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Negra Li encontra Lauryn Hill em Florianópolis

Negra Li, Lauryn Hill e Junior Dread

Negra Li, Lauryn Hill e Junior Dread no show de Floripa

Quem acompanha minimamente o rap no Brasil, já ouviu falar do grupo RZO. Formado pelos MC’s Helião e Sandrão mais o DJ Cia nas pick-ups, o grupo já contou com a cantora Liliane de Carvalho nos vocais e na rima. Para quem não sabe, Liliane é Negra Li, que viu sua carreira atingir novos patamares após deixar o grupo de rap de Pirituba (São Paulo).

Por sua qualidade vocal, Negra Li recebeu diversas comparações com Lauryn Hill – de quem é fã declarada -, que também possui notável capacidade de cantar e rimar. No entanto, as semelhanças não param por ai: ambas são mulheres lutadoras, que venceram o machismo do rap por seu talento e trabalho, possuem carreira no cinema, são mães e, querendo ou não, as duas se viram longe dos estúdios por um bom tempo.

Ms. Hill não grava nada novo desde seu acústico MTV (2002) e Negra Li teve seu último álbum de estúdio gravado em 2007, junto de Leilah Moreno, Quelynah e Cindy Mendes. Desde lá fez inúmeras participações com artistas como Caetano Veloso, Skank e Akon.

Nessa segunda passagem de Ms. Hill pelo país, Negra Li foi convidada para abrir os shows de Florianópolis e Brasília. Depois de abrir o show de sua grande inspiração em Florianópolis, Negra Li falou com o Per Raps por e-mail e contou como foi a experiência que deixará marcas por toda a sua vida.

Per Raps: Como surgiu o convite para você abrir um show da Lauryn Hill? E por quê apenas em Florianópolis e Brasília e não em SP?
Negra Li: Olha, em Florianópolis surgiu através do Leo Comin, do Oculto. O Leo é DJ e promoter em Floripa, me levou tantas vezes pra tocar lá, que acabamos nos tornando amigos. O show da Lauryn foi na Pacha, e o Leo tem uma parceria com a casa… E foi assim que tudo aconteceu. Através de uma sugestão dele, da aceitação do Anjinho e do pessoal da Pacha. E claro, da aceitação que eu tenho junto ao público de Floripa, que é muito forte … Adoro aquele lugar! E toda vez que me apresento lá, sou super bem recebida.

Também vou abrir em Brasília. Esse show foi através do escritório que também fecha show pra mim, a Agência Produtora. Não sei bem como se deu a negociação, mas estou amarradona de abrir e encerrar a tour da Lauryn no Brasil. Porém esse show de Brasília será no formato com DJ e o de Floripa foi com banda, show completo, só faltou minhas dançarinas – Luciana Bauer e Amanda Angel -, pra ser 100% perfeito! Mas, nossa, foi bom demais.

Per Raps: O que você sentiu na hora?
Negra Li: Quando o Leo ligou pra Paulinha (minha produtora), ela me ligou no mesmo minuto. Já sabíamos que estava tudo certo e que um sonho seria realizado! Da outra vez que ela veio, até chorei por não ter sido lembrada.

Per Raps: Você encontrou Ms. Hill pessoalmente? Qual foi a sensação?
Negra Li: Encontrei sim. Ficamos hospedadas no mesmo hotel, fizemos a passagem de som juntas e nos encontramos novamente depois do show dela. Virei tiete mesmo, quase não consegui falar (já quase não falo nada de inglês, nervosa então?! Travei). Meu marido desenrolou o diálogo, pude falar sobre nossa trajetória parecida… Foi intenso! Maravilhoso!

Per Raps: Qual a influência de Lauryn Hill no seu trabalho?
Negra Li: Total! Quando comecei no RZO, ela cantava no Fugees, uma banda de rap. Eu olhava pra ela e me inspirava demais, acabou que peguei muito do que ela fazia e ouvia pra mim. É isso que a gente faz com os ídolos, né… Absorve!

Per Raps: Como andam seus projetos para 2010/11?
Negra Li: Estou numa correira louca de trabalho, muitos shows pelo Brasil. Dia 13 de outubro vou abrir pro Timbaland, em São Paulo. Uma tour, no mês de novembro, pela Nova Zelândia se confirmando…

Estou mergulhada na pré-produção do meu próximo CD, escolhendo repertório, escrevendo letras. Estou podendo contar com a ajuda muito grande do Sérgio Brito, do Titãs, e de parceiros antigos como Nando Reis e Samuel Rosa. Nessa busca pelo repertório também estão minha gravadora Universal Music e os produtores Rick Bonadio e Paul Ralphs.

Vou começar a filmar um novo longa chamado Poderoso Arco-Iris, que vai contar a história de um serial killer homofóbico e eu farei uma jornalista que vai investigar os assassinatos e acabará na mira do serial. Um filme com muito suspense e ação.

Veja um trecho da apresentação que abriu a turnê brasileira de Ms. Hill, em Floripa.


Erykah Badu emociona público em SP


“Pornografia musical”por Carol Patrocinio

Erykah Badu é Jackie O. É Rainha de Copas. Badu é mulher. Sexo, graça, ironia. Erykah Badu sabe o que quer e não te deixa na mão. Ou deixa, só porque quer. Erykah Badu é aquela mulher que provoca, te deixa louco e vai embora, mas você não reclama – ela foi a melhor que você teve na vida, ainda assim.

Logo que a vi no palco meu coração parou. Era ela, estava ali, a pouquíssimos metros. Se eu desse alguns passos e esticasse a mão poderia tocá-la – deixa pra lá, emoção demais. E assim como meu coração, ela ficou ali, parada num canto do palco, esperando o momento certo para começar sua mágica.

E quando a mágica de Badu começa a ser feita não há como parar. Um clima intimista tomou conta do lugar. Éramos só eu e ela. Uma caixinha de música em que ela era a bailarina e eu dava corda. Toda a delicadeza de Badu anda de mãos dadas com sua força, suas certezas. O salto 15 está no pé, mas ela não precisa disso pra ser muito maior do que se poderia crer.

Quando a intimidade começou a aumentar, Erykah foi até o chão. Fez do pedestal do microfone um mastro, quase pole dance. Unhas, bocas, olhares. Aquela voz. A voz de Erykah Badu faz um registro na sua cabeça, não importa aonde vá, você sempre sabe que é ela.

O show que Erykah Badu fez em São Paulo foi sobre ela, para ela. Mas a maneira que cada um de nós nos identificamos com cada palavra, som gesto que ela faz, nos torna partes de uma gigante. Erykah Badu pode ser egocêntrica, mas ela está pensando em todos nós para fazer isso.

Ao chegar ao fim do espetáculo, Badu deixou lembranças físicas para seus fãs – um acessório, um lenço, um batom. Recebeu presentes. Voltou para o bis, deixou uma mensagem contra preconceito e ficou tão próxima aos fãs que era fácil notar a não aprovação de seu segurança, que andava o palco de lado a outro atrás dela. Erykah Badu deu tanto de si neste show que, por pouco, não saiu de cena como em Window Seat, nua por dentro e por fora.

Foi no show? Conte o que achou ou se está ainda sem palavras para isso!

Mais
Erykah Badu consegue sample via Twitter
Erykah Badu estreia polêmico clipe de “Window Seat”
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Fotos da golden era do rap por Janette Beckman

Janette Beckman

Sparky D / Slick Rick / Jam Master Jay e seu filho

“Uma insider da Golden Era” – por Carol Patrocinio

Você já ouviu falar de Janette Beckman? Ela é a fotógrafa que acompanhou os maiores nomes do hip hop entre 1982 e 1990, bem a era de ouro da cena. Pode começar a pagar um pau pra essa mulher, ela esteve em contato com todos os monstros que você chama de ídolos!

Nascida em Londres, Janette cresceu curtindo dos artistas da Tamla Motown aos Rolling Stones e mergulhou de cabeça nas cenas alternativas inglesa e americana quando passou a fotografar. Além dos mestres do rap, a fotógrafa esteve com as bandas The Clash, The Specials, Police e Paul Weller. Quando mudou para Nova York se tornou a pessoa responsável por registrar a cena hip hop – Afrika Bambaata, Run DMC, Salt’ n ‘Pepa e Grandmaster Flash foram alguns de seus personagens.

Daí pra frente, a carreira da fotógrafa só cresceu e ela passou a fotografar para as revistas Esquire, Rolling Stone, People, Interview, London Sunday, Times Magazine, Observer Magazine e para empresas como a lendária marca de botas Doc Marten, os tênis Converse, Warner Brothers, Universal

Para registrar todos esses momentos de sua vida, Janette lançou alguns livros, dois deles são dedicados ao rap. Em “The Breaks: Stylin’ and Profilin'”, ela retrata, em imagens, a cena hip hop de 82 a 90 e em “Rap! Portraits and Lyrics of a Generation of Black Rockers”, textos e imagens se complementam para contar a história de uma geração que revolucionou a música.

Janette Beckman

Eric B. e Rakim / Run DMC e sua banca

Janette Beckman

Um dos Jungle Brothers / Big Daddy Kane

Janette Beckman

Flava Flav / LL Cool J

Janette Beckman

EPMD Babylon Long Island / Stetsasonic

The Breaks Stylin' and Profilin' 1982-1990The Breaks: Stylin’ and Profilin’
Fotos de Janette Beckman e texto de Bill Adler & Tom Terrell
Editora: The Power House Arena
Capa dura | 24.13 x 25.40 cm | 144 páginas | 150 fotos
US$ 35

Rap! Portraits and Lyrics of a Generation of Black Rockers“Rap! Portraits and Lyrics of a Generation of Black Rockers”
Fotos de Janette Beckman e texto de Bill Adler
Editora: St. Martin’s Griffin
21.59 x 27.30 cm, 106 páginas
US$ 13,95


Mais?
Site de Janette Beckman


Segundo semestre recheado de shows internacionais

“Declarando falência por motivos culturais” – por E. Ribas

O segundo semestre de 2010 está repleto de apresentações internacionais no Brasil. Nomes como Erykah Badu, Lauryn Hill, Rage Against the Machine, Cypress Hill, Jamiroquai Anti-Pop Consortium estão entre aqueles que farão show por aqui. Variando do rap até o funk e o soul, esses nomes prometem causar boa impressão.

O grande problema dessa leva de shows é o valor, que na maioria dos casos é bem salgado. No entanto, vale a pena economizar um pouco na balada (ou seja no que for) para curtir ao menos um desses. O Per Raps aproveitou para destacar alguns desses shows e mostrar quais nós indicamos, mostrando o que de melhor você poderá encontrar em cada um deles.

Há boatos que Jay-Z também virá para o Festival SWU, mas ainda não houve confirmação oficial.

Anti-Pop Consortium

Anti-pop Consortium

Pela primeira vez no Brasil, o quarteto nova-iorquino Anti-Pop Consortium traz as novidades de seu último álbum, o elogiado “Fluorescent Black” (2009). Conhecidos por seu quê visionário, o grupo é considerado à frente de seu tempo e de tudo que o mundo conhece como hip hop. Formado em 1997 por Beans, High Priest, M. Sayyid e o produtor Earl Blaize, o Anti-Pop ficou parado por quase sete anos, mas mostra que ainda tem muito o que mostrar ao público.

Se sua ideia é fugir do convencional, então vale a pena ir ao show para conhecer uma forma diferente de se pensar o hip hop hoje em dia. Mas não se espante com as bases eletrônicas, os broken beats, o barulho e a interferência que você ouvirá, afinal esse é para muitos o grande trunfo do Anti-Pop Consortium. Completando a programação do SubRapCombo, M.Takara junto de R. Brandão (Mamelo Sound System) e Afasia (Carlos Issa e Akin).

Erykah Badu

Erykah BaduPara mais informações e novidades exclusivas, siga o Per Raps no Twitter!

Sua primeira apresentação por aqui já faz tempo, rolou no finado Free Jazz Festival há 13 anos. Quem foi diz ter sido um dos melhores shows vistos em terra brasilis. E não tenha duvidas disso! Erykah não é do tipo que produz hits fonográficos, apesar de vez ou outra aparecer nas paradas e ter seus videoclipes presentes na programação de canais dedicados à música (no Brasil, nem tanto).

Por incrível que pareça, o ponto forte dessa apresentação não deverá ser seus álbuns anteriores – Baduizm (1997), Mama’s Gun (2000), Worldwide Underground (2003), New Amerykah Part One (4th World War) (2008) -, e sim seu mais novo lançamento, New Amerykah Part Two (Return of the Ankh) (2010), um dos álbuns mais românticos e bem dosados (com beats mais orgânicos) da cantora, sendo também muito bem recebidos pela crítica.

Apenas o time da produção do disco já garantiria o sucesso, contando com pedradas do novato James Poyser, além do saudoso J-Dilla, Questlove (The Roots), Madlib e 9th Wonder. Sobre o que esperar do show? Tom intimista e soul hipnótico da melhor qualidade.

Lauryn Hill

Lauryn Hill

Conhecida por ser MC e cantora de um dos grupos mais celebrados do rap, o Fugees, Miss Hill sobe aos palcos brasileiros pela segunda vez. No entanto, desde a última vez não houve muita novidade da norte-americana, musicalmente falando. Depois de começar sua carreira solo com o bombástico The Miseducation Of Lauryn Hill (1998), a MC teve problemas com sua gravadora e viu sua produção musical decair.

Na primeira passagem de Lauryn por São Paulo (2007), o som, que parecia ter uma potência muito maior do que a casa comportava (Credicard Hall), deixou muitos fãs com um zumbido nos ouvidos por alguns dias (!). Isso comprometeu todo o show. Para piorar, Miss Hill não parecia estar no auge de sua empolgação.

Para esse novo show, Lauryn traz um único lançamento desde sua coletânea “Ms. Hill” (2002), a música “Repercussion”. Já é um sinal de retomada, mesmo o som sendo uma peça única. No mais, sempre vale a pena relembrar ótimas músicas como “Doo Wop“,“Everything Is Everything” e “Ex Factor“.

Rage Against The Machine

Rage Against The Machine por Tobin Voggesser

Se você tem ao menos 20 e poucos anos pode curtir um pouco da fúria das letras de Zach de La Rocha, juntas dos riffs distorcidamente impressionantes de Tom Morello em sua adolescência. Há quem curta rap e torça o nariz para Rage Against the Machine, no entanto o conteúdo das rimas de Zach desintegra muito discurso de rappers wannabe por ai. Sem contar com a musicalidade do grupo, que não se contenta com o destaque vocal e “guitarrístico”, mas traz o ótimo baixista Tim Commerford e baterista que maltrata as baquetas (positivamente falando, claro), Brad Wilk.

O RATM terminou no início dos anos 2000, após a saída de Zach de La Rocha, no entanto os integrantes remanescentes embarcaram junto do vocalista Chris Cornell (ex-Soundgarden) no projeto “Audioslave“. O grupo foi bem e rendeu boas músicas, mas para a felicidade dos fãs, Zach retornou em 2007 e vários shows foram marcados pelo mundo inteiro para celebrar a nostalgia.

Nada novo deverá ser apresentado, mas levando em conta que é a PRIMEIRA apresentação do grupo por essas bandas, vale a pena apertar o cinto e pagar R$ 190 (uooow!) para vê-los.

Anti-pop Consortium no SubRapCombo 2010
Quando?
28 de agosto (sábado), às 21h
Onde? Choperia do SESC Pompéia
Quanto? R$ 20,00 [inteira], R$ 10,00 [carteirinha, +60 anos, professores da rede pública de ensino e estudantes com comprovante] e R$ 5,00 [trabalhador no comércio e serviços matriculado no SESC e dependentes]
Classificação: Não recomendado para menores de 18 anos
O Anti-pop Consortium também se apresenta no SESC São Carlos (27/08) e no SESC Ribeirão Preto (25/08).

Erykah Badu em São Paulo
Quando? 29 de agosto, a partir das 20h
Onde? Credicard Hall – Av. das Nações Unidas, 17.955
Quanto? entre R$ 100 e R$ 400, com direito à meia-entrada
Informações: http://www.credicardhall.com.br / (11) 4003-6464

Lauryn Hill em São Paulo
Quando? 7 setembro de 2010, às 21h30
Onde? Credicard Hall (Av. das Nações Unidas, 17.955 – Santo Amaro)
Quanto? de R$ 100 a R$ 250. Podem ser adquiridos pela internet (www.ticketsforfun.com.br)
Informações: http://www.credicardhall.com.br e (11) 4003-6464
A cantora se apresenta em Florianópolis no dia 3 de setembro no Stage Music Park, no dia 6 no Citibank Hall no Rio de Janeiro e termina sua passagem pelo Brasil com um show em Brasília, na Prainha da ASBAC, dia 12.

Rage Against the Machine no SWU Music and Arts
Quando? 9 de outubro de 2010
Onde? Fazenda Maeda (Rodovia SP 75 Santos Dumont, Km 18 Sul, em frente a balança, sentido Itu/Sorocaba.)
Quanto? de R$95 a R$560 [Ponto de venda: Ginásio do Ibirapuera (Rua Manoel da Nóbrega, 1361, Paraíso, São Paulo) ou http://www.ingressorapido.com.br]
Informações: http://www.swu.com.br

O que achou dos shows? E dos preços? Vai em alguma apresentação? Comente!


Entrevista: Lurdez da Luz, Pathy Dejesus e Lívia Cruz

Lívia Cruz por Stephanie Sidon, Pathy Dejesus (divulgação) e Lurdez da Luz (divulgação)

“Muito além do ser mulher” – por Carol Patrocinio

Quando as pessoas pensam em rap já imaginam um homem, de preferência negro, com roupas largas, cara de mau, muita marra e um microfone na mão. Ei, mundo real, chamando! Rap é música, expressa sentimentos, vivências, histórias. E isso todo mundo tem: branco, preto, amarelo, homem, mulher, religioso ou ateu. E é aí que entram as personagens do texto de hoje, três mulheres que ganharam espaço e notoriedade num mundo que – queriam que elas acreditassem – não tinha espaço pra elas. O mundo estava enganado!

Lurdez da Luz, Pathy Dejesus e Lívia Cruz. Mulheres. Bonitas. Femininas. Elas são feitas de sorrisos, olhos, unhas. E como as mulheres de outras cenas, querem estar bonitas, gostam de como são, não querem mudar para agradar e acreditam que o talento fala mais alto do que qualquer coisa.

Preconceito? Existe. Por ser mulher, por ser bonita, por ser branca ou por ser negra. Desafios? Estão aí para serem deixados pra trás e lembrados como vitórias. Qualidade? Tem de sobra. Essas mulheres provam que o que importa é fazer com o coração e aí o respeito vem, quando menos se espera.

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Per Raps: Pra você, como o preconceito é demonstrado no rap?

pathy dejesusMeu pai me falou uma parada que ainda ecoa na mente e infelizmente faz o maior sentido até os dias de hoje: se você quiser ser alguém, ser bem sucedida no caminho que escolher, vai ter que trabalhar duas vezes mais pra ter o mesmo reconhecimento porque é mulher”

Lurdez da Luz: Acho que o rap brasileiro está mais consciente nesse sentido do que o norte-americano de um modo geral, no que diz respeito as músicas misógenas é mais tranquilo. Acho que o machismo está tão arraigado que nem sei onde começa e onde termina e num é privilegio do rap não, em toda sociedade e nichos musicais rola só que de diferentes formas. Vide o número de instrumentistas mulheres em qualquer show de música, seja lá de que estilo for, sempre muito menor que o de homens.

Infelizmente ainda rola esse lance de muitas mulheres não se sentirem representadas por outras que estão no palco, que é reflexo de uma cultura machista, de de repente achar que você tá ali pra “aparecer” ou por causa dos caras, ignorando toda a dificuldade que é fazer arte, ainda mais rap. Mas comigo, pessoalmente, não é só o fato de ser mulher, tem o lance da pele clara, me vestir de um jeito estranho, ter um discurso talvez não muito simples de interpretar e desde do começo num ficar me explicando, deixar as pessoas livres pra pensarem o que quiser ao meu respeito.

Pathy Dejesus: Gosto de ver as coisas sempre por um ângulo mais positivo. Falta muito ainda, mas já foi bem pior… Ainda somos uma minoria dentro desse processo. Ainda existem as letras que inferiorizam, ridicularizam, menosprezam e ofendem mulheres (o que aliás já é bem batido, né?). Ainda tem homem que torce o nariz quando vê uma mulher no mic, nos toca-discos, dançando, grafitando. Mas o mundo é isso! Preconceito não é exclusivo do rap. Ele só é reflexo (talvez em maior intensidade) de uma sociedade preconceituosa (lê-se machista também). Ele está aí e não pode servir de empecilho pra quem realmente quer fazer parte.

Existem várias mulheres que quebraram e estão quebrando esse paradigma. Desde seu início, lá nos EUA entre os anos 70 e 80, a cultura é uma coisa “pra homens” e raríssimas mulheres conseguiram invadir esse espaço. As que conseguiram eram todas excepcionais (Roxanne, Salt n’ Pepa, Queen Latifah, MC Lyte, dentre várias) e fizeram a diferença! Se hoje parece difícil, imagina há três décadas. Se essas pioneiras não tivessem insistido, batido de frente pra demonstrar seu talento e sua paixão pelo hip hop, dificilmente estaríamos conversando agora.

Aqui no Brasil não é diferente… o hip hop entrou na minha vida em 94. Lembro da Rúbia, da Dina Di, da Rose MC, depois Negra Li. Tente pesar a determinação dessas mulheres naquela época… Quando fiz 13 anos, meu pai me falou uma parada que ainda ecoa na mente e infelizmente faz o maior sentido até os dias de hoje: se você quiser ser alguém, ser bem sucedida no caminho que escolher, vai ter que trabalhar duas vezes mais pra ter o mesmo reconhecimento porque é mulher. E mais duas vezes porque é negra. De onde venho as coisas nunca foram fáceis. Graças a Deus, cresci num ambiente onde ao invés de só lamentar e apontar culpados pela situação desvantajosa, batemos de frente e não desistimos tão facilmente dos nossos sonhos.

Lívia Cruz: O preconceito contra as mulheres? Eu já disse isso várias vezes, o preconceito e discriminação contra as mulheres no rap não é diferente do que a gente vê na sociedade em geral, as manifestações tão aí a toda hora, vão das cantadas e dos barulhos obscenos que a gente é obrigada a escutar quando está simplesmente passando na rua, até uma atitude mais extrema de violência física e psicológica. Esse assunto é sério e delicado, acho que a educação, como em quase, tudo é a chave, e a música, sem dúvida, tem grande papel de formação.

Per Raps: O que significa fazer um rap feminino atualmente?


Parece fácil ser MC, mas num é não. Seja homem ou mulher”

Lurdez da Luz: Atualmente já está tudo um pouco mais fácil pra todo mundo, existe uma evolução em relação a acesso a tecnologia, a informação e o fluxo de dinheiro dentro da cultura aumentou (ainda é pouco), o respeito fora do rap aumentou também. Eu comecei a fazer isso em 1999, só existia a Dina Di, que era uma rapper cabulosa mas que eu num me identificava e a Rose MC e Lady Rap, que num tinham muitas faixas gravadas pra gente ter algum ponto de partida. Eu curtia muito o estilo da SharyLaine, mas que já num lançava nada há anos… Enfim tive que inventar um jeito de fazer minhas rimas e levadas.

Lembro que mostrei meu primeiro rap pra Cris do SNJ, que também é minha contemporânea, e ela falou: “legal esse tipo de som, parece um pouco rap até”, eu ri e percebi que tava com uma parada que ia demorar pra ser compreendida. Pra mim o importante é ter em mente a expressão artística e as posições politicas, sempre em prol da evolução pessoal assim como da cultura e não “ser alguém dentro do rap”, parece fácil ser MC, mas num é não. Seja homem ou mulher.

Pathy Dejesus: Existe fazer um rap feminino? Dá separar a arte e subclassificar? Não acredito nisso. Odeio rótulos. Existe talento ou não. Existe paixão ou não. Existe rap bom e rap ruim. E isso independe do sexo de quem está fazendo.

Lívia Cruz: Pra mim, no meu rap, significa mostrar o ponto de vista genuíno da mulher, eu gosto de contar historias e ainda acho que a gente se pauta muito no que os homens do rap vão pensar das nossas letras, das nossas atitudes, e isso torna os nossos relatos muito tímidos… Quero ver isso mudar, e tô fazendo minha parte pra essa mudança.

Per Raps: Beleza ajuda ou atrapalha? Como?

Muitas vezes me sinto subestimada, vejo isso nítido nos olhares das pessoas quando subo no palco, mas depois que começo a cantar isso muda”

Lurdez da Luz: Acho que ajuda a abrir portas mas talvez até atrapalhe em ter credibilidade. Como disse sobre posições políticas na resposta acima, num é só saber em quem vai votar, o porquê é bem mais amplo, como por exemplo não acreditar em padrões de beleza impostos, tipo a magra, alta, de olho azul ou até mesmo a “rainha de ébano”, claro que deve ser uma benção de deus ser lindo, mas ficar impondo isso que nem a Rede Globo num deveria ser papel do rap.

Pathy Dejesus: Acho que a pergunta correta seria: ser feminina ajuda ou atrapalha? Li uma entrevista da Negra Li (de quem sou fã) uma vez falando sobre isso. Da postura supostamente correta para ser respeitada num ambiente onde ela era minoria… Usar roupa larga, nada de maquiagem, ficar séria o tempo todo pra não chamar a atenção. Pra não lembrarem que se tratava de uma mulher… Imagina a barra!

Por isso digo que as coisas estão evoluindo! E vai de nós, mulheres, nos impor, nos preservar, e sermos levadas a sério. Sou vaidosa e não vou mudar minha personalidade pra fazer o que amo. Aliás, isso não faz o menor sentido, né?! Acho lindo quando vejo Lívia [Cruz], Lurdes [da Luz], Nathy [MC], Flora [Matos], as DJs do Applebum… Todas maravilhosas, nenhuma abre mão do seu estilo pra rimar, pra discotecar. O respeito não é imposto. É conquistado!

Lívia Cruz: Por incrível que pareça, acho que atrapalha mais do ajuda. Existe um preconceito de que mulher bonita não é inteligente, muitas vezes me sinto subestimada, vejo isso nítido nos olhares das pessoas quando subo no palco, mas depois que começo a cantar isso muda, e é divertido também, surpreender pro bem. A beleza vai muito além da estética, eu gosto de quem sou, não quero mudar pra agradar ninguém, e isso transparece nas minhas músicas e na minha conduta, algumas pessoas se incomodam, mas paciência… Bonito mesmo é ser feliz!

Per Raps: Hoje você é respeitada na cena por seu trabalho, independentemente do seu sexo, o que você acha que fez com que isso acontecesse?

pathy dejesus Sou movida a grandes desafios, não nasci pra concordar, pra aceitar. Minha maior concorrente sou eu mesma, e não alivio, não facilito, não tenho pena de mim mesma”

Lurdez da Luz: Em primeiro lugar fico honradíssima, dinheiro é bom e todo mundo precisa, mas respeito pra mim vale ouro. Acho que foi resistir em primeiro lugar, se mantar fiel ao que se é e não balançar em relação ao que ” tá pegando no momento”. Foco no som e amor por esse tipo de música em especial mais do que por qualquer outra.

Pathy Dejesus: Repito que venho de uma criação (obrigado Pai e Mãe) onde sempre me lembraram quem eu sou, de onde vim e de como as coisas seriam mais difíceis por isso. Mas essa situação de “desvantagem” sempre me foi mostrada de uma forma que eu tivesse vontade de bater de frente pra conquistar meus objetivos.

Sempre fui “minoria”. Mulher negra é minoria duas vezes. Sempre tive que batalhar dobrado pra ter reconhecimento. E sinceramente, gosto disso! Sou movida a grandes desafios, não nasci pra concordar, pra aceitar. Receber um inicial “não” como resposta sempre me motivou a melhorar, buscar mais conhecimento, me preparar cada vez mais. Tem horas que realmente dá vontade de desistir… Mas minha maior rival não me pouparia, não me perdoaria. Minha maior concorrente sou eu mesma, e não alivio, não facilito, não tenho pena de mim mesma. Acho que vem daí o respeito no meu trabalho. E na vida!

Lívia Cruz: Esse respeito veio naturalmente por um conjunto de coisas, meu trabalho vem em primeiro e com ele o desejo de fazer virar, acreditar, ousar, perseverar, e por consequência algumas pessoas no meu caminho me ajudaram muito, sem essas pessoas, provavelmente, eu estaria bem mais longe do ponto que me encontro agora.

Time do Loko apresenta Lurdez da Luz, Lívia Cruz e Pathy de Jesus
Quando? Sábado, (14), às 00h
Onde? Hole Club (R Augusta, 2203 – Jardins/SP)
Quanto? R$15 (H) e R$10 (M)

Mais?
Novidades de 09′: Lívia Cruz
Lurdez da Luz fala de seu novo trabalho


Manos e Minas: a luta continua

Na semana passada, especificamente na quinta-feira (5), foi anunciada a saída do programa Manos e Minas da programação da TV Cultura. No entanto, uma grande movimentação partiu da internet às ruas pedindo a volta de um dos únicos programas dedicados ao hip-hop no quinto maior país do mundo em extensão territorial, com mais de 190 milhões de habitantes e composto por 26 estados e um distrito federal. Mas isso tudo você já sabe.

Além do protesto no microblog Twitter, que fez o termo #salveomanoseminas permanecer entre os tópicos mais citados na tarde da quinta, foram colhidas assinaturas de pessoas contrárias a ordem de João Sayad, atual presidente da TV Cultura, na festa de aniversário da Rinha dos MC’s.

Voltando à internet, vídeos começaram a “pipocar” com falas de pessoas representativas no rap e na cultura de forma geral, como KL Jay, Edy Rock, Gilberto Dimenstein, Pedro Alex Sanches, Ganjaman, Criolo Doido e Ale Youssef, que apresentaram sua insatisfação e argumentaram sobre a importância da manutenção do Manos e Minas na TV aberta.

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Outra figura importante que “comprou” a briga foi o senador Eduardo Suplicy, que recebeu uma carta enviada por representantes do hip-hop a ser encaminhada para João Sayad. Suplicy inclusive chegou a realizar a leitura da carta no Senado, alertando a movimentação preocupante de um canal que leva a cultura em seu nome.

Em texto publicado pela agência AdNews nesta quarta (11), João Sayad mostrou sinais de contradição: “A grande questão aqui é que eu não represento o meu gosto, eu represento o que o público quer”. No entanto, suas ações mostram o contrário. Sua resposta padrão para o fim do Manos e Minas é que o novo programa de música da TV Cultura também trará o rap como um do gêneros representados.

Ainda assim, as movimentações em prol do programa continuam acontecendo. Mande seu vídeo, sua manifestação de apoio ou o serviço da sua festa em prol da volta do programa Manos e Minas à TV Cultura nos comentários do post e a gente ajuda a divulgar.

* Na noite desta quarta-feira (11), o Sarau da Cooperifa teve uma edição especial de protesto ao fim do programa Manos e Minas, nas palavras do idealizador do evento, Sérgio Vaz, “o único [programa] que não mostra as pessoas da quebrada de cabeça baixa, algemadas ou pedindo alguma coisa para apresentador de TV”.

* Em Minas Gerais, mais especificamente na cidade de Ipatinga, a Sintonia Crew realizará uma batalha de freestyle com o tema #salveomanoseminas, no Shopping do Vale, neste sábado (14), às 20h.

*Assine o abaixo assinado do site Rap Nacional em prol do Manos e Minas.

Sobre o Manos e Minas

Manos e Minas surgiu de um desdobramento do quadro “Mano a Mano”, parte do programa Metrópolis da mesma TV Cultura, e era apresentado por Rappin Hood. O formato inicial do programa contava com auditório, DJ Primo nas pick-ups, b-boys e b-girls dançando e grafiteiros convidados para pintar painéis durante a gravação.

O programa teve início em 7 de fevereiro de 2007 e contou com o sambista Jorge Aragão como primeiro convidado. Após a saída de Rappin Hood, assumiram a apresentação Thaíde, e logo depois, o MC Max BO. Manos e Minas trazia a cada edição uma banda/grupo apresentando seu trabalho, além de reportagens e quadros com nomes como Alessandro Buzo, o escritor Ferréz e mais tarde, o rapper Emicida.

Gravado no teatro Franco Zampari, ao lado do metrô Tiradentes, todas as segundas-feiras a partir das 16h, Manos e Minas era televisionado todo sábado às 19h30 na TV Cultura, com reapresentação aos sábados à 1h.

Leia também o post Manos e Minas deixa a grade da TV Cultura
Quer saber o que as pessoas acham sobre o fim do programa? Dê uma olhadinha no mural do Manos e Minas no site da TV Cultura!


Manos e Minas deixa grade da TV Cultura

Anúncio Manos e Minas

“Pra onde foi o respeito que o hip hop merece?” – por Carol Patrocinio com entrevistas de E. Ribas

Com um sonoro “Acabou” recebemos a notícia, do produtor Zeca MCA, que o programa Manos e Minas, da TV Cultura, havia oficialmente sido extinto. A alegação da emissora estatal é que isso ocorreu por “política da empresa” e que não tinha nada contra as pessoas envolvidas. “Tá todo mundo triste, mas sabemos que é um jogo de favores e favorecimento. O Manos e Minas não é um porgrama caro, então parece ser mais uma política da empresa de não querer falar com esse tipo de público. Cortaram as vias de acesso com a juventude”, explica o apresentador do programa, Max B.O..

Pra quem ainda não entendeu do que estamos falando, aqui vai a explicação. Nesta quinta-feira (5) pela manhã, todos que buscaram ler o jornal O Estado de S. Paulo*, se depararam com a seguinte afirmação do presidente da Fundação Padre Anchieta, João Sayad: “O Vitrine deverá ser suspenso para reformulação. O Manos e Minas sai da grade, assim como o Login. Em compensação, haverá um jornal com debates todo dia. Teremos sessões de cinema em acordo com a Mostra de Cinema de São Paulo”.

Para Max B.O. a conclusão é simples: “Eles dizem que estão sem orçamento, mas contrataram a Marília Gabriela. Eles preferem pagar duzentos pra um ou dois, que pegar duzentos e dar um pra duzentas pessoas”. Curiosamente terminam os dois programas direcionados aos jovens na emissora.

Manos e Minas/Foto: DJ Erick Jay

Depois de saber de sua demissão por uma mensagem de celular recebida de uma produtora que trabalha na emissora – “Força”, dizia o texto – Max chegou a conclusão de que “se os caras mandaram embora até o Heródoto Barbeiro“, não era o Manos e Minas que seria poupado. Saído do MC RAPorter da RedeTV!, o apresentador comenta que sabia que o trabalho ali não seria eterno: “Um dia eu sabia qeu deixaria de ser apresentador (do Manos e Minas), mas gostaria ir lá me apresentar como MC no programa”.

As especulações sobre o programa, que já teve nas pick-ups o saudoso DJ Primo, já aconteciam há alguns dias e rumores rondavam a internet. Alguns, como Paulo Henrique Amorim, do Conversa Afiada, acreditam ser uma ação partidária: “Maluf, Quércia e Fleury governaram São Paulo e respeitaram os princípios públicos da TV Cultura de São Paulo. Quem destruiu a TV Cultura foram os governadores que há 16 anos coronelizam São Paulo. Agora, José Serra joga a pá de cal”.

De acordo com a definição do site da própria emissora, a TV Cultura é uma “emissora de televisão brasileira de sinal aberto que oferece à sociedade brasileira uma informação de interesse público e promove o aprimoramento educativo e cultural de seus telespectadores”. Se é esse o objetivo, o que está acontecendo? Será que estão errando a mão na hora de ‘colocar ordem na casa’?

Por inspiração de seus fundadores, as emissoras de sinal aberto da Fundação Padre Anchieta não são nem entidades governamentais, nem comerciais. São emissoras públicas cujo principal objetivo é oferecer à sociedade brasileira uma informação de interesse público e promover o aprimoramento educativo e cultural de telespectadores e ouvintes, visando a transformação qualitativa da sociedade” Do site da Fundação Padre Anchieta

“Nossa plateia era de estudantes, o Manos e Minas valia como nota para quem relatava o que rolava no programa. Tinham salas que ganhavam o direito de ir ao programa como prêmio, sabe? Também iam pessoas de casas de assistência, pessoas com liberdade assistida…”, conta o apresentador. A pergunta que fica é: seria esse o problema?

Manos e Minas - equipe/Foto: Dj Erick Jay

Conversamos com algumas pessoas para saber o que acham das mudanças de rumo da emissora que teria, por princípio, a iniciativa de levar conteúdo de interesse público aos telespectadores. E pela movimentação acontecida no Twitter, que levou a tag #salveomanoseminas ao Trending Topics brasileiro, o público quer que o programa, e alguns outros da emissora, continuem na grade.

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André Maleronka – jornalista, editor da Revista Vice e colaborador da Revista +Soma

André Maleronka

Acho que isso significa uma ideia de cultura e de papel do Estado das quais discordo. As declarações do presidente da TV Cultura – ele menciona ineficiencia e inchaço do quadro de funcionários – são uma faca de dois gumes. Essa suposta eficiência: é de audiencia que ele fala? Uma Tv do estado não deveria ter isso como objetivo, na minha opinião. Inchaço: normalmente isso é causado por má administração. É o mesmo grupo que está no poder do Estado de SP há 24 anos.

Então é tudo muito esquisito. Mas acho que, resumindo bem, é isso: me parece uma ideia (ideologia neoliberal, na verdade) de cultura enquanto entretenimento e realização enquanto sucesso financeiro. Lamento, e acho uma visão de mundo bem rasa.”

Daniel Ganjaman – produtor musical, engenheiro, músico e DJ nas horas vagas

Daniel Ganjaman

Atualmente, o Manos e Minas é a única voz da cultura de rua na televisão brasileira. Vivemos um momento onde manifestações artísticas e culturais tem pouquíssimo espaço nos meios de comunicação de massa no Brasil. O Manos e Minas sempre foi um programa muito democrático, com espaço pra música, dança, arte, temas sociais e muitos outros assuntos que não são comuns na grade de outras emissoras. Além disso, havia o foco em temas ligados a periferia de forma criativa e produtiva, com ênfase nas manifestações culturais da comunidade – assuntos só abordados em outros programas com um certo ranso de ‘coitadinho’ ou de ‘caridade’.

Vejo que a situação é muito mais séria, já que está prevista uma demissão em massa e uma completa reformulação na grade da emissora. A existência da TV Cultura sempre foi um diferencial enorme dentro da programação da TV brasileira exatamente por se tratar de uma emissora estatal, sem um compromisso direto com os números de audiência. Isso possibilitava uma programação muito mais interessante e despretenciosa, o que é praticamente impossível numa emissora com interesses comerciais. Ao mesmo tempo, acredito que de certa forma esse é o caminho natural das coisas, já que hoje em dia é possível ter acesso a esse tipo de programação mais específica pela internet, onde o acesso vem ficando cada dia mais democrático. Sinceramente, acredito que a criação de portais de internet dedicados a essa cultura ou um upgrade nos portais existentes pode ser uma forma de cobrir parte desse buraco que ficará na ausência do programa Manos e Minas. Com certeza, uma perda irreparável”

Pedro Alexandre Sanches – jornalista cultural e autor dos livros “Tropicalismo – Decadência Bonita do Samba” e “Como Dois e Dois São Cinco”

Pedro Alex Sanches

São Paulo tem uma triste tradição no que diz respeito aos espaços reservados para manifestações culturais das populações menos favorecidas em geral. O hip-hop ocupa um lugar importante nisso que considero uma forma de discriminação, que a gente nota em episódios como a resistência da Virada Cultural em escalar rappers, ou esse agora com o programa “Manos e Minas”. Não é um problema só da TV Cultura, é muito mais generalizado, mas o triste, agora, é justamente a TV Cultura, talvez o único veículo de São Paulo que andava se preocupando, fechar o espaço que havia aberto. É um retrocesso, e, repito, esconde, sim, por trás uma carga forte de discriminação. Programas elitistas como o ‘Manhattan Connection’, do GNT, também dão audiências pequenas (e pouco lucro, imagino), mas não consta que pensem em tirá-los do ar por causa disso”

Leandro Roque de Oliveira aka Emicida – rapper e ex-apresentador de um dos quadros do Manos e Minas

Emicida

Desrespeitar o hip hop, infelizmente, já é uma característica de orgãos culturais, excluir o rap idem, mas o que me chocou nesse ‘cancelamento’ – coloco entre aspas pois até agora não fui notificado formalmente de minha demissão pela empresa que me ‘contratou’ e coloco entre aspas para ressaltar a importância deste contrato – foi o desrespeito a mim e a mais, aproximadamente, 20 pessoas que integram a equipe do Manos e Minas.

Fomos comunicados de nossa demissão (fora o resto das equipes dos outros programas também excluídos da grade), através de uma entrevista em um dos maiores jornais do país, cedida pelo novo presidente, João Sayad. Dizem que quando nos dirigimos a presidentes devemos expressar respeito utilizando termos como ‘excelentíssimo senhor’ e outras formalidades, mas de onde eu venho, não se deve mostrar respeito por quem não te respeita, e nesta atitude, no minimo bagunçada, da TV Cultura junto com essa nova diretoria, sobraram dúvidas, demissões, cortes e desrespeito pelas pessoas que dedicaram seus talentos à instituição.

Fala-se em construir uma nova TV cultura (excluindo programas culturais?), fala-se em reformular a grade, atrair o interesse da população (a mesma que era representada por um programa como o Manos e Minas), falou-se até em venda do terreno nestes últimos dias (que isso?). Eu não tenho palavras rebuscadas para enriquecer os textos como muitos, nem me considero tão inteligente assim, mas ontem fui a uma reunião em que ouvi ‘o programa é maravilhoso, o custo não é alto, dá uma resposta legal de audiência, mas está fora’.

Nunca vi aquilo como um emprego, assim como muitos da equipe como Truty, Zeca MCA, Max B.O., Erick Jay e outros que vivenciam o hip hop fora da sala de produção, víamos aquilo como uma oportunidade de levar a cultura, com a nossa cara, para nossos irmãos, aqueles que não se veêm representados nos artistas que vão no Faustão (com todo respeito a estes artistas), aqueles que já não têm acesso a saneamento básico, moradia, alimentação, educação decente e agora perdem seu programa companheiro dos sábados, onde podiam ter uma opção para fugir da programação nojenta da grade da tv aberta brasileira (salvo raras exceções).

Nos resta aguardar esta ‘nova TV Cultura’, que terá para sempre em sua história, este primeiro passo torto, como se tivesse sido empurrada por uma direção que se pautou pelo próprio umbigo. É ano de eleição, não faço campanha pra ninguem, acho que estamos ruim de opções, não acredito em coincidências nem gosto de ver caracteristicas comuns nos adversários (pois é assim que enxergo quem fecha portas para nós). Após ver estas características comuns o segundo passo é generalizar, coisa que também odeio fazer, e o terceiro passo é dizer: PSDB é foda”

Jair dos Santos aka Cortecertu – DJ, pesquisador e editor adjunto do site Central Hip-Hop

DJ Cortecertu

O Manos e Minas representa um dos braços do Hip-Hop na mídia, pois não é apenas um programa, o Manos e Minas é parte da retomada dos trabalhos que dão visibilidade ao Rap e à cultura de rua, numa articulação com outros estilos musicais como o samba-rock. Em dois anos de vida, o programa tratou com respeito nossa cultura.

Ao meu ver, o Manos e Minas poderia dar espaço para outros tipos de rap feitos por aqui, isso aumentaria a audiência e o poder de influência do programa. As manifestações em favor do programa pela internet mostram a diversidade em nosso cenário, artistas e curtidores de vários estilos divulgaram seu apoio, isso é um sinal, algo que precisa ser levado em conta para a resistência do Manos e Minas e para a criação de qualquer iniciativa semelhante”

Do outro lado do muro
Em comunicado oficial, a Fundação Padre Anchieta, responsável pela TV Cultura, explica os cortes:

tv-cultura

Em face às recentes notícias publicadas sobre a TV Cultura, informamos que:

Esta é a proposta de renovação que a Administração levará ao Conselho da Fundação Padre Anchieta: a revitalização dos programas admirados, a modernização dos processos administrativos, bem como dos equipamentos, e contando com os talentos que a emissora possui e com a contratação de novos apresentadores e jornalistas.

A TV Cultura é patrimônio querido dos paulistas e brasileiros, com um acervo de ótimos programas e vários artistas e jornalistas de sucesso que começaram aqui, mas que precisa se renovar. Perdeu audiência, qualidade e se tornou cara e ineficiente.

Mobilizações
Além da mobilização virtual para achar atenção ao caso levando a tag #salveomanoseminas ao Trending Topics brasileiro, acontecerão as demonstrações presenciais de insatisfação com a emissora. Veja qual o melhor dia e horário pra você fazer a sua parte e escolha sua manifestação.

Rinha de MC’s

Show do Emicida em Santos
Quando? Sexta-feira (6) às 23h
Onde? Club 49 (Rua Visconde do Rrio Branco n° 49 – Santos/SP)

Quer ler mais?
* No jornal O Estado de S. Paulo: “Sayad admite inchaço da TV Cultura, mas avaliará demissões caso a caso”

* No Conversa Afiada: “Tucanos fecham TV Cultura. Eles já têm a Globo”

* No Coletivo Action: “O fim do Manos e Minas?”

* No blog de Jéssica Balbino: “Salve Manos e Minas”

* No R7: “Fim do Manos e Minas causa protestos no Twitter”

* No blog Jornalismo B: “Comentários sobre uma emissora pública de televisão”

* Mídia Kit da TV Cultura: Saiba quem assistia a programação

* No Central Hip-Hop/Bocada Forte: “MobilizAção: militante quer acionar ministro pelo Manos e Minas”

Não confunda briga com luta. Briga tem hora pra acabar e luta é para uma vida inteira” Sérgio Vaz

O Per Raps agradece a ajuda de todo mundo que colocou no Twitter a tag #salveomanoseminas e ainda está colocando, além dos blogs e pessoas que ajudaram a fortalecer essa luta. Sem nomes porque quem fez sua parte, sabe. E quem não fez não merece nosso respeito.


Per Raps TV: Ogi e as crônicas da cidade cinza

Crônicas da selva de pedra

Ao contrário do que possa parecer, no Brasil o rap não é feito de glamour. É sinônimo de esforço, correria, noites em claro. Viver de rap também não é tarefa para muitos, é possível contar nos dedos quantos conseguem. Entre aqueles que tentaram e estão no caminho do sucesso está Ogi, MC do grupo paulistano Contra Fluxo, que está prestes a lançar seu primeiro trabalho solo, “Crônicas da Cidade Cinza”.

Entre portas que se abrem e oportunidades que são negadas, o rapper retrata em rima no melhor estilo “contador de histórias” tudo aquilo que vive, que pensa, que sente e o que acha de sua cidade, de seus parceiros, do rap, da vida. Lembranças das épocas de pixo e throw up, até a primeira vez que ouviu o “Sétimo volume da enciclopédia letra H”, Ogi narra o que vê e o que vive na cidade cinza.

Para conhecermos o processo criativo de seu novo CD, além de entender um pouco mais sobre a figura de Ogi, a Per Raps TV traz uma entrevista exclusiva com o MC. Confira!

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Sobre Ogi

Nascido em São Paulo, Rodrigo Hayashi, também conhecido como Ogi, conheceu o rap por volta de 1991 e três anos depois começava a fazer seu próprio som. Formou o grupo Contra Fluxo junto do DJ Big Edy e o MC DejaVú, que depois ainda incorporou Munhoz, Maskot e DJ Willian. O grupo lançou dois discos, “Missões e Planos”, em 2005 e “SuperAção”, em 2007.

Com influências do samba de raiz (há pouco Ogi começou a gravar um podcast muito bacana chamado Lira do Samba) e adepto à rima no formato storytelling , Ogi foi indicado ao prêmio de melhor artista rap pela MTV, após lançar o clipe “Premonição” e dois singles.

Ogi, que também é integrante da crew 360 graus (encabeçada pelo DJ Caíque), já é considerado um dos destaques da cena rap atual, mesmo antes de lançar um CD. Seu primeiro trabalho solo, “Crônicas da Cidade Cinza”, deverá ser lançado em setembro de 2010.

Confira a resenha de “SuperAção” (Contra Fluxo, 2007) por Daniel Cunha.

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Myspace
Lira do Samba


Podcast: Play na Sexta-feira

Play na Sexta-feira por Tg Martins

Já faz um tempo que as sextas-feiras no Twitter são recheadas de boas dicas de música. Para aqueles que gostam de recomendações, é sempre bom conferir o que um DJ disse que é legal aqui ou o que um MC comentou ali. Como a equipe do Per Raps também gosta de dar seus pitacos, não costumamos ficar de fora. Tanto que dessa vez deixamos as dicas no Twitter de lado e as trouxemos para o blog.

Convidamos o parceiro Thiago “Tchago” Martins, que é podcaster, para montar uma seleção que animasse um dos dias mais esperados da semana, a sexta! Esse podcast não tem o propósito de dar dicas de som, e sim trazer músicas legais para curtirmos enquanto trabalhamos.

O gênero escolhido foi o #RapBR, por motivos óbvios, e nele você vai curtir uma viagem que irá de Thaide e Dj Hum a Rapadura, de Xis a Lurdez da Luz, com espaço para Rappin Hood, Criolo Doido e muito mais.

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Tchago tem 22 anos, formado em Design de Mídia Digital, curte música brasileira, jamaicana e africana além de arte, design e suas vertentes. Começou a compilar músicas no formato de podcast para servir de trilha sonora para a volta do trabalho o a caminho de algum role na sexta-feira.

01. Thaide & DJ Hum – Senhor Tempo Bom
02. Flora Matos – Pretin
03. Arnaldo Tifu – Tô em Casa (Part. Enézimo)
04. Lurdez da Luz – Andei (Part. Stefanie)
05. Relatos da Invasão – Jaçanã Picadilha
06. Trilha Sonora do Gueto – Um Pião Di Vida Loka
07. Xis – Bem Pior
08. SNJ – Viajando Na Balada
09. RAPadaura – Amor Popular
10. Sabotage – Um Bom Lugar
11. Black Alien – From Hell do Céu
12. Racionais MCs – Voz Ativa
13. Criolo Doido – Casca De Ovo
14. Savave – O Homem Que Sampleava
15. Emicida – Vai Ser Rimando

Gostou? Então acesse o podcast “Play na Sexta” do Thiago Martins.


Emicida começa produção da nova mixtape

Emicida por Luciana Faria

Os novos caminhos de Emicida – por Stefanie Gaspar*

Achar o estúdio de Emicida não é tarefa tão fácil quanto parece. Localizado em um pequeno e estreito edifício na Zona Norte de São Paulo, é moleza passar despercebido pelo interfone que anunciou a nossa chegada. Emicida e o irmão, Evandro “Fióti”, abriram as portas com simpatia e nos mostraram o local que, nas próximas semanas, será o QG de uma intensa produção musical: em seu recém-montado estúdio, Emicida e seus manos vão começar a produção de sua segunda mixtape, um ano após o lançamento de Pra Quem Já Mordeu Cachorro Por Comida, Até Que Eu Cheguei Longe, que vendeu ao todo cerca de 10 mil cópias.

No dia de nossa visita, ninguém parava quieto no estúdio, arranjando as recém-compradas caixas, indo buscar novos cabos, baterias e extensões. Tudo sendo montado cuidadosamente – e, enquanto não está ajudando e coordenando, Emicida se tranca em um canto do estúdio para compor, sem parar, horas a fio. “Tem que ficar mexendo nas músicas, já que a maioria delas sobrou da mixtape anterior. E muita coisa eu fui compondo nos períodos entre os shows mesmo. Agora é hora de escrever sem parar, de rever tudo isso”, contou ele.

Entre uma explicação e outra, um telefonema e uma corrida para o quarto ao lado para checar os novos cabos, o estúdio do rapper explica por si só o esquema que ele comenta ser “incompreensível” para a mentalidade atual das gravadoras. Essa nova cena brasileira, composta por artistas independentes que cativam o público e alcançam sucesso de vendas sem o auxílio de uma major, seria uma mistura equilibrada de profissionalismo e esquema caseiro.

“O problema das grandes gravadoras é não compreender o processo de produção do rap brasileiro, dessa coisa espontânea, colaborativa, dos manos chegando e fazendo as coisas. E essa relação de brodagem também, que você não consegue da noite pro dia, precisa de convivência. Eles não querem chegar e me conhecer, saber como é a parada, meu esquema de trabalho. Eles querem assinar contratos e garantias, mas não respeitar esse ritmo”, comentou o rapper, que faz parte do front desse boom de artistas do rap que estão conquistando novos espaços e encontrando novas formas de viabilizar seus trabalhos, explorando o conceito das mixtapes e utilizando a web e a versatilidade da rua como veículo de disseminação da boa música.

Dj Nyack por Luciana Faria

“O filão das gravadoras está terminando. É muito bom fazer mixtape, é um formato que quase não existe no Brasil e é incrível, vende pra caralho e a gente não fica preso. Tenho um sério problema com esses bagulhos fabricadão, esses artistas que surgem DO NADA, uma parada matemática definida por um grupo de empresários. Daí eles decidem que os artistas deles precisam ser bem bonitinhos e se vestindo assim ou assado, cantando música de amor…”, ironizou Emicida.

Quando soubemos da movimentação por um novo trabalho do rapper – além de sua primeira mixtape, ele lançou o single Avua Besouro e o EP Sua Mina Ouve Meu Rap Também -, já pensamos em um primeiro álbum de estúdio, considerando que as sobras da primeira mixtape já teriam sido utilizadas no EP ou ficariam guardadas para outros trabalhos. Entretanto, Emicida afirmou que já começa a trabalhar em uma nova mixtape, a ser lançada em agosto deste ano. E que o material utilizado será formado por músicas que sobraram da primeira mixtape.

“Agora vou terminar as sobras com essa mixtape e me preparar para um lançamento grandão depois, um álbum mesmo. Não quero lançar um álbum por obrigação, só porque preciso, quero fazer um negócio bem acabado, com um propósito. Sinceramente, eu acho que hoje só Racionais, MV Bill, caras grandes lançam álbuns de verdade”, afirmou ele.

Emicida por Luciana Faria

Questionado sobre o motivo de usar as sobras para uma nova mixtape em vez de ter liberado o material anteriormente em um EP, por exemplo, o rapper respondeu que a mixtape deve ser assim mesmo – uma salada. “O que eu gosto é de fazer EPs temáticos. Que nem o que eu lancei agora, Sua Mina Ouve o Meu Rap Também. Todas as músicas falam da mesma coisa. Isso que é bacana nesse formato. Mixtape é saladona mesmo, outro lance”, respondeu, sem se alongar no assunto.

Curiosamente, embora Emicida seja um claro exemplo de um artista desta “nova escola” do rap, exposto a novas influências e vivendo em um cenário repleto de transformações não só na sonoridade e nas temáticas discutidas pelo gênero como nos espaços ocupados pela música, o rapper afirma ouvir muito pouco rap, a não ser alguns artistas nacionais. “Eu sou de outro rolê, sempre escutei outras músicas. Eu gosto de rap, mas eu só escuto os manos daqui. Vocês ficam aí falando do novo do Hezekiah, um cara foda, mas que faria muito mais sentido se tivesse vindo 10 anos atrás. Não fico fuçando atrás de coisa nova, não”, afirmou o rapper que, mesmo assim, ouve os figurões do rap mainstream gringo, como Eminem (“o Recovery é foda!”), Nas, Jay-Z e até mesmo Will.i.am (“o cara é mestre!”).

Questionado a respeito dos gostos do público de hip hop hoje e a preferência pelos clássicos do gênero, o rapper dispara: “Isso é uma coisa que os DJs de hip hop fizeram também e agora precisam assumir: você vai na festa e o cara não toca música nova. Daí o pessoal fica sem conhecer uma pá de artista e não quer show de gente nova. Daí toca o quê? Wu-Tang Clan, Mos Def, essas coisas, daí judeu não toca rap nacional e não toca música nova. Outro dia tocou Drake na balada e eu quase chorei”, comentou ele.

Evandro Fióti por Luciana Faria

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Emicida hoje passou dos pequenos shows em bares sem esquipamento acústico até chegar ao VMB e ao circuito mainstream, que tão poucos artistas conseguem penetrar, e agora segue lutando para sobreviver em meio a uma cena em constante mutação e que é seguida de perto por um público exigente e que não se contenta com pouco.

O discurso vago a respeito do trabalho já feito e do trabalho que vem por aí, proposital ou não, chega a dois resultados: aumenta o mistério a respeito do processo de produção de suas composições mas, ao mesmo tempo, coloca o rapper em uma posição delicada em relação a um mercado instável, difícil e definido por um misto de oportunidade, sorte e trabalho duro (e tudo isso sem o apoio de uma gravadora). Leandro Roque é tão fascinante porque é um retrato das contradições do cenário do rap nacional – com todos os seus defeitos e qualidades.

Selo independente

A gravação da segunda mixtape de Emicida coincide com a criação de um selo, no qual o rapper pretende reunir seus amigos e colegas DJs, beatmakers e MCs para criar um projeto sólido em um mercado em crise. A intenção é trazer todas as ideias de artistas como Casp, Renan Saman, Skeeter, Kamau, DJ Nyack, Base, DJ Will e Luiz Café não só para a mixtape como para outros projetos, além de posteriormente começar a trabalhar na busca de novos rappers que precisem de apoio no início de suas carreiras.

O selo ainda não tem nome nem foi oficialmente lançado.

Leia mais sobre as ideias do rapper na matéria Emicida: o lobo solitário.

* Stefanie Gaspar tem 22 anos, é jornalista, viciada em música e acha que o pancadão ainda vai mudar o mundo. Apaixonada por livros e colecionadora de vinil, aproveita todo o tempo possível para ouvir música e tentar conhecer tudo ao mesmo tempo.

**Fotos por Luciana “Playmo” Faria.


Per Raps TV: Rael da Rima fala sobre seu novo disco

O próximo passo de Rael – por Daniel Cunha

Se no meio do rap é praticamente impossível ser uma unanimidade, Rael da Rima é provavelmente o artista que chega mais perto de alcançar a façanha. O talento do MC e vocalista do Pentágono é incontestável e muitos dos que já conhecem seu potencial acreditam que Rael pode chegar muito mais longe.

Ele também não pensa muito diferente. Rael acaba de lançar seu primeiro disco solo, intitulado MP3, sigla designada por ele para definir a “Música Popular do 3º Mundo”, e com ele, tem a proposta de levar sua música para outros público que não apenas o de rap.

Para fazer jus à proposta de levar sua música a outras pessoas, Rael fechou contrato com a distribuidora Tratore. Portanto o disco, além de estar sendo vendido nas lojas do Centro que costumam trabalhar com o rap, também está disponível em grandes lojas online e em lojas digitais do Brasil e do exterior.

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Confira a entrevista exclusiva com Rael da Rima na Per Raps TV:

Sobre Rael da Rima

Com pai multi-instrumentista e mãe cantora, Israel Feliciano (aka Rael da Rima) começou a compor aos 16 anos. Junto do grupo Pentágono há uma década, sempre mostrou no canto e na rima sua forte influência de ritmos jamaicanos como o ragga e o dancehall. Além de seu grupo, trabalhou com nomes como Sombra, Kamau, Emicida e Slim Rimografia, entre outros.

Seu primeiro trabalho solo é autoral, feito apenas com banda e sem utilização de samples. O disco traz participações especiais dos músicos da banda canadense Inword e do coletivo multicultural Nomadic Massive na faixa “Fui”, assim como o MC haitiano Vox Sambou no remix de “Eles não tão nem aí”.

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5 raps entre amigos no dia da amizade

“Quem é que não tem um amigo?”. Não, não é Criança Esperança, e sim uma pequena celebração ao Dia da Amizade. No dia 20 de julho é comemorado em diversas partes do mundo o Dia do Amigo. Aqui no Brasil, essa data é celebrada dia 18 de abril, então pra não perder o rumo da prosa, ficamos com o Dia da Amizade, em julho.

Controvérsias a parte, o Per Raps aproveitou a desculpa e fez uma pequena lista com músicas que foram feitas por parceiros musicais no rap, mas que também são amigos na vida. Para não ficarmos presos a estilos (underground, pop, comercial, gangsta ou sej ao que for), tentamos focar nos sons que foram importantes para o rap de alguma forma, já deixando claro que essas escolhas darão brecha para discussão: “Vocês esqueceram essa! Mano, como esqueceram aquela? Pô, esse Per Raps só dá falha!”.

Mas a ideia é que cada um lembre de uma bela parceria e mande nos comentários, assim teremos no final uma enorme lista de grandes raps feitos por amigos. Bóra?

*Props Oga Mendonça, Zeca MCA e Fióti.

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Xis e Dentinho, “De Esquina”
http://raps.podomatic.com/enclosure/2010-07-19T15_20_03-07_00.mp3″

“Esquina paranoia delirante”, essa frase ecoou por festas e quebradas por muito tempo, além de ter reverberado até de forma acústica após um convite que Cássia Eller fez a Xis, em 2001. A música originalmente faz parte da coletânea “O Poder da Transformação” (Paraddoxx, 1997) e o single vendeu cerca de 8 mil cópias em apenas seis meses.

Em entrevista à revista +Soma, Xis contou como a música começou a estourar: “A gente colocou ‘De Esquina’ na 24 de Maio (rua que concentra galerias com lojas de discos no centro de SP), demos de mão em mão e a música começou a estourar cada vez mais.”

SP Funk com RZO e Sabotage, “Enxame”
http://raps.podomatic.com/enclosure/2010-07-19T15_32_38-07_00.mp3″

O clipe desse som era presença constante no finado Yo! Raps MTV, um dos sucessos da madrugada. “Enxame” apresenta bem o grupo que foi apadrinhado por nada menos que Thaíde & DJ Hum já em seu primeiro álbum, “O lado B do Hip-Hop” (2001), que apareceu com rimas inusitadas e analogias complexas para a época. Por si só já é um som de peso, mas contando ainda com a participação de Sabotage, Helião e Sandrão, criou um clássico instantâneo.

“A amizade vai fortalecer, você vai ver/ Nem que eu tenha que exercer, meu proceder” (Sabotage em “Enxame”).

Marcelo D2, Aori e Marechal, “L.A.P.A.”
http://raps.podomatic.com/enclosure/2010-07-19T15_25_32-07_00.mp3″

L.A.P.A. foi lançada no CD “Meu Samba é Assim” (2006), que veio logo depois do grande sucesso de “A Procura da Batida Perfeita”. Os três MC’s que aparecem nessa rima são parceiros de longa data; Aori e Marechal se conheceram por meio de Black Alien há cerca de 10 anos, Marcelo D2 conheceu Aori por seu trabalho e o convidou para sua primeira turnê como artista solo.

Já Marechal trabalhou com D2 no acústico feito para a MTV. O trio chegou a fazer outros sons, juntos e separados, entre elas “Sábado Zoeira” (Marcelo D2 , Aori & Marechal), “Loadeando” (Marcelo D2 e Marechal) e “Voo dos Dragões” (Marechal e Aori).

Mano Brown e Dom Pixote (U-Time), “Mente do Vilão”
http://raps.podomatic.com/enclosure/2010-07-20T07_33_24-07_00.mp3″

A dupla foi apresentada em meados de 2005 juntamente com o Sabotage e o RZO, durante um dos ensaios da Escola de Samba Vai-Vai. Foi nesse dia que Brown falou para Pixote que o Rap estava precisando de gente como ele, que ele deveria voltar a rimar. Eis que o MC voltou! Vez ou outra chamado por Brown de Fiote, Dom Pixote aprendeu a ouvir Racionais com o irmão mais velho, já falecido.

Hoje os dois MC’s são amigos e parceiros de rima, acumulam produções juntos e atuam no Big Ben Bang Johnson. O som “Mente do Vilão” foi lançado em 2009 e deverá fazer parte do novo trabalho dos Racionais MC’s, que deverá sair ainda em 2010.

Emicida, Rashid, Projota e Fióti, “Ainda Ontem”
http://raps.podomatic.com/enclosure/2010-07-20T11_41_00-07_00.mp3″

Emicida é irmão de Fióti e os dois conheceram Rashid e Projota por volta de 2005 lá na Galeria Olido, no saudoso Microfone Aberto apresentado por Kamau. A música “Ainda Ontem” foi ideia inicial do Rashid, que chegou com o refrão, mostrou para seus amigos e parceiros que ficaram vidrados na hora. Começaram a escutar um disco do Dom Salvador para ter mais ideias e deixar o som com uma cara bem brasileira. A energia desse projeto foi tão boa que Rashid convidou Emicida e Projota para cada um escrever 8 linhas e criar a faixa juntos.

O Fióti entrou na história quando acompanhava a produção da música e involuntariamente começou a tocar no ritmo do beat com seu cavaco e impressionou quem ouvia, depois disso não teve como deixá-lo de fora. “Ainda Ontem” faz parte da mixtape “Pra quem já Mordeu um Cachorro por Comida, até que eu Cheguei Longe”, de 2009. A música traz os mais jovens dessa lista e representa o futuro promissor do rap.

Homenagem: Black Alien & Speed Freaks

Quem é que nunca ouviu um som da dupla de MC’s mais conhecida de Niterói (RJ)? Apesar de Black Alien não lançar nada novo faz um tempo, essa lembrança serve de homenagem a memória de Speed, assassinado no início de 2010. A dupla trabalhava junta desde 1993 e tem diversas músicas no currículo. Destacamos aqui uma delas, “Krishna Budahh”, em um dos raríssimos videos dos dois encontrados na web. Speed Freaks, Rest in Peace!

Menção honrosa: “Dominum” (Non Ducor Duco, 2008)  de Kamau e Parteum + Rick; “Zulu/Zumbi“(Velha Guarda 22, 2007) do Mamelo Sound System e Nação Zumbi (Jorge Du Peixe), “Destruir” (Ordem de Despejo, 2008) do Subsolo, “Um Cara de Sorte” (CD quase inteiro) do Enézimo, “Amigos”, Slim Rimografia.

Comente e nos ajude a lembrar de grandes parcerias entre amigos no Rap!


Batalha do Conhecimento: sucesso de público em São Paulo

Conhecimento é muito mais do que flowpor Carol Patrocinio

Batalhas de MCs são os poucos lugares que você me veria gritando “ooooow”, levantando a mão e gritando por causa da rima de alguém. Não sei você, mas a capacidade de improvisação que algumas pessoas têm me deixa pasma e me faz voltar a ser criança, torcendo pelo time no jogo de futebol do recreio.

E dessa vez ninguém falou da mãe, fez piada sobre um MC gordinho ou achou que levaria o público a loucura fazendo graça sobre banalidades. A Batalha do Conhecimento veio a São Paulo para provar que freestyle é muito mais do que rima superficial.

Enquanto o berço do rap se leva demais a sério e se impede de rir, os cariocas chegaram fazendo piada sobre política, rindo – pra não chorar – da situação do país e mostrando que humor faz parte, sim, da cultura hip hop. E tudo isso sem deixar de lado o 5º elemento – que sem sempre é levado em conta -, o conhecimento.
Garotos de 15 anos rimam sobre assuntos que caras com muito tempo de estrada têm dificuldade de lidar enquanto dançam no melhor estilo Soulja boy e te fazem perder a linha do pensando na hora de seguir a rima. É a diferença de quem está acostumado a trabalhar o conhecimento. Mais do que uma competição para saber quem é o melhor ‘freestylero’, é um lugar para se refletir sobre assuntos que muitas vezes são silenciados para não arrumar confusão.

Desde cafetinagem até sexo x amor, passando por política, superfaturamente das obras da Copa de 2014, legume e profilaxia – que precisou até de uma consulta nos bastidores pra explicar o que realmente queria dizer a palavra – as rimas de alto nível levaram a plateia formada por gente de SP, Bahia, Curitiba e outros lugares do país, a loucura.

Ginga, flow, marra. Tudo o que qualquer um espera de um MC unido a ideias bem desenvolvidas. Quem gosta de desafios intelectuais – não do tipo cult babaca, mas aquele que faz sua mente trabalhar – teve um prato cheio na noite dessa quinta-feira.

Batalha do Conhecimento por Luciana Faria

MC Marechal prova com a Batalha que é preciso direcionar, mostrar caminhos, dar opções, discutir ideias e lapidar pensamentos. Nem sempre um cara quer rimar sobrepondo palavras com pouco sentido, quem tem o que dizer não precisa ser o mais veloz, o que fala mais alto; quem sabe o que precisa ser dito vai com calma, fala baixo e passa a mensagem.

Quem ganhou? Um paulista, da Batalha do Santa Cruz e do grupo Crewolina, Marcello Gugu. Bairrismo? Não, de forma alguma. São Paulo mostrou que sabe competir, que também tem levada, ginga e, acima de tudo, ideia boa na cabeça. Que mais momentos de união aconteçam e aí sim a voz do rap terá força, porque saberá exatamente sobre o que está falando.

O que é a Batalha do Conhecimento?

A Batalha é um evento em que MCs se enfrentam fazendo freestyle, que teve início no Rio de Janeiro por volta de 2003. Idealizado pelo MC Marechal, o público presente indica palavras para que sejam feitas as rimas de cada batalha e o esquema de seleção é mata-mata; perdeu, saiu.

Além da batalha, rolou no Sesc Pinheiros  a exibição de um filme – dessa vez foi o Profissão MC, de Alessandro Buzzo – e um show – Rashid apresentando seu CD de estreia. Pra conhecer os MCs que se enfrentaram no palco do Teatro Paulo Autran, leia a matéria do Central Hip Hop.

Veja a galeria de fotos feita por Luciana Faria.


Conheça a 1º Mostra Urbanidades

mostra urbanidades

Fazia tempo que São Paulo esperava que um evento viesse ocupar o lugar vazio deixado pelo extinto festival de cinema que rolava no CineSesc, a Mostra de Filmes Hip Hop de São Paulo. Quem conheceu sabe a importância do evento pra gente que curte cinema e a cena hip hop. Ali rolaram filmes que você não conseguia ver em mais nenhum lugar. E essa é a cara da 1ª Mostra Urbanidades.

Filmes que você ouviu falar, leu sobre, mas não sabia onde assistir, shows bacanas com gente que tá com a carreira fresquinha e gente que já tem estrada, além de oficinas pra você mergulhar de cabeça na cena hip hop.

Pra facilitar, aqui vão alguns destaques do evento, mas a programação completa você vê na imagem abaixo e pode acompanhar o que está rolando no blog da mostra.

Programação 1ª Mostra Urbanidades

Clique para ver a programação completa

Destaques

Eu, o vinil e o resto do mundo (Lila Rodrigues e Karina Ades/Brasil, 2008)
Sesc Santana, 27/07 às 20h e Galeria Olido, 28/07 às 17h e 31/07 às 19h30

Motoboys – Vida Loca (Caio Ortiz/Brasil, 2003)
Galeria Olido, 24/07 às 19h30 e 30/07 às 15h

Onde a coruja dorme, Bezerra da Silva (Márcia Derrak e Simplício Neto/Brasil, 2001)
Matilha Cultural, 29/07 às 19h

Pixo (João Wainer e Roberto T. Oliveira/Brasil, 2009)
Matilha Cultural, 23/07 às 19h e Galeria Olido, 24/07 às 17h e 28/07 às 19h30

Versificando (Pedro Caldas/Brasil, 2009)
Galeria Olido, 27/07 às 15h e 31/07 às 17h

Pra começar bem a semana, nessa terça-feira (13) rola no Sesc Santana a Oficina de MC com Kamau, Projota e Rashid, às 17h e depois a exibição do filme “Freestyle, um Estilo de Vida”, de Pedro Gomes, às 20h.

Tudo grátis e da melhor qualidade! Vai colar?

1ª Mostra Urbanidades
Quando? Até 31 de julho
Onde? Galeria Olido (Av São João, 473, Centro/SP), Matilha Cultural (R Rego Freitas, 542, Centro/SP) e Sesc Santana (Av Luiz Dumont Villares, 579, Santana/SP)
Quanto? Grátis, exceto na Galeria Olido, que custa R$ 0,50 e R$ 1


Coletivo Action apresenta o Boogie Funk

O pessoal do Coletivo Action volta a trazer uma pedrada informativa ao Per Raps, dessa vez contando um pouco sobre o Boogie Funk; estilo que é familiar, mas que teve seu brilho diminuído ao ser englobado na categoria “Funk”.

Agora, devidamente nomeado, vem encontrando espaço quase como a música dos anos 80, que virou febre em festas temáticas por essas bandas. Lembro aqui de uma frase que Herbert Viana (Paralamas do Sucesso)  sobre a tal “volta” da música dos anos 80 às pistas, era algo como ” na época tinha tanta produção, que muita coisa boa acabou não tendo a devida atenção”. Eis que agora temos a chance de apreciar o Boogie Funk.

Leia, ouça os sons, assista os videos e comente o texto do Coletivo Action.

Coletivo Action no Per Raps

“Searchin’ 4 Funk’s Future” – por coletivoAction

Quando falamos de música, a gente sempre cai em rótulos que na maioria das vezes ajudam mais a confundir do que esclarecer. o Boogie Funk é um caso especial. O nome é estranho, mas a sonoridade é bastante familiar aos nossos ouvidos. Aliás, o nome Boogie Funk é mistério até para os especialistas no gênero. Tanto que, nos anos 80, tudo isso era apenas conhecido como Funk. A única coisa que se tem certeza é que o surgimento da nomenclatura é recente, fato que ajudou DJs e aficionados por esta sonoridade.

No começo dos anos 80, a Disco Music já apresentava sinais de saturação e perdia espaço para outros gêneros. Produtores visionários, na tentativa de um “refresh musical”, buscaram influências no espacial P-Funk de George Clinton e livraram-se das amarras tradicionais de produção para criar uma nova sonoridade. Também substituíram o número de músicos de estúdio pelas tecnologias mais celebradas na época: sintetizadores e baterias eletrônicas. E as mudanças não paravam por aí. As letras ganhavam conteúdos mais explícitos e faziam contraponto a inocência e duplo sentido das décadas passadas. No entremeio do Rap e Electro, essa nova visão do funk não seria coadjuvante na efervescente década.

Com certeza você já se pegou ouvindo alguma track de Boogie Funk, curtiu, mas ficou com preguiça de correr atrás pelo emaranhado de produções daquela época. Caras como Carl Carlton com o clássico “She’s A bad mama jama”, Prince no começo de carreira e o saudoso Rick James foram grandes hitmakers do estilo e eram presença certa nas rádios da terrinha. Outros, não tão famosos como estes, mas com tracks inesquecíveis como Glenn Jones e a oitentíssima “I am Somebody”, fizeram várias pistas do mundo inteiro caírem na dança. Haviam também as bandas Aurra e o belo dueto em “Patience” e a avassaladora “Hold On” do grupo High Fashion, produzidos pela dupla italiana Malavasi-Petrus, uma espécie de Holland-Dozier-Holland da Disco Music.

O que mais atraia no som era a batida Disco mais lenta combinada com os sintetizadores, estes, substituindo os metais. Aliado a isso, o talento dos produtores era essencial, pois conseguiam deixar tudo isso com uma levada pop e acessível ao grande público. Tendo surgido na mesma época do Rap e do Electro, o Boogie Funk também influenciou e foi influenciado por estes gêneros. É só pegar “It’s Nasty” do Grandmaster Flash e ouvir uma certa influência de Boogie, só que com flow. Outro bom exemplo é a “House Party” do United Voice Players, cheia de malemolência. Eram, bizarramente, a trilha perfeita para se ouvir num motel com cama redonda e banheira dourada, a espera por momentos de intenso prazer com sua nêga. O que mais se podia pedir?

Além das rádios do Brasil, essa versão do Funk também fincou suas raízes nos bailes. As lendárias Soundsystems Chic Show de SP e Furacão 2000 do Rio tocavam diversos clássicos e chegaram até a lançar em coletâneas. Inclusive, no começo dos anos 90, não era difícil você encontrar discos da Furacão lotados de Boogie Funk em meio ao Miami Bass. O próprio Dj Marlboro possui uma respeitável coleção do estilo, tendo até trocado discos com o mito Afrika Bambaataa em sua primeira visita ao país. Uma pena que o DJ nunca tenha arriscado produzir alguma coisa nesta linha. Mesmo assim, para nosso deleite, temos verdadeiras gemas Boogie produzidas por aqui: “Dear Limmertz”, do grandissíssimo Azymuth e, pasmem, Serginho Mallandro – cantando sobre um travesti em “Mas que ideia” -, são dois bons exemplos. Coisas que só nosso país pode nos trazer. Sensacional.

Hoje em dia…

Atualmente, o maior destaque do gênero é Dam-Funk. De Los Angeles, ele é um dos principais nomes da label Stones Throw e baluarte do Boogie Funk. É só reparar nos sintetizadores e baterias antigos que usa e o resultado, batizado por ele de Modern Funk. Dam-Funk nos dá uma lição de como um gênero musical não pode ser deixado para trás por ser considerado antigo. Graças a ele, o ritmo vem ganhando destaque novamente entre o público. Dos mais velhos relembrando o passado aos mais novos descobrindo uma época em que a música negra inovou sem deixar de ser acessível a todo o público, como em sua raíz.

Pra fechar

O site L.A. Record tem podcast tão bom sobre o assunto que resolvemos disponibilizar pra você. São mais de 60 minutos de sons que vão te fazer entender o motivo do Boogie Funk merecer ser relembrado.

* ColetivoAction fala sobre música negra, artes e caranguejo, numa deliciosa caldeirada tipicamente caiçara.

Quer mais do coletivoAction?
Sample brasileiro pra rapper gringo rimar
Sample brasileiro pra rapper gringo rimar – Parte II


Os rap’s da Seleção Brasileira

“Rap e futebol estreitam os laços” – por Daniel Cunha

Quem aí não se lembra do hit “Sou Ronaldo”, que o rapper carioca Marcelo D2 emplacou durante a Copa do Mundo de 2006 homenageando o atacante da Seleção Brasileira? Ronaldo não conseguiu mudar o destino do Brasil naquela Copa, mas mesmo assim, a música virou febre e a trilha sonora oficial de matérias e reportagens envolvendo o craque na televisão. Ponto pra D2.

Quatro anos depois, na Copa da África, outros rappers mostram que aprenderam bem a lição e, inspirados no carioca, criaram músicas-temas para outros destaques da Seleção. Assim como em um bolão, as músicas são ‘palpites’, tiros ao alvo, mas com um pouquinho de sorte, podem dar aos seus autores exposição semelhante à de D2 na última Copa. E eles sabem bem disso…

O primeiro a surgir com um tema foi o rapper paulista Professor Pablo, no final do ano passado, com uma música dedicada ao artilheiro Luís Fabiano. Seguindo alguns passos da fórmula de Marcelo D2, Pablo usa em “Prazer! Luís Fabiano” um instrumental com elementos de samba e fala na letra sobre a história de vida do jogador. A iniciativa ganhou espaço na mídia, rendeu entrevistas a Pablo e foi abraçada pelo próprio jogador, que passou a divulgá-la também em seus canais pessoais de comunicação.

Professor Pablo – “Prazer! Luís Fabiano”
http://raps.podomatic.com/enclosure/2010-06-22T09_33_22-07_00.mp3″
Baixe a música

Há alguns dias, foi a vez de Kaká, craque do Real Madrid, ganhar sua homenagem. Para isso, ninguém melhor do que Pregador Luo, principal rapper gospel do país, com 20 anos de história dentro do Hip Hop. Recheada de sintetizadores e num clima bem futurista, a música aborda, além da história de vida do jogador, sua relação com a fé e devoção a Deus.

Pregador Luo – “Nasci para honrar”
http://raps.podomatic.com/enclosure/2010-06-22T09_45_43-07_00.mp3″
Baixe a música

Nesta semana, outro craque dos microfones chegou com um novo tema para um jogador da Seleção. E, novamente, o alvo foi o artilheiro Luís Fabiano, que já se destacou na última partida, contra Costa do Marfim, com dois gols na vitória brasileira por 3 a 1. “O dono da 9” é o nome do som, cortesia de Max B.O., que cantou em um instrumental de A.G.Soares utilizado primeiramente no álbum de estreia de Akira Presidente. O belo sample foi retirado da música War, do Hypnotic Brass Ensemble.

Max B.O. – “O dono da 9”
http://raps.podomatic.com/enclosure/2010-06-22T10_00_37-07_00.mp3″
Baixe a música

Ainda sobraram alguns que rendem temas bacanas, hein. Maicon, Robinho, Felipe Melo…E aí, quem se habilita?

PS: Só não me venham com tema do Dunga. Parece que com esse papo de “Cala Boca Galvão” se esqueceram das babaquices desse sujeito, que não sabe se o Apartheid foi bom ou ruim porque não estava lá pra dizer…



Kanye West volta ao rap

Kanye West/Reprodução Billboard

“Lançamento à vista” – por E. Ribas

Poucas pessoas receberam tantas críticas ultimamente como Kanye West. Primeiro por seu álbum 808’s & Heartbreak, que buscou uma linguagem diferente dos outros trabalhos de Yeezy, depois por sua postura cada vez mais arrogante, seu suposto distanciamento do rap e por ai foi. Após realizar uma turnê bem sucedida, a Glow In The Dark, e embarcar numa egotrip profunda, Kanye voltou a pensar em produzir rap no estilo de seus álbuns de sucesso: sem auto-tune ou qualquer outra parafernália do tipo.

Kanye já deu nome a seu novo filhote, Good Ass Job (melhor nem traduzir), que estaria sendo produzido no Havaí, e inclusive lançou um single, Power, contando com Dwele, aquele mesmo de Flashing Lights (Graduation/2008), no refrão. No som, Kanye fala sobre a brincadeira que o programa de humor Saturday Night Live fez com ele no fatídico episódio com Taylor Swift, e ainda teve tempo para falar da especulação sobre seu problema com álcool.

Outro som caiu na rede, Monster, em parceria com Rick Ross, que apontou junto de Power que Yeezy guardou muita história para contar em rima no novo álbum.

Nesta semana, o MC e produtor deu uma pequena mostra do que muitos dizem que ele faz melhor: criar beats. Kanye West aparece em um video ao lado de sua (ex?) namorada, Amber Rose, sampleando um som chamado “Popular“, do musical “Wicked“. O video contribui para a expectativa de um grande lançamento para 2010.

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Myspace
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O som da Copa da África é o Rap!

Pela primeira vez desde que foi introduzido na Copa do Mundo de futebol em 1990, o hino do torneio em 2010 é cantado por um rapper. O autor da proeza é o MC somaliano naturalizado canadense K’naan, novidade para a maioria do público, mas velho conhecido da galera do Rap, com a música “Wavin’ Flag”.

Do mais recente disco de K’naan, Troubadour, “Wavin’ Flag” ganhou uma versão remixada e foi utilizada na campanha da Coca-Cola para o Mundial antes de ser anunciada, no final do ano passado, como o hino oficial do torneio da FIFA deste ano. Na nova versão a letra foi modificada para melhor se adaptar ao tema, mantendo apenas o refrão; ainda foram incorporados tambores e outros sons tribais, que remetem à sede da Copa do Mundo deste ano, a África (mais precisamente a África do Sul), além do já famoso grito “Ôoôoô”, que ficou marcado nas propagandas da Coca-Cola.

A música “Wavin’ Flag”, em que K’naan mostra mais suas habilidades vocais do que suas técnicas para rimar, será usada durante a competição em comerciais de TV, além de ser executada em todos os eventos da FIFA durante o mês da competição.

K’naan se junta à lista de artistas como Toni Braxton, Ricky Martin, Anastacia e Il Divo, que tiveram hinos em eventos anteriores. O músico nasceu na capital da Somália, Mogadíscio, em 1978, mas se mudou para Nova Iorque em 1991 fugindo da guerra civil que assolava o país. Posteriormente, conseguiu asilo político no Canadá e se instalou na cidade de Toronto.

Assista ao clipe oficial, que mostra jovens jogando futebol pelo mundo todo, além de intervenções no mínimo esquisitas do próprio K’naan e de Damian Marley (?) com a bola nos pés. Querer que eles joguem como cantam também seria pedir demais…

Mais
Assista ao video em que K’naan conhece MV Bill
Leia a resenha de Troubadour no blog Boombap-Rap


Estilo: Conheça os Dandies Africanos

dandie africano/reprodução

“Elegância não ter a ver com dindim” – por C. Machado*

Uma moda nasce da história na República do Congo e a gente nem sabe. Nego invocado? Passa longe disso. Quem vê os Dandies Africanos, cheios de estilo, esbanjando elegância e trejeitos únicos não imagina a história imensa que tem por trás desse, mais que hábito, estilo de vida.

dandie africano/reprodução

No início do século 20, quando os franceses foram chegando na República do Congo, eles levaram consigo sua cultura e seu lifestyle além mar, sem saber o que iriam encontrar. Deram de cara com uma comunidade chamada Bakongo, e neles inspiraram todo um futuro de uma geração. Eis que, a partir de então, toda a cultura, inclusive a de se vestir, havia sido disseminada, e agora, elegância era uma palavra que pertencia a todos os universos.

No ano de 1922, um cara chamado Grenard André Marsoua, político e militar, foi o primeiro a voltar de terras francesas totalmente adaptado ao estilo de vida europeu, e revolucionou o imaginário de seus parceiros locais – tamanha admiração lhe rendeu o título de “grand Sapeur”, e o respeito de toda a comunidade, ditando as maneiras locais de se comportar e de se vestir, e instigando os locais a transparecerem elegância igual.

dandie africano/reprodução

Desde que tudo isso começou, um tanto de tempo já passou, e o processo foi reconhecido publicamente como cultural local. Existe uma sociedade, a “Societé des Ambianceurs et Persons Élégants”, e todos os membros são considerados “Sapeurs”. Apesar da pouca, e às vezes nenhuma, grana para manter o estilo de vida, os Dandies são capazes de confeccionar as próprias roupas, e outros de deixar lhes faltar qualquer coisa pelo estilo. Compram, alugam e fazem rolos com as roupas, é um verdadeiro artifício, uma forma de sobrevivência de uma riquíssima cultura local.

dandie africano/reprodução

Mais que a futilidade de vestir-se bem, a intenção é a de mudar um país. Transformar em cores e formas de um lugar pobre de tudo [grana, educação, orgulho] em algo melhor, mais bonito e mais agradável de se ver e viver. Os trajes dos Dandies chegam a custar mil euros, quando o salário base da República fica em mais ou menos cem euros. É uma verdadeira discrepância, muitos diriam, mas não há nem o que julgar. Toda manifestação cultural é linda e válida, custe o que custar.

dandie africano/reprodução

Entre 1970 e 1990, em alguns lugares como no antigo Zaire, os trajes advindos do colonialismo foram totalmente proibidos, mas sem contar com isso, os Dandies continuaram sua persistência, e hoje podem, com muito orgulho, dizer que sobreviveram a três guerras civis, e com toda a elegância, força e estilo, inclusive dignos de inveja.

dandie africano/reprodução

Com certeza você já viu por aí alguém que se inspira nos Dandies pra de vestir ou pra viver, e se não viu, agora pode conferir, e já sabendo mais, admirar o seu estilo e entender suas regras; a quantidade de cores por look é limitada a três, as texturas como xadrez só podem ser usadas em uma peça, o último botão do terno não se abotoa e os sapatos precisam sempre estar impecavelmente limpos, engraxados e brilhando – não importa aonde vão andar. Charutos são totalmente necessários, e de preferência sempre acesos, mas com educação e charme.

E qual a ligação disso com o rap? Você não acha que Rincon Sapiência se inspira, consciente ou não, nos Dandies?

*Clarice Machado é fotógrafa e apaixonada por cultura de rua e moda. Conheça mais do trabalho dela no Flickr.


Per Raps entrevista Amanda Diva

Recentemente, uma matéria da revista norte-americana XXL Magazine fez um levantamento sobre o que estava acontecendo com as mulheres no rap. Passado o primeiro boom com MC Lite, depois Foxy Brown, Queen Latifah, Lil’ Kim, Missy Elliott, além da mais promissora, mas que se tornou a mais reclusa, Lauryn Hill, nada de muito empolgante surgiu.

A mesma revista sugeriu como “esperança” a aposta de Lil’ Wayne e da Young Money, Nicki Minaj, que vem realizando diversas parcerias, seguindo os passos de seu “boss” e de seu parceiro, Drake. No entanto, aqui no Per Raps lançaremos o olhar sobre outra MC: Amanda Diva. Dona de aparições no programa de poesia (spoken word) preferido dos norte-americanos, o Def Jam Poetry, apresentado por um longo tempo por Mos Def, além de programas da MTV2 e, recentemente no aclamado álbum de Q-Tip, The Renaissance, no som “Manwomanboogie“, Diva vem aos poucos alcançando seu espaço na música.

O curioso é que nosso contato com a MC surgiu de forma rápida e direta, primeiramente via twitter, depois por email. Sua irmã e produtora, Janise Chaplin, proporcionou a ponte que nos permitiu receber as resposta de Diva. A entrevista, originalmente, faria parte do especial que o Per Raps fez em maio para o mês das mulheres. No entanto, por um problema e outro, a matéria especial acabou ficando para maio.

Contamos nessa entrevista com colaboração do ilustre Oga Mendonça aka Macário do Projeto Manada. Além dele, a Núbiha Modesto aka Mocha, do Rapevolusom participou junto com o Per Raps, trazendo perguntas que serão publicadas em um futuro breve.

Conhecendo a Divapor Eduardo Ribas

Dê o play e ouça Amanda Diva, “40 MC’s”
http://raps.podomatic.com/enclosure/2010-05-24T13_11_25-07_00.mp3″

Ao bater o olho pela primeira vez, você poderá confundir Amanda Diva com uma brasileira, no entanto é a sua descendência caribenha, mais especificamente de Granada, que acaba contribuindo com isso. Nascida Amanda Seales, a MC/atriz/apresentadora de rádio e personalidade da TV, protagonizou recentemente programas como o “VH1’s 100 Greatest One Hit Wonders of the 80s“, no qual comentava clipes dos anos 80. E é exatamente a admiração por esta década que faz o visual colorido de Diva se destacar.

A respeito disso, a MC faz um comparativo entre a golden era e os dias de hoje. “Eu acho que tinha mais espaço para a originalidade e havia também um forte senso de originalidade do que vinha dos artistas. Hoje parece que as imagens estão sendo mais criadas pelos marketeiros do que representam a expressão de um indivíduo de forma única. Por outro lado, antigamente o pessoal não tinha tanto acesso aos fãs e dependiam muito do rádio e das gravadoras, hoje, com a internet, o artista consegue estar mais próximo do público e vice-versa. Acho que a cultura precisa disso agora mais do que nunca”, aponta.

Seguindo o que parece ter se tornado um pré-requisito para se estar no jogo nos Estados Unidos, Diva estreou primeiro na TV, em uma série do canal Nickelodeon. No entanto, seguir os passos de nomes como Will Smith ou Common parecem não ser fatores que possam garantir uma boa recepção para seu trabalho na música. “É engraçado, as pessoas dificultam que você cruze qualquer fronteira se você já estiver estabelecido em um ‘lado’ específico. Para a maioria, eles me introduzem como a apresentadora da MTV2 ou como a atriz-mirim da Nickelodeon, então eles não estão verdadeiramente abertos para meu lado musical. Mas como tudo na vida, se você continuar insistindo e continuar produzindo com qualidade, as pessoas eventualmente vão deixar você ‘entrar’.”

No rap, a MC começou sua carreira em 2004 com a mix “It Bigger Than Hip Hop, Vol 1“. Depois disso, se dedicou ao rádio, aos palcos de teatro e lançou um livro de poesia, até que em 2007 veio “Life Experience“, o primeiro EP de uma trilogia. Já no ano seguinte foi lançado “Spandex, Rhymes and Soul”, que está disponível para download no site de Diva. Como o seu último trabalho foi recebido? “Eu fiquei muito satisfeita com a resposta. As pessoas continuaram baixando um ano após eu ter disponibilizado o trabalho e as reações tem sido super positivas. Eu me dediquei bastante ao SRS e eu queria que todos soubessem que eu não estava brincando de ser artista. Creio que tenha atingido esse objetivo”.

Foi também em 2008 que Diva participou do álbum de Q-Tip, The Renaissance, que estreou em décimo primeiro no Top 200 da Billboard e concorreu ao Grammy de melhor álbum rap (Eminem acabou levando). Na música, Diva aparece cantando no refrão, que inclusive ganhou um videoclipe. Mas será que Amanda Diva se considera uma MC que canta ou uma cantora que consegue rimar? “Era uma vez o tempo em que eu me considerava uma MC que cantava, mas hoje é mais o contrário”.

Apesar disso, as metáforas e tiradas de Diva em suas rimas são dignas de respeito. Em uma de suas letras mais interessantes, “40 MC’s”, a rapper faz piada com MC’s de uma nota só, que vivem tratando do mesmo assunto em suas músicas, vendendo falsas verdades etc. Pensando nisso, quais as características que um MC deve ter para ser respeitado, na opinião de Diva? “Originalidade, talento lírico e sinceridade”, curto e grosso.

Apesar do pessimismo dos críticos e especialistas, que apontam que as mulheres não tiveram representantes significativas na última década, Diva aposta que a mudança no papel desempenhado pela mulher no rap hoje em dia só deverá mudar se as mulheres apresentarem qualidade em seus trabalhos. “As mulheres hoje tem mais espaço que nunca. Tivemos tantas oportunidades e liberdade para alcançar e aspirar. Eu acho que o primordial é que continuemos a trabalhar e nos mantenhamos respeitáveis por nosso poder e graça do que “perder” as oportunidades que nos foram oferecidas. No rap, as mulheres estão hoje mais nos bastidores do que no front, mas suas vozes vão continuar sendo ouvidas. Assim como disse antes. Quando você mantém a consistência e continua mostrando qualidade, você eventualmente vai ganhar!”.

Formada pela Universidade de Columbia em estudos afro-americanos, Diva hoje se dedica às artes plásticas e é designer. Possui uma loja que vende desde bolsas até posteres. Sobre seu futuro, a pergunta que não quer calar: seu foco é assinar um contrato com uma major, assim como a maioria dos rappers? “Nah, esse não é um foco meu. Tenho sorte de ter um grande número de coisas rolando e por isso não dependo de um contrato significando que eu serei ouvida/vista. Indie é o caminho para mim!”.

Mais:
Myspace
Site Amanda Diva
Baixe Spandex, Rhymes and Soul


Virada Hip Hop no Espaço +Soma

Virada Hip Hop Espaço +Soma

Quando a vontade é mais fortepor Carol Patrocinio com entrevista de E. Ribas

Resolvemos focar nisso porque é um negócio que tem que ter, não tinha como fazer outra coisa se o rap estava praticamente fora da programação da Virada” – Tiago Moraes, um dos organizadores do Espaço +Soma

Quem não ficou indignado com a falta de respeito e oportunidade que o rap recebeu neste ano na programação da Virada Cultural da cidade de São Paulo? Ainda que alguns representantes da cena se apresentem em locais afastados ou como Djs – mesmo a organização chamando de outro nome que não rap ou Hip Hop -, faltava alguma atitude em relação a isso.

A gente reclamou aqui no blog, outras pessoas reclamaram em seus veículos e meios de comunicação, mas quem colocou a mão na massa pra mudar as coisas foi a equipe que cuida do Espaço +Soma. O Eduardo Ribas bateu um papo com o Tiago Moraes, que arregaçou as mangas e foi atrás de um jeitinho, junto com a galera da revista, para mostrar que o rap pode muito mais do que a prefeitura gostaria.

“A gente tava querendo fazer uma coisa mais oficial, mas quando a gente viu isso (o vídeo do organizador da Virada Cultural falando do rap) resolveu fazer do nosso jeito. O rap sempre tem espaço na revista +Soma, todo mundo curte por aqui, quando a gente viu o que tava acontecendo vimos que não fazia sentido não focar no rap. A gente viu que um monte de gente ia ficar órfã”, explica Tiago.

E realmente, os órfãos agradecem. Os caras fizeram uma lista, convocaram a galera que podia ajudar a organizar tudo com rapidez e ligaram pro Kamau, a Stefanie, o Rincón [Sapiência, entrevistado na última edição da revista] e o Akira, além do Edu (d’A Filial e curador musical do espaço) e o Akin, que são prata da casa.

“A gente nunca faz mais de um show, rolou no ‘Presença Feminina’, mas a gente tenta fazer só um show e sempre mais cedo. Chegamos a pensar em fazer alguma coisa com 24 horas, mas seria muita loucura. Depois pensamos em fazer algo estendido, com programação indo das 8h até às 3h. Apesar de ter rolado em cima da hora estamos divulgando bastante porque a gente quer que venha bastante gente e é gratuito, democrático”. A gente também espera que o espaço fique cheio de gente bacana provando que o rap é educado, civilizado, não precisa de revista policial e nem ser jogado para as margens da cidade.

Quem vai na Virada Hip Hop?
Shows de A Filial(RJ), Akira Presidente (RJ), Rincón Sapiência, Stefanie, Kamau, Akin e discotecagem do DJ Tamenpi (RJ)
Quando? Sábado, 15 de maio às 20h
Onde? Espaço +Soma (Rua Fidalga, 98, Vila Madalena – São Paulo)
Quanto? Grátis
O que mais? O espaço tem um café, que vende comes e bebes, além disso, quem quiser ir de carro pode ficar tranquilo que tem um estacionamento logo em frente que ficará aberto até às 5h.


Stevie Wonder comemora 60 anos

Dê o play em “Jungle Fever”, de Stevie Wonder
http://louise91.wrzuta.pl/aud/file/qIkX7WYGcR/stevie_wonder_-_jungle_fever.mp3″

“Ao mestre com carinho” – por Eduardo Ribas

O dia 13 de maio é especial para os apreciadores da boa música. Há 60 anos nascia o gênio Stevland Hardaway Morris a.k.a Stevie Wonder. O Per Raps não poderia deixar essa data especial passar batida sem uma homenagem.

Como falar de uma lenda viva? Com certeza o fato de celebrar seu aniversário sendo que o multi-instrumentista ainda faz performances é incrível, já que a maioria dos gênios e das lendas não chegam a uma idade mais avançada, o que é uma pena.

Falar da qualidade e da importância de Stevie Wonder fica simples, seja por números ou pela sua obra. Ele já vendeu mais de 100 milhões de álbuns e ganhou 22 Grammy Awards – o que corresponde ao maior vencedor na categoria artista masculino solo. Ganhou até um Oscar, pela trilha de “A Dama de Vermelho” (1984) e entrou no Rock and Roll Hall of Fame, em 1989.

Quem não consegue resgatar ali nas primeiras lembranças musicais sons como “I Just call to say I Love You” ou “You Are the Sunshine of My Life”? A essa altura você pode estar se perguntando: como um músico de 60 anos possui uma carreira tão abrangente e com um repertório tão vasto? Além do talento, Stevie Wonder começou cedo, atingindo as paradas de sucesso já aos 13 anos de idade.

Natural de Michigan, Stevie primeiro se destacou tocando sua harmonica (gaita), depois pelo modo que utilizava o teclado e também por sua voz. Fez parte da lendária golden era da Motown, em uma época em que eram lançados artistas como Jackson Five, Diana Ross e Marvin Gaye. Apesar do boom da soul music nos anos 70, década em que o músico teve seu período mais criativo, Stevie Wonder sempre esteve um degrau acima.

Mais tarde, compôs a conceituada trilha do famoso e polêmico filme de Spike Lee, “Jungle Fever” (1990). Trabalhou com inúmeros artistas, de Sting a Lenny Kravitz, passando por Júlio Iglesias e Babyface. Engajado, participou do projeto humanitário USA for Africa, marcando presença no famoso “We Are the World“, de 1985. Em 2010, participou de um concerto para as vítimas do terremoto em Porto Príncipe, no Haiti.

As músicas de Stevie Wonder, além de serem consideradas verdadeiras trilhas sonoras da vida de milhares de pessoas, foram muito sampleadas por diversos grupos de rap, como Slick Rick, Public Enemy, Beastie Boys, De La Soul, A Tribe Called Quest, Tupac Shakur, Coolio, 50 Cent e Jedi Mind Tricks. Recentemente, sua música serviu de inspiração para o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que inclusive usou o som “Signed, Sealed, Delivered I’m Yours” em sua campanha presidencial.

A música de Stevie Wonder inspira e emociona o mundo todo. Esse pequeno resumo mostra uma pequena parte da carreira do mestre da música, que precisaria de um livro inteiro para ter sua história contada. Aliás, foi lançado hoje (13) a bibliografia “Signed, Sealed and Delivered: The Soulful Journey of Stevie Wonder”, mas por enquanto apenas no exterior.

Por aqui aproveitamos a homenagem feita por Ed Motta e KL Jay no Canja, do portal iG. O vídeo mostra dois craques da música brasileira mostrando sua admiração e o lado fã, além de uma performance bem legal.

Parabéns, Stevie Wonder! Vida longa e próspera!


Per Raps TV: Rapadura e sua fita embolada

Leia ainda a matéria complementar no site Central Hip Hop

Agenda
Há poucos dias, Rapadura gravou sua participação no “Manos e Minas” (TV Cultura), programa que será exibido nas próximas semanas. E, nesta terça-feira (11/5), das 18h às 21h, ele fará um bate-papo com seus fãs na livraria Suburbano Convicto (rua 13 de Maio, 70 – 2º andar – Bixiga – São Paulo/SP – Fone: (11) 2569-9151). Na ocasião, ele vai vender e autografar exemplares do CD “Fita embolada do engenho”.

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Veja “Periferia tem talento”, do DVD ao vivo de GOG, com Rapadura rimando ao lado de Lindomar 3L
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Per Raps TV: Rashid fala sobre o EP Hora de Acordar

“As pessoas mais próximas de mim falam que eu sou meio velho, meio tradicional”. Esta é a autodescrição de Michel Dias Costa, o MC Rashid, que acaba de lançar o EP Hora de Acordar. Quem ouve o disco sem saber de quem se trata pode mesmo acreditar que ele seja meio velho, já que as ideias de Hora de Acordar dificilmente se encaixariam na vida de outros jovens de 22 anos. Seja em letras recheadas de conteúdo, como Pronto Pro Poder e Linhas Inimigas, ou em músicas que relatam suas experiências, como Por Quanto Tempo e Bilhete, Rashid prova por A mais B que não é um garoto comum.

Michel nasceu no Lauzane e começou a ouvir rap (principalmente gospel, influência da Igreja Evangélica) por volta dos 10 anos. Com 13 anos, ele se mudou com a mãe para Lavras, no interior de Minas Gerais. Passava as férias em São Paulo, e numa dessas conheceu Projota, com quem formou um grupo de rap ao lado de outros colegas. Vinha para São Paulo esporadicamente participar de shows e festivais até que, com 17 anos, depois de terminar os estudos, voltou sozinho para morar na cidade novamente, já com  a intenção de fazer rap.

Entre 2005 e 2006, mergulhou no universo do freestyle e das rimas de improviso, se tornando assíduo freqüentador das batalhas da Santa Cruz e da Galeria Olido. Pouco depois, resolveu trocar o nome de MC de Moska para Rashid, que, segundo ele, tem muito mais a ver com sua personalidade. “Eu estava procurando um nome que me desse mais respeito pra falar do que eu queria. Muita gente dizia que eu parecia com árabe, então eu procurei um nome que tinha a ver com isso e escolhi Rashid, que significa ‘de fé verdadeira’”, explica.

Rashid acredita que a sua hora de acordar foi no início de 2009, depois de ver o trabalho do amigo Emicida começar a decolar. “Foi nesse momento que eu vi que eu também podia e resolvi fazer o EP. Comecei a escrever as músicas desse trabalho nessa época”, conta. O tal EP é, até agora, um dos grandes destaques do ano. São nove faixas, com instrumentais de alguns dos melhores beatmakers do país: o trio de ferro de Curitiba, Nave, Dario e Laudz; Marechal, Luiz Café, A.G.Soares e o próprio Rashid.  Nos vocais, mais participações: Fióti, Luiz Guima, Projota e Rael da Rima.

O krump musical de Rashid – por Carol Patrocinio

Se você não está preparado para entrar num transe, nem dê play no primeiro EP do MC Rashid. Você deixa o som rolar, a música começa e quando nota não está mais no mesmo lugar, o mundo rodou e você sentiu: na pele, nas letras, em cada batida.

Já viu pessoas dançando krump? É como se elas deixassem que todos os nossos ancestrais falassem por meio daqueles movimentos ritimados. Com Rashid é a mesma coisa, ele está falando por todos nós, uma só voz, uma vontade, uma história.

Cada um passou por um caminho, mas o MC consegue unir histórias e sentimentos que já aconteceram na vida de cada um de nós pelo menos uma vez. Não é um crescimento cronológico, mas passa por ele. Rashid fala da adolescência, de como é encarar a vida de adulto e ganhar consciência de que a mudança está na nossa mão, nos nossos passos.

Cheio de referências, algumas claras como a influência do MC Marechal, outras mais discretas como as pegadas métricas de quem já está no rap faz mais tempo, Rashid mostra qualidade nas batidas, na produção, no flow e nunca deixa as letras ficarem em segundo plano.

Quem acredita que não dá pra ouvir música boa pra dançar com letras que te façam pensar vai tomar um susto ao ouvir o Hora de Acordar, que traz tudo isso, seja numa só música ou em cada uma das partes que compõem o trabalho. Rashid acordou e mostra que essa é a nova cara do rap. Você está preparado para acordar também?

Assista agora ao segundo vídeo da Per Raps TV, em que Rashid fala um pouco sobre o EP Hora de Acordar e também sobre a música Acendam as Luzes, que conta com a participação de Marechal.

PS: Agradecimento especial ao nosso amigo Luiz Pires pela filmagem.