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Lauryn Hill se redime em segunda passagem por SP

Nesta terça (07), os paulistanos assistiram a segunda passagem de Lauryn Hill pelo Brasil. Apesar de estar aparentemente mais motivada do que em seu primeiro show por aqui, em 2007, Ms. Hill foi alvo de críticas por parte mídia dita especializada em música e por parte dos fãs.

A principal reclamação foi em relação aos arranjos das músicas, que estavam bem diferentes das versões originais de hits como “X-Factor” e “To Zion”, entre outros. No entanto, a banda de Lauryn não se limitou a reproduzir os beats clássicos do álbum “The Miseducation of Lauryn Hill”, mas sim ultrapassar esses limites, permitindo que a própria cantora e MC tivesse a chance de improvisar e mostrar sua potência vocal.

Nós do Per Raps conferimos o show e aprovamos! Como as opiniões do público e crítica foram adversas e cada um possui seu argumento pró ou contra, ai vai nossa singela ideia sobre a passagem de Ms. Hill por São Paulo.

O sermão do monte, por Ms. Hill Eduardo Ribas

Volte a 1993. Agora imagine a figura de Whoopi Goldberg de batina, à frente de um coral de jovens revoltados com a vida (Mudança de Hábito 2). Se não tiver referências para ir tão longe, imagine a figura de um reverendo, daqueles que comandam os corais das igrejas com potentes corais negros que vivem aparecendo em filmes e videoclipes, sabe? Agora jogue isso tudo fora e substitua a figura do reverendo por Lauryn Hill.

A partir daí, o show vira um sermão e a banda acompanha a “pastora” Ms. Hill, junto de seu coral de três vozes no palco com um público que se revelaria próximo de 7 mil participantes. “Lost Ones” abre a pregação: “É engraçado como o dinheiro muda a situação, falta de comunicação leva a complicação”. Seguindo, “X-Factor”; “tudo poderia ter sido tão simples, mas você preferiu complicar”, entoa Ms. Hill.

Os espectadores do sermão celebram, mas em dúvida, já não compreendem se aquelas palavras ditas de maneira tão diferente eram as mesmas que estavam acostumados antes. Mas eram, só que alguns poucos entenderam.

Percebendo o rebanho disperso, a pastora recupera suas ovelhas relembrando seu passado de glória de sermões ainda mais acalorados, junto de seus companheiros de paróquia, digo, de Fugees. “Fe-gee-la”, “Ready or Not”, “Killing me Softly”. E se ouve um “aleluia” em alguma parte do salão. Desprestigiada se comparada às outras, “Killing me Softly” recebe um repeat, agora com o arranjo original de 1996, que mais pseudo-original que esse, só teria amostra em versão de 1973 por Roberta Flack. “Aleluia!”

Uma rápida passagem pelo sermão acústico, uma breve saída, um pedido de bis, gritos, urros, aplausos e de repente, uma quase onomatopeia após a volta: “Doo Wop” e pronto, “amém”. Alguns saíram sem entender nada, outros meio bravos porque o CD que compraram não era igual ao cânticos que ouviram naquela noite. Outros saíram felizes e alguns até em transe, graças ao contato com o divino em forma musical. A multidão se dissipa e Ms. Hill parte para sua próxima missão.

Per Raps Adverte: O texto faz analogia a um sermão religioso, mas não tem como função ou objetivo depreciar qualquer religião, seita, culto, grupo, filosofia ou pessoa. Àqueles que de alguma forma possam ter se sentido lesados pela utilização de algum termo ou pela analogia em si, reiteramos que a proposta segue de encontro a essa possibilidade.


*Video por Luciana “Playmobile” Faria.


Per Raps prestes a completar dois anos

“Mais um ano se passou…” – por Eduardo Ribas

Há mais ou menos um ano, eu escrevia o post sobre o primeiro aniversário do Per Raps. Como num piscar de olhos, cá estamos nós, no segundo ano. Per Raps II, a missão! Foi exatamente no dia 11 de setembro de 2008 que se iniciavam as atividades aqui.

Tudo começou de forma meio amadora na arte de blogar, mas sempre visando o profissionalismo no ato de reportar a cena rap paulistana. Não entramos nessa para fazer amigos, e sim mostrar o que acontecia na cena do jeito mais profissional possível. Alguns gostaram, outros não. Mas ainda assim, muitos apoiaram, fato que colaborou muito para a relevância atingida pelo trabalho do Per Raps.

Esse ano II serviu para conhecermos melhor a ferramenta “blog” – já que blogueira de verdade na equipe, só a Carol Patrocinio -, conhecemos mais o trabalho de pessoas que estavam próximas (em São Paulo e Rio de Janeiro), assim como conhecemos mais trabalhos de pessoas que estavam um pouco mais distantes.

Além disso, o leque de assuntos que tratamos aqui também expandiu; se antes o espaço era focado apenas em iniciativas que nos saltavam aos olhos, abrimos espaço para perfis que também mereciam sua divulgação e seu espaço. Outro ponto que gerou críticas, “pô, preferia o Per Raps como era antes”. Mas se o flow de um MC ou o estilo de fazer uma batida por um beatmaker podem mudar, por que nós não podemos?

De trabalhos interessantes, elaboramos a polêmica “Linha do Tempo do Rap Nacional”, que gerou muitos comentários de amor e ódio, a cobertura do último Indie Hip Hop, que trouxe o rapper e ator, Mos Def, além de textos reflexivos, dicas de documentários, posts especiais sobre as novidades sonoras de 2009 e nosso primeiro especial, que foi dedicado totalmente às mulheres.

Outros dois momentos importantes foram o final decretado do Indie Hip Hop, após 10 anos de uma bem sucedida caminhada, assim como a luta pela volta à grade da TV Cultura do programa Manos e Minas. Essa ação foi particularmente emocionante, já que partiu de uma situação complicada, que muitos descreditaram a possibilidade de mudança, e que se reverteu.

E essa virada só pode acontecer pela luta e engajamento online de cada pessoa, cada site, blog, twitteiro, pessoas soltando o verbo no facebook e, consequentemente, a materialização do protesto, que saiu da web e chegou às ruas. Isso apenas provou o quão importante é a internet hoje e como podemos fazer a diferença, se soubermos o que estamos fazendo e tendo conhecimento dessa potente ferramenta.

Tivemos a chance de realizar algumas entrevistas internacionais, entre elas com o duo Prefuse 73, com quem conversamos pessoalmente na CCJ, em um papo descontraído, que só terminou porque o show tinha que começar. E também Amanda Diva, rapper, atriz, radialista e pintora, que demorou de acontecer, exigiu uma troca intensa de e-mails, mas acabou acontecendo. Reportamos duas perdas, a da guerreira Dina Di, curiosamente no mês da mulher, e o saudoso “arquiteto” Guru, do Gangstarr.

No entanto, não só de passado vivemos. Ao contrário do que aconteceu em nosso primeiro ano de vida, quando as celebrações iniciaram dia 11 de setembro, data oficial de aniversário do Per Raps, dessa vez iniciamos no começo do mês! Traremos posts especiais com conteúdo de primeira, exclusivamente para você! Também vão rolar outras novidades, que serão informadas com o passar do tempo. Por enquanto, se liga no que está por vir… Novo Per Raps (clique e acompanhe!).


Duelo de MCs celebra aniversário em Belo Horizonte

“Celebrar é preciso!”por Eduardo Ribas

Quem acompanha o rap, ou qualquer outra cena (com viés) independente, sabe das dificuldades que se encontra pelo caminho. Casas que não abrem espaço para festas e shows, produtores que oferecem uma coxinha e três refrigerantes como pagamento, jornalistas que estigmatizam o gênero em seus textos, os materiais para DJs (pick-ups, mixers, serato etc) e MCs/Beatmakers (microfones, mpcs etc) são muito caros e por ai vai.

Resistir a esses obstáculos é tarefa para poucos, tanto que a cada dia assistimos festas chegando ao fim, grupos terminando e a cena enfraquecendo. Um desses exemplos de resistência está a 586 quilômetros de São Paulo, especificamente em Belo Horizonte, Minas Gerais. Há cerca de três anos, surgia o Duelo dos MC’s. Seguindo o exemplo e molde de eventos como a Batalha do Conhecimento (RJ) e o Microfone Aberto (SP), apenas para citar alguns, o Duelo traz semanalmente um encontro que junta representantes do elementos da cultura hip hop no mesmo palco.

Inspirado na Liga dos MCs, evento tradicional que acontece no Rio de Janeiro, que teve uma edição especial em BH, Osleo (lê-se osléo), da Família de Rua, e o Vuks (ex-Rima Sambada) compraram a ideia e iniciaram um evento similar, sem saber exatamente a proporção do que estavam fazendo. “Na primeira edição tinha umas 50 pessoas, na segunda, umas 150. Quando a gente foi ver, o evento tava dando média de 400 pessoas por noite, pessoal de imprensa procurando, geral querendo saber o que era aquilo”, relembra Luiz Gustavo aka Gurila Mangani, MC e beatmaker que observou de perto o início do projeto.

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A ideia central do evento é abrir espaço para todos os elementos do hip hop, e não apenas para as batalhas de MC. “O carro-chefe é a batalha (de freestyle), mas a preocupação é que seja um evento de hip hop, sempre tem roda de b-boy, de 15 em 15 dias tem grafiteiro pintando o viaduto”, conta PDR, o Pedro Valentim. Pedro é hoje um dos organizadores do evento, junto de Osleo, DJ Roger Dee e Monge (todos fazem parte da Família de Rua). Além de todos esses elementos, vez ou outra ainda há espaço para pocket-shows com artistas diversos. Já passaram por lá nomes como Shaw (RJ), Slim Rimografia (SP) e Simpson (MG) entre outros.

Sobre a batalha de freestyle, começou no formato simples: MC contra MC, sem muita imposição. Depois, se assemelhou aos moldes da Batalha do Conhecimento (RJ), com temas sugeridos. Hoje, o duelo é no esquema de “bate-volta”, um MC rima oito barras (tamanho de um verso regular de rap), o outro responde com outras oito e por ai vai. A cada sexta-feira, o estilo muda: duelo tradicional de freestyle, temático e batalha no “bate-volta”.

O palco para o Duelo dos MCs é o Viaduto Santa Tereza, localizado na região central de Belo Horizonte. O local é histórico, mas antes do evento era habitado por moradores de rua, a sujeira tomava conta e sinalizava o abandono da área. “Não tinha luz, era escurão, tipo um ‘guetão’, submundo da cidade”, conta Mangani. Três anos depois, a revigoração feita pelo Duelo trouxe de volta ao espaço a cultura. “Nós começamos a ocupar, o Duelo trouxe vida nova ao espaço”, completa PRD.

Local de fácil acesso, ao lado de uma estação de metro e de ônibus, o Duelo dos MC’s atrai público mais diverso possível, “desde cara do rap até patricinha”, segundo Gurila Mangani. As edições rolam todas as sextas, a partir das nove da noite, acabando por volta da meia-noite.

E falando nisso, nesta sexta-feira (27) rola a edição de aniversário do evento. Na programação, show com o MC B.Réu, presença de MCs convidados, roda de dança, intervenção de grafite e mais. Serão vendidos bottons comemorativos do Duelo dos MC’s, a três reais cada.

Alguns dirão que três anos não é o suficiente para ressaltar a importância de um evento, festa ou seja o que for. Outros vão enaltecer a iniciativa e imaginar: “queria poder colar nesse rolê hoje”. Mas nada disso importa. Como já disseram, “só quem é de lá sabe o que acontece”. Nada melhor do que ler as palavras de um dos frequentadores do Duelo dos MCs para entender o que você pode estar perdendo. “Você tem que vir aqui pra ver como é… é muito loca a vibe, você vai achar que tá no Bronx!”, finaliza Gurila Mangani.

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Manos e Minas: protesto ganha as ruas

Pelas palavras do presidente da TV Cultura, João Sayad, o Manos e Minas acabou, no entanto, a repercussão do ocorrido e as ações em prol do programa, seguem a pleno vapor. Em São Paulo, duas grandes mobilizações: uma audiência pública e um show no Studio SP.

A audiência partiu de uma conversa realizada em um protesto ocorrido no Sarau da Cooperifa, no último dia 11, e foi marcada no auditório Franco Montoro, na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, nesta terça-feira (24), às 19h. Estarão presentes diversos nomes ligados à cultura hip hop, que deverão questionar as mudanças que estão programadas para o canal Cultura. Serão recolhidas também assinaturas para o abaixo-assinado em favor do Manos e Minas.

Já na quinta-feira (26), Kamau, Emicida, Max BO e Funk Buia sobem ao palco do Studio SP junto do Instituto, na festa Seleta Coletiva, contra o fim do único programa dedicado exclusivamente à cultura de rua no Estado mais rico do Brasil. Além do protesto, a boa música marca presença, assim como um dia esteve presente no palco do teatro Franco Zampari, onde o programa era gravado. Para o organizador da festa, Daniel Ganjaman, o fato é uma “perda irreparável”.


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Outro grande nome da cultura hip hop que manifestou seu apoio à causa foi Mano Brown, que apontou o lado político da escolha pela retirada de Manos e Minas da programação da TV Cultura. Para o Brown, há condições de se conseguir um espaço ainda melhor, e que esse pode ser um ciclo que recomeça, agora mais articulado e experiente. “Tudo que é bom, recomeça”, aponta no video.

Ainda na semana passada (14), a Sintonia Crew, formada majoritariamente por jovens, realizou uma batalha de freestyle com o tema #salveomanoseminas, em Ipatinga (MG). O resultado da connversa sobre o tema e os improvisos foram registrados em vídeo.

Na grande mídia o destaque fica para a coluna de Maria Rita Kehl no jornal O Estado de S. Paulo deste sábado (21). A crítica, muito bem fundamentada, questiona o motivo de João Sayad ter aceitado o cargo de presidente da TV Cultura, “um empreendimento que ele não conhece, não parece interessado em conhecer e, acima de tudo, evidentemente não gosta”. Dentre outros questionamentos, o programa Manos e Minas é tido como exemplo.

Escolho, para terminar, o triste exemplo de um programa que já foi extinto pela atual direção: Manos e Minas. Um corajoso programa de auditório dedicado ao hip hop (…). Manos e Minas não precisa de argumentos de segurança pública para se justificar. Dar espaço ao rap na televisão é importante por si só. Mas a decisão de acabar com o programa nos faz refletir sobre o modo como a elite paulista concebe a inclusão simbólica da periferia na produção cultural da cidade: não concebe. Daí que a pobreza, aqui, seja um problema exclusivo de segurança pública. A extinção de Manos e Minas lembra, não pelo conteúdo, mas pelo princípio operante, as desastradas políticas de “limpeza” da cracolândia. Quem mais, senão uma TV pública, poderia investir na visibilidade dos artistas da periferia?

E assim como Maria Rita Kehl, perguntamos: Quem mais, senão uma TV pública, poderia investir na visibilidade dos artistas da periferia?

Leia também Manos e Minas: a luta continua
Leia também Manos e Minas deixa a grade da TV Cultura

Audiência Pública em prol do Manos e Minas
Quando? Terça-feira, 24
Onde? Avenida Pedro Álvares Cabral, 51 – São Paulo/SP
Auditório Franco Montoro, na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo [Clique para ver mapa] A sessão é aberta ao público
A partir das 19h.

Seleta Coletiva contra o fim do Manos e Minas
Quando? Quinta-feira, 26
Onde? Studio SP – Rua Augusta, 591 – São Paulo/SP
Quanto? $25 na porta/$15 na lista [www.studiosp.org]
A partir das 01h.


Segundo semestre recheado de shows internacionais

“Declarando falência por motivos culturais” – por E. Ribas

O segundo semestre de 2010 está repleto de apresentações internacionais no Brasil. Nomes como Erykah Badu, Lauryn Hill, Rage Against the Machine, Cypress Hill, Jamiroquai Anti-Pop Consortium estão entre aqueles que farão show por aqui. Variando do rap até o funk e o soul, esses nomes prometem causar boa impressão.

O grande problema dessa leva de shows é o valor, que na maioria dos casos é bem salgado. No entanto, vale a pena economizar um pouco na balada (ou seja no que for) para curtir ao menos um desses. O Per Raps aproveitou para destacar alguns desses shows e mostrar quais nós indicamos, mostrando o que de melhor você poderá encontrar em cada um deles.

Há boatos que Jay-Z também virá para o Festival SWU, mas ainda não houve confirmação oficial.

Anti-Pop Consortium

Anti-pop Consortium

Pela primeira vez no Brasil, o quarteto nova-iorquino Anti-Pop Consortium traz as novidades de seu último álbum, o elogiado “Fluorescent Black” (2009). Conhecidos por seu quê visionário, o grupo é considerado à frente de seu tempo e de tudo que o mundo conhece como hip hop. Formado em 1997 por Beans, High Priest, M. Sayyid e o produtor Earl Blaize, o Anti-Pop ficou parado por quase sete anos, mas mostra que ainda tem muito o que mostrar ao público.

Se sua ideia é fugir do convencional, então vale a pena ir ao show para conhecer uma forma diferente de se pensar o hip hop hoje em dia. Mas não se espante com as bases eletrônicas, os broken beats, o barulho e a interferência que você ouvirá, afinal esse é para muitos o grande trunfo do Anti-Pop Consortium. Completando a programação do SubRapCombo, M.Takara junto de R. Brandão (Mamelo Sound System) e Afasia (Carlos Issa e Akin).

Erykah Badu

Erykah BaduPara mais informações e novidades exclusivas, siga o Per Raps no Twitter!

Sua primeira apresentação por aqui já faz tempo, rolou no finado Free Jazz Festival há 13 anos. Quem foi diz ter sido um dos melhores shows vistos em terra brasilis. E não tenha duvidas disso! Erykah não é do tipo que produz hits fonográficos, apesar de vez ou outra aparecer nas paradas e ter seus videoclipes presentes na programação de canais dedicados à música (no Brasil, nem tanto).

Por incrível que pareça, o ponto forte dessa apresentação não deverá ser seus álbuns anteriores – Baduizm (1997), Mama’s Gun (2000), Worldwide Underground (2003), New Amerykah Part One (4th World War) (2008) -, e sim seu mais novo lançamento, New Amerykah Part Two (Return of the Ankh) (2010), um dos álbuns mais românticos e bem dosados (com beats mais orgânicos) da cantora, sendo também muito bem recebidos pela crítica.

Apenas o time da produção do disco já garantiria o sucesso, contando com pedradas do novato James Poyser, além do saudoso J-Dilla, Questlove (The Roots), Madlib e 9th Wonder. Sobre o que esperar do show? Tom intimista e soul hipnótico da melhor qualidade.

Lauryn Hill

Lauryn Hill

Conhecida por ser MC e cantora de um dos grupos mais celebrados do rap, o Fugees, Miss Hill sobe aos palcos brasileiros pela segunda vez. No entanto, desde a última vez não houve muita novidade da norte-americana, musicalmente falando. Depois de começar sua carreira solo com o bombástico The Miseducation Of Lauryn Hill (1998), a MC teve problemas com sua gravadora e viu sua produção musical decair.

Na primeira passagem de Lauryn por São Paulo (2007), o som, que parecia ter uma potência muito maior do que a casa comportava (Credicard Hall), deixou muitos fãs com um zumbido nos ouvidos por alguns dias (!). Isso comprometeu todo o show. Para piorar, Miss Hill não parecia estar no auge de sua empolgação.

Para esse novo show, Lauryn traz um único lançamento desde sua coletânea “Ms. Hill” (2002), a música “Repercussion”. Já é um sinal de retomada, mesmo o som sendo uma peça única. No mais, sempre vale a pena relembrar ótimas músicas como “Doo Wop“,“Everything Is Everything” e “Ex Factor“.

Rage Against The Machine

Rage Against The Machine por Tobin Voggesser

Se você tem ao menos 20 e poucos anos pode curtir um pouco da fúria das letras de Zach de La Rocha, juntas dos riffs distorcidamente impressionantes de Tom Morello em sua adolescência. Há quem curta rap e torça o nariz para Rage Against the Machine, no entanto o conteúdo das rimas de Zach desintegra muito discurso de rappers wannabe por ai. Sem contar com a musicalidade do grupo, que não se contenta com o destaque vocal e “guitarrístico”, mas traz o ótimo baixista Tim Commerford e baterista que maltrata as baquetas (positivamente falando, claro), Brad Wilk.

O RATM terminou no início dos anos 2000, após a saída de Zach de La Rocha, no entanto os integrantes remanescentes embarcaram junto do vocalista Chris Cornell (ex-Soundgarden) no projeto “Audioslave“. O grupo foi bem e rendeu boas músicas, mas para a felicidade dos fãs, Zach retornou em 2007 e vários shows foram marcados pelo mundo inteiro para celebrar a nostalgia.

Nada novo deverá ser apresentado, mas levando em conta que é a PRIMEIRA apresentação do grupo por essas bandas, vale a pena apertar o cinto e pagar R$ 190 (uooow!) para vê-los.

Anti-pop Consortium no SubRapCombo 2010
Quando?
28 de agosto (sábado), às 21h
Onde? Choperia do SESC Pompéia
Quanto? R$ 20,00 [inteira], R$ 10,00 [carteirinha, +60 anos, professores da rede pública de ensino e estudantes com comprovante] e R$ 5,00 [trabalhador no comércio e serviços matriculado no SESC e dependentes]
Classificação: Não recomendado para menores de 18 anos
O Anti-pop Consortium também se apresenta no SESC São Carlos (27/08) e no SESC Ribeirão Preto (25/08).

Erykah Badu em São Paulo
Quando? 29 de agosto, a partir das 20h
Onde? Credicard Hall – Av. das Nações Unidas, 17.955
Quanto? entre R$ 100 e R$ 400, com direito à meia-entrada
Informações: http://www.credicardhall.com.br / (11) 4003-6464

Lauryn Hill em São Paulo
Quando? 7 setembro de 2010, às 21h30
Onde? Credicard Hall (Av. das Nações Unidas, 17.955 – Santo Amaro)
Quanto? de R$ 100 a R$ 250. Podem ser adquiridos pela internet (www.ticketsforfun.com.br)
Informações: http://www.credicardhall.com.br e (11) 4003-6464
A cantora se apresenta em Florianópolis no dia 3 de setembro no Stage Music Park, no dia 6 no Citibank Hall no Rio de Janeiro e termina sua passagem pelo Brasil com um show em Brasília, na Prainha da ASBAC, dia 12.

Rage Against the Machine no SWU Music and Arts
Quando? 9 de outubro de 2010
Onde? Fazenda Maeda (Rodovia SP 75 Santos Dumont, Km 18 Sul, em frente a balança, sentido Itu/Sorocaba.)
Quanto? de R$95 a R$560 [Ponto de venda: Ginásio do Ibirapuera (Rua Manoel da Nóbrega, 1361, Paraíso, São Paulo) ou http://www.ingressorapido.com.br]
Informações: http://www.swu.com.br

O que achou dos shows? E dos preços? Vai em alguma apresentação? Comente!


Manos e Minas: a luta continua

Na semana passada, especificamente na quinta-feira (5), foi anunciada a saída do programa Manos e Minas da programação da TV Cultura. No entanto, uma grande movimentação partiu da internet às ruas pedindo a volta de um dos únicos programas dedicados ao hip-hop no quinto maior país do mundo em extensão territorial, com mais de 190 milhões de habitantes e composto por 26 estados e um distrito federal. Mas isso tudo você já sabe.

Além do protesto no microblog Twitter, que fez o termo #salveomanoseminas permanecer entre os tópicos mais citados na tarde da quinta, foram colhidas assinaturas de pessoas contrárias a ordem de João Sayad, atual presidente da TV Cultura, na festa de aniversário da Rinha dos MC’s.

Voltando à internet, vídeos começaram a “pipocar” com falas de pessoas representativas no rap e na cultura de forma geral, como KL Jay, Edy Rock, Gilberto Dimenstein, Pedro Alex Sanches, Ganjaman, Criolo Doido e Ale Youssef, que apresentaram sua insatisfação e argumentaram sobre a importância da manutenção do Manos e Minas na TV aberta.

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Outra figura importante que “comprou” a briga foi o senador Eduardo Suplicy, que recebeu uma carta enviada por representantes do hip-hop a ser encaminhada para João Sayad. Suplicy inclusive chegou a realizar a leitura da carta no Senado, alertando a movimentação preocupante de um canal que leva a cultura em seu nome.

Em texto publicado pela agência AdNews nesta quarta (11), João Sayad mostrou sinais de contradição: “A grande questão aqui é que eu não represento o meu gosto, eu represento o que o público quer”. No entanto, suas ações mostram o contrário. Sua resposta padrão para o fim do Manos e Minas é que o novo programa de música da TV Cultura também trará o rap como um do gêneros representados.

Ainda assim, as movimentações em prol do programa continuam acontecendo. Mande seu vídeo, sua manifestação de apoio ou o serviço da sua festa em prol da volta do programa Manos e Minas à TV Cultura nos comentários do post e a gente ajuda a divulgar.

* Na noite desta quarta-feira (11), o Sarau da Cooperifa teve uma edição especial de protesto ao fim do programa Manos e Minas, nas palavras do idealizador do evento, Sérgio Vaz, “o único [programa] que não mostra as pessoas da quebrada de cabeça baixa, algemadas ou pedindo alguma coisa para apresentador de TV”.

* Em Minas Gerais, mais especificamente na cidade de Ipatinga, a Sintonia Crew realizará uma batalha de freestyle com o tema #salveomanoseminas, no Shopping do Vale, neste sábado (14), às 20h.

*Assine o abaixo assinado do site Rap Nacional em prol do Manos e Minas.

Sobre o Manos e Minas

Manos e Minas surgiu de um desdobramento do quadro “Mano a Mano”, parte do programa Metrópolis da mesma TV Cultura, e era apresentado por Rappin Hood. O formato inicial do programa contava com auditório, DJ Primo nas pick-ups, b-boys e b-girls dançando e grafiteiros convidados para pintar painéis durante a gravação.

O programa teve início em 7 de fevereiro de 2007 e contou com o sambista Jorge Aragão como primeiro convidado. Após a saída de Rappin Hood, assumiram a apresentação Thaíde, e logo depois, o MC Max BO. Manos e Minas trazia a cada edição uma banda/grupo apresentando seu trabalho, além de reportagens e quadros com nomes como Alessandro Buzo, o escritor Ferréz e mais tarde, o rapper Emicida.

Gravado no teatro Franco Zampari, ao lado do metrô Tiradentes, todas as segundas-feiras a partir das 16h, Manos e Minas era televisionado todo sábado às 19h30 na TV Cultura, com reapresentação aos sábados à 1h.

Leia também o post Manos e Minas deixa a grade da TV Cultura
Quer saber o que as pessoas acham sobre o fim do programa? Dê uma olhadinha no mural do Manos e Minas no site da TV Cultura!


Perfil: Murs

“Um pela música, dois pela satisfação” – por E. Ribas

Dê o play em Live from Roscoe’s, Murs feat Kurupt (prod 9th Wonder)
http://raps.podomatic.com/enclosure/2010-07-29T15_29_45-07_00.mp3″

Eu adoraria que minha música fosse inspiração para alguém que fizesse coisas maiores do que eu me imaginaria fazendo”Murs

O que você pensa quando lembra de um rapper norte-americano? Calças largas, diamantes nas orelhas e nos dentes, grandes correntes e muita marra. Então esqueça isso tudo agora, pois a figura do rimador que terá seu perfil esmiuçado aqui é bem diferente.

Pra início de conversa, seu nome real é o mesmo que do líder da boyband Backstreet Boys (Nick Carter), seu corte de cabelo é pra lá de excêntrico e o faz parecer mais com um cantor de reggae pelos seus dreadlocks gigantes e pra fechar, suas letras não se limitam ao discurso misogenia-fama-armas-cafetinagem-eu-sou-o-mais-foda. Esse é Murs (lê-se Mûrs).

No rap há 16 anos, o MC descreve sua imagem como tudo aquilo que você não esperaria de um jovem negro norte-americano: é vegan (não come nada que tenha proteína animal ou usa roupas, cosméticos e remédios testados em bichos), sempre teve um hairstyle fora do padrão, um espírito empreendedor desde criança e com uma carreira musical independente de sucesso, que poderia causar inveja a muitos artistas.

Desde pequeno, Murs já mostrava que teria condições para administrar sua própria carreira. Exemplo disso é que enquanto as outras crianças brincavam, ele juntava latinhas de alumínio ou ajudava senhoras a carregarem suas compras em troca de moedas. Mas de onde veio isso? Segundo Murs, o empreendedorismo veio de família.

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Originário de Los Angeles, o rapper já teve um grande contrato com a major Warner Bros e lançou o álbum “Murs for President” (2007). Foi criticado na época, chamado de traidor e de vendido mas, segundo ele, era sua chance de falar para uma audiência maior. Quando perguntou à Warner se poderia dizer o que quisesse em seu álbum e recebeu uma resposta positiva, não pensou duas vezes em assinar.

Como nem tudo na vida é perfeito, e muitas vezes não passa nem perto disso, a relação entre artista e gravadora se desgastou rapidamente, pois a empresa não deu a atenção que seu trabalho merecia. Resultado: após um ano e meio, Murs voltou ao seu trabalho independente.

Como um de seus parceiros mais produtivos e fiéis, Nick Carter tem nada menos que Patrick Douthit aka 9th Wonder. Juntos, os dois produziram Murs 3:16: The 9th Edition (2004), o segundo álbum do rapper, além de Murray’s Revenge (2006), Sweet Lord (2008) e o mais recente, Fornever (2010).

Murs não vende tanto quanto Jay-Z, muito menos como Eminem, mas tem bons números para quem segue pelo caminho independente. O segredo disso? Segundo ele, é a relação direta com o fã, que apenas o artista independente possui condições de ter.

O rapper costuma ler a maioria dos e-mails que recebe de seus admiradores, faz questão de cumprimentar quem pode após os shows e vende seu “produto” diretamente ao consumidor. Para Murs, a opção de ser independente não significa ter mais dinheiro, e sim poder fazer o que ele quer, quando quer.

Não estou tentando ser um bilionário. Se tiver 3 mil pessoa que vão comprar minha música, tá bom pra mim” – Murs em entrevista à XXL Mag – ed. Jul/Ago 2010

**Com informações da XXL Mag e Okayplayer.com


5 raps entre amigos no dia da amizade

“Quem é que não tem um amigo?”. Não, não é Criança Esperança, e sim uma pequena celebração ao Dia da Amizade. No dia 20 de julho é comemorado em diversas partes do mundo o Dia do Amigo. Aqui no Brasil, essa data é celebrada dia 18 de abril, então pra não perder o rumo da prosa, ficamos com o Dia da Amizade, em julho.

Controvérsias a parte, o Per Raps aproveitou a desculpa e fez uma pequena lista com músicas que foram feitas por parceiros musicais no rap, mas que também são amigos na vida. Para não ficarmos presos a estilos (underground, pop, comercial, gangsta ou sej ao que for), tentamos focar nos sons que foram importantes para o rap de alguma forma, já deixando claro que essas escolhas darão brecha para discussão: “Vocês esqueceram essa! Mano, como esqueceram aquela? Pô, esse Per Raps só dá falha!”.

Mas a ideia é que cada um lembre de uma bela parceria e mande nos comentários, assim teremos no final uma enorme lista de grandes raps feitos por amigos. Bóra?

*Props Oga Mendonça, Zeca MCA e Fióti.

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Xis e Dentinho, “De Esquina”
http://raps.podomatic.com/enclosure/2010-07-19T15_20_03-07_00.mp3″

“Esquina paranoia delirante”, essa frase ecoou por festas e quebradas por muito tempo, além de ter reverberado até de forma acústica após um convite que Cássia Eller fez a Xis, em 2001. A música originalmente faz parte da coletânea “O Poder da Transformação” (Paraddoxx, 1997) e o single vendeu cerca de 8 mil cópias em apenas seis meses.

Em entrevista à revista +Soma, Xis contou como a música começou a estourar: “A gente colocou ‘De Esquina’ na 24 de Maio (rua que concentra galerias com lojas de discos no centro de SP), demos de mão em mão e a música começou a estourar cada vez mais.”

SP Funk com RZO e Sabotage, “Enxame”
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O clipe desse som era presença constante no finado Yo! Raps MTV, um dos sucessos da madrugada. “Enxame” apresenta bem o grupo que foi apadrinhado por nada menos que Thaíde & DJ Hum já em seu primeiro álbum, “O lado B do Hip-Hop” (2001), que apareceu com rimas inusitadas e analogias complexas para a época. Por si só já é um som de peso, mas contando ainda com a participação de Sabotage, Helião e Sandrão, criou um clássico instantâneo.

“A amizade vai fortalecer, você vai ver/ Nem que eu tenha que exercer, meu proceder” (Sabotage em “Enxame”).

Marcelo D2, Aori e Marechal, “L.A.P.A.”
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L.A.P.A. foi lançada no CD “Meu Samba é Assim” (2006), que veio logo depois do grande sucesso de “A Procura da Batida Perfeita”. Os três MC’s que aparecem nessa rima são parceiros de longa data; Aori e Marechal se conheceram por meio de Black Alien há cerca de 10 anos, Marcelo D2 conheceu Aori por seu trabalho e o convidou para sua primeira turnê como artista solo.

Já Marechal trabalhou com D2 no acústico feito para a MTV. O trio chegou a fazer outros sons, juntos e separados, entre elas “Sábado Zoeira” (Marcelo D2 , Aori & Marechal), “Loadeando” (Marcelo D2 e Marechal) e “Voo dos Dragões” (Marechal e Aori).

Mano Brown e Dom Pixote (U-Time), “Mente do Vilão”
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A dupla foi apresentada em meados de 2005 juntamente com o Sabotage e o RZO, durante um dos ensaios da Escola de Samba Vai-Vai. Foi nesse dia que Brown falou para Pixote que o Rap estava precisando de gente como ele, que ele deveria voltar a rimar. Eis que o MC voltou! Vez ou outra chamado por Brown de Fiote, Dom Pixote aprendeu a ouvir Racionais com o irmão mais velho, já falecido.

Hoje os dois MC’s são amigos e parceiros de rima, acumulam produções juntos e atuam no Big Ben Bang Johnson. O som “Mente do Vilão” foi lançado em 2009 e deverá fazer parte do novo trabalho dos Racionais MC’s, que deverá sair ainda em 2010.

Emicida, Rashid, Projota e Fióti, “Ainda Ontem”
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Emicida é irmão de Fióti e os dois conheceram Rashid e Projota por volta de 2005 lá na Galeria Olido, no saudoso Microfone Aberto apresentado por Kamau. A música “Ainda Ontem” foi ideia inicial do Rashid, que chegou com o refrão, mostrou para seus amigos e parceiros que ficaram vidrados na hora. Começaram a escutar um disco do Dom Salvador para ter mais ideias e deixar o som com uma cara bem brasileira. A energia desse projeto foi tão boa que Rashid convidou Emicida e Projota para cada um escrever 8 linhas e criar a faixa juntos.

O Fióti entrou na história quando acompanhava a produção da música e involuntariamente começou a tocar no ritmo do beat com seu cavaco e impressionou quem ouvia, depois disso não teve como deixá-lo de fora. “Ainda Ontem” faz parte da mixtape “Pra quem já Mordeu um Cachorro por Comida, até que eu Cheguei Longe”, de 2009. A música traz os mais jovens dessa lista e representa o futuro promissor do rap.

Homenagem: Black Alien & Speed Freaks

Quem é que nunca ouviu um som da dupla de MC’s mais conhecida de Niterói (RJ)? Apesar de Black Alien não lançar nada novo faz um tempo, essa lembrança serve de homenagem a memória de Speed, assassinado no início de 2010. A dupla trabalhava junta desde 1993 e tem diversas músicas no currículo. Destacamos aqui uma delas, “Krishna Budahh”, em um dos raríssimos videos dos dois encontrados na web. Speed Freaks, Rest in Peace!

Menção honrosa: “Dominum” (Non Ducor Duco, 2008)  de Kamau e Parteum + Rick; “Zulu/Zumbi“(Velha Guarda 22, 2007) do Mamelo Sound System e Nação Zumbi (Jorge Du Peixe), “Destruir” (Ordem de Despejo, 2008) do Subsolo, “Um Cara de Sorte” (CD quase inteiro) do Enézimo, “Amigos”, Slim Rimografia.

Comente e nos ajude a lembrar de grandes parcerias entre amigos no Rap!


Crianças fazem cover do Racionais MC’s

Um dia desses vi no twitter uma mensagem da assesora d’A Família, Nina Fideles, dizendo que o rap tinha que rir mais. Junto dessa mensagem veio um link de uma espécie de paródia do som mais conhecido do grupo, “Castelo de Madeira”.

Concordei com o que Nina disse e achei que talvez uma simples homenagem poderia realmente se tornar algo engraçado, por que não? Se liga nessa pérola do youtube, que traz uma molecada cantando Racionais MC’s com direito a “afoga essa vaca dentro da piscina” e tudo!

Recomendação: tente assistir o video sem preconceito de achar que ele é um desrespeito, um absurdo, blasfêmia e blábláblá. Cover é homenagem e homenagem é algo positivo, certo? Simplesmente assista!

*Props Luiz Pattoli, que lançou o video no twitter e postou no blog dele, o Churrasco Grego, pra @ligelena, que deu a dica e pro Motilla, responsável por um dos personagens mais engraçados do rap, o ABARRÉTA™ (imagem do post).


Chega ao fim o Festival Indie Hip Hop

Indie Hip Hop is dead! por Eduardo Ribas

O festival Indie Hip Hop durou 10 anos. Dias atrás chegou a notícia de que o evento teria chegado ao fim. Não sei se faltou repercussão pela notícia ter vindo de um veículo que pouco fala da arte resultada da junção do MC e DJ, mas o  fato é que o Indie Hip Hop acabou e isso não irá mudar.

Ano passado, o Indie completou seus 10 anos. Trouxe o celebrado Mos Def para tocar, contou com uma bela exposição de fotos, com um livro contando a trajetória do evento e com a aguardada presença dos grupos e MC’s brasileiros que, ao menos uma vez ao ano, tinham um palco decente e com todas as condições para uma apresentação de alto nível. Mas isso agora acabou.

Felizes aqueles que puderam se apresentar uma ou mais vezes. Felizes foram aqueles que ao menos uma vez na vida puderam tocar para duas, três mil pessoas que curtem rap. O calendário brasileiro, ou melhor, o calendário do eixo Rio-São Paulo estendido a Curitiba, se moldava muitas vezes em função do festival, sendo que por muitas vezes o melhor do ano vinha apenas no segundo semestre baseado nisso. E não me digam que esse “fenômeno” não era proposital. A partir de agora, estão todos liberados a lançarem na data que acharem melhor, pois o Indie Hip Hop acabou.

Iniciado em 2002, mas com um embrião de nome Dulôco, o Indie já levou ao palco atrações como De La Soul e o nacional e finado Academia Brasileira de Rimas, abrindo espaço para novos talentos do Brasil e para renomados do estilo vindos da terra natal do rap, os Estados Unidos. E tudo isso a preço de banana, como dizem; quando não era de graça, eram cobrados míseros reais, que jamais pagariam por uma estrutura daquelas ou atrações de peso em seu line-up. Agora já era.

O Indie Hip Hop também representou a chance de um futuro melhor aos grupos e MC’s que se apresentavam, já que eles tinham a condição de receber um valor justo por sua apresentação, justo e até fora da realidade, se comparado com as pequenas e resistentes casas que abrem espaço para o rap Brasil afora. Por trás do evento estava um homem, Rodrigo Brandão, que não trabalhava sozinho, estava ali alinhado com o Seu Chico e tantos outros que o ajudavam nos bastidores. Ainda assim era muito criticado, diziam que no palco do Indie Hip Hop só pisavam os amigos de Brandão, mas quem acompanhava sua curadoria tinha conhecimento que a verdade não era essa.

Conheça a história do Indie Hip Hop no Sesc Santo André
Conheça a
história do Indie Hip Hop no Sesc Santo André – parte II

Na entrevista que deu, Rodrigo Brandão comentou os argumentos do Sesc, que apontou o quebra-quebra nos banheiros no ano passado, sem contar com as pixações ocorridas em torno do local do evento. O quebra-quebra confesso que não vi, mas todo ano ouvia reclamações dos moradores sobre as pixações, inclusive de uma creche que fica colada ao Sesc, e que dá suporte aos filhos dos moradores da comunidade que fica ali próxima, nem essa teve perdão. Quem paga o pato? Não importa, ano que vem os responsáveis pelas pixações e o quebra-quebra não estarão mais lá. Sabe por quê? Não haverá a edição 2010 do Indie Hip Hop.

Mas tem mais. Se por um acaso fosse ocorrer uma nova edição, quem seria a atração musical da gringa: Q-Tip? Duvido que atrairia tanto público, a não ser que trouxesse os outros integrantes do A Tribe. Quem mais, Anti-Pop Consortium? Também duvido que renderiam três mil pessoas sábado e mais três no domingo. KRS-One? Disseram que ele não viaja de avião. The Roots? Esses ai cobram caro demais para o padrão do evento. E os novos nomes do rap norte-americano, por que não eles? Porque por essas bandas o gosto e a apreciação por novos nomes não acontece (e se acontecem, ocorrem numa proporção mínima), quase como se todos estivessem ainda presos à golden era e dali nunca pudessem sair, como aquele povo da Caverna dos Dragões.

Avisem ao pessoal de Curitiba que esse ano não precisam separar uma grana para fretar ônibus e vir para São Paulo. Avisem também o pessoal do Versu 2 (BA), o Rapadura (CE), o Gurila Mangani (MG), a Karol Conka (PR), o Menor (SC) e até o Emicida (SP), que nunca se apresentou nesse evento, além de tantos outros, que eles não precisam providenciar passagem e nem apressar a produção de seus trabalhos. A partir de 2010 não vai ter Indie Hip Hop.

Lembro do Mano Brown dizendo emocionado no show que fez com o Big Ben Bang Johnson no mesmo Sesc Santo André, que era uma honra estar naquele palco, pois antes ele apenas observava os grandes shows que aconteciam ali da rampa de acesso da casa. Mandem avisar o Brown que estamos felizes que ele realizou seu sonho, mas o sonho de tantos outros, acabou. E o que fica? Quem vai se propor a organizar algo perto do que foi o Indie Hip Hop? Ou então qual evento poderá substituir a alegria do final de ano de muita gente? A pergunta fica no ar. Que seja respondida em breve.

*Video extraído do Blog Cheiro da Rua, de Marco Paolielo (Revista Trip).

Veja como foi o primeiro dia de shows do Indie Hip Hop 2009
Veja como foi o segundo dia de shows do Indie Hip Hop 2009
Veja como foi o
Indie Hip Hop 2008


Kanye West volta ao rap

Kanye West/Reprodução Billboard

“Lançamento à vista” – por E. Ribas

Poucas pessoas receberam tantas críticas ultimamente como Kanye West. Primeiro por seu álbum 808’s & Heartbreak, que buscou uma linguagem diferente dos outros trabalhos de Yeezy, depois por sua postura cada vez mais arrogante, seu suposto distanciamento do rap e por ai foi. Após realizar uma turnê bem sucedida, a Glow In The Dark, e embarcar numa egotrip profunda, Kanye voltou a pensar em produzir rap no estilo de seus álbuns de sucesso: sem auto-tune ou qualquer outra parafernália do tipo.

Kanye já deu nome a seu novo filhote, Good Ass Job (melhor nem traduzir), que estaria sendo produzido no Havaí, e inclusive lançou um single, Power, contando com Dwele, aquele mesmo de Flashing Lights (Graduation/2008), no refrão. No som, Kanye fala sobre a brincadeira que o programa de humor Saturday Night Live fez com ele no fatídico episódio com Taylor Swift, e ainda teve tempo para falar da especulação sobre seu problema com álcool.

Outro som caiu na rede, Monster, em parceria com Rick Ross, que apontou junto de Power que Yeezy guardou muita história para contar em rima no novo álbum.

Nesta semana, o MC e produtor deu uma pequena mostra do que muitos dizem que ele faz melhor: criar beats. Kanye West aparece em um video ao lado de sua (ex?) namorada, Amber Rose, sampleando um som chamado “Popular“, do musical “Wicked“. O video contribui para a expectativa de um grande lançamento para 2010.

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Ferréz e o sucesso da 1DASUL


O brasão do nosso povopor Eduardo Ribas

Em tempos de Fashion Week, nada melhor do que ignorar o que rola nas passarelas da high-society para dar atenção a iniciativas populares de sucesso. Quem é que nunca viu alguém andando pelas ruas de Sampa – e, espero eu, que em outros cantos do país – com uma camiseta da marca 1DASUL?

Criada há 11 anos pelo escritor Ferréz, a marca simboliza a auto-estima da periferia em forma de moda, uma vez que cada um que veste a 1DASUL mostra seu orgulho por viver no Capão Redondo ou simplesmente por respeitar a comunidade. Além da marca, mensagens politizadas também estampam as camisetas com frases como “Bom dia Vietnam, Bom dia Capão”.

Hoje, a 1DASUL não é apenas reconhecida e encontrada no Capão ou na Zona Sul de São Paulo, tomou as ruas com adesivos em carros, bonés, mochilas e uma diversidade de produtos que vão de pézinhos de moto a vinho.

No seu começo, a marca produzia pouco e era conhecida principalmente por suas camisetas, mas já apresenta um número considerável de produtos, todos feitos nas próprias quebradas; no Capão Redondo, em Guarulhos, Jaú, Jardim Irene e outros lugares.

“Ao invés de procurar um grande fornecedor de mochilas que trabalha fora, no centro, que não propicia nada pra periferia, eu vou procurar um pequeno. Ai eu potencializei o cara”, conta Ferréz sobre sua estratégia, em entrevista para a jornalista Mona Dorf.

A grande novidade da 1DaSul é o lançamento de um site, o 1dasul.com.br, que traz informações da marca, pontos de venda, mostra os produtos, traz fotos, vídeos e um blog com agenda cultural. Na descrição da marca, uma frase salta aos olhos: “O logotipo da 1DASUL tem como ideia ser um brasão do nosso povo”.

Se a ideia era essa, o objetivo foi alcançado. Enquanto isso, Ferréz consegue ainda continuar se dedicando à literatura, viaja o país participando de debates e palestras, além de escrever em cerca de oito blogs. Mas sobre Ferréz, falamos uma outra hora.

Leia também
Ferréz entrevista Eduardo, do Facção Central

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Blog do Ferréz


Quem é J. Cole?

Nasce uma estrelapor Eduardo Ribas

Se você ouviu o último álbum de Jay-Z, The Blueprint 3, então sabe de quem estou falando: J. Cole. Ali pelo meio do álbum, na faixa nove, Jigga anuncia o nascimento de uma nova estrela. Mas se você é do tipo que duvidaria da aposta do Jigga Man, então conheça melhor o MC que promete fazer barulho em 2010.

Dê o play em “A Star is Born”, Jay-Z feat. J. Cole (The Blueprint 3/2009)
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Cole, you got a glow like a lil’ Lightsaber / Cole, você tem um brilho igual ao de um Sabre de Luz (A Star is Born, The Blueprint 3)

O jovem nascido na Alemanha, mas criado em Fayetteville, na Carolina do Norte (EUA), não vendia drogas e nem levou tiros antes de ser rapper, muito pelo contrário; é estudioso e formado pela universidade St. John (Nova Yorque). Já fazia algum sucesso na internet em blogs como Nah Right ou Okayplayer, quando teve a chance de mostrar seu talento nos álbuns “Attention Deficit” (Wale), “Blueprint 3” (Jay-Z) e “Revolutions Per Minute” (Reflection Eternal). Dali em diante, a indicação pela já conceituada lista da XXL Magazine como um dos 10 “Freshmen” de 2010, assim como outras participações que surgiram em mixtapes e álbuns, apenas aumentaram as atenções ao nome de Cole.

No entanto, sua segunda mixtape lançada em 2009, “The Warm Up”, deixava claro aos mais atentos que Jermaine Cole faria barulho e teria um futuro promissor. Fã do estilo de rima em storytelling (contar histórias, assim como Mano Brown ou Ogi) e baterias mais limpas e “cruas”, Cole apresenta em sua música menções claras ao melhor do rap da década de 90 com um toque nouveau.

Aos 24 anos (idade que tinha quando lançou sua mix), mostrou coragem e competência na rima usando beats clássicos como “Dead Presidents II”, de Jay-Z (produzido por DJ Ski Beatz) e “Get By”, de Talib Kweli (produzido pro Kanye West), contando sua história com uma sinceridade que anda em falta no mercado norte-americano.

Em “Grown Simba”, uma de suas rimas mais inspiradas, Cole conta que sonhava com um contrato (com uma gravadora) aos 13 anos, que ao contrário dos outros garotos passava seu tempo ensaiando e “como o pequeno Simba, não via a hora de tornar-se o rei”.

Eu produzo minhas próprias paradas, Royal Flush (The Warm Up/2009).

Não bastasse sua qualidade lírica e levada (flow) envolvente, o emcee também produz; e bem. Filho de pai negro e mãe branca, Cole cresceu com influências diversas de grupos de rock de seu lado materno, como Foo Fighters e Red hot Chilli Peppers. A mistura de seu background amplamente variado com o soul e R&B trouxe uma sonoridade particular a seu som.

Fato curioso: em um de seus shows, o rapper e beatmaker usou uma camisa com uma estampa que dizia algo como “Produza para Jay-Z ou morra tentando”, fazendo alusão ao nome do álbum de 50 Cent, “Get rich or die trying”.

J. Cole ainda não produziu Jay-Z, mas viu o fruto de seu trabalho lhe render o primeiro contrato para um rapper pela Roc Nation, selo do Jigga Man, além da participação na tour de Blueprint 3. Seu álbum tem previsão para sair ainda em 2010, mas enquanto isso, o rapper segue em tour com Jay-Z e Jeezy. No meio tempo, pretende realizar uma college tour, dessa vez sozinho.

*Com informaçõe das revista BRM.

Leia mais sobre Blueprint 3, de Jay-Z.
Baixe a mixtape The Warm Up
Ouça “Grown Simba”, “I Get Up”, “Dollar and a Dream II” e “Losing my Balance”.

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Per Raps entrevista Amanda Diva

Recentemente, uma matéria da revista norte-americana XXL Magazine fez um levantamento sobre o que estava acontecendo com as mulheres no rap. Passado o primeiro boom com MC Lite, depois Foxy Brown, Queen Latifah, Lil’ Kim, Missy Elliott, além da mais promissora, mas que se tornou a mais reclusa, Lauryn Hill, nada de muito empolgante surgiu.

A mesma revista sugeriu como “esperança” a aposta de Lil’ Wayne e da Young Money, Nicki Minaj, que vem realizando diversas parcerias, seguindo os passos de seu “boss” e de seu parceiro, Drake. No entanto, aqui no Per Raps lançaremos o olhar sobre outra MC: Amanda Diva. Dona de aparições no programa de poesia (spoken word) preferido dos norte-americanos, o Def Jam Poetry, apresentado por um longo tempo por Mos Def, além de programas da MTV2 e, recentemente no aclamado álbum de Q-Tip, The Renaissance, no som “Manwomanboogie“, Diva vem aos poucos alcançando seu espaço na música.

O curioso é que nosso contato com a MC surgiu de forma rápida e direta, primeiramente via twitter, depois por email. Sua irmã e produtora, Janise Chaplin, proporcionou a ponte que nos permitiu receber as resposta de Diva. A entrevista, originalmente, faria parte do especial que o Per Raps fez em maio para o mês das mulheres. No entanto, por um problema e outro, a matéria especial acabou ficando para maio.

Contamos nessa entrevista com colaboração do ilustre Oga Mendonça aka Macário do Projeto Manada. Além dele, a Núbiha Modesto aka Mocha, do Rapevolusom participou junto com o Per Raps, trazendo perguntas que serão publicadas em um futuro breve.

Conhecendo a Divapor Eduardo Ribas

Dê o play e ouça Amanda Diva, “40 MC’s”
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Ao bater o olho pela primeira vez, você poderá confundir Amanda Diva com uma brasileira, no entanto é a sua descendência caribenha, mais especificamente de Granada, que acaba contribuindo com isso. Nascida Amanda Seales, a MC/atriz/apresentadora de rádio e personalidade da TV, protagonizou recentemente programas como o “VH1’s 100 Greatest One Hit Wonders of the 80s“, no qual comentava clipes dos anos 80. E é exatamente a admiração por esta década que faz o visual colorido de Diva se destacar.

A respeito disso, a MC faz um comparativo entre a golden era e os dias de hoje. “Eu acho que tinha mais espaço para a originalidade e havia também um forte senso de originalidade do que vinha dos artistas. Hoje parece que as imagens estão sendo mais criadas pelos marketeiros do que representam a expressão de um indivíduo de forma única. Por outro lado, antigamente o pessoal não tinha tanto acesso aos fãs e dependiam muito do rádio e das gravadoras, hoje, com a internet, o artista consegue estar mais próximo do público e vice-versa. Acho que a cultura precisa disso agora mais do que nunca”, aponta.

Seguindo o que parece ter se tornado um pré-requisito para se estar no jogo nos Estados Unidos, Diva estreou primeiro na TV, em uma série do canal Nickelodeon. No entanto, seguir os passos de nomes como Will Smith ou Common parecem não ser fatores que possam garantir uma boa recepção para seu trabalho na música. “É engraçado, as pessoas dificultam que você cruze qualquer fronteira se você já estiver estabelecido em um ‘lado’ específico. Para a maioria, eles me introduzem como a apresentadora da MTV2 ou como a atriz-mirim da Nickelodeon, então eles não estão verdadeiramente abertos para meu lado musical. Mas como tudo na vida, se você continuar insistindo e continuar produzindo com qualidade, as pessoas eventualmente vão deixar você ‘entrar’.”

No rap, a MC começou sua carreira em 2004 com a mix “It Bigger Than Hip Hop, Vol 1“. Depois disso, se dedicou ao rádio, aos palcos de teatro e lançou um livro de poesia, até que em 2007 veio “Life Experience“, o primeiro EP de uma trilogia. Já no ano seguinte foi lançado “Spandex, Rhymes and Soul”, que está disponível para download no site de Diva. Como o seu último trabalho foi recebido? “Eu fiquei muito satisfeita com a resposta. As pessoas continuaram baixando um ano após eu ter disponibilizado o trabalho e as reações tem sido super positivas. Eu me dediquei bastante ao SRS e eu queria que todos soubessem que eu não estava brincando de ser artista. Creio que tenha atingido esse objetivo”.

Foi também em 2008 que Diva participou do álbum de Q-Tip, The Renaissance, que estreou em décimo primeiro no Top 200 da Billboard e concorreu ao Grammy de melhor álbum rap (Eminem acabou levando). Na música, Diva aparece cantando no refrão, que inclusive ganhou um videoclipe. Mas será que Amanda Diva se considera uma MC que canta ou uma cantora que consegue rimar? “Era uma vez o tempo em que eu me considerava uma MC que cantava, mas hoje é mais o contrário”.

Apesar disso, as metáforas e tiradas de Diva em suas rimas são dignas de respeito. Em uma de suas letras mais interessantes, “40 MC’s”, a rapper faz piada com MC’s de uma nota só, que vivem tratando do mesmo assunto em suas músicas, vendendo falsas verdades etc. Pensando nisso, quais as características que um MC deve ter para ser respeitado, na opinião de Diva? “Originalidade, talento lírico e sinceridade”, curto e grosso.

Apesar do pessimismo dos críticos e especialistas, que apontam que as mulheres não tiveram representantes significativas na última década, Diva aposta que a mudança no papel desempenhado pela mulher no rap hoje em dia só deverá mudar se as mulheres apresentarem qualidade em seus trabalhos. “As mulheres hoje tem mais espaço que nunca. Tivemos tantas oportunidades e liberdade para alcançar e aspirar. Eu acho que o primordial é que continuemos a trabalhar e nos mantenhamos respeitáveis por nosso poder e graça do que “perder” as oportunidades que nos foram oferecidas. No rap, as mulheres estão hoje mais nos bastidores do que no front, mas suas vozes vão continuar sendo ouvidas. Assim como disse antes. Quando você mantém a consistência e continua mostrando qualidade, você eventualmente vai ganhar!”.

Formada pela Universidade de Columbia em estudos afro-americanos, Diva hoje se dedica às artes plásticas e é designer. Possui uma loja que vende desde bolsas até posteres. Sobre seu futuro, a pergunta que não quer calar: seu foco é assinar um contrato com uma major, assim como a maioria dos rappers? “Nah, esse não é um foco meu. Tenho sorte de ter um grande número de coisas rolando e por isso não dependo de um contrato significando que eu serei ouvida/vista. Indie é o caminho para mim!”.

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Mister Bomba fala do álbum “De Ponta a Ponta”

No final do mês de março, o Per Raps trouxe aos leitores a primeira parte da entrevista feita com Mister Bomba, MC e produtor do grupo SP Funk. Trazemos agora a segunda parte da conversa que tivemos com Bomba, dessa vez falando sobre seu trabalho solo – “De Ponta a Ponta” -, twitter e outros assuntos.

Falando em álbum, o disco terá festa de lançamento no dia 14 de julho, na Matilha Cultural, no centro de São Paulo. Fique atento!

Não deixe também de ler também “O outro lado de Mr. Bomba“, a primeira parte da entrevista feita pelo Per Raps, em que o MC e beatmaker falou sobre seu início no rap, um pouco de sua rotina, seu modo de produzir sons e sobre seu grupo, o SP Funk.

Falando “De Ponta a Ponta” – por Eduardo Ribas

Dê o play em Mister Bomba, “Gênesis” (De Ponta a Ponta/2010)
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Per Raps: Pra começar, como está o andamento da produção do “De ponta a ponta”?
Mr. Bomba:Tá na reta final. Já ta mixadão, a arte da capa tá quase pronta, mas de última hora eu resolvi incluir mais 3 músicas, que vão estar prontas até a data da masterização.

O nome do álbum faz alusão a temática preferida do Planet Hemp, no Brasil, e Cypress Hill, na gringa ou é apenas uma coincidência?
Mr. Bomba: Cada um vai entender como prefere mas, o nome tem a ver com o lance de eu produzir e rimar, por isso é Mr. Bomba De Ponta a Ponta, tanto na produção, como nas letras.

Per Raps:O “De ponta a ponta” já tem previsão de lançamento? Pretende convocar beatmakers ou a produção será só sua?
Mr. Bomba: O álbum iria sair em abril. Tem participação do Coral Kadoshi, Sombra, Bio Rima aka Obaminha, Tio Fresh e Criolo Doido, Bukassa e Mc Jota. Me dediquei pra fazer aquela produção artesanal com muita alma em todas as faixas, daí o nome do disco – Mr. Bomba De Ponta a Ponta -, mas eu não fiz sozinho. Tive a ajuda de músicos como Munari, Cabralha, Marcelinho, Nadinho, Tadeu Dias, João Lavraz e cada um trouxe suas ideias. No futuro eu planejo trabalhar com outros produtores, mas nesse eu fiz todas. Composto, produzido, arranjado e rimado by Tio B.

Per Raps: Em uma entrevista para um site, o Highsnobiety, você disse que o estilo de “Biriri” era o “tranco”. Pretende investir nesse estilo novo ou foi apenas uma maneira de explicar a pegada diferente do som?
Mr. Bomba: Era não, é. E eu estou investindo tempo e esforço nisso porque, se liga na fita, o Hip Hop se espalhou no mundo todo, mas em cada lugar tem uma identidade nacional, um tipo de rap local, quem tem a influência do Rap americano misturado com a cultura local. Na Jamaica tem o Dancehall, em Porto Rico tem o reggaeton, em Angola tem o Kuduro, no Rio de Janeiro tem o Funk e até no Tecnobrega do norte e no Axé do nordeste tem influência do Rap.

Todos esses estilos que citei fazem muito mais dinheiro do que nós, com esses preconceitos, daí entra na questão de que é um por amor e dois por dinheiro, mas hoje em dia nem amor tá vivendo sem dinheiro. Até nos EUA, se você for ver, em Chicago tem o Juke, no sul o Dirty South e o Crunk, então, quando me perguntaram se São Paulo tem uma identidade eu disse: “tem, é o Tranco”, porque eu já estava pensando nesse nome fazia tempo, chega de imitar os manos, vamos fazer o nosso, e se quem estiver lendo e quiser somar com bases, danças e músicas novas, é só chegar!

Per Raps: Reparamos que você tem se utilizado bastante do Twitter, o que acha dessa ferramenta e qual a importância do uso da web para o seu trabalho?
Mr. Bomba: Nos dias de hoje, quem não tá na net fica quase impossível entrar no jogo, então eu tento estar conectado o máximo de tempo possível e agora com o twitter eu posso centralizar mais. Youtube, Myspace, Facebook e Orkut, todos conectados. Eu nunca pensei que pra você ser rua e ser falado na rua teria que estar mais na frente do computador do que na própria rua.

Per Raps: Você acha que rolou uma mudança de mentalidade em termos de ideia nas rimas do Bomba do SP Funk e o Bomba que vai rimar no “De ponta a ponta”?
Mr. Bomba: Muita gente pensou que o SP Funk tava querendo ser “os intelectuais do Rap”, mas não era nada disso, com o tempo foram aparecendo vários – não vou citar nomes, mas vários, um mais complicado que o outro -, mas se for ver, as ideias são simples. Mas é muita ideia por música, as ideias estão todas aí, a gente só tem que ser uma antena e ficar na sintonia pra que elas cheguem com nitidez pra quem vai ouvir. Quem ouvir o “De Ponta a Ponta” vai ver que eu continuo com a mesma mentalidade de busca por um som novo e original, que sempre foi o ideal do SP Funk.

Per Raps: Na entrevista concedida ao Programa Freestyle, você apresentou no programa o som “Gênesis”, que deverá estar no novo trabalho. A música teve inspiração no som “This Way”, do Dilated People com o Kanye West?
Mr. Bomba: Quando eu vi o Coral Kadoshi cantar foi tipo uma luz que bateu, tipo um clarão, e eu pensei: “eu tenho que gravar com eles”. Desde que eu fiz o beat achei que ficou bem épico, então eu resolvi chamar nesse som, pra abrir o disco com essa vibração. Aí fui pro estúdio MCR no dia da gravação com o coral sem nada, nem melodia nem letra e nós – eu e o Marcelo, do Caral – escrevemos essa letra em menos de cinco minutos, parecia psicografia. Foi um momento mágico e ficou registrado no disco.

Per Raps: Falando nisso, definiu o formato: EP, mixtape, virtual ou convencional?
Mr. Bomba: CD, download e uma edição limitada em formato surpresa. Também estou trabalhando em mais três mixtapes e nas bases do novo do SP Funk.

Per Raps: Sobre o single “Biriri”, esperava tanto barulho? A ideia de gravar um clipe desse som partiu de você?
Mr. Bomba: Na hora que eu fiz o refrão eu já soube que ia fazer barulho, sempre soube. Eu nem tinha a letra, só o refrão e a base, e já sabia que era sucesso. E aí eu agradeço os DJ’s que acreditaram e fizeram que uma ideia se tornasse um hit. Dj’s como Ahlemão, Tubarão, Silvinho, Milk, Flash, Puff, Marquinhos Da Pesada, Kefing, Scratch, KL Jay – que às vezes até usa de fundo pro programa de rádio -, ao Cia, Negralha, Heron, Jason Salles, Marcynho, Hadji, Marks, RJay, ao Tchicky Al Dente – que já chegou a rolar duas vezes seguidas no Favela Chic, em Paris -, ao Kassiano, ao Sandrinho, Roger Flex, Zeu, Naomi, Spinha, André Heat, Anão, Master Ney, Caio Gentil e todos que fortalecem no Brasil – vocês sabem quem são.

Aí veio a ideia do clipe. Fizemos com a estrutura que deu, só pra ser um street vídeo mesmo. Mas o mais da hora é que várias pessoas colocaram na net videos caseiros com a música. E tem vídeo com mais de 250 mil acessos. Louco também é que as pessoas acham que é um funk mas, se for ver, ela é um Rap puro e bem cru em termos de produção. Ela não tem um refrão R&B pra ficar mais comercial. Ali eu to rimando do começo até o fim, se é um novo estilo eu não sei, eu só quero fazer o meu som e provar que hip hop não pode ter barreiras porque a música é uma só.

Não deixe de ler a primeira parte da entrevista feita com Mister Bomba

Mais:
Myspace
Programa Freestyle com Mister Bomba e Tio Fresh (SP Funk)

*Agradecimentos ao Marcílio, do Programa Freestyle pela força neste post.


Stevie Wonder comemora 60 anos

Dê o play em “Jungle Fever”, de Stevie Wonder
http://louise91.wrzuta.pl/aud/file/qIkX7WYGcR/stevie_wonder_-_jungle_fever.mp3″

“Ao mestre com carinho” – por Eduardo Ribas

O dia 13 de maio é especial para os apreciadores da boa música. Há 60 anos nascia o gênio Stevland Hardaway Morris a.k.a Stevie Wonder. O Per Raps não poderia deixar essa data especial passar batida sem uma homenagem.

Como falar de uma lenda viva? Com certeza o fato de celebrar seu aniversário sendo que o multi-instrumentista ainda faz performances é incrível, já que a maioria dos gênios e das lendas não chegam a uma idade mais avançada, o que é uma pena.

Falar da qualidade e da importância de Stevie Wonder fica simples, seja por números ou pela sua obra. Ele já vendeu mais de 100 milhões de álbuns e ganhou 22 Grammy Awards – o que corresponde ao maior vencedor na categoria artista masculino solo. Ganhou até um Oscar, pela trilha de “A Dama de Vermelho” (1984) e entrou no Rock and Roll Hall of Fame, em 1989.

Quem não consegue resgatar ali nas primeiras lembranças musicais sons como “I Just call to say I Love You” ou “You Are the Sunshine of My Life”? A essa altura você pode estar se perguntando: como um músico de 60 anos possui uma carreira tão abrangente e com um repertório tão vasto? Além do talento, Stevie Wonder começou cedo, atingindo as paradas de sucesso já aos 13 anos de idade.

Natural de Michigan, Stevie primeiro se destacou tocando sua harmonica (gaita), depois pelo modo que utilizava o teclado e também por sua voz. Fez parte da lendária golden era da Motown, em uma época em que eram lançados artistas como Jackson Five, Diana Ross e Marvin Gaye. Apesar do boom da soul music nos anos 70, década em que o músico teve seu período mais criativo, Stevie Wonder sempre esteve um degrau acima.

Mais tarde, compôs a conceituada trilha do famoso e polêmico filme de Spike Lee, “Jungle Fever” (1990). Trabalhou com inúmeros artistas, de Sting a Lenny Kravitz, passando por Júlio Iglesias e Babyface. Engajado, participou do projeto humanitário USA for Africa, marcando presença no famoso “We Are the World“, de 1985. Em 2010, participou de um concerto para as vítimas do terremoto em Porto Príncipe, no Haiti.

As músicas de Stevie Wonder, além de serem consideradas verdadeiras trilhas sonoras da vida de milhares de pessoas, foram muito sampleadas por diversos grupos de rap, como Slick Rick, Public Enemy, Beastie Boys, De La Soul, A Tribe Called Quest, Tupac Shakur, Coolio, 50 Cent e Jedi Mind Tricks. Recentemente, sua música serviu de inspiração para o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que inclusive usou o som “Signed, Sealed, Delivered I’m Yours” em sua campanha presidencial.

A música de Stevie Wonder inspira e emociona o mundo todo. Esse pequeno resumo mostra uma pequena parte da carreira do mestre da música, que precisaria de um livro inteiro para ter sua história contada. Aliás, foi lançado hoje (13) a bibliografia “Signed, Sealed and Delivered: The Soulful Journey of Stevie Wonder”, mas por enquanto apenas no exterior.

Por aqui aproveitamos a homenagem feita por Ed Motta e KL Jay no Canja, do portal iG. O vídeo mostra dois craques da música brasileira mostrando sua admiração e o lado fã, além de uma performance bem legal.

Parabéns, Stevie Wonder! Vida longa e próspera!


Common lança mixtape antes de “The Reminder”

common-go-classics

Dê o play em Common feat. Queen Latifah, “Next Time” (Just Wright Version) [prod. Kanye West]
http://raps.podomatic.com/enclosure/2010-05-12T12_46_53-07_00.mp3″

No final do ano passado, o Per Raps noticiou detalhes da produção do novo álbum do rapper Common. O já intitulado “The Reminder” marcará a volta do MC ao estilo de som que o consagrou, assim como a parceria com produtores como No I.D e Kanye West, responsáveis pelos clássicos de Common.

A grande novidade que antecede esse lançamento é uma mixtape, “Go! Common Classics”, que chega com 11 faixas no dia 25 de maio. Na mix, sons como “The Light”, “The Corner” e uma gravação de 1996, “The Bitch In Yoo”.

Os fãs tiveram acesso a faixa “Next Time”, que está na mixtape e que marca a parceria com Queen Latifah, servindo de trilha sonora para seu último filme, o romance “Just Wright”. A carreira de Common como ator segue em ritmo ascendente, mas aparentemente a ideia do rapper é não deixar que isso faça com que sua música perca qualidade.

Atento às tendências e seguindo o caminho de outros rappers como Lil’ Wayne, Drake e Kid Cudi, Common aumenta a expectativa de um novo álbum de sucesso entre crítica e fãs. No trabalho anterior, o “Universal Mind Control” (2008), o rapper apresentou uma proposta mais dançante e trouxe Pharrell Williams na produção da maior parte das faixas.

Baixe Common feat. Queen Latifah, “Next Time” (Just Wright Version)


Jay-Z leva Fela Kuti à Broadway

Fela Kuti vive! – por E. Ribas

Para quem curte musicais, a Broadway é um prato cheio. Apesar disso, muita gente torce o nariz para o que é produzido em um dos maiores palcos de Nova York e do mundo. Fugindo do comum, a peça “Fela!” vem fazendo barulho desde sua estreia, em novembro de 2009.

Se você associou o nome da peça ao gênio do afrobeat Fela Kuti, então está mais por dentro do assunto do que imagina. Dirigida pelo coreógrafo Bill T. Jones, a peça contrariou as expectativas com seu sucesso off-Broadway e, logo depois, na própria Broadway.

A história fica ainda mais interessante quando se conhece os nomes dos maiores patrocinadores da peça: o produtor é Jay-Z e os co-produtores são Will Smith e Jada Pinkett-Smith. Foram investidos cerca de 11 milhões de dólares no projeto, que teve ampla divulgação também por conta desses nomes envolvidos nos bastidores, ajudando, assim, a abrir as portas da vida de Fela para novos fãs.

A encenação apresenta ao público a vida de Fela Kuti – com 12 dançarinos-percussionistas-cantores no palco, além da presença de integrantes da Antibalas Afrobeat Orchestra, banda norte-americana de afrobeat. “Fela!” marca uma quebra na rotina elitista do cobiçado palco nova-iorquino, acostumado a ver temas mais tradicionais e, nesse caso, nada subversivos. A peça dá voz a um homem africano, à margem da sociedade tradicional, que rompeu barreiras.

Pouco conhecido pelo grande público, Fela Kuti é a pura expressão sonora da Diáspora Africana, além de representar um recorte significativo da história negra, tanto pelo que representou sua música quanto pelo seu engajamento político através da arte. Ainda assim, muitos o conheciam como o James Brown nigeriano, já que seu afrobeat possui referências ao funk dos anos 70.

Isso se deve muito a visita que Fela fez aos Estados Unidos na década de 60, fato que marcou a vida e a obra do artista. Foi nesse momento que ele teve acesso ao movimento Black Panther e toda contracultura que efervescia na América. Essa vivência mudou a visão do músico, que a partir daí expandiu sua arte e mudou sua concepção a respeito de seu papel em relação ao mundo. Essa diferença é facilmente notada na própria música de Fela Kuti.

O reconhecimento de “Fela!” veio nesta quarta-feira (5): a peça é uma das que lidera as indicações para os Tony Awards (11 no total), um dos mais importantes prêmios teatrais da Broadway. Contrariando a máxima das peças “concorrentes”, a dramatização da vida de Fela Kuti não possui nenhum ator famoso no palco, mas sim do outro lado, já que contou com espectadores como Oprah Winfrey, Spike Lee, Ahmir ?uestlove (The Roots) e Jimmy Fallon.

Nascido em 1938, na Nigéria, Fela Anikulapo Ransome Kuti faleceu em 1997 em decorrência de complicações da AIDS. Hoje, mais do que nunca, sua obra vive e tem como vitrine um dos palcos mais famosos e concorridos do mundo.

Fela/Divulgação Fela/Divulgação

Fela/Divulgação Fela/Divulgação Fela/Divulgação

*Com informações da revista BRM.


Rap perde espaço na Virada Cultural 2010

Nesta terça-feira (27/04) foi divulgada a programação completa de um dos eventos que mais crescem em São Paulo: a Virada Cultural. Apesar dos nomes consagrados da música do Brasil e alguns bons artistas novos, 2010 é o ano que o rap brasileiro mais perdeu espaço nos palcos do evento.

Em 2009, o rap ficou restrito a aparições em CEUs e um espaço dedicado aos DJs, na São Bento. Um ano antes, em 2008, a situação também não foi das melhores. O Hip Hop teve um palco dedicado, mas era o mais distante dos demais e o único com presença de revista policial.

O ponto-chave da repressão ao rap teve início após a fatídica apresentação dos Racionais MC’s, em 2007, no palco principal da Virada Cultural São Paulo. O episódio, que ficou marcado por um tumulto, serviu de “desculpa” para manchar a imagem do rap para a opinião pública.

Ao contrário do que se podia imaginar, a edição 2010 da Virada Cultural conseguiu reduzir o pouco espaço que o rap teve em 2009. Entre os poucos representantes deste ano estão Rappin Hood, Emicida e Z’África Brasil, todos com shows marcados em CEUs, além de oficinas de grafite e workshops de dança em outros pontos da cidade.

Será que o rap ainda paga pelo tumulto ocorrido em 2007 ou o fato é também culpa dos grupos, que não estavam preparados para atender ao pedido da burocrática documentação necessária para o ingresso no line up do evento? Resumindo, quem curte rap e pretendia ficar na região central, onde a maioria dos eventos da Virada Cultural acontecerão, vai ficar no prejuízo? Comente!

Leia também o texto que Daniel Cunha fez em 2009 sobre o rap na Virada Cultural, que conta com as opiniões do jornalista André Maleronka (Vice Brasil), o gerente de conteúdo do Central Hip Hop, Cortecertu, entre outros.

Confira a programação completa no site da Virada Cultural.
Acompanhe o Twitter da Virada Cultural.


Rap em luto pela morte de Guru

Adeus, Guru

No início de março veio a notícia de que Keith Elam, o Guru, estava internado e em coma devido a um enfarte. Os boatos de melhoras da saúde do MC apareceram, mas nunca se firmavam como um quadro com 100% de recuperação. Nesta terça-feira (20/04), veio a notícia que ninguém gostaria de ouvir: a morte de Guru (43).

O diagnóstico estava sendo mantido em sigilo, mas veio a tona que a doença do MC era na verdade um câncer, que há um ano travava uma dura batalha com Guru. Em meio a doença e sua subsequente morte, polêmicas corriam a web envolvendo dois parceiros do MC: o Dj Premier, que fez dupla por muitos anos com o rapper no Gang Starr (1985) e Solar, MC e produtor que vinha trabalhando com Keith ultimamente. Mas assim como as polêmicas surgidas após a morte de Michael Jackson, isso é o que menos importa no momento.

Guru fez parte da era de ouro do rap, na década de 90, e quebrou barreiras com o inesquecível projeto em quatro volumes, que apresentou ao mundo o “acid jazz”, Jazzmatazz. Sua voz suave e suas rimas ácidas encantaram amantes da cena e apreciadores mais contidos, sendo presença constante em programas de jazz ou world music, inclusive no Brasil.

Por todos os clássicos produzidos, por tudo que representou para o rap e para a cultura Hip Hop, além das barreiras quebradas com seu acid jazz, o Per Raps deixa sua homenagem com três videos marcantes de Guru e suas parcerias.

Rest in peace, Guru.

Guru/Jazzmatazz – “No Time To Play”

Gang Starr (Guru e DJ Premier) – “Full Clip”

Guru e Solar – “Hood Dreamin”


Erykah Badu, Reflection Eternal e Rincón Sapiência

Estreia de videos

O feriado de Páscoa deixou a web desabitada e as ruas vazias, mas o tempo e o Per Raps não param! Apesar de não fazermos isso há tempos, resolvemos trazer um rápido post apenas para mostrar alguns dos novos vídeos que caíram na rede esta semana. O destaque vai para “Window seat”, de Erykah Badu, “Strangers (Paranoid)”, do Reflection Eternal e “Elegância”, de Rincón Sapiência.

O primeiro, polêmico “Window seat”, de Erykah Badu, mostra a diva soul caminhando e se despindo, até finalmente cair após uma simulação de tiro, inspirada no assassinato do ex-presidente norte-americano JFK. Tudo foi gravado no estilo “guerrilha”, em que se sai com a câmera filmando, contando com as reações inesperadas da polícia, da multidão, do clima ou seja o que for. O trabalho vem rendendo polêmica, ibope e um (quase) processo para a cantora.

O segundo, Reflection Eternal*, a parceria entre Talib Kweli e Hi Tek, que coincidentemente é o segundo vídeo do segundo trabalho da dupla. O vídeo lembra a ideia do som “um filme”, do grupo Elo da Corrente, em que algo secreto é entregue, numa espécie de transação entre Hi Tek e Talib Kweli, que são observados por um paparazzo (que junto da ideia sobre conspiração na letra, dá sentido ao “paranoid”). Falando em RE*, o lançamento do novo álbum “Revolutions Per Minute” foi adiado, mas deve acontecer em breve.

Por último, mas não menos importante, o aguardado lançamento de rap nacional: Rincón Sapiência. “Elegância” agitou e ainda agita as pistas sempre que é tocado, sendo mais que merecedor de ter um registro em vídeo. Gravado pela produtora Porqueeu e dirigido por Gabriel Braga e Luis Rodrigues “DJAHSMA”, o clipe tem seu ponto alto nos momentos de Rincón no brechó, mostrando a fonte de sua elegância, além do trabalho de pós-produção do video, principalmente  pelo “efeito” que ressalta a transição de roupas do MC.


O outro lado de Mr. Bomba

Há cerca de um mês, me foi dada a chance de entrevistar um das figuras mais ativas da cena: Mr. Bomba. A ideia era que o post fosse para o blog da XXL, no entanto o Per Raps acabou ganhando esse “presente” dos parceiros. Foram trocados quase 10 emails para chegarmos a conclusão da matéria, por isso decidimos não desperdiçar o material e publicar a entrevista em duas partes. Na primeira delas, você conhecerá quem é Mr. Bomba, como ele produz, quais são suas influências, seus trabalhos anteriores e outros detalhes. Na segunda parte da entrevista, você terá acesso aos detalhes de seu novo trabalho, “De Ponta a Ponta”, que promete agitar o rap nacional. Entre outros papos, não poderíamos deixar de falar de seu grupo, o SP Funk. Curte ae!

Buemba! Buemba! Mr. Bomba – por E. Ribas

Dê o play em “Biriri”, de Mr. Bomba
http://raps.podomatic.com/enclosure/2010-03-30T11_36_20-07_00.mp3″

Marcelo Mendonça de Menezes ou Mr. Bomba é conhecido por muitos pelo seu trabalho no SP Funk, grupo que surgiu no final dos anos 90, e desde lá já mostrava junto de seus colegas que não fazia parte do rap apenas para mostrar sua marra. O lançamento do primeiro CD (2001) comprovou isso, trazendo Sabotage, Z’áfrica Brasil e RZO nas participações e rimas que abalaram as estruturas do rap na época. Bomba foi inclusive o responsável pela criação do SP Funk em 2005, junto de Primo Preto. Com a saída do parceiro para assumir o comando do YO! Raps, veio o convite para firmar parceria com Fresh, Maionezi e QAP para fechar a formação do grupo.

No entanto, nem todos sabem que Mr. Bomba era o responsável por grande parte dos beats dos dois CDs que o SP Funk lançou. É ai que seu pseudônimo no rap faz ainda mais sentido: suas produções soam como verdadeiras bombas. Trabalhou também com o rapper Cabal, produzindo o beat para “Mexe seu corpo”, do álbum “Prova Cabal” (2005). Já no ano seguinte, Bomba fez o beat para um som de Marcelo D2, o single: “Gueto”, que contava também com a participação de outro Mister, o Catra. Junto de Cabal e P. Rima criou o grupo Braza, que trazia MC’s de rap rimando em batidas do funk carioca. Misturavam também palavras do português e do inglês, buscando expandir as fronteiras do rap nacional.

Como MC, Bomba mostra que tem compromisso com o rap e tem registro de participações em grupos dos mais diferentes estilos, entre eles a Academia Brasileira de Rimas, o CD “Brooklyn Sul” do Sabotage e “Enemy of the Enemy”, dos ingleses do Asian Dub Foudation. Para conhecer mais sobre sua rotina, suas influências e novidades sobre o SP Funk, acompanhe a entrevista.

Per Raps: Como o rap passou a fazer parte da sua vida?
Mr. Bomba: Foi o meu irmão o Guilherme, que também é músico, trompetista e produtor da banda Guizado. A gente curtia mais rock, aí um dia ele apareceu com um disco do Run DMC, o “Raising Hell”, que foi o primeiro disco de rap que eu ouvi. Ai vieram Kool Moe Dee, Beastie Boys e o interesse foi aumentando. Começei a ouvir o programa da Zimbabwe, na Band, ouvi os primeiros nacionais dessa época com Thaíde, Pepeu, até que veio o Public Enemy, daí eu passei a escrever e tentar entender o inglês de verdade.

Fui bombardeado de rap pelo meu parceiro Dj Wagner, que na época comprava disco na galeria (antiga Guetto Records), alí pra mim foi uma descoberta de um mundo novo. Ele só comprava de 20 [discos] pra cima e deixava comigo, às vezes até antes de ele levar pra casa pra eu poder gravar em fita cassete, eu escrevia o nome de todas as músicas do disco com a letra bem pequena pra caber no papel da caixinha. Quase 20 anos depois, só tenho a agradecer a todos os responsáveis.

Per Raps: Qual a rotina de Mr. Bomba de segunda a domingo?
Mr. Bomba: Acordo 10, 11h e faço tudo que eu tiver pra fazer na rua até umas 3, 4h depois vo direto pra net e telefone, resolvendo tudo que tiver pra resolver vendendo meus shows, já que sou eu mesmo que faço isso, depois lá por 8h começo a trampar na música e daí o processo é bem confuso, de repente tô fazendo um trampo pra alguém, paro no meio, faço um beat do nada, volto pro trampo, sempre escrevendo algumas ideias. Ah, de vez em quando encaixa aquele skateboardizinho básico que ninguém é de ferro.

Per Raps: Quem são seus referênciais na produção?
Mr. Bomba: Timbaland, Bangladesh, Pollow Da Don, RedOne, Daft Punk, Dre, Kanye West, Disco D, Benny Blanco, G.Master Duda, Riztrocrat, Nave, Zegon, Cia, Ganjaman.

Per Raps: Que equipamentos prefere usar? Inclui samples ou só beats originais?
Mr. Bomba: MPC 2500, teclados Microkorg e Fantom, e ProTools. Gosto de samplear e criar melodia, é que às vezes sampler limita um pouco, só que depois de um certo tempo bate a a saudade, mas quase sempre faço um detalhe ou outro no teclado.

Per Raps: O que se ouve por ai é que você tem trabalhado numa linha mais dançante, acha que a ideia de under ou pop no rap influencia seu trabalho?
Mr. Bomba: Eu sempre gostei de som dançante, desde Bomb the Bass, New Order até Kraftwerk, Devo, e os funks do Rio, desde 1997 eu vou nos bailes no Rio com o Primo e o Mr.Catra, isso me fez abrir os olhos e a mente pra um som mais pista. Nos dois discos do SP Funk, sempre teve um som ou outro mais club, hoje o que a gente tá vendo é todos estilos de música querendo estar no baile, acho que o baile é o meio mais eficaz na música, mas o disco tem seus momentos reflexão também. Por enquanto ainda existe a divisão under e pop, mas a gente tá lutando pra que fique uma coisa só, sem barreiras, nosso estilo ja tem muita barreira fora, então se ficar unido fica mais forte.

Per Raps: No passado você trabalhou com o rapper Cabal, que está prestes a lançar um trabalho novo também. Esse poderá ser um dos nomes que participará de seu novo álbum?
Mr. Bomba: Eu gravei uma música “Traz de Volta” no trampo novo dele, e estamos conversando pra voltar o Braza também, que foi o trampo com o P. Rima e o produtor Disco D.

Per Raps: Falando no projeto “Braza”: a ideia do grupo era promover essa mistura de rap com funk e música eletrônica na gringa ou só se divertir?
Mr. Bomba: Sim, a ideia era e continua exatamente essa, eu acho que não pode ter preconceito porque funk também é Hip Hop, vem da mesma origem do Miami Bass, e que os MC de funk tão cantando? É rap! O que a gente quer é mostrar a cultura de rua do nosso país se eles não aceitam música em outras línguas, a gente rima em inglês, por que não? Fazer o que gosta, o que sabe, e se divertir, por que não? E entrar nos EUA, assim como meu mano Zegon tá fazendo, mostrando pra noiz que é possível pra um brasileiro entrar no mundo do rap lá de fora.

Per Raps: Agora, a pergunta que não quer calar: o SP Funk acabou ou só deu um tempo?
Mr. Bomba: Só fazendo uma média… Estamos fazendo cada um com seu projeto separados, mas sempre com a essência do SP em cada trampo, fazendo na bola de meia, mas tâmo fazendo músicas novas. Se preparem!

Per Raps: No segundo aniversário do Programa Freestyle rolou uma apresentação do SP Funk, vocês têm se apresentado ou foi apenas uma união para um momento especial?
Mr. Bomba: Não tanto quanto sozinho, mas estamos trabalhando pra ter material novo porque se não fica tipo banda velha tocando os mesmos sons por obrigação, tem que botar lenha na fogueira, se não apaga. Olha o Rolling Stones, Aerosmith, esses caras fazem música nova até hoje. A gente faz show e quando faz é loko, todos que tiveram oportunidade de assistir sabem que o barato é loko, quande a gente se junta a energia do público invade o palco, parece que vai acabar o mundo.

Per Raps: Adianta alguma novidade sobre o CD novo do SP Funk ou é tudo surpresa?
Mr. Bomba: A única coisa que eu posso dizer é que ano que vem nós vamos entrar em estúdio com uma ideia, do naipe de uma “Fúria de Titãs”: uma frase, uma imagem, que vai ser o tema pra fazer esse trabalho novo, sempre pensando no futuro.

Mais
Myspace

Na parte II, acompanhe a história do hit “Biriri” e saiba como anda a produção do álbum “De ponta a ponta”. Fique ligado!


Lurdez da Luz fala de seu novo trabalho

Especial mulher por Oga

Da Urbália para o mundo – por E. Ribas

Conhecida primeiramente por seu trabalho no Mamelo Sound System, Luana Dias aka Lurdez da Luz lançou em 2010 seu aguardado trabalho solo. Apesar do pouco tempo na praça, o álbum já vem rendendo frutos à MC: procura pela mídia, que quer conhecê-la e apresentá-la ao grande público, além de produtores de festas, que garantem uma agenda razoavelmente cheia, se compararmos com a média no rap nacional. Trazendo músicas que passeiam por rimas cruas, o spoken word e o canto, Lurdez caminha com estilo pelas produções de primeira linha, contando com participações de peso de parceiros mais recentes e também de outros tempos.

O processo todo, da ideia inicial até o lançamento do CD, durou dois anos e envolveu pessoas a quem ela fazia o convite ou que se convidavam para participar. “Eu tinha certeza que uma hora ia sair”. Para celebrar o lançamento do disco, trazemos a resenha publicada na edição 43 da revista Rolling Stone. Leia o texto e acompanhe a pequena conversa que tivemos com Lurdez da Luz. Enjoy!

Dê o play em “Meu mundo numa quadra” [Lurdez da Luz]

http://raps.podomatic.com/enclosure/2010-03-26T07_30_55-07_00.mp3″

“A brasilidade do rap iluminado de Lurdez da Luz”

O talento de Lurdez ganha a luz dos holofotes com o seu aguardado primeiro trabalho solo, que leva seu nome de batismo no rap: “Lurdez da Luz”. A MC e cantora, cujo nome real é Luana, apresenta sua evolução na música, após ter desenvolvido o talento no grupo Mamelo Sound System e na participação no projeto “3 na Massa”. O resultado disso chega com batidas dançantes e cheias de brasilidade: percussão marcante e swing envolvente. Lurdez escolheu falar do amor, mostrado de forma mais particular e íntima, mas também com espaço para uma visão universal do tema.

Além do canto falado no melhor estilo Gil Scott-Heron que Lurdez apresenta em faixas como a criativa “Ah Uh (Onomatopéias)”, sua voz hipnotiza na parceria com Jorge du Peixe (Nação Zumbi) em “Corrente de Água Doce” e a rima impressiona junto da MC do ABC paulista, Stefanie, em “Andei”, além do duo com seu parceiro de grupo, Rodrigo Brandão, em “Ziriguidum”, que ainda traz o beat mais jazzy do álbum, com trompete de Rob Mazurek, produzido por nada menos que Mike Ladd. Reforçando o time de primeira, ainda aparecem o jovem beatmaker Tiago Rump, Maurício Takara (Hurtmold) e Scott Hardy, que também produziu o Nação Zumbi.”

Per Raps: O que você acha que ainda não foi dito ou perguntado para você sobre o álbum até este momento?
Lurdez da Luz: Não se falou muito dos produtores. O Daniel Bozzio e o Marcelo Cabral deram unidade ao disco e “editaram” os beats, deixando tudo com uma cara mais orgânica. O Daniel eu já conhecia de mais nova, quando ele tocava com o Mamelo. Nós temos uma formação musical muito parecida e a experiência dele ia somar muito. Ele também tem um estúdio na casa dele e achei que ia rolar legal de gravar o disco inteiro lá. Já com o Marcelo Cabral, o Daniel [Bozzio] nos apresentou e começamos a pirar que tínhamos que colocar mais um timbau aqui, mais um xequerê ali e fomos viajando. Ele também é skatista e curte um rap mais old school e hoje toca com Romulo Fróes e Rodrigo Campos [destaques musicais de 2009].

Per Raps: Como foi o processo de escolha de quem participaria do disco?
Lurdez da Luz: Foi bem por admiração. Já tinha ido escutar algumas coisas no [DJ] PG e no [DJ] Makoto, tudo isso quando eu fui montar um show pra um campeonato de skate feminino. Não sabia que ia gravar um disco, mas já tinha umas letras pra encaixar em beats. O Zeca [MCA, da Rádio Boomshot] que veio com uma ideia de fazer um vinil, mas desencanamos pelo alto custo. O Maurício Takara eu achava que tinha que ter alguma coisa dele, já que ele é um produtor de música eletrônica, mas está sempre envolvido com o rap. O Mike Ladd veio tocar no [Projeto] Colaboratório e trouxe um monte de coisa, daí encaixei a letra em um beat dele pra um show e ele me ofereceu a batida. Daí casou. O difícil foi encaixar o estilo de produção dos caras de fora com os caras daqui, mas como eu gosto dos dois estilos, tentei colocar tudo dentro um contexto.

Per Raps: Existia um projeto para o CD ou você simplesmente foi escrevendo?
Lurdez da Luz: Eu já tinha uma ideia de fazer um compacto que chamasse “amor aos pedaços”, que seriam raps-canção que só teria ideias sobre amor. A “Ziriguidum” eu já tinha o refrão e resolvi desenvolver isso. Eu comecei a fazer rap numa época que tava rolando uns discos meio conceituais, como o do Del e Kid Koala, Mike Ladd, que também tinha esse lance do spoken word falando da teoria dele de pós-futuro. Ao mesmo tempo que é menos complexo e mais feminino, minha ideia era desenvolver um tema só em um trabalho só. Eu gosto disso.

Per Raps: Os discos da época tropicalista da música brasileira parecem ter grande influência no seu background musical.
Lurdez da Luz: Os discos daquela época de 70 eram mais conceituais e de uma forma indireta também me influenciaram. Foi uma música muito importante que ficou muito tempo escondida. “Andei” é da Flora Purim com o Airto Moreira e eu não tenho esse disco. Mesmo assim fui lá e fiz. Me interessa muito essa música lado “B” do Brasil.

Per Raps: Fale mais do som “Andei”. Você já falou em uma entrevista do lance da Stefanie também ser de Santo André, o que trazia um tipo de identificação pra você. Foi apenas por isso?
Lurdez da Luz: Eu queria muito uma MC mulher no disco, tinha visto ela [Stefanie] no Simples e achei que ia se encaixar muito bem. Ela tem muita verdade na rima dela. Na época que fui morar em Santo André com a minha mãe uma pessoa da prefeitura me colocou em contato com o Nato [PK] pra fazer um show no Parque da Juventude. Daí ele me apresentou pra ela. Sobre a música, apesar do refrão cantado, é o som mais rap do CD.

Per Raps: Você já tem um esquema de como serão ou shows ou ainda está trabalhando na melhor forma?
Lurdez da Luz: Ainda estou defininindo como fica a apresentação (risos)! Mas show ao vivo sou eu, DJ Mako e Rodrigo [Brandão]. Vou começar a ensaiar também com banda, que eu vou estrear numa continuação do projeto “Presença Feminina”. Vai ter baixo [Marcelo Cabral], bateria/percussão [Richard Ribeiro/Projeto Porto] e DJ Mako no dia 10 de abril, no Centro Cultural São Paulo.

Per Raps: Fale um pouco sobre a concepção da capa do disco.
Lurdez da Luz: O Ricardo Fernandes fez a capa do CD. Achei que a fonte [estilo de letra] ajudou e por isso achei que não precisava nem de um nome para o CD. A ideia em si eu achei legal. O fundo preto com a luz ficou um lance luz e trevas, sabe? Fizemos um ensaio fotográfico, mas não me senti muito bem com o resultado. Mas não precisei usar as fotos posadas.

Per Raps: E sobre a presença do spoken word no CD. Calhou do trabalho ter saído “colado” com o lançamento do segundo trabalho de Gil-Scott Heron, de quem você se mostrou fã.
Lurdez da Luz: Pois é! Eu lembro de ter pego o “Revolution Will be not televised” como influência. Eu acho mais difícil cantar do que rimar, mas muita cantora vem perguntar como eu consigo fazer isso, mas eu é que não entendo como elas fazem aquelas coisas com a voz. Estava ouvindo um disco da Wanda Robinson [poetisa e integrante do Black Panthers] e captei algumas coisas de palavras e saiu o “Ah Uh [Onomatopéias]”. Na última faixa, pedi pro [Tiago] Rump samplear a Gal Costa e a gente brincou com esse negócio do nome no rap, que muita gente de fora acha que é uma egotrip. E no disco da Gal, ela fala “meu nome é Gal” e daí comecei a falar o nome de um monte de mulher que eu admiro.

*Fotos por Luciana Faria.

Agenda
Lurdez da Luz @ Estação Urb
Data: 27 de março a partir das 21h
Endereço: Dissenso
Rua dos Pinheiros, 747 – São Paulo / SP
Contato: 11.2364-7774
Preço: R$20 na porta, $15 na lista (lista@urbanaque.com.br)

Lurdez da Luz @ CCSP
Data: 10 de abril 2010 às 19h
CCSP – Rua Vergueiro 1000, Paraíso, São Paulo, São Paulo
Preço: R$ 5 (inteira) | R$2,50 (meia)

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Reapresentando: Rap de Saia

Especial mulher por Oga

Aproveitando o especial do Per Raps Mês das Mulheres, reapresentamos o post sobre o documentário “Rap de Saia”. Sem mais palavras, curte ae!

Quem tem medo do “rap de saia”?E. Ribas

O rap é um estilo musical que ainda pode ser chamado de majoritariamente masculino. É uma pena, já que possuímos tantas mulheres que rimam, discotecam e que produzem beats, passando sua mensagem em vários lugares do globo. Infelizmente, não possuímos tantos exemplos como seria legal termos, talvez até pelo fato dos homens predominarem e fazerem questão de deixar isso claro, inclusive até em algumas letras.

Pra ir de encontro com tudo isso, eis que surge o “Rap de saia”. Não, esse não é um novo grupo de rap formado apenas por mulheres, e sim um registro de diversos grupos de rap com mulheres no comando. Elas são as protagonistas de sua própria história. É uma viagem pelo Estado do Rio de Janeiro, que não se acanha em partir da conhecida Lapa ao Belford Roxo – lembrada por habitar a última fábrica de vinil do Brasil. Esse é também o retrato de toda uma cena, que mostra muito mais que sua cara: suas rimas.

Tudo começa na Parada Angélica, na tradicional e cultural, Lapa. Raquel Rosa, do grupo Damas do Rap, lembra que no início dessa história, poucas mulheres se arriscavam no rap: Paula Diva, Andréia, Michelle e Ivana (aka Lady Black) são algumas das percussoras.

As rimadoras guardam a memória de que no começo, a aceitação dos homens era difícil. O que se percebe é que ainda é. Quando uma mulher mandava bem no microfone, soltavam algo do tipo: “parabéns, e é mulher, hein?”. E isso acontecia também com as b-girls, que não escapavam dos comentários de mau-gosto. A época era particularmente machista, e as mulheres acabavam se vestindo igual aos homens, com direito a calças largas e tudo mais. E os homens, por sua vez diziam pouco em suas letras que servia para elevar a moral das mulheres.

As MC’s também destacam que a rivalidade e a inveja acabavam prejudicando as poucas representantes femininas que estavam na cena. “A união é a chave para a revolução” – grupo Negativas. A mídia também colabora até hoje para que as mulheres não se sintam a vontade com sua própria imagem. Para seguir o padrão, elas precisam ser magras, ter cabelo liso e loiro, mas quase todas que fazem o rap ter um lado feminino no Rio, são mulheres negras. Por meio de suas letras e sua atitude, se vestiam diferente das demais, além de muitas vezes usarem penteados afro, se remetendo a suas raízes.

A viagem segue para Volta Redonda com a MC Re.Fem aka Janaína Oliveira (diretora do documentário), mostrando que o rap também existe no interior do Estado. Por lá, problemas como o preconceito das MC’s negras (maioria) em relação às brancas, assim como questionamentos a respeito da opção sexual de cada uma. Para a maioria delas, o caminho é se impor por meio da qualidade de seus trabalho, como deveria ser independentemente do sexo. “Sexo frágil é o caramba!”, diz JC MC. Seguindo, a pequena Vitória mostra que em Belford Roxo existe rap, mandando uma rima sobre crianças desaparecidas e família.

Esse é um assunto que também é falado pelas rimadoras: família. Os pais das MC’s não aceitaram bem no primeiro momento a idéia das filhas de seguirem o impulso de ser parte do hip hop, ainda mais rimando. Os planos geralmente são outros para as meninas, mas depois de conhecer melhor e saberem da seriedade do trabalho desenvolvido por cada uma, o problema geralmente deixa de existir.

Resumindo, “Rap de saia” é uma viagem bem humorada, cheia de rimas, sorrisos e histórias de uma luta que as mulheres travaram (e ainda travam) no Rio de Janeiro contra o machismo do rap, as imposições estéticas da mídia, as rixas entre as rimadoras e, finalmente, a vitória por meio do próprio rap. Um recorte da história do rap resumido em 18 minutos .

*Props para Re.Fem aka Janaína Oliveira, que subiu o doc no youtube para que o Per Raps pudesse disponibilizar por aqui.

Bastidores com Re.Fem. e JC MC, em Queimados (RJ) - Duivulgação

Bastidores com Re.Fem. e JC MC, em Queimados (RJ) - Divulgação

Ficha Técnica:

Rap de Saia [Documentário]
Ano: 2006
Duração: 18 min.
Colorido, Brasil
Bitola Vídeo

Diretora do documentário: Re.Fem aka Janaína Oliveira
Assistente de Direção, Produção e Pesquisa: Christiane Andrade aka Queen Odara
Fotografia: Leandro Ribeiro, Patrícia Silva, Leandro Monteiro e Janaína Oliveira (Re.Fem)
Microfonistas: Leandro Monteiro, Fábio State e Flávio Maravilha
Produção: Fábio State
Assistentes de Produção: Leandro Monteiro e Rafael Nassa
Edição: Michel Messer (M-Shellz)
Assistente de Edição, câmera: Leandro Ribeiro

Mais em: www.myspace.com/rapdesaia