Slim Rimografia – Financeiramente Pobre

Atualizado em 08/11/09.

Continue acompanhando o Per Raps para conferir as outras duas partes desta matéria…


VMB da discórdia

Wanessa e Ja Rule_VMB2009

Wanessa e Ja Rule levaram o rap (?) ao palco do VMB - Divulgação

#fail?por Eduardo Ribas e Carol Patrocinio

Nós assistimos ao Vídeo Music Brasil, acompanhamos todos os momentos de revolta e, assim como você, ficamos desapontados – assim como o Neo encontrando o Arquiteto (Matrix Reloaded) – mas depois voltamos ao mundo real e lembramos que essa é a grande mídia, a votação é do público e a audiência é feita basicamente por adolescentes.

Pior do que o VMB, só o Rio de Janeiro ter ganho a disputa para sediar as Olimpíadas de 2016!

Por que o MV Bill ganhou o prêmio na categoria RAP?
MV Bill é hoje um dos MC’s brasileiros que mais aparece na mídia, ao lado de Marcelo D2, quer você goste/concorde ou não, tanto a sua música como seu trabalho social permitem que o trabalho do “Mensageiro da Verdade” seja mais difundido e como a votação foi feita pela internet… Ligue os pontos.

Além disso, o rapeiro tem feito inúmeros shows pelo Brasil e levando seu nome para os mais diversos lugares. Se fizermos uma comparação com os outros prêmios que a MTV entregou, a lógica é a mesma: os artistas com mais visibilidade tiveram mais votos e ganharam o prêmio. Então, nenhuma novidade.

Parabéns ao MV Bill, que ainda entregou um prêmio e fez uma apresentação bem legal no pré-VMB – se a gente não levar em conta a plateia formada por adolescentes do rock que batiam palminhas enquanto ele rimava.

Ao rap, as migalhas?
Algumas pessoas que acompanham ou fazem parte da cultura hip hop olharam a premiação da MTV como uma entrega de migalhas ao rap nacional. A afirmação é totalmente compreensível, visto que, indicado em cinco categorias, o rap apenas saiu vitorioso na categoria que só poderia dar o rap! As três indicações de Emicida e a indicação de Marcelo D2, acabaram ficando para outros grupos.

Cabe aqui uma observação: Vale recordar que, na verdade, o prêmio do rap para o rap seria o Hutúz, não o VMB.

Mas isso não deve ser visto como algo apenas negativo. A indicação dos MC’s/grupos na categoria rap, e no caso especial de Emicida, indicado também como aposta e melhor clipe, podem trazer mais visibilidade ao trabalho dessas pessoas. A curiosidade pode fazer com que pessoas que nunca ouviram falar no Kamau, por exemplo, busquem por suas músicas.

É claro que as perspectivas não são boas, uma vez que as pessoas que gostam de músicas variadas, geralmente, buscam com mais frequência pelo novo e pelo diferente. As pessoas que buscam música pelo rádio ou pela TV, acabam geralmente sendo direcionados pela chamada “cultura de massas”. Mas no rebanho sempre existe uma ovelha esperando para ser salva; o foco é chegar nessa ovelha!

Por que a decepção com o VMB?
Muita gente depositou esperança nos prêmios que poderiam ser conquistados por representantes do rap, até pelo fato da MTV não ter incluído sequer a categoria de “ritmo e poesia” nas últimas duas edições. Órfãos do Yo! e crentes em uma mudança de pensamento ou atitude, os fãs do gênero musical não devem se sentir lesados ou levianos por terem acreditado. Se a esperança de que algo fora do script pudesse ter acontecido não existisse, então muita gente não se daria ao trabalho de sequer fazer um videoclipe.

A maioria dos rimadores, dos que trabalham pelo rap e lutam para seu crescimento o faz por amor, por acreditar que a saída para os problemas está na cultura, na liberdade, na mudança do cenário atual. A ideia é sempre crer em tempos melhores, mesmo observando o mundo de um modo cético. Acreditar é uma das poucas coisas as quais podemos nos agarrar, não é o momento de achar que não vale a pena ter esperança.

Por que o EMICIDA não levou nenhum prêmio?
Se a MTV tivesse dado um prêmio ao Emicida, estaria dando um tiro em seu próprio pé. Por quê? Explicamos. A maioria esmagadora dos vencedores dos prêmios possuem contratos com grandes gravadoras, que investem muito em cada banda. Premiar um artista independente do rap, que vende suas mix a R$2, faz show a preços populares e que, segundo a Folha de S. Paulo é “empreendedor”, seria dar um exemplo de que é possível chegar ali sem precisar das tais gravadoras.

Lembrando, nesse caso, a música é tratada como negócio. Por trás da premiação há patrocínios, cobranças, comerciais e intervalos caríssimos e uma indústria musical que ainda está repensando como “vender” música, tendo a internet como principal “vilã” para impedir seus planos.

Mas, e agora?
É possível que no ano que vem o rap permaceça com espaço na Music TeleVision, isso permitiria que clipes como o do Slim Rimografia, DBS, Funkero, Casa di Caboclo e tantos outros recém-lançados entrem na programação.

A perspectiva em relação a prêmios é de possibilidade remota, até porque continuarão os grandes investimentos das gravadoras em nomes e em modismos, afinal, essa é e sempre foi a cultura (de massa) que é dada ao povo. O grande boom que veio com o hype em volta do nome do Emicida ainda pode trazer boas perspectivas, que não seriam migalhas, já que, se o hip hop, ou mais especificamente o rap, quer ter a possibilidade de chegar para mais pessoas, precisa saber se utilizar dos espaços que ele tem possibilidade de fazer parte.

Criticar a Globo, a MTV ou as rádios é fácil, mas para fazer com que o cara que ouve Cine, simplesmente porque toca na rádio, mude de gosto musical, é preciso fazer com que a música se propague. E não é apenas a internet que fará isso. Lembrando que o hip hop é uma cultura marginal e seria interessante que, mesmo sendo um dia mais difundida, seus representantes tivessem “controle” dela.

Na gringa isso acontece, mas percebemos claramente a influência de grandes grupos corporativos em certos rumos. Não que o rap tenha que ser apenas independente ou música de protesto, longe disso. Rap é música! Mas que essa música seja controle de propriedade de quem a faz e não de gravadoras. Se para estar na MTV – ou em qualquer outro espaço – for preciso “cultivar a franja e fechar com o Bonadio”, então cabe a cada um saber qual é o seu rumo.

“Ache um rumo pra chamar de seu…” – Parteum, “Rumo”


O amadurecimento de MV Bill

Foto retirada do Facebook de MV Bill

Foto retirada do Facebook de MV Bill

“Encontrei minha salvação na cultura Hip-Hop” – por Carol Patrocinio

Mensageiro da Verdade Bill, o cara que, em 1999, chegou ao Free Jazz Festival com uma arma na cintura e chocou o país levando a voz do morro, o canto dos excluídos e toda a revolta que só uma vida de dificuldades e obstáculos pode criar, mudou muito em todos esses anos de carreira.

A relação com a mídia se formou e foi estabilizada num respeito recíproco, Bill sabe como lidar com a imprensa e passar sua mensagem – “Saber circular por vários meios e não deixar de ser eu mesmo. Eu posso ampliar meu ângulo de amizades e meu quadro de comunicação”. É um homem inteligente, experiente e, hoje, comedido; sabe que pensar antes de falar é a garantia de não ser mal interpretado.

Pela primeira vez escreveu o roteiro e dirigiu um clipe, que rendeu a indicação ao prêmio VMB na categoria Rap. Mas para o “Soldado do Morro” o prêmio não é importante apenas para a carreira de quem foi indicado e sim para todo o rap nacional, que volta a ter abertura na televisão em âmbito nacional: “A MTV começa a voltar a ter uma relação estreita com o rap nacional, porque há três anos eles não colocam a categoria de melhor rap dentro do VMB. Então, essa volta, e poder estar presente dentro dela faz a minha felicidade completa”, comenta.

Entre projetos sociais, shows, apoio a campanhas e a vida corrida no Rio de Janeiro, MV Bill falou com a gente por telefone – papo que no fim da série VMB você vai poder conferir o áudio na íntegra – e comentou o rap, sua indicação, a mídia e muito mais. Dá uma olhada nos melhores momentos do papo.

Per Raps: Qual a importância da internet para o hip hop?
MV Bill: A internet pra mim é sem dúvida fundamental para a expansão do hip hop, o hip hop brasileiro que não tem compromisso com gravadora, é verdadeiro e fala com o coração. Pra esse hip hop a internet é um caminho alternativo sensacional, sem ela acho que muitos não viveriam. Eu tenho certeza de que grande parte do que aconteceu comigo até o dia de hoje, se não fosse a internet, o caminho teria sido completamente diferente. Viva a internet, viva a democracia!

Per Raps: Você gravou um dvd com o acompanhamento de uma banda. O que você acha quando as pessoas dizem que o rap deve ser “puro”?
MV Bill: Quem acha que o rap deve ser puro deve ser provavelmente um ignorante, não deve conhecer a história do hip hop. O hip hop nasce de uma mistura e ele só se mantém vanguardista e vivo até hoje porque ele continua se misturando e a mistura vai sendo uma renovação. É uma ignorância quando as pessoas acham que o rap tem que ser puro, é burrice, falta de cultura. Acho que o rap pode se misturar ao rock, ao samba, ao baião, ao dance, a outros ritmos, ao funk 70, ao funk atual e nunca deixar de ser rap.

Per Raps: Qual a sua relação com o rap pop?
MV Bill: Eu não costumo classificar por categoria os músicos de rap, como o rap é música ele acaba sendo também entretenimento, não obrigando as pessoas a embutirem mensagem politizadas em suas músicas. Ele serve mais as pessoas das camadas mais pobres, mas acho que não é uma regra.

Per Raps: Você acha que houve uma evolução no espaço do rap ou houve uma estagnação?
MV Bill: O que falta ainda é um programa a nível nacional, mas isso não quer dizer que há uma estagnação no hip hop nacional. Eu, por exemplo, viajo pelo Brasil inteiro, to tocando em tudo quanto é lugar. Acho que o que está faltando é as pessoas produzirem músicas com mais qualidade, buscarem caminhos próprios, não só musicais, mas também intelectuais, desenvolver as visões, não reproduzir o pensamento já existente numa música, os compositores precisam ler mais, descobrir novas palavras, descobrir novas formas de falar de problemas que não mudam, mas falar de forma diferente. Acho que isso vai trazer mais diversidade para o hip hop brasileiro.A gente tem um número de pessoas muito afim de ouvir, mas nossas mensagens não estão sendo passadas para as pessoas com um pacote de qualidade.

Per Raps: Muita gente fala sobre o rapper de sucesso como alguém que se vendeu, qual a sua posição em relação a isso?
MV Bill: Esse é um pensamento ultrapassado. O hip hop evoluiu e as pessoas que não evoluiram junto com ele ficaram pra trás. Se ir falar pra um número maior de pessoas significa uma traição, eu to dentro desse quadro de traição.

Per Raps: O que mudou no Bill que se apresentou no Free Jazz em 99 e que hoje faz parte de projetos sociais?
MV Bill: Acho que o amadurecimento. Amadurecer, ser reconhecido e ter minha voz amplificada me fez modificar alguns pensamentos, ter atitudes diferentes. Antigamente eu tinha as portas trancadas, agora eu tenho portas abertas, então a postura acaba sendo outra.

Per Raps: Quem você acha que deveria ter sido indicado e não foi?
MV Bill: Acho que todo mundo que tá lá já tá ótimo. Eu to feliz por mim e acredito que os outros indicados estejam também felizes por si. Quem não foi [indicado] não tem que sofrer, acho que quando a MTV trás a categoria de rap de volta, acho que não é uma vitória pra mim, pro Bill, é uma vitória do coletivo. Acho que ela volta a ter uma relação estreita com o rap nacional e isso é bom pra todo mundo. E cabe ao próprio hip hop começar a fazer clipes de boa qualidade, música bacana, bem produzido, acho que isso vai fazer com que os espaços sejam ocupados.

Per Raps: Quem são os caras mais legais pra se ouvir hoje?
MV Bill: Tem vários caras legais, eu destacaria por exemplo um rapaz lá do Rio Grande do Sul, chamado Rafuagi, que é muito bom. Aqui no Rio tem outro chamado Rom3u R3, que tá começando e é bem legal. Tem minha irmã, Kmilla, que vai ser foda, que é uma grande promessa no hip hop. Tem vários rolando por aí.

Quer votar no MV Bill? Vai lá!

Essa semana ainda rola entrevista com todos os indicados ao prêmio – leu o papo com o Kamau? -, numa parceria do Per Raps com o iG Street. Não perca!

——-

Para ver

O rapero, como Bill prefere ser chamado, participa do festival Back2Black neste fim de semana no Rio de Janeiro. O evento tem o objetivo de relembrar a África como berço da civilização e celebrar o continente como polo de discussão política e difusor de cultura.

Serviço
Quando? 28, 29 e 30 de agosto, a partir das 20h
Onde? Estação da Leopoldina – RJ
Quanto? R$ 60 e R$ 80,


A polêmica envolvendo MV Bill

veja40anos-092008

Manual Veja de redação: a livre associação de ideias – por Eduardo Ribas, com colaboração de Daniel Cunha

“Deus é amor.
O amor é cego.

Stevie Wonder é cego.
Logo, Stevie Wonder é Deus (?)”

O texto O hip hop da Petrobras, de Diogo Mainardi, colunista da Revista Veja, publicado em 18 de julho de 2009, é um símbolo das escolhas que um “formador de opinião” e um editor possuem em mãos. Nesse caso, o autor do texto poderia optar por “n” possibilidades de abordagem, mas acabou escolhendo o caminho mais polêmico. Explico.

O rapper MV Bill, em parceria com Celso Athayde (da ONG Central Única das Favelas – Cufa), escreveu e lançou o livro “Falcão: mulheres e o tráfico”, no ano de 2007, cujos direitos autorais pertencem a uma empresa chamada R.A. Brandão Produções Artísticas. Essa última informação é creditada a Diogo Mainardi em seu texto.

Celso Athayde e MV Bill - Globo Online

Celso Athayde e MV Bill - Globo Online

Essa empresa está na lista de contratadas para serviços terceirizados para a Petrobras e, de acordo com a apuração de Mainardi, “ganhou mais de 4,5 milhões de reais (..) em 53 contratos” e participou dos mais diversos serviços, “de cartilha sobre o meio ambiente até bufê em obras de terraplanagem; de dicionário de personalidades da história do Brasil até ‘design ecológico em produtos sociais’ ”.

O “faro” jornalístico de Diogo Mainardi fez com que ele aprofundasse sua “investigação”, com o objetivo de associar MV Bill a uma possível falcatrua da R.A. Brandão Produções Artísticas, realizada, supostamente, sem o conhecimento da Petrobras. Em meio a essa tentativa de silogismo (associação direta), Mainardi acaba se mostrando um conhecedor do trabalho de Bill, citando trechos de rimas e se utilizando incansavelmente do termo “mano”. A investigação em forma de texto segue com relatos de supostas tentativas de contato telefônico com o responsável pela editora que publicou o livro, além de Celso Athayde e do próprio Bill.

As tentativas, que segundo o texto do “apurador” Mainardi, não deram resultado, ainda foram ironizadas com um ditado conhecido nas quebradas: “boca fechada, que não entra mosca e também não entra bala” – nesse caso, retirado do som Como Sobreviver na Favela (MV Bill). De repente, os interesses da investigação voltam à R.A. Brandão Produções Artísticas, pois, ao que parece, era esse o real alvo de interesse desta denúncia. Mas qual seria o apelo para se falar de uma empresa X, que segundo o texto, recebia dinheiro da Petrobras para prestar alguns serviços e enriquecer algumas pessoas?

Nesse caso, realizar um ataque a um alvo específico: MV Bill. Mas por quê? O objetivo básico de um colunista costuma ser a busca por um tema de interesse mais geral, a fim de obter cartas e e-mails de apoio ou repúdio, justificando seus pagamentos pelos textos escritos e polêmicas levantadas. E são em situações como essa que percebemos os valores éticos de cada um.

Capa do livro "Falcão, mulheres e o tráfico" (Ed. Objetiva)

Capa do livro "Falcão, mulheres e o tráfico" (Ed. Objetiva)

Não satisfeita, a revista Veja segue em seu ataque à R.A. Brandão Produções Artísticas, sintetizado na figura do rapper carioca MV Bill. Desta vez, quem ataca é o “renomado” jornalista Reinaldo Azevedo, formado na mesma universidade desse que vos escreve. Em seu blog, o jornalista destina pelo menos sete posts a um ataque deliberado a MV Bill, fato que rendeu centenas de comentários. Ironicamente adjetivando Bill como o “sem-rabo-preso“ e “valente”, Azevedo aproveita para citar também o blog da Petrobras – administrado por uma equipe de comunicação, para apresentar “fatos e dados recentes da Companhia e o posicionamento da empresa sobre as questões relativas à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI)”.

As questões que ficam são as seguintes: por que o alvo escolhido aqui foi exatamente MV Bill, uma vez que há interesses diversos nessa investigação? Vamos tomar a liberdade de também associar ideias livremente, de forma parecida com o pensamento estruturado na coluna de Mainardi: a Petrobras é uma empresa estatal, e a Veja se posiciona claramente contra o atual governo petista. A Petrobras foi recentemente alvo de tentativas de investigações por meio de uma CPI, que deverá ter início em breve. Surge então uma suposta empresa laranja, a R.A. Brandão Produções Artísticas, que é atacada, mas sempre relacionada aos nomes de MV Bill e Celso Athayde – que de acordo com o próprio texto não possuem ligação direta com a empresa.

charge_maringoniSeguimos a livre associação de ideias: MV Bill, carioca e originário da Cidade de Deus, além de ser citado como ”amigo” da Petrobras e “aliado dos manos” (por Azevedo e Mainardi, respectivamente), é MC e responsável por inúmeros trabalhos sociais. Diogo Mainardi, colunista da revista Veja e autor do artigo “O hip hop da Petrobras”, acumula diversos processos por “crimes de opinião” (difamação, injúria, calúnia), relacionados ao conteúdo de sua coluna. É também crítico ferrenho do governo Lula, alvo de muitos de seus textos e, inclusive, de um livro, “Lula é minha anta” (2007).

O jornalista Reinaldo Azevedo, por sua vez, foi trotskista (entenda ‘de esquerda’) no tempo da ditadura, no entanto, virou a “casaca” se tornando crítico do comunismo na idade adulta. Trabalhou em conceituados veículos de informação, tais como as revistas Primeira Leitura e Bravo!, o jornal Folha de S. Paulo e, o não menos importante, Diário do Grande ABC. Por fim, a Revista Veja, considerada por Luís Nassif (outro renomado jornalista) como “o maior fenômeno de anti-jornalismo dos últimos anos”. Criada em 1968, de direita, defende os direitos da privilegiada fatia de bon vivants brasileiros e acumula reportagens equivocadas e mal apuradas.

Indiferente dos acusados serem culpados ou não, a lei deste país determina que ninguém é culpado até que se prove o contrário. MV Bill foi condenado por Mainardi e Azevedo. Os argumentos, por sua vez, se mostram desconexos, formados a partir de uma investigação supostamente séria e compromissada em ser “mensageira da verdade” ao povo brasileiro. Os envolvidos ainda devem, sim, as suas explicações, mas de forma alguma devem ser tratados como culpados antes de qualquer julgamento justo e livre de ironias ou associações diretas.

______

Polêmicas à parte, basta uma notícia como essa envolvendo o rap sair na grande mídia para que alguns de nossos conterrâneos mais ‘informados e esclarecidos’ iniciem o show de agressões. Foi assim em 2006, após a confusão na Praça da Sé durante a apresentação dos Racionais MC’s, na Virada Cultural, quando dezenas de críticos ferrenhos inflaram os artigos e vídeos referentes ao assunto na internet com comentários maldosos e preconceituosos.

Desta vez, não foi diferente. Confira alguns dos comentários publicados por internautas abaixo do texto de Reinaldo Azevedo na Veja, que ajudam a entender porque reclamamos tanto do preconceito que existe contra o rap:

ABC disse:

julho 21, 2009 às 4:09 am

O pior é ter que aturar um analfabeto, rancoroso, SONSO e metido a besta por que acha que dar pitaco e falar merda para um monte de gente mais medíocre e fedorenta que ele e que o aplaude o transforma num pensador.

Escória que serve de escora para a ascensão do comunismo assassino lá na frente.

______

Marcus Siviero disse:

julho 20, 2009 às 9:02 pm

Alguém aí perguntou o que faz a CUFA, ora!!! Faz o que toda e qualquer CUFA sempre fez, note-se que nesse negócio foi envolvido até os “DIREITOS DUS MANO”, ademais o que interessa o que é MV BILL, é óbvio que é “Movido a Valor” Bill.

Por outro lado devemos entender que o gerenciamento do Schopenhauer preve o “bolsa juventude” que auxilia as micro e pequenas empresas, pelo menos essa que estamos vendo que até virou notícia de tanto que foi “ajudada”.

É uma injustiça o vocês estão fazendo com tanta iniciativa e boa vontade, criticaram tanto os “mano” que eles até erraram o nome dos “livro” que eles mesmo “escrivinharam”.

“Ceis num” tem mais que fazer que “ficá” falando “mar dosotro”.

______

João Augusto disse:

julho 20, 2009 às 8:07 pm

No dia 12/07/09 (domingo), a Rede Globo, através do Programa “Domingão do Faustão” deu um tremendo espaço para essa figura. Ainda cantou uma música que eu não consigo entender, tampouco acredito nesses posturas de poeta social.

Imagino que o Faustão deva estar envergonhado do que fez. Dar espaço para o “garotão” (sim ele se veste como um garotão!), sobretudo após a matéria do sempre bilhante, do Diogo Mainardi.

Que nojo!

­­­­______

Fernando DP disse:

julho 20, 2009 às 7:06 pm

Minha doce namoradinha tinha interesse em ir nos shows desse sujeito quando a conheci(com 18 anos e tendo origem humilde eu dou um desconto- hehe); eu já botei na cabeça dela que não vamos porque é muito ruim. Agora, não ir é tb uma questão de ética…

_____

Elcio disse:

julho 20, 2009 às 6:13 pm

Rappers em geral, sem contar a mediocridade musical, são hipócritas. Até nos EUA, onde a coisa surgiu, eles são constantemente criticados pela hipocrisia, que vem dos versos chatos e tacanhos, que cantam as mazelas da pobreza, apesar da vida de luxo que as vendas das “obras” proporcionam. Com a diferença que nos EUA não existe bufunfa pública. É grana mesmo. É venda. Todo mundo chia mas ninguém tem nada a ver com isso. Por lá todo mundo tem direito de expressão. E compra a besteira o idiota que quier. Por aqui a mediocridade é a mesma (se não pior) e temos este espetáculo bisonho, com dinheiro público comprando bobagens. Tá dificil, hein?

________

Pois é, tá difícil, hein!?

<a href=”http://www.blogspetrobras.com.br”>blog da Petrobras</a>

Leia o artigo Hip hop é compromisso , de MV Bill, publicado no último domingo (2) no jornal O Globo, do Rio de Janeiro, lamentando as denúncias da Veja.

Leia também o post publicado sobre esse e outros assuntos similares no blog Casa da Negrita.


Ópera rap no dia do rock

Comemore o dia do rock ouvindo…rap! – por Eduardo Ribas

Você sabe que hoje, 13 de julho, é o dia mundial do rock? Pois é! A data foi escolhida em 1985, quando ocorreu o primeiro ‘Live Aid’, um festival organizado para arrecadar fundos para as vítimas da fome, na Etiópia.

Aproveitando a deixa, o Per Raps traz a resenha do novo trabalho de MV Bill, o DVD “Despacho Urbano”. Mas agora você pode estar se perguntando: o que tem a ver o Bill com o rock? Neste caso, tudo!

Isso, pois este DVD traz os sucessos do MC da Cidade de Deus em versão rock e acompanhado de uma banda. Acompanhe abaixo a resenha para saber mais.

“Despacho Urbano, A Ópera Rap Rock da Favela”

O DVD é repleto de extras e promete agradar crítica e fãs*

Poucos representantes da cena rap nacional conseguiram a visibilidade que MV Bill possui. Seja em relação a seus trabalhos sociais ou com sua música. Dessa vez, o MC carioca da Cidade de Deus lança um registro de sua carreira que merece elogios; o DVD Despacho Urbano.

Produzido de forma independente, o trabalho possui uma apresentação de sons ao vivo de MV Bill acompanhado por uma banda. Isso permite que os tradicionais beats sejam revisitados com uma roupagem mais rock, por vezes “funkeado” ou até com uma levada reggae. A direção de fotografia também tem destaque, assim como os inserts de imagens, que somam ao conteúdo das letras.

Além do show ao vivo, o DVD conta com a videografia de 11 clipes do “Mensageiro da Verdade”  (MV), inclusive com um clipe inédito da música “Estilo Vagabundo”. Nos extras também há espaço para imagens do ensaio da banda e traz algumas músicas que não foram para o show em uma versão mais rap.

Há uma seção com depoimentos do diretor e da equipe que participou das filmagens. O menu é animado, bilíngue e as legendas podem ser vistas em português, inglês ou espanhol. “Despacho Urbano” vai além de um simples show, é o registro de uma carreira de sucesso que transcende o gênero do rap.

*Esta resenha foi originalmente publicada na revista Rolling Stone Brasil, edição 34.

E nesta terça 14/07, exibição e venda do DVD Despacho Urbano do MV Bill, no Espaço Metrópole!

MapaOficial

DVD Despacho Urbano/MV Bill @ Espaço Metrópole

Local: Espaço Metrópole – Avenida São Luis, 187 – 2º Piso (Galeria Metrópole)
a 200 metros da estação República do metrô
Dia e horário: 09 de junho de 2009, das 19h às 23h
Informações: 0xx(11) 3081-2093 / 7891-6498 / ID: 9*61307
info@revistaelementos.com.br
Estacionamentos: na Rua da Consolação e Rua Araújo

E no sábado, dia 18/07, tem show e lançamento oficial do DVD, na Hole Club.

ElementosQuilomboMvBillQuilombo Hip-Hop Party @ Hole Hole

Local: Hole Clube – Rua Augusta, 2203 (Jardins)
Entrada: Homem/mulher R$ 15,00 ou R$ 20,00 (entrada+DVD)
Informações: contato.quilombohihop@gmail.com
0xx(11) 7892-0249 / Nextel ID 9*14295 (Guilherme)

Capa smkok

DVD “Despacho Urbano, A Ópera Rap Rock da Favela”
Chapa Preta Produções
Apoio Cultural: Smoking
Valor: R$ 5,00 (loja virtual Central H2 – http://www.centralhh.com.br)

Saiba mais:

Site oficial: http://www.mvbill.com.br
Myspace: http://www.myspace.com/mvbill
Twiter: http://www.twitter.com/mvbill
Blog: http://www.mvbill.blogspot.com


Extra! Extra! Extra!

Aproveitando as boas novidades desta semana, o Per Raps dedicou um post apenas para isso. Tem estréia de clipe, de sons, encontro entre MV Bill e K’naan, gravação de DVD do Sombra e lançamento oficial da mixtape do Emicida.

Curta essa overdose de informações e não deixe de comentar!

____________

MV Bill conhece K’naan

O MC carioca, MV Bill está nos Estados Unidos participando do programa International Visitors, desenvolvido pelo Consulado e o Departamento de Estado americanos.

A intenção é de levar aos Estados Unidos nomes que tenham importantes atuações em seus países de origem, a fim de que conheçam organizações e pessoas que tenham experiências e conhecimentos semelhantes aos seus e realizem trocas de idéias a partir desses encontros.

No meio do caminho, MV Bill teve a chance de conhecer o rapper Somali, K’naan. Acompanhe o video acima e veja como foi. Aproveite e visite o blog do “Mensageiro da Verdade” para saber todos os detalhes dessa trip.

Blog MV Bill.

____________

Primeiro clipe do grupo Ataque Beliz

Ataque Beliz lança videoclipe

“Depois de diversos pensamentos, uma câmera digital e uma conclusão! Depois de uma semana de trabalho, edição e dedicação está ar! O primeiro videoclipe do Ataque Beliz da música “A Poesia”, que é faixa do disco Reconceito que estará nas ruas entre julho e agosto. – Benjamim, Ataque Beliz

Mais em A Candura Blog.

____________

Versu2 lança mistura de axé com rap

banner_versu2_myspace

O grupo Versu2, formado por Coscarque e Blequimobiu, acaba de lançar a faixa single “Que som é este man?”, que fará parte do seu disco de estréia. A música apresenta como novidade a mistura inusitada de Axé com Rap, e conta com a produção de Sinho Representativo, gravada por Fabiano Passos no Estopim Estúdio e mixada por Marechal, no Rio de Janeiro.

Você pode escutar o single no MySpace do Versu2 ou fazer download clicando aqui.
____________

Flora Matos lança som novo

Flora Matos (www.myspace.com/floramatosmc)

Flora Matos (www.myspace.com/floramatosmc)

 

A MC Flora Matos acaba de lançar uma nova versão para a música “Pai de Família” em seu MySpace, feita em parceria com o Stereodubs, formado pelos Djs Lx e Leonardo Grijó. Abaixo, ela nos conta como foi fazer esse som:

“Essa música foi feita no final do ano passado. Costumo cantar ela em versões diferentes, dependendo da ocasião, e agora fiz uma nova versão com o pessoal do Stereodubs. Eu conheci o Dj Lx em 2006, no prêmio Hutuz, no Rio de Janeiro. Ele trabalhava junto com o MC Adikto, que também estava inscrito nas batalhas de MC que eu participaria.

Há cerca de um mês eu encontrei o Dj Lx aqui em São Paulo, e ele me disse que estava na cidade e que tinha umas novas produções. Uns dias depois meus amigos Pump Killa e Arcanjo Ras gravaram duas faixas no estúdioStereodubs. Quando eu ouvi gostei muito, entrei em contato com o Dj Lx e ele me entregou um CD com vários instrumentais. Em casa, vi a possibilidade de gravar essa música no beat que eu mais gostei.

Essa versão da música deve entrar numa coletânea da +Soma e num projeto do Dj LX e Dj Leo, que vão lançar uma mixtape com vários MCs e cantores diferentes em breve.

Confiram aí. Espero que gostem! – Flora Matos

StereoDubs feat. Flora Matos, “MC Pai de Familia”
http://raps.podomatic.com/enclosure/2009-06-18T19_57_52-07_00.mp3″
____________

Sombra grava DVD no Centro Cultural São Paulo

Flyer DVD Sombra

Nesta sexta-feira (19 de junho), o rapper Sombra vai se apresentar ao público em show gratuito, no qual serão feitas as imagens para o primeiro DVD de sua carreira, previsto para ser lançado até o fim de 2009. Para apresentar faixas de seu mais recente trabalho – “Sem Sombra de Dúvida” (2008) –, Sombra estará acompanhado do Dj Ajamu (“Sintonia”) e da banda Projeto Nave.

Já as participações especiais vão subir ao palco para compartilhar gravações feitas em estúdio: Thaíde canta “Apresento meu amigo”, Sandrão (RZO) e Tio Fresh (SP Funk), parceiros em “Computador” e Rael da Rima (Pentágono), que está em “Mano eu vou ali comprar um chá”. Também vão dividir o “mic” com Sombra, Nato e Sóbrio (“Imortais”); Leco (Projeto Manada); Gilmar de Andrade (irmão de Sombra), além de Vicktito (NVC), que homenageará Alex Tio Nenê, seu ex-parceiro de “mic”, precocemente falecido.

O percussionista Kuriaki (Terreiro Stéreo) e o cavaquinho de Fernando Lima também vão fazer parte dessa festa-show, que promete ser uma grande celebração, marcando mais um momento vitorioso na carreira de Sombra, que já conta com 15 anos de estrada. Além de músicas já conhecidas de seu público, Sombra vai apresentar quatro composições inéditas.

Sombra MC @ Gravação de DVD no CCSP
Sexta, 19 de junho às 19:00
No CCSP/ Entrada livre
Endereço:R. Vergueiro, 1.000, Liberdade. Tel.: 0/xx/11/3397-4002.
Classificação etária: livre
____________

Emicida lança mixtape na Rinha dos MCs

flyer_emicida_rinha

Neste sábado, 20 de junho, a Rinha dos MCs realiza uma edição especial no Hole Club. A noite marca o lançamento da elogiada mixtape de Emicida. “Pra Quem Já Mordeu Um Cachorro Por Comida, Até Que Eu Cheguei Longe…”. Por encomenda via e-mail e com a ajuda de lojas do centro da cidade e amigos, o MC vendeu mais de 3.000 CDs de mão em mão. A mixtape está nas ruas desde 1º de maio e já tem pontos de venda em outras cidades brasileiras e até mesmo no Japão.

O material, que rendeu 25 faixas, foi gravado pelo MC no primeiro trimestre de 2009, na companhia de DJ Nyack, Fióti, Marechal, Slim Rimografia, Nave, Damien Seth, o produtor canadense Lou P, Rashid, Projota, Dario, Leo Cunha, Daniel Cohen, Mariana Timbó, Rael da Rima e outros.

Rinha dos MCs @ Hole Club
Rua Augusta, 2203, Jardins (próximo ao metrô Consolação)
Sábado, 20 de junho, 23h
Homem: c/flyer R$ 12, s/flyer R$ 15 Mulher: c/flyer R$ 10; s/flyer R$ 12

Mais sobre Emicida:
http://www.flickr.com/emicida
http://www.myspace.com/emicida
http://embaixadordarua.blogspot.com

O que achou dos vídeos? E dos sons novos? Vai colar na gravação do Sombra, no CCSP ou no show do Emicida, na Hole Club?