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“Não canso de ouvir” com Cyber

O rapper Dogg e o beatmaker Cyber em Porto Alegre/RS - Divulgação

O rapper Dogg e o beatmaker Cyber em Porto Alegre/RS - Divulgação

A seção “Não canso de ouvir” traz desta vez o produtor gaúcho Tiago Sperb Machado aka Cyber. Em São Paulo, ele é mais lembrado pelos seus trabalhos com o MC Paulo Napoli e o “raggaman” Jimmy Luv, mas já fez beats para nomes como Arcanjo Ras e o carioca Gutiérrez. Em suas produções, Cyber não costuma utilizar samplers, dando preferência para o uso de um teclado.

O funk possui espaço considerável no trabalho do gaúcho de apenas 21 anos, que no sul do país, é mais conhecido por essa vertente. Seu último beat foi feito para a dupla de Blumenau (SC), Dalmata, formada pela cantora D’Lara e o rapper BoaVentura.

Confira mais informações no myspace do beatmaker.

1) Gutierrez – Esse É O Meu Reino/PROMO (2004)

Esse CD Promo eu sempre escutei. Na época que saiu, eu nem conhecia o Gutierrez ainda, mas entrava direto no canal #Rap do IRC, e o pessoal falava bastante dos sons dele. Resolvi baixar. Não parei mais, até hoje escuto. Sempre tem uma faixa desta promo em qualquer seleção própria pra eu escutar. Rap nacional, objetivo, bolado, com sentimento, com balanço, porradão! Sem contar as letras e a voz dele que são marcantes. E o principal: refrões e rimas que grudam na cabeça, que tu fica cantando um dia inteiro! As três que eu destaco são: “O Massacre Da Rima Elétrica”, “Fallujah” e “Ruas”.

2) Ma$e – Harlem World (1997)

Vocês devem tá achando que eu to brincando né? Ma$e em uma seleção de discos! hehehe.. Curto pra caralho! O cara é taxado como fraquinho, flow fraco, letra fraca, som fraco. Mas eu vejo um potencial nele imenso, o estilo dele é diferente, é outra parada, é um estilo Ma$e mesmo. O que me chama atenção? É simples: o jeito dele rimar é único, aquela voz que muitos acham “chata”, pra mim, é foda. O cara tira muita onda! Esse álbum aí tem músicas interagidas, sempre com um refrão colante, diferente! E as bases sempre numa levada foda, marcantes, que não precisaria de nenhuma voz em cima pra ficar dançante. Resumindo, Ma$e é foda, sou fã mesmo, não só este álbum, mas todos. Não é por nada que Kanye West, Nelly, Fabolous e Loon veneram o cara! To felizão que ele voltou! Lembrando que o primeiro sucesso produzido por The Neptunes foi “Lookin’ At Me”. E já ouvi boatos que o Kanye West fez algo neste álbum, na época que ele era aprendiz do Deric ‘D-Dot’ Angelettie. Destaques: “What You Want”, “Lookin’ At Me” e “I Need To Be”.

3) Nirvana – Nevermind (1991)

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Foda…fez parte da minha adolescência, embora a banda nessas alturas já tinha acabado, Kurt Cobain se suicidado. É o tipo de disco que eu escutava até todo mundo à minha volta ficar de saco cheio. Até hoje eu pego o violão e sei tocar todas as faixas, sem exceção. Aprendi a tocar guitarra e baixo com ele, enchia o saco da minha professora de teoria musical, pra tirarmos as notas deste álbum, detalhe por detalhe. O que dizer? Cada detalhe é foda. Cada escala, cada solo, cada virada de bateria. Cada grito, cada refrão, cada verso. Agressivas, lentas, melancólicas…Kurt Cobain é um gênio, um baita compositor. Pra mim um compositor de qualquer tipo de música deve fazer sons que façam com que a pessoa escute, e não que desligue, e fale: Que chato! Que merda! Pra mim cada música tem que ter sua característica, onde você começa a tocar o arranjo e todo mundo sabe identificar: “Essa é tal música né?!”. É o caso desse álbum. Destaques: “Come As You Are”, “Lithium”, “Breed”.

4) Christina Aguilera – Stripped (2002)

É, Christina Aguilera na minha seleção! Isso mesmo! Stripped é obra prima, perfeição mesmo. Além da mina cantar pra caralho, arranjos de voz realmente pegajosos, falsetes, graves e agudos perfeitos, a produção do disco é demais! Os instrumentais me arrepiam, escuto direto, sempre que posso, desde quando o disco foi lançado. Passei a admirar o trabalho do produtor Scott Storch mil vezes, depois que escutei as sete das 20 faixas que ele produziu, sendo que duas foram single e estouraram em nível internacional. Os violinos que são usados nos sons, perfeitos. Destaque também pra Linda Perry que compôs no álbum também. Destaques: “Walk Away”, “Beautiful” e “Loving Me For Me”.

5) Sabotage – Rap É Compromisso (2000)

Lembro de estar no Fórum Social Mundial de 2003, aqui em Porto Alegre/RS, esperando ele vir para um show, escutando os sons do disco direto! Infelizmente ele não veio, mas também, quase queimamos o CD de tanto escutar. Pra mim é clássico esse CD, curto cada faixa, cada letra, cada refrão, cada base… falando nisso, de novo, os ingredientes que fazem de uma música, um som bom: uma letra fácil, um refrão e uma base criativa e grudenta. Direta! Na cara! DJ Cia, Ganjaman, DJ Zegon, mandaram muito neste disco. Os beats muito foda mesmo, e fechou com a época que lançaram. Destaques: “Um Bom Lugar”, “Na Zona Sul” e “País da Fome”.

6) The Game – The Documentary (2005)

Um disco recente, e muito bom. Nenhuma faixa é ruim. Músicas diferentes entre si, boas participações e principalmente, bons produtores. O álbum tem no mínimo 18 produtores e co-produtores diferentes, que contribuem para idéias e músicas diferentes, com objetivos diferentes. Dr.Dre, Scott Storch, Kanye West, Cool and Dre, Just Blaze, Timbaland, Havoc…Cada um com sua característica, com o seu jeito de produzir, deu no que deu. Tudo isso somado com a capacidade de 50 Cent e outros, de fazer refrões grudentos e marcantes, e a pegada do The Game nas rimas…pronto, clássico! Destaques: “Higher”, “Start From Scratch” e “Put You On The Game”.

7) 98 Degrees – 98 Degrees and Rising (1998)

Muita gente não conhece, mas é um grupo realmente muito bom, claro, pra quem gosta. Podem me apedrejar, é uma boy-band, canadense. Fazer o que, eu curto…o potencial do 98° se dá principalmente nas composições, que na maioria das vezes são feitas pelo cantor principal, Nick Lachey. Os sons são muito bem produzidos, e as músicas colam na cabeça, na primeira vez que escuta. A maioria é balada, e muito bem produzida. Muitos pianos. Muitos! Pra tristeza do pessoal que curte Nas, Method Man e Jay-Z, a dupla de produtores Poke and Tone (AKA Trackmasters) produz duas faixas deste disco. Uma delas é uma das minhas preferidas, que se chama “Heat It Up”. Destaques: “I Do (Cherish You)”, “Still” e “Heat It Up”.

8) Lil Jon & The East Side Boyz – Kings Of Crunk (2002)

Lil Jon é um gênio! O cara é o mestre em fazer o que eu mais gosto em uma música: caracterizá-la! Isso mesmo! Tu escuta o disco, e logo percebe que os arranjos principais são extremamente diferentes em cada faixa, e extremamente notáveis! Fortes!

Os gritos dele são demais. Ele sabe fazer um refrãozinho bem manjado, bem grudento. As vezes nem é tão manjado assim, é pura gritaria, mas ele consegue fazer com que isso fique da hora! As muitas participações desde CD não conseguem se destacar mais que Lil Jon e seus beats destruidores! Sou fã mesmo. Este album é foda! Destaques: “I Don’t Give a Fuck”, “Throw It Up” e “Ooh Na Na Naa Naa”.

9) Puff Daddy – Press Play (2006)

Puff Daddy_Press Play

Aqui no Brasil, pouca gente curte o Diddy. O som dele! Po, eu acho o cara um completo artista. Pra mim, um rapper não tem que saber só rimar, escrever, gravar e pronto. Pra mim, isso muitas vezes é o de menos. Hoje em dia tem que ter estilo próprio, tem que ter suas características próprias, tem que saber bolar um som, uma estrutura boa, uma estrutura que todos que escutem, gostem.. “Ah! Mas o Diddy não é um bom rapper”. Pra mim ele é sim, porém, dentro das características que ele possui. Sem falar de negócios, musicalmente falando…bom, eu quase destruí com este disco. Escutei muito! Várias participações, vários produtores bons. Músicas muito bem estruturadas. Vozes grudentas, repetidas, sintetizadores chiclés. Destaco o produtor Danja e as várias cantoras de R&B. Quebraram tudo! Destaques: “Diddy Rock”, “Tell Me” e “Through The Pain”.

10) Michael Jackson – Dangerous (1991)

Pra fechar, Dangerous! Primeira fita que eu tive, eu tinha 7 anos, imitava o Michael, os gritinhos, hahahah.. E jogava o jogo dele no video-game.. É foda! Som dançante pra caramba, bem produzido, as batidas sempre envolventes.  E os instrumentais muitas vezes unindo guitarras. As musicas do MJ sempre foram do jeito que eu gosto. Envolventes, com arranjos bem característicos em cada faixa, com refrões colantes. Nada muito repetitivo, ou apagado. Energia! Sentimento! E o que falar dos versos rimados? Muuuuuuuuuuuuito fodas! Sempre quis saber quem participava, quem rimava nos sons como “She Drives Me Wild” e “Black Or White”. Esta última eu descobri, é o desconhecido LTB que rima. A maior parte das faixas foram produzidas por Teddy Riley, do grupo R&B Blackstreet. Ótimo trabalho do Slash (na época, guitarrista do Guns ‘N Roses) nas guitarras. Destaques: “Black Or White”, “Remember The Time”, “Who Is It?”


Conheça o rap de Curitiba, a “cidade zero grau”

Cabes é um dos principais representantes da nova safra do rap curitibano (Divulgação)

Cabes é um dos principais representantes da nova safra do rap curitibano (Divulgação)

“Manguebeat versão moleton” – Parte I

A cidade de São Paulo é considerada o berço do rap nacional. Não à toa, claro, já que foi batendo latas na estação São Bento do metrô, na capital paulista, que o rap brasileiro começou a dar seus primeiros passos, em 1985. De lá para cá, mais de 20 anos se passaram e a cidade seguiu como grande referência quando o assunto é ritmo e poesia no Brasil. Nesse meio tempo, porém, artistas de outras regiões se destacaram e conseguiram dividir a atenção dos holofotes com a capital paulista.

Foi assim em Porto Alegre (RS), com o Da Guedes; no Rio de Janeiro (RJ), com MV Bill e o rap irreverente trazido pelos integrantes do Quinto Andar; em Brasília (DF), que conta com representantes como GOG e Viela 17, e possui uma cena muito forte; no Nordeste, com grupos como o Faces do Subúrbio, Clã Nordestino e, mais recentemente, Costa a Costa e Inquilinus. E agora, chegou a vez de outra cidade integrar a ‘elite’ do rap nacional: Curitiba, no Paraná, também conhecida como a “cidade zero grau”.

Os beatmakers

Cabes, Cilho, Dario, Nave, Nel Sentimentum, Spektrum… Se você não acompanha a cena do rap alternativo, então provavelmente ainda não ouviu falar de nenhum ou da maioria desses nomes. E, sinceramente, pode ser que nem venha a conhecê-los. Isso porque eles são alguns dos ‘operários’ do rap, aqueles que trabalham na construção das músicas que chegam aos seus ouvidos. No rap, eles são conhecidos como beatmakers (“fazedores de batidas”) ou produtores.

Pois bem, todos os nomes citados acima são de beatmakers oriundos de Curitiba. De alguns anos para cá, esses e alguns outros produtores da cidade, influenciados principalmente pela escola de Dj Premier, Pete Rock e J. Dilla, ganharam visibilidade ao terem seus beats lançados em discos de diversos artistas paulistanos, como do Contra Fluxo, Dj Caíque, Emicida e Kamau. Mais recentemente, porém, alguns deles conseguiram feitos bem mais impressionantes, que reservam ótimas expectativas quanto ao trabalho dessa turma no futuro.

Nave, que também é integrante do grupo Savave, foi quem deu a tacada mais certeira. É ele o autor do instrumental de “Desabafo” (Deixa, deixa, eu dizer o que penso dessa vida…), hit de Marcelo D2 que ficou entre as músicas mais tocadas do ano passado e continua sendo um sucesso nas pistas do país. “Felizmente tive a graça de emplacar esse hit com o Marcelo, o que me possibilita atualmente viver de música, mas principalmente me dá novas oportunidades pra seguir trampando”, afirma ele, que finalmente pôde largar o emprego ‘chato’ que tinha para se dedicar exclusivamente ao seu trabalho.

Os outros não ficam atrás. Dario, um dos que mais se destaca atualmente, já produziu beats para expoentes do rap internacional, como Muneshine, Jazz Addixx e o português Valete. Outro beatmaker, Cabes, foi há pouco tempo um dos vencedores do Skyzoo “Strung Out” Remix Challenge , um concurso de remixes promovido pela Coalmine Records com uma música do MC nova-iorquino Skyzoo. “O prêmio foi eles colocarem a música pra vender no iTunes junto com o cd digital do Skyzoo. Ainda ganhei um lançamento pela Coalmine Records e a oportunidade de ter feito o remix oficial do disco”, afirmou Cabes. O download desse remix pode ser feito no illRoots .

E por que será que o trabalho desses caras está repercutindo tanto? Alguns deles explicam:

Cabes

“Acredito que seja devido ao fato de alguns de nós (eu, Cilho, Nave) termos iniciado juntos a produzir. Desde o início sempre tivemos uma confidência na troca de informações. Quando um descobria passava pro outro e vice-versa, e isso ajudou muito no desenvolvimento pessoal e artístico de todos nós. Como estávamos juntos, um tentava fazer algo diferente do outro, sempre de uma forma mais criativa, ou de um jeito totalmente inovador, justamente pra não ficar parecido, o que, inclusive, acontece até hoje.

Em seguida outras pessoas interessadas em compartilhar desses conhecimentos foram chegando, que é o caso do Spektrum, do Nel, Dario. E esse espírito de produção na verdade está cada dia mais intenso, isto é, não tem hora pra fazer som, toda hora é uma boa hora de produzir ou escrever ou algo relacionado. Às vezes produzo um beat, aí vou ligar pro Nave ou pro Dario pra contar sobre e os caras também tão na mesma, produzindo algo. É até daí que vem o nome do meu disco, ‘Todo dia é assim’, então já viu…”

Nel Sentimentum

“Acho que esse reconhecimento está sendo conquistado através da soma dos talentos. É mais ou menos aquele ditado: ‘A união faz a força’. Acho que nós, aqui de Curitiba, evoluímos bastante e muito rápido devido à nossa convivência. Sempre nos reunindo pra fazer som juntos, todo mundo indo na casa de todo mundo, repassando as informações, discutindo sobre música, vivendo a parada de maneira natural, mas sempre buscando a evolução e o profissionalismo”.

Dario

“Acho que antes de tudo, cada um estudou bem o rap antes de começar a fazer, para poder prezar na qualidade. A gente sempre trocou muitas informações , buscamos os mesmos objetivos com intensidade e muita dedicação, fazemos sessões de beats e rimas sempre que podemos, e acho que são fatores que contribuem também. O interessante é que, apesar de estarmos sempre juntos, cada um desenvolveu seu estilo próprio de produção, criando sua própria identidade. Isso é muito legal, estamos sempre na mesma sintonia, é louco”.

Nave

“Antes de qualquer coisa, vale ressaltar que o skate é muito presente no cotidiano da cidade, e com certeza isso se reflete na nossa música. Quanto ao destaque de alguns artistas daqui, se você buscar na raiz, vai ver que todos que são ‘comentados’ são muito amigos há anos, ou seja, crescemos nos influenciando e isso deve ter criado um padrão de qualidade entre a gente. Nós somos uma versão de moleton do Manguebeat cantando rap, guardadas as devidas proporções (risos)”.

-> Continue acompanhando o Per Raps para conhecer mais sobre o rap e a cena de Curitiba, que a cada dia ganha mais força no cenário nacional. Outras partes dessa matéria serão publicadas nos próximos dias.
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Exposição

Vai até o próximo dia 20 a exposição de stencil, Viva a vida stencivamente, na Tatooholic Custom, em Curitiba. Não Perca!

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Festas

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Hip Hop Casa Cheia com Cabes  e Kamau em Curitiba @ Z. Music Club
Endereço: Al. Augusto Stellfeld, 264, Centro – Curitiba
Telefone: (11) 2574-1444
Preço: Homens R$ 15,00 ou R$ 20,00 e ganha o CD “Todo dia é assim” / Mulheres R$ 10,00 ou R$ 15,00 e ganha o CD “Todo dia é assim”
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Festa de 40 anos Kl Jay

Kl Jay comemora seus 40 anos com festa no próximo domingo (9) (por Luiz Pires)

Kl Jay comemora seus 40 anos com festa no próximo domingo (9) (por Luiz Pires)

Uma seleção especial de Dj’s, contando com Silvinho, Grand Master Ney, Hum, Betão e César, e Dj’s que integraram equipes como Chic Show, Kaskatas e Zimbabwe, fazem parte da festa em comemoração aos 40 anos de DJ KL Jay.

Passou o tempo, mas o respeito prevalece. De lá pra cá, o contato entre eles passou por “trombadas” casuais em saguões de aeroporto, reencontros em hotéis de outras cidades, um telefonema aqui e ali para falarem sobre a adesão ou não às novas tecnologias. “Chamar esses Dj’s para a festa é também comemorar 20 e poucos anos de discotecagem, não só os meus 40”, enfatiza KL Jay, retribuindo tantos outros convites que lhe foram feitos pelos Dj’s que, no próximo dia 9, vão agitar a pista-de-dança da Joy, com meia-hora de seus sets cada um. Como manda o script, o Dj anfitrião fecha a noite.

Dj Kl Jay comemora 40 anos @ Joy Club
Endereço: Rua Deputado Lacerda Franco, 343
Informações: (11) 3813.3008 ou acesse http://www.joysoulclub.com.br
Entrada: R$ 20,00 (com flyer, R$ 15,00)

Aproveite e confira, no site Central Hip Hop, a edição número 7 da Revista Bocada Forte, onde o Dj Kl Jay é o personagem principal. As matérias dessa edição foram desenvolvidas pela equipe do Per Raps.


“Não canso de ouvir” com Tiago Rump

Tiago Rump escolhe seus 10 discos preferidos (Divulgação)

Tiago Rump escolhe seus 10 discos preferidos (por Miechan)

O convidado da vez é o MC e beatmaker, Tiago “Rump” Frúgoli. O desafio de escolher os 10 discos mais importantes para ele, não pareceu ter sido um grande desafio. Isso, pois não foi difícil obter as respostas de Rump.

Na sua seleção, os clássicos do hip hop dividem espaço com novidades como o duo Briana Cartwright aka Jack Davey e o produtor Brook D’Leau, que formam o J*Davey. Acompanhe agora o top 10 e as opiniões sobre cada escolha de Rump. Enjoy!

Nas – Illmatic:

Melhor disco que mistura crônica de rua com inteligência extrema. A fórmula foi muito usada no começo dos anos 90, mas nada se compara.

A Tribe Called Quest – Midnight Marauders:

Meu disco preferido da Tribe. O Phife já não estava mais em segundo plano em relação ao Q-Tip. A química funciona muito bem, e os beats são uma aula de produção.

Slum Village

Slum Village – Fan-Tas-Tic Vol.1:

Foi lançado em fita cassete em 97, só saiu oficialmente em 2005. Além do J Dilla já demonstrar lá que era um gênio dos beats, gosto muito do clima descontraido do disco. Muitas vezes, gosto mais da demo gravada na casa do artista do que do disco oficial posterior, gravado num estúdio profissional. É incalculável o impacto dessa fita nos discos posteriores, produzidos pelo Soulquarians.

J Dilla – Donuts:

O final oficial do meu capítulo preferido da história do hip hop. Impressionante ter tanto sentimento um disco sem rimas, criado a partir de samples. Mudou o jeito que eu olho para a produção de hip hop.

Mos Def & Talib Kweli – Black Star:

Pelas minhas escolhas, dá pra ver que tenho uma tendência a gostar do primeiro disco de um artista, ou até da primeira demo. Esse é o meu preferido de dois dos melhores MC’s hoje. “Respiration” tem o melhor refrão de todos os tempos.

MosDef&TalibKweliBlackStar

Common – Electric Circus:

O Soulquarians é meu coletivo de produção preferido. Eles comandam a maior parte das músicas aqui. Esse disco foi o que menos vendeu do Common, talvez por isso tenha feito ele mudar seu rumo no discos posteriores. Ainda assim, acho que esse disco inaugura o que chamo de “post hip hop”. Todos discos abaixo se encaixam na mesma categoria.

Georgia Anne Muldrow – Wothnothings EP:

Um pouco de Dilla, Milton Nascimento, Nina Simone e Free Jazz no corpo de uma garota de 20 anos. Todos instrumentos gravados por ela, até onde eu sei, na sua própria casa.

Erykah Badu – New Amerykah:

Minha cantora favorita, rodeada de muitos dos meus produtores favoritos (Madlib, 9th Wonder, Questlove, James Poyser, Sa-Ra Creative Partners, Georgia Anne, Karriem Riggins…).

J*Davey – The Beauty in Distortion:

Primeiro EP desse duo, que está para lançar um álbum pela Warner. Me lembra muito o Dilla, misturado com o melhor dos anos 80.

Suzi Analogue – World Excerpts 1-9:

Não é nem um disco oficial, está disponivel para download no http://www.freshselects.net/suzianalogue . A produtora/cantora de 20 e poucos anos da Philadelphia me impressionou muito. Destaque para a faixa “Sage Burns”.

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Festas
luv rj julho

MJJ in Luv @ Lounge 69
Com os Dj’s Pachú e Pathy DeJesus.
Convidado: Rabú Gonzales.
Produção de Nicole Nandes e Anwonri Sauthon

Endereço: Rua Farme de Amoedo, 50 – Ipanema – Rio de Janeiro/RJ
Horário: 23h/ Preço: R$ 40 (R$ 20 na lista amiga)
Info: (21) 2522-0627
http://luvbaileblack.blogspot.com

flyer virtualMão de Oito @ Studio SP
DJ residente: Valter Nú
Participações de Marcela Bellas, Kamau e Emicida
Data: 2 de Julho – quinta feira

Studio SP – Rua Augusta, 591
Abertura da casa: 23h
Horário: 0h
Preços: R$ 15,00 (com nome na lista e até 1h do dia 3/7) e R$ 25,00
Lista: studiosp@studiosp.org

fyabum

Pentágono apresenta Dj Kl Jay @ Fyabun
DJs: Kiko, Preto e M. Lion
Data: 3 de julho – sexta-feira
Endereço: Rua Valentim Ramos Delano, 52
Preços: R$ 8 (com nome na lista) e R$ 10
Lista: listafyabun@gmail.com


Go Skateboarding Day

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Go Skateboarding Day – por Nathalia Leme

Há quem diga que junho é o mês dos namorados. Eu discordo e dou um título muito mais significativo a ele: junho é o mês do Skate!

Para quem não sabe, no dia 21 de junho é comemorado o Go Skateboarding Day ou, o tão sagrado, Dia Internacional do Skate, se preferirem. A data, criada em 2004 pela Associação Internacional das Companhias de Skate, sugere largar todas as obrigações para passar o dia andando de skate e se divertindo, levantando também a consciência contra a discriminação e a marginalização que é criada em torno de um skatista. É um dia para todos se reunirem junto aos amigos e resgatarem a verdadeira essência da cultura do universo do skate: a diversão.

“Skateistan Afghan Skate School” por Tyler Hicks/The NY Times

“Skateistan Afghan Skate School” por Tyler Hicks/The NY Times

A data é levada muito a sério, inclusive em lugares que você nem imagina: que tal Cabul, a capital do Afeganistão? Não. Você não leu errado! Tudo começou quando um australiano chamado Oliver Percovich foi morar na terra dos talibãs junto com sua namorada há uns anos. O namoro acabou, a mina caiu fora e o cara, super endividado resolveu dar um role de skate para esfriar a cabeça.

 

Se o skate por si só, em qualquer outro lugar, já chama atenção, imagina no Afeganistão?  De tanto observar a platéia que se formava nos seus rolês de skate, Oliver decidiu que o carrinho seria a solução dos seus problemas. Decidiu fundar a  “Skateistan Afghan Skate School” – ou “Skatistão, a escolinha de skate do Afeganistão” em bom português.

E no domingo passado, dia 21 de junho, dezenas de crianças de todas as classes sociais, meninos e meninas se juntaram e sairam com seus skates pelas ruas de Cabul, para celebrar o Go Skateboarding Day. O evento foi organizado pela Skateistan, a primeira escola de skate do Afeganistão.

Então tá. Você quer outro lugar inusitado onde o Dia Mundial do Skate foi comemorado? O que acha da Casa Branca? Barack Obama convidou o skatista Tony Hawk para umas remadinhas nos arredores da Casa. Tony Hawk, famoso por suas revoluções no skate e por ter levado a atividade (ou esporte, chame como achar melhor) a outro patamar descobriu ter um grande fã: o atual presidente dos EUA que se mostrou bem animado com a visita e, inclusive, liberou pessoalmente o skatista de embalar pelos corredores da Casa Branca.

O presidente comentou também em seu diário que gostaria de aprender a pular escadas de ollie e mandar uns backsides pop shove-its. Quem sabe em breve não teremos mais um skatista na categoria master? We hope so!

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E por aqui, eu que te  pergunto: qual o lugar mais inusitado que você já andou de skate?

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Festas

MameloQuinta

Mamelo Sound System @ Espaço Rio Verde
Quinta (hoje), 25 de junho de 2009 às 22 horas
Preço: R$10

Espaço Rio Verde
Rua Belmiro Braga, 119 – Vila Madalena – São Paulo, SP
Tel: 3459-5321

show Rump
Tiago Rump @ Expo Real Vida Suja
Sexta, 26/06 19:00 às 23h
Participações de Lurdez da Luz & Rodrigo Brandão/ Ogi e Primeira Audição

Espaço A
R. Purpurina, 207 – Vila Madalena, SP/São Paulo
Preço: Grátis!

Dj Nyack e Emicida serão a atração da Peligro, na Neu

Nesta sexta, a rua é Neu! - Dj Nyack e Emicida (Ênio César)

Emicida @ Festa Peligro na Neu Club
Sexta, 26 de junho de 2009 às 23:00
Discotecagem: Dago Donato
Preço: R$15 (R$10 até 0h)

Neu Club
Rua Dona Germaine Burchard, 421 – Água Branca – São Paulo, SP
(próximo ao metrô Barra Funda)
http://www.peligro.com.br

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Casa di Caboclo @ Espaço +Soma
27 de junho/ Abertura da casa às 19h
Shows pontualmente às 21h
Preço: R$ 10,00

Espaço +Soma
Rua Fidalga 98 – Vila Madalena – São Paulo – SP
Informações: 11 3034.0515


“Não canso de ouvir” com Arthur Moura (Fluxo)

Arthur Moura; músico e beatmaker do Fluxo (RJ)

Arthur Moura; músico e video e beatmaker do Fluxo (RJ)

O convidado desta semana da seção “Não canso de ouvir” é o músico, beatmaker e videomaker Arthur Moura, uma das metades do grupo carioca Fluxo.

“Quando se fala de música vejo-me perdido num oceano de possibilidades, onde destacar mestres dessa bela forma artística, que ajudaram na minha formação e aguçaram meus sentimentos e sensibilidade é tarefa árdua e de infinitas possibilidades. Mas vamos lá…”

Depois da leitura do Top 10 de Arthur, aproveite para ler o ponto de vista do beatmaker sobre a cena rap nacional. O texto foi originalmente publicado no Central Hip Hop.

“Por vivenciarmos um complexo de transformações no campo cultural, mais especificamente na arte (e é bom lembrarmos que cultura é todo um conjunto onde a sociedade, ou algum grupo, exterioriza suas concepções, idéias, costumes, formas de relacionamento), vejo a possibilidade de uma discussão que tem como objetivo principal a observação das especificidades da cena independente do rap no Brasil…”

Continue a ler no Central Hip Hop.

1) Babylon by Gus – Black Alien

Este disco eu levo sempre onde posso para apresentar o quão grandioso é esse músico fluminense. É difícil sentir tamanha musicalidade, e acho que Black Alien tem uma certa intimidade em tocar as pessoas justamente por ser um músico.

2) Black Star – Mos Def e Talib Kweli

Outra obra raríssima. Hoje já não percebo muito o Talib como antes, mas o Mos Def continua sendo grandioso e foi um cara que contribuiu não só com a música, mas explana seu talento no cinema também. Lembro-me de ter ouvido esse disco pela primeira vez em Goiás em 2004, ou 2005 (nem faz tanto tempo assim), e desde então nunca mais deixei de ouvir.

3) Dj Dolores – Engrenagem

Outra obra prima de um brasileiro que sabe misturar bem os ritmos do nosso território e ser representativo para o nosso povo. Esse disco, feito com samples, colagens e todo tipo de maluquice, mostra a ousadia que mistura ritmos nordestinos com a música eletrônica.

4) Dosh – Dosh

Bom… Não sei se é esse mesmo o nome do álbum, mas tenho quase certeza que sim, rs. Esse cara, integrante do Anticon, é o experimentalismo em pessoa! Trabalha como ninguém com loops e é um ótimo instrumentista. Vale a pena para quem gosta de algo diferente.

Capa do cd "Após Algumas Estações", lançado no final do ano passado

5) Elo da Corrente – Após Algumas Estações

Um disco fabuloso com ótimos MC´s e sem esquecer-se do Dj também. Só me resta uma crítica a essa obra, que é ser mais breve. Mas para quem gosta de um rap feito com todo cuidado, boas letras e bases muito bem trabalhadas torna-se obrigatório apreciar!

6) Gabriel Teodros – Loveworks

Outro dia vi esse cara no meu myspace e resolvi ouvir. Continuo ouvindo até hoje! Musical, bom gosto, flow… Enfim, um rap americano de ótima qualidade.

7) Sage Francis – A Healthy Distrust

Outro cara do coletivo Anticon. Esse é das antigas mesmo. O que mais me atrai no Sage Francis é a voz característica dele, e é claro a ousadia – que torna-se obrigatório, já que ele faz parte do coletivo mais experimental conhecido até hoje.

8) Why – Sanddollars

É difícil listar dez discos e não colocar o Why. Outro do coletivo Anticon (já deu pra ver que eu puxo sardinha pros caras, rs) e que tem por formação original três caras (que eu não sei o nome) e que fazem um som de primeira, misturando guitarra, violão, percussão, batera e vários instrumentos nem tão convencionais!

9) Shawlin – Ruas Vazias

Esse disco é ótimo também, pois mostra um rap diversificado e que não traz apenas o Shawlin, mas participações importantíssimas como Chapadão, Zé Bolinho, Tapechu e o Funkero, que representam um rap solto, sério, e como sempre, mostrando uma musicalidade em suas produções.

j. rabello capa
10) João Rabello – Roendo As Unhas

Como estudei violão erudito por alguns anos, vejo-me na obrigação de apresentar esse cara. Pelo sobrenome dá pra ver que o cara traz consigo o violão, o choro, o samba, a bossa e todo o patrimônio cultural nacional na veia. João Rabello tem nos dedos o mais puro violão brasileiro.

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Festas e shows

Luv_09

Baile in Luv @ Lounge 69

Com os Dj’s Pachú e Pathy DeJesus. O convidado será o Dj Babão (Inumanos).

Serviço:
Endereço: Rua Farme de Amoedo, 50 – Ipanema – Rio de Janeiro/RJ
Produção: Nicole Nandes e Anwonri Sauthon
Horário: 23h
Preço: R$ 40 (R$ 20 na lista amiga)
Info: (21) 2522-0627
http://luvbaileblack.blogspot.com

Kamau em ação por Acauã Novais

Kamau em ação por Acauã Novais

Kamau @ Projeto Hip Hop no Rio Verde

Nesta quinta-feira, 11 de junho, Kamau leva seu primeiro trabalho solo, “Non Ducor Duco”, a mais uma edição do Hip Hop no Rio Verde. O projeto faz parte do programa “Acervo ao Vivo” – em que as apresentações são gravadas e passam a constituir a programação da rádio Leaves Sound (www.radioleave.com.br)

Antes do show, a casa exibe o documentário “Versificando” (Brasil, 2009), de Pedro Caldas, que também conta com a participação de Kamau. O vídeo, que saiu pela 13 Produções, é um passeio pela cultura musical brasileira, que se encontra pulverizada em São Paulo. A produção retrata desde gêneros regionais, como o repente, a embolada, o jongo e o cururu, aos mais populares atualmente, como o samba de partido-alto e o rap freestyle.

Também na quinta (11), Kamau se apresenta na Faculdade de Direito da USP (Universidade de São Paulo), que fica no centro da cidade. O show começa às 18h e faz parte das atividades da 2ª Conferência Estadual de Promoção da Igualdade Racial. (Endereço: Largo São Francisco, 95).

Serviço:

Quinta-feira, 11 de junho
Rua Belmiro Braga, 119, Vila Madalena, São Paulo (SP)
Tel.: 0/xx/11/3459-5321
Documentário: 20h30 (52 min)
Show: 21h30
Entrada: R$ 10

hhs_12junhoHip Hop Sessions @ Sexta-feira, 12 de Junho

Com os MC´s Murf e Magú. Nas pickups´s, os Dj’s Peen eSelectah Kbc.

Serviço:
Local: Soho Underground
Rua: Visconde do Rio Branco, 870 – Curitiba/Paraná
Mais informações: http://www.hiphopsessions.blogspot.com
Fonte: Track Cheio


Conheça Dago Donato – Parte II

Dago Donato

Dago Donato leva a música independente para outras mídias (Arquivo)

Você confere agora no Per Raps a segunda parte da entrevista com Dago Donato, o editor chefe do TramaVirtual. Aqui, um pouco mais sobre os programas TramaVirtual no Multishow e Radiola na TV Cultura, além de saber como foi transformar o quadro “12 horas no estúdio” para uma versão mais didática para a TV.

Televisão

Dago, que é adepto da internet e sabe bem aproveitar os seus benefícios, acredita que ainda existe uma distância muito grande entre o que rola na rede e o que a televisão tenta fazer juntando os dois mundos. “É lógico que não dá para você pegar um site e transpor pra TV e eu também não acredito muito nessa parada de ‘mande seu vídeo’, e não sei o quê. Eu acho que já é uma tentativa de um monte de gente que não é da internet, tentando incorporar essa interatividade, sabe? Ai, acho uma puta besteira isso!”

Um programa de TV já estava nos planos de Dago há tempos e, com a parceria com o Multishow, a realização foi possível. “O programa de TV era um sonho meu antigo, desde a época do Miranda. Hoje, a gente conseguiu algo com o Multishow. No começo, quem participou da criação foi eu, o João Marcelo (Bôscoli), o André (Szajman), que era presidente, e o Jeferson De, o diretor que ficou alguns meses, ajudou a formatar e depois saiu. Ele participou do começo, ele viu os primeiros enquanto a gente tava se encontrando”.

Mas adaptar um site e transformá-lo num programa de TV tem suas dificuldades e, às vezes, achar a fórmula certa para manter a identidade de ambos, leva tempo. “ Eu acho que o programa demorou mais ou menos um ano para se encontrar. Bom, o que a gente queria era levar pra TV aquilo que a gente estava vendo na rua e no site. Um monte de coisa legal que nem a MTV mostrava.”

Depois de um tempo no Multishow, a equipe estava produzindo o Radiola e Dago explica por que esse segundo programa foi para um canal aberto. “O Radiola é mais aberto. É um programa sobre música, e não sobre música independente. É um programa que tem, sei lá, um quadro que é o ‘Meu Instrumento’ ( é um músico mostrando o seu instrumento), ou o quadro “Fala” (que é alguém ligado à música falando sobre determinado assunto). Pode ser o (Fábio) Massari falando de festivais ou qualquer outro cara falando sobre qualquer outro assunto. Mas é isso: gente que importa falando algo sobre música”.

Outro destaque dessa conversa é o programa “12 Horas no Estúdio”. Dago explica de onde surgiu a idéia: “O 12 surgiu assim: ‘Meu a gente tem estúdio aqui, vamos usar!’ Aí a gente teve essa idéia de corrida contra o relógio. Funcionou, foi legal e as bandas saem com a música pronta”. E o espaço do 12 Horas é disputadíssimo. “A gente recebe muito material. Muita gente liga e manda e-mail. O Ed Motta já falou que quer fazer. Eu acho legal ver os figurões na concentração. Pode dar uma coisa legal.”

O programa do site virou um quadro do Radiola na TV Cultura e recebeu algumas adaptações. “A gente adaptou esse quadro, demos uma aperfeiçoada pro Radiola, e é uma parada que já está rolando. São 10 horas mas a gente deu uma adaptada para o público entender melhor o quadro. Porque o público da TV aberta não está tão ligado em como é um processo de gravação”.

Hip Hop

Dago enxerga a música de uma maneira diferente e, apesar de não ser um membro atuante do Hip Hop, ele acompanha a evolução desde muito novo. “Eu sempre fui fã, desde moleque quando eu andava de skate. Tinha 11 anos e ouvi na 89 FM, quando lançou o Cultura de Rua, uma entrevista com o Thaíde. E aí eu falei: ‘Isso é legal!’, e gravei o programa inteiro. Depois descobri Public Enemy, virou meu disco de cabeceira. Disco de cabeceira? Existe isso? (risos)”

“Então eu sempre acompanhei. Houve uma época que eu morei nos Estados Unidos, na Califórnia, cara, era 93 e tipo, muita coisa rolando. Eu sempre acompanhei rap, nunca foi um gênero estranho pra mim, saca? Mas eu sempre acompanhei como acompanho os outros estilos. O fato de eu andar de skate na época contribuiu, sempre chegava alguém com uma parada nova.”

Dago Vinil

Dago Dontato (Arquivo/Facebook)

O Dj Dago

A versatilidade musical de Dago resultou numa das discotecagens mais completas das noites paulistanas “Minha discotecagem também, sempre foi isso: sem fronteiras! O lance de música eletrônica nova, sempre teve a parada mais do rock e sempre teve o hip hop underground e o hip hop old school que eu me inspiro. Sempre foi um lance de juntar, mas muita gente não entendeu isso e, sinceramente, eu espero que nunca entenda. E estamos aqui! A festa (Peligro) já tem quatro anos e toda sexta tem mais de 200 pessoas. As vezes a pessoa pode não se interessar pelo show, as vezes não se interessa pela discotacagem também. Fazer o quê? (risos) Mas vem!”

Quando perguntamos sobre os caminhos da música independente, Dago é enfático. “É uma parada complicada. O que acontece é a época. A internet acaba fazendo com que mais pessoas se interessem por música diferente. O povo tem mais acesso e todo mundo pode achar coisas novas. Não existe mais a ditadura do fulano do programa de TV ou da rádio. Mas é lógico que isso só serve pro público interessado em música.”

Para Dago, há pessoas que são interessadas em ouvir música e outras que ouvem aquilo que aparece. Tem gente que se contenta com o som que o amigo mostrou, ouve apenas o que está tocando no rádio ou aquilo que tocou na formatura. “Só acho que quem é interessado em música, tem muito acesso e está muito mais fácil, isso melhora a coisa”, finaliza.

Esse foi Dago Donato, editor chefe do Tramavirtual e sua música livre de rótulos.

Mais em http://bimahead.blogspot.com

Festa Peligro @ Neu Club
Rua Dona Germaine Burchard, 421 – Água Branca
Sextas, a partir das 23h
listaneu@gmail.com


Zoeira Hip Hop SP comemora 3 anos

21.05.09  cartaõ  corrreio Ratheesh 230

Elza Cohen, idealizadora da festa Zoeira Hip Hop

Conheça mais da festa Zoeira Hip Hop e saiba qual será seu novo local

Se você curte rap e é do Rio ou de Sampa, provavelmente já deve ter ido a alguma edição da Zoeira Hip Hop. A festa foi criada pela produtora e fotógrafa Elza Cohen e no passado, cumpriu um importante papel para o hip hop no Rio de Janeiro. Ao completar seus 3 anos em São Paulo, a Zoeira agora muda de local: sai da Hole Club e vai para o Teatro Coletivo.

Criada em 1998, a festa Zoeira Hip Hop já abriu espaço para muitos nomes hoje conhecidos pelos fãs de rap. Em uma oportunidade, inclusive, serviu de parceira para uma coletânea da Revista Trip, com Black Alien, Inumanos, De Leve, Marechal e outros. Sobre a mudança de local em São Paulo, quem fala é a própria Elza Cohen. “Não queria ficar na mesmice. Começamos no Studio SP, mudamos pro Afrospot, Clube Inferno, Hole (Club) e agora vamos para um teatro de arena”.

A festa já trouxe grandes nomes do rap nacional, assim como artistas internacionais e iniciantes. A Zoeira também procurou mostrar preocupação com outras “faces” do rap, além de abrir espaço para exposições ou exibições de clipes. “Não vai ser só rap, o Zoeira sempre foi hip hop e vertentes. Agora vou frisar isso ainda mais!”, explica. Mesmo com o sucesso, a festa não obtinha um grande lucro, mas tinha seu lado importante. “Sei que ali ninguém vai ganhar dinheiro, mas o legal é criar visibilidade pro artista”, confessa Elza Cohen.

Fazer a festa em um espaço como o do Teatro Coletivo, também permitirá a obtenção de alguns apoios culturais. Dessa forma, a produtora da festa acredita que poderá agregar novos valores ao público. “Escolhi esse teatro, pois lá terei a chance de mostrar mais os outros elementos. Quero evoluir mais nisso”, planeja. Sobre a escolha dos grupos que tocarão na festa, Elza mantém seus pré-requisitos. “O que atraia é o trabalho, a postura e visão do artista”.

A produtora de eventos conta que é muito procurada pelo Myspace, principalmente. Elza também tenta sempre manter suas pesquisas atualizadas, buscando novos artistas que se encaixem ao perfil da Zoeira Hip Hop. “O Casa di Caboclo me procurou, mas achei que ainda não era o momento. Quando eles lançaram um CD, achei que devia chamar, pois a partir dai os caras tinham o material na mão pra mostrar pro povo”, revela. O segredo para uma festa ter um bom público é também a participação do artista convidado na divulgação de seu show. De acordo com Elza Cohen, isso potencializa o trabalho e faz com que a casa tenha mais chances de encher.

A divulgação acontece principalmente pela internet, por meio de redes sociais. “O que melhor funciona ainda é o Orkut. Principalmente para divulgar as festas”. A produtora e fotógrafa ainda encaminha emails, faz parcerias e se utiliza de outras redes sociais para espalhar a notícia do evento. Tudo isso é feito junto de uma equipe, que ela acaba coordenando para dar unidade ao trabalho. “Às vezes sobrecarrega. Você tem que pensar no antes (da festa), no durante e no depois”.

O Wallbangaz (Holanda) é formado pelos MC's Zillion e Scorpio

O Wallbangaz (Holanda) é formado pelos MC's Zillion e Scorpio

Hoje, Elza trabalha com o rap e serviços relacionados, como lançamentos de marcas de tênis, por exemplo. Recentemente, ela participou da organização do lançamento da coletânea Raps de Verão Volume 3, de Paulo Napoli. No futuro, ela pretende investir na fotografia e trabalhar mais esse seu lado artístico. Só que para isso, vai precisar deixar o hip hop em segundo plano. “Terei que deixar um pouco de lado os eventos, os poucos serão muito bem feitos, com muita qualidade, profissionalismo e mantendo a espontaneidade”, finaliza Elza Cohen.

A festa ainda não terá o teatro como local fixo, e talvez poderá assumir um aspecto itinerante. A primeira nova edição rola neste sábado (30) e contará com os holandeses do Wallbangaz, que são produzidos por Alexandre Basa, do Turbo Trio.

Mais sobre os artistas:

http://www.myspace.com/wallbangersmusic
www.myspace.com/basamadhi

Flyer web Zoeira_Walbangaz valendo Wallbangaz @ Zoeira Hip Hop SP
DJS: Selectors Bside, Nyack , Komodo e Magrão (Dubversão) + Visuais com VJs convidados

Teatro Coletivo: Rua da Consolação 1.623 – Metrô Consolação.
23h40 – R$15, ou R$10 com flyer e nome na lista, (zoeirahiphop@gmail.com)
Mulher FREE ate 00:30!!! – 11 9494 7815
www.myspace.com/zoeirahiphop l www.myspace.com/elzacohen

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Estréia
divulgação estreia mtv

Neste sábado (30/05), estréia na MTV o videoclipe do som “É o Moio“, do grupo Pentágono. A direção é de Pedro Gomes. Você poderá às 11hs, no faixa Lab BR.

Se ainda não viu o video, é a sua chance!


“Não Canso de Ouvir” com Luciana Playmobile

playmobile 2

Luciana Playmobile no garimpo - por Guilherme Aeme

“Não Canso de Ouvir” com Luciana  Playmobile (Beatmaker) 

A seção “Não canso de ouvir”, orgulhosamente, traz a primeira representante feminina: Luciana Playmobile. A garota nasceu em São José dos Campos, cidade no interior paulista, e começou a produzir apenas como uma brincadeira, por influência de um de seus amigos, o também produtor Dheeni .

Já trabalhou com os MC’s Fundament (Toronto) e Wallace (Fluxo), além de ter participado da mixtape ‘Big Man on Campus‘ , do MC/Produtor canadense Muneshine. Por aqui, ela fala dos 10 discos que mais marcaram a sua vida. Acompanhe!

1) Fugees  -“The Score” (1996)

Fugees foi o primeiro grupo de rap que eu ouvi e comecei a gostar, de verdade. Ganhei esse álbum de um amigo, em meados de 99, 2000, e foi certeiro. A maioria das produções por conta do Wyclef, marcaram muito a minha adolescência, os primeiros rolês com os amigos. O cd rolava o dia inteiro em casa e até a minha mãe viciou.

Um dos maiores sucessos, “Ready or Not” é hit até hoje. Mas entre as minhas preferidas estão “Cowboys”, com a Rah Digga, “Fu-gee-la (Refugee Camp Remix) e Zealots, onde a Lauryn Hill simplesmente “destrói”, a levada dela é muito foda, desde o começo. Esse foi o meu “começo” no rap… não tem como esquecer.

2) Group Home – “Livin’ Proof’ (1995)

“See I make moves and tell what’s the truth
That’s why I’m here, to be livin proof”

Um álbum com “Living Proof”, “Supa Star” e “Up Against The Wall” praticamente dispensa comentários, né? Mas tratando-se de Group Home, todo comentário ainda é pouco. As letras são muito “rua” e passam um sentimento muito forte de luta, cotidiano e etc. Nos beats do Premier então, fica perfeito. Eu sou fã assumida do Premier, pra mim ele é o melhor produtor de todos os tempos. Tem o dom de usar os samples mais estranhos e transformar em clássicos. A levada dos MCs Lil’ Dap e Nutcracker casam perfeitamente com os instrumentais do Premo.

E os riscos então, nem se fala. Gosto muito desse estilo, refrão bem marcado com scratchs e colagens, marca registrada do Premier. E esse álbum, de 1995, é o que mais gosto deles, mesmo que nessa época eu ainda fosse uma criança e nem sonhasse com rap, ele tem muita, muita história pra mim.

3) Visionaries – “Pangea” (2004)

Mais um que ouvi milhares de vezes. O grupo é bom demais, uma mistura de varias etnias, com letras fortes, que incluem protestos políticos, apelos ambientais e sociais. Não tem como não destacar LMNO e o 2Mex, eles se sobressaem. Os riscos do Dj Rhettmatic são de cair o queixo.

Conheci esse álbum quando a “If you can’t say love” estava no auge do sucesso. A “Believe it” é outra que gruda na nossa mente (risos), mas não são as que eu mais gosto. Fiquei muito curiosa em conhecer mais deles, e ainda bem que conheci mesmo, porque no rolê não vai tocar “Pangea”, “V  peat”,”Momentum”, e a “Meeting of Mind” (e nem tem como), que se não me engano tem oito beats diferentes, um melhor que o outro. Gosto muito mesmo, e ouço até hoje.

4) El Da Sensei – “Relax, Relate, Release” (2002)

Primeiro, eu conheci o El da Sensei, e só depois o The Artifacts, antigo grupo dele com o Tame One. Gosto do estilo dele, e nesse álbum, eu piro logo em quatro sons que são clássicos pra mim: “Fall Back”, “Relax”, “So Easily” e a incrível “Whatyouwando”, com Asheru e J-Live. Nessa última ele se supera, aliás, os três arregaçam…e o beat é uma pedrada (risos).

5) Family Tree – “Tree House Rock” (2003)

Iomos Marad, Mr. Greenweedz, Rita J., Spotlite, Capital D. e Molemen são os integrantes de uma das bancas mais maneiras que já ouvi: a do Family Tree, de Chicago. Eles também fazem parte do selo “All Natural”, fundado pelo Capital D. Os beats de Spotlite e Molemen são impecáveis.

A Rita J. eu considero uma das melhores MCs de todos os tempos. Adoro as letras do Iomos Marad, sempre com mensagens positivas. No começo eu confesso que me deixava levar só pelos beats, me identifiquei quando ouvi a primeira vez, mas depois vi que eles eram bem mais que isso. Destaque para: “Spit it”, muuito pesada, “Blow The Spot” e “Virgo”, que também é muito da hora no remix do Dj Spinna.

playmobile

PC, MPC, SP e Playmobeats - por Mila Kodaira

6) Boom Bap Project – “Reprogram” (2005)

A maioria dos meus álbuns preferidos de rap foram lançados em 2005. Mas eu não os conheci no mesmo ano de lançamento, foram descobertas digamos que esporádicas. Um desses que é constante na minha playlist: “Reprogram”. A maioria das produções assinadas pelo Jake One, que pra mim é top. Só conheci Jake One no ano passado, e depois que soube que ele produziu esse álbum passei a gostar ainda mais.

Nem sei quais sons destacar de tantos que gosto…mas aí vai: “1,2,3,4”, “Get, get up”, “Wyle Out,” Cut Down Ya Options”, “Rock the Spot” (essa é muito Jake One mesmo, hehe) e a “Sho Shot”, com sample de “I Shot the Sheriff” do Bob Marley. Beat foda demais, impossível não se deixar levar! Ahhh, gosto de todas! (risos)

7) Lexicon – “Youth is Yours” (2003)

Pra quem me conhece e não me aguenta mais ouvindo esse álbum! Com certeza, é um dos meus “preferidos dos preferidos.” E sabe, pra mim quanto mais gosto, mais difícil é falar sobre. Eu gosto do Lexicon porque os acho muito originais. Adoro os beats do Dj C-Minus, são diferentes de tudo que já ouvi, não enjôo!

Bom, os irmãos Nick e Gideon misturam rap com “indie rock”, e têm nítidas influências de Beastie Boys e “hip hop old school.” Falam sobre relacionamentos na maioria das músicas, mas sem aquela coisa óbvia e super melosa que é muito comum desde sempre. É de um jeito engraçado, que eles abordam esses temas, num estilo único. Minhas preferidas: “Brokenhearted, a animadíssima “Rock” e “I’ll Be Alright.”

8) Rjd2 – “Dead Ringer” (2002)

Ele mistura samples de várias músicas diferentes, blues com funky, new era com jazz, isso quando não usa barulhinhos de jogos de video game, como aquelas aberturas das softhouses da Nintendo lá dos anos 90, tipo Konami, Capcom, Rareware…pra mim, esse cara é simplesmente um gênio! Além de ser Dj. Minhas preferidas desse álbum:”Ghostwriter”, Smoke and Mirrors, Take the Picture Off, que posteriormente foi gravada com Mos Def, Copywrite e Prefuse 73, num álbum de remixes.

9) Supastition – “Chain Letters” (2005)

Comecei a gostar de Supastition depois de ouvir o “Chain Letters”. Já tinha esse disco, e o ignorava (risos). Até que um belo dia resolvi ouvir. Comecei a curtir muito e, consequentemente a gostar de M-Phazes também, que produziu quase o álbum todo. Minhas preferidas são “Don’t Stop”, “Step it up” e “Nickeled Needles”(Phazes), muito bom mesmo.

Não curto Nicolay, mas tem um single que ele produziu e entrou nesse disco que eu tiro o chapéu: “The Willians”. Muito foda! Além da letra ser engraçada, o cara todo confuso, cheio de problemas pra resolver, não consegue ser ele mesmo…reclama no fim do som, pois não tem grana pra pagar o estúdio nem o beat (risos). Resumindo: Chain Letters é ótimo, ouço repetidas vezes.

jedi mind tricks

10) Jedi Mind Tricks – “A History of Violency” (2008)

Sem comentários, o melhor álbum de 2008 pra mim! JMT sempre se superando. E o que dizer então do Dj Stoupe? Quem mais usa samples latinos com tanta perfeição? Eu ia citar o “Violent by Design”, mas esse último disco pra mim é ainda mais foda, pois eles mostram que evoluem como muitos grupos não conseguem, mantendo sua ideologia, as letras polêmicas e agressivas sem se render ao “que vende mais”, e ao rumo que a mídia quer. “Trail of Lies” é demais mesmo, é a pura realidade em versos saindo de Vinnie Paz. Mas eu destaco: “Heavy Artillery” e “Godflesh”.

O King Magnetic rouba a cena nesse som, logo no começo mesmo. O flow dele encaixa perfeitamente no beat e quebra tuuuudo… e por aí vai!

*Conheça mais sobre a beatmaker Luciana Playmobile na entrevista feita pelo site Voz da Rua.

Mais: www.myspace.com/playmobeats1


Conheça Dago Donato

Dago Donato

Dago Donato (Arquivo pessoal)

Conheça Dago Donato, organizador da festa Peligro e editor do TramaVirtual

Por apreciar boa música, independente dos rótulos, Dago Donato chamou a atenção do Per Raps. Editor chefe do TramaVirtual há três anos, Dago (34 anos) tem um currículo extenso: apresentador do programa Trama Virtual no Multishow e Radiola na TV Cultura, já passou pelas pick- ups da noite Peligro no Milo Garage, colabora na revista Rolling Stone e agora é empresário da noite ao lado de Guilherme Barrela e Guab na Neu Clube.

Nessa entrevista, dividida em duas partes, você vai saber um pouco mais sobre o cara que foi eleito um dos três melhores jovens empreendedores musicais do Brasil pelo British Council, além de como funciona a TramaVirtual. Se liga!

Trama e o Rap

“Quando a Trama começou, ela já começou com uma pegada de música brasileira-música eletrônica, uma parte de rock, que era tocada pelo Miranda, e uma de rap.

Dago Donato e João Marcelo Bôscoli

Dago Donato e João Marcelo Bôscoli (Divulgação)

O João Marcelo (Bôscoli), que é o presidente, sempre foi fã de Hip Hop, então isso já estava no DNA da Trama. A Trama desde o começo lançou o Rappin’ Hood, o Posse Mente Zulu, mas nessa época eu não estava lá ainda.

Quando eu cheguei o Fábio Luiz, o Parteum, já estava lá dirigindo um pouco dessa parte ligada ao rap. Ele fez a coletânea “Direto do Laboratório”, acho que foi o 1º registro maior que deu atenção pra essa cena mais underground. Então a Trama sempre teve essa ligação com o rap.”

A TramaVirtual, nasceu como um espaço aberto para todos os gêneros, inicialmente capitaneada por Carlos Eduardo Miranda, explica Dago que assumiu a direção com a saída de Miranda em 2006. O site que abrange diversos estilos musicais tem uma filosofia: “A gente sempre esteve aberto pra botar o holofote no que a gente gostava, não necessariamente seguindo um gênero. Mas sim no que a gente gostava e achava que era importante valorizar”.

Dago acredita que para apreciar a música, é importante se livrar dos rótulos “Eu nunca me liguei nessa parada de segmentação. Desde moleque eu escuto rap, rock, música eletrônica e pra mim não tem diferença. Só tem uma diferenciação: música boa e música ruim. Então eu não acredito muito nisso”.

 

 

 

Download Remunerado

Essa mecânica, até então, inédita no Brasil e no mundo, foi implementada no sistema da TramaVirtual em 2007. Trata-se de uma ferramenta dentro do site onde o artista ganha dinheiro toda vez que alguém baixa sua música.

“ É um lance totalmente aberto. Qualquer um que tiver música própria, e direitos sobre ela, pode montar sua parte na TramaVirtual, subir suas músicas e dar um “concordo” para participar desse programa de download renumerado. Esse negócio não tem custo nem pro artista e nem pro usuário. É um lance bem democrático e é tão democrático que todo dinheiro que a gente arrecada com o patrocínio destinado ao programa é dividido pelo número de downloads. Então a gente tem R$1.000,00 para dividir esse mês e tivemos mil downloads, então vai dar R$1,00 pra cada um. A banda com cem downloads e vai ganhar R$100,00.”

Artistas em destaques

“ Temos uma redação que funciona também como uma procuradoria. Procurar agulha no palheiro, lá nos 60 mil artistas, e a gente garimpa nisso. O que a gente acha que deve ser valorizado a gente destaca. A gente faz uma matéria diária e assim descobrimos muita coisa e o é relevante a gente ressalta”.

 O time da TramaVirtual é composto por pessoas que vivem a música, não só de produção, mas também a tem como um estilo de vida. “Todo mundo que está no TramaVirtual vai pra festival, vai pra show , produz coisa, tem banda, tem grupo. Ninguém chegou lá a passeio. Todo mundo faz parte do negócio. Todo mundo gosta muito de música, entende do que está falando. Todo mundo vê show e conhece pessoas”.

Mixtape TramaVirtual

O intuito da Mixtape é fazer com que os internautas tenham uma experiência direta com o quê cada convidado está ouvindo, curte ou acha válido deixar como dica.

“A gente não é inocente a ponto de achar que vamos mudar um monte de coisa. A gente espera que um ou outro.. um eminho que entre lá atrás de Dance Of Days descubra o Manada. Descubra que o mundo é muito maior que isso. A gente tem essa esperança”.

Oga (à esquerda) e Mr. Venom - Projeto Manada/Divulgação

Oga (à esquerda) e Mr. Venom - Projeto Manada/Divulgação

Na sua segunda edição, a Mixtape TramaVirtual trouxe a visão do Oga Mendonça, do Projeto Manada. “Essa semana a gente pegou o Oga, do Manada pra ele fazer uma mixtape de artistas que estão lá na TramaVirtual, então a gente ouve também pessoas que a gente acha que tem um olhar sobre a cena que eles atuam”.

Na mixtape do Oga, existem músicas que já são bem conhecidas da galera e outras que quase ninguém ouviu falar. Dago explica: “Pô, Sparrowmixxx*??? Eu nunca tinha ouvido falar, meu! (risos) Uma parada meio doida de Brasília.”

Na segunda parte da entrevista, Dago fala um pouco mais de como apreciar música independente e sem rótulos, sobre os programas Trama Virtual, no Multishow, e o Radiola, na TV Cultura e como foi transformar o quadro “12 horas de Estúdio” para uma versão na TV aberta.

Acompanhe mais dicas musicais de Dago em seu blog Be my Head.

*Sparrowmixxx é o nome do Dj que organizou a mixtape, o som que o Dago se refere é do grupo Tribo da Periferia. (Props to Oga!)
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Festa

flyerElo da Corrente

Elo da Corrente no espaço +Soma

Serviço:

Sábado, 16 de Maio de 2009
Discotecagem +Soma Staff
Abertura da casa 19h00 e show pontualmente às 21h
Entrada R$ 10,00
Nome na lista R$ 8,00 (contato@noropolis.net)

Espaço +Soma
Rua Fidalga 98 – Vila Madalena – São Paulo – SP
Informações/Booking – info@maissoma.com / 11 3034.0515


“Não canso de ouvir” com Diamantee + Quarteirão

Diamantee é o segundo convidado da "Não canso de ouvir"

O Beatmaker Diamantee (Arquivo)

O Per Raps orgulhosamente apresenta a segunda edição da seção “Não canso de ouvir”, iniciada pelo Mascote, do Contra Fluxo, onde personalidades do hip hop fazem uma lista com os dez discos de rap mais importantes na vida e na trajetória de cada um. Dessa vez, o convidado é o beatmaker Diamantee, que fez uma lista predominantemente de discos lançados no meio dos anos 90. Só pedra, confere aí:

1. Wu-Tang Clan – Wu-Tang Forever (1997)
Músicas clássicas:
Reunited; It’s Yourz; Triumph

 

Quando saiu esse disco, em 1997, eu tinha 14 anos e andava de skate em um pico aqui perto de casa (na Lopel). Eu tinha um walkman e não tirava essa fita, toda vez que algum amigo me encontrava eu estava ouvindo. Esse é, na minha opinião, um dos trabalhos mais perfeitos feitos no rap.

2. House of Pain – House of Pain (1992)
Músicas clássicas:
Jump Around

 

Essa foi umas das primeiras músicas que eu ouvi. Na época eu só curtia hardcore, não era muito ligado ao rap, mas lembro que estávamos em casa, eu e uns camaradas, vendo uns clipes, e quando eu ouvi “Jump Around” pela primeira vez eu quis sair pulando e cantando. Aí que o rap começou a mudar minha vida.

3. Black Star  – Mos Def & Talib Kweli are Black Star (1998)
Músicas clássicas:
Definition; Re:DEFinition; Brown Skin Lady; Respiration

Na época que eu ouvi o Black Star pela primeira vez eu estava respirando skate, andava 24 horas por dia. E esse disco pra mim era puro skate, colocava ele no walkman e morria de vontade de andar. Sem palavras,obra prima.

4. Busta Rhymes – Coming (1996)
Músicas clássicas:
It´s a Party

 

Eu fui com o Flávio, um amigo meu, até o centro, comprar um boot porque o meu já estava destruído. Colamos em uma loja de CD´s , na Florida, e havia acabado de chegar esse CD lá. Lembro que na época o dólar era um pra um e o cd era 25 reais. Eu já tinha comprado o tênis, então ele olhou pra mim e perguntou: “Mano, esse CD é foda, sobrou alguma coisa da grana do tênis?” E havia sobrado 25 reais certinhos, aí ele comprou o CD e depois nem lembro se ele me pagou (risos). Lembro que era uma fitinha que eu ouvia muito também.

5. A Tribe Called Quest – Midnight Marauders (1993)

 ATCQ_Mid Mar
Músicas clássicas:
Electric Relaxation; Oh My God

 

Me lembro que não conhecia quase nada de rap e aí os moleques haviam gravado um clipe no Insônia MTV, programa clássico que só passava os melhores clipes. Eles chegaram em casa e me mostraram, era “Electric Relaxation”. Esse clipe tinha o clima do skate, me lembra tipo um dia nublado sem chuva, porque eu pirava nas fitas de skate gringas e na maioria havia cenas em dias cinzas,  em Nova Iorque. Me lembro bem da Zoo York, o melhor vídeo de skate que já vi na vida, rappers rimando e os manos andando demais. Da vontade de chorar (risos)…

6. Mobb Deep – Hell on Earth (1996)
Músicas clássicas:
Hell on Earth ( Front Lines ); G.O.D. Pt. III; Man Down

 

Esse álbum é simplesmente foda. Eu me lembro que fiquei fissurado em M-o-b-b e nessa época aqui em São Paulo nêgo gostava de perguntar o que você estava ouvindo, um ficava disputando com o outro quantos grupos conhecia, era engraçado. Foi bem na época do Napster, dos primeiros programas de mp3 que disponibilizavam músicas de graça e a galera passava a noite inteira baixando disco e procurando coisas novas. E quando me perguntavam o que eu estava ouvindo, sempre dizia “Boot Camp Click, Mobb Deep e Nas”.

7. Nas – It Was Written (1996)
Músicas clássicas:
The Message; Street Dreams; If I Ruled the World (Imagine That)

 

Quando ouvi pela primeira vez “The Message”, descobri que amava o rap. Existem muitos rappers bons, muitas músicas boas, mas só existe um Nas. Para mim é o melhor.

8. Method Man – Tical (1994)
Músicas clássicas:
All I Need;  Bring the Pain

 

Depois de fazer a música M.E.T.H.O.D. Man para o cd do Wu-Tang, “Enter the Wu-Tang”, ele me lança esse clássico. Esse disco é um daqueles que podem se passar 100 anos você não enjôa, muito foda.

9. Black Moon – Enta da Stage (1993)
Músicas clássicas:
I Got Cha Opin

 

Meu primeiro contato com parte intregrante da Boot Camp Clik. Conheci esse som por uma fita de skate que não lembro o nome mas marcou, lembro de ter ouvido muito esse som em uma festa clássica, a “Class”.

10. Jay-Z – Black Album (2003)


Músicas clássicas:
Encore; Dirt Off Your Shoulder; 99 Problems; Lucifer; What More Can I Say

Esse disco foi me deu outra visão, abriu meus olhos para outros produtores que eu não escutava, nem queria saber ou não conhecia, tipo Kanye West e Timbaland. Esse último principalmente porque eu tinha um certo preconceito com o estilo dele, mas quando eu ouvi a faixa que ele fez para o Jay-Z virei fã numero 1. Mudei minha visão de produção e esse disco mudou minha vida.

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Festa

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Nesta quarta-feira, 8/4, a festa Quarteirão, em edição especial, recebe os Dj’s jurados do DMC Brasil (só moooonstro!!!): Dj Bizznizz, Dj Pogo, Dj Cutmaster Swift e Dj Shortkut. Para quem ainda não ficou sabendo,  os vencedores do DMC Team, realizado no último sábado (4), foram os Dj’s do Clã Leste.

O Per Raps dá os parabéns a melhor crew de Dj’s do Brasil e deseja sorte na edição mundial do campeonato!

Serviço
Festa Quarteirão: Dia 8 de abril na Jive Club.
Al. Barros, 376. Higienópolis – Sao Paulo – SP
Informações: 3663-2684 ou http://www.jiveclub.com.br/

“Sou pago pra continuar a viver dos meus sonhos”

Já ouviu falar do trabalho do Magoo Félix? E não estou me referindo nem ao Mr. Magoo e nem ao Gato Félix dos desenhos. Ele é na verdade um artista que mistura aerografia, intercalando ilustração publicitaria, decoração de interiores e pintura artistica automotiva. Não entendeu nada? Acompanhe a conversa que tivemos com o Magoo e você irá descobrir do que se trata.

Magoo Félix (Arquivo Pessoal)

Magoo Félix (Arquivo Pessoal)

Per Raps: Onde a customização e sua arte se convergem?
Magoo Félix: Cara, meu irmão sempre curtiu carros, em especial carros customizados, hot rods e drag racing, sempre acompanhei esse visual dos carros por intermédio dele. Eu desenho desde pequeno, com intuito de fazer algo ligado a cultura underground, e meu primeiro contato com arte de airbrush (aerógrafo) veio no final dos anos 80, quando meu irmão comprou uma moto com pintura customizada, daí em diante me apaixonei pela aerografia automotiva.

Mas desse tempo até aqui fiz muitas coisas relacionadas a arte, grafite, ilustração, e aerografia, que é hoje , meu principal suporte artístico, sempre usando a linguagem de cultura custom, punk rock e tatuagem.

Per Raps: No começo então foi interesse próprio, hoje é profissional, certo?
Magoo Félix: Cara, hoje eu tento juntar tudo num único beneficio. Comecei por curiosidade, me apaixonei pela arte da aerografia e não parei mais. Hoje, 12 anos depois da compra do meu primeiro aerógrafo, continuo apaixonado por essa técnica que é a que eu mais uso em meus trabalhos, seja como pintor de carros de corrida, capacetes ou em meu trabalho como artista plástico. Pinto porque gosto e vivo de pintar; junto a parte financeira com a paixão pela arte. Costumo brincar que sou pago pra continuar a viver dos meus sonhos.

Per Raps: Agora me fala da sua exposição que você fez na Choque Cultural, vi que sua arte aparece em vários tipos de superfície, há um tema ou uma linha que amarre o trabalho todo?
Magoo Félix: Tento seguir esse mesmo universo que engloba todo o meu trabalho, misturo um pouco de cada, uso a influência do visual hot rod, com outras coisas que curto, como tattoo, que é algo que faz muita parte da minha vida, e musica alternativa, punk rock, garotas, baladas. Sou músico além de pintor, acho que toda essa vivência se misturou num liquidificador freak e deu o meu estilo. Quanto às superfícies, uso peças de carro, chapas metálicas, pinos de boliche, ferramentas, pedaços de madeira… Uso várias coisas dependendo do efeito que quero obter, mas sempre mantendo a pintura automotiva como foco principal.

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Per Raps: Se alguém quiser “pimpar” o carro, então você poderia dar um grau, pelo menos na parte da pintura, certo?
Magoo Félix: Sim, sim, claro. Na parte de pintura pode contar comigo, desde que seja algo ligado ao visual do meu trabalho…

Per Raps: E a importância de exposições feitas na Choque? Tem gente que diz que isso é uma forma de “enjaular” a arte…
Magoo Félix: Ah cara, isso é papo de quem não trabalha com arte e não sabe como é difícil expor o seu trabalho pras pessoas. Eu, particularmente, coloco o meu trabalho nos mais variados campos possíveis; se alguém quer comprar um trabalho meu, que está exposto, pra decorar a sua casa, e pagar por isso, por que não? Sou a favor de que a arte atinja todos os lugares. Eu seria frustrado se tivesse algum talento a mostrar e não tivesse como fazê-lo.

Per Raps: Você consegue viver só de arte hoje?
Magoo Félix: Olha, eu costumo dizer que, no Brasil, a gente sobrevive mais do que vive de arte… rs. Aqui é tudo muito novo, principalmente pra alguns artistas, que vieram de um berço mais underground como eu. É aí que eu falo da importância da galeria Choque Cultural, por exemplo, que deu um boom nos artistas de rua, que antes estavam à mercê da sorte, ou apenas pintando seus trabalhos na rua, sem qualquer reconhecimento.

Per Raps: Você disse que o grafite é importante na sua arte, você já chegou a bombardear os muros de São Paulo?
Magoo Félix: Cara, fiz grafite por um tempo e já faz uma boa data que parei, mas ultimamente tenho feito uns rabiscos pra me familiarizar com o spray de novo, e tenho curtido. Acho que já, já to de volta às ruas pra acompanhar uns camaradas pra fazer algo, creio que a própria vivência na aerografia me deu algo bacana pra eu aplicar nos muros com spray, to empolgado e ansioso por essa volta.

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Per Raps: Você faz seu trabalho ouvindo um som?
Magoo Félix: Sem música eu simplesmente não produzo, aliás, não vivo. Música faz parte integrante da minha vida e de certa forma até se reflete no meu trabalho. Ouço muita cois., Ouço punk rock, Ramones, Husker Du, The Muffs, muita coisa desse universo, mas minha maior paixão musical vem do rock alternativo, bandas como Silversun Pick ups, Sonic Youth, Dinossaur Jr, Superchunk, essas coisas. Ultimamente, tenho me aventurado no MPB pra relaxar, tenho ouvido muito Chico Buarque – o cara escreve muito bem -, e convenhamos, ele entende de mulheres mais do que ninguém, então, ele é a fonte!

Per Raps: Quem quiser encontrar sua arte faz o quê?
Magoo Félix: Tem o MySpace, tem o Fotolog, que eu atualizo quase que diariamente, tem o site da Choque, na sessão “artists”, e tem meu site, que apesar de desatualizado há anos, rs, logo logo, terá no ar uma nova página, totalmente reformulada e interativa, vale a pena esperar! rs.


Made for Skate + Dicas

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Made for Skate por Nathalia Leme*

Quem se amarra no conteúdo do Per Raps a partir de agora também pode entrar de sola na cultura urbana. Curiosidades e fatos relevantes pra você sacar muito do que as ruas têm a dizer através do comportamento e até da moda de quem passa por ela. O primeiro capítulo de uma história contada meio fora de ordem vai ser a importância do sneaker, que agora está tão em voga, na história do skate. 

O bom e velho par de tênis que hoje é capaz até de ditar regras de moda, mas em  meados 1960, logo depois do surgimento  do skate,  já fazia a diferença. A história do carrinho pode ser contada através dos tênis que já pisaram em suas lixas. A prova disso é que recentemente foi lançado um livro, que conta toda a trajetória dos tênis feitos para andar de skate, nunca antes contada em livros ou revistas especializadas.

Batizado de “Made for skate” o livro conta relatos de cada época com fotos desse mercado que influencia o mundo fashion e chega a movimentar cerca de U$ 800 milhões ao ano. Curiosidades sobre o romance tênis e skate são documentadas em 400 páginas com fotos raras que foram disponibilizadas na internet. No site da Made for Skate é possível folhear algumas páginas e descobrir quem foi o primeiro profissional a assinar um modelo de tênis de skate, por exemplo.

Esse ai é o modelo do tênis Rainha citado no texto.

“Made for Skate” é mesmo um importante documento para a história do carrinho e o Brasil também foi lembrado em suas passagens com o Rainha Skating, tênis produzido pela brasileira Rainha nos anos 80 (imagem abaixo). Além disso, um dos grandes nomes do skate brasileiro, Álvaro Porquê? ilustra uma das fotos do capítulo “Anos 90- Nike Dunk”, num belíssimo wallride na quase extinta, para skatistas, Praça Roosevelt. Mas esse pode ser um outro capítulo. 

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*A Nathalia Leme é jornalista e já trabalhou como assessora de imprensa de conhecidas marcas de skate e surf, além de ser repórter da Vista Skateboard Art. A partir de agora, ela também colabora com o Per Raps. Bem vinda!
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Festas

Parece que as coisas voltaram a funcionar mesmo. Para quem estava sentindo falta, os shows de rap estão de volta a São Paulo. Pra começar, na primeira “quarta-feira (4) rap” do ano, duas grandes atrações.

Emicida (segunda parte da entrevista ta chegando e vem com surpresa da Na Humilde Crew de brinde) se apresenta no Café Aurora, na Bela Vista, em festa que contará com as discotecagens de Dj Tati Lazer e Dj Dan Dan.

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Já na região de Higienópolis, o Pentágono mostra o seu mais novo lançamento, o disco Natural, na nova festa Quarteirão, que vai rolar na Jive em todas as quartas-feiras de março. Nesta primeira edição, os toca-discos ficam por conta de Dj Keffing (Lua), Dj Marco (Céu) e Dj Nando. Já para adiantar, os “monstros” das próximas quartas já estão escolhidos. São eles, nada mais nada menos do que Flora Matos (11), Marechal (18) e a atração internacional Pace and Mr. Green (25). Vai perder alguma?

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Nesta sexta-feira (6), mais um show, desta vez daquele que mais agitou o público no último festival Indie Hip Hop: Doncesão. Ele se apresenta ao lado de sua banca, a 360 Graus Records, no CCPC, na rua da Consolação, em evento promovido por Elza Cohen. A discotagem é cortesia de Dj Big Edy (Contra Fluxo) e Dj Caíque.

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Ps.: Prestigiem! O rap nacional precisa de vocês.

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Grafite brasuca no iPhone

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Start Mobile em parceria com a QAZ – Arte Urbana vai lançar em breve no mercado internacional um incrível aplicativo que coloca a arte de nossos Grafiteiros dentro do iPhone da Apple.

A empresa americana lançou na semana passada uma amostra grátis que esta sendo distribuída pelo aplicativo itunes com fotos dos quartos pintados por artistas famosos no Hotel des Arts em San Francisco (EUA).

A seguir virão pacotes com imagens temáticas sobre shepard Fairey, Vulcan, Chor Boogie e os artistas brasileiros, entre outros. Os brasileiros que participam são: Binho Martins, Emol, Feik, Gejo (imagem ao lado), GEN, Mateus Bonini, Nick_Alive e Rodrigo O branco.

As imagens estão acompanhadas por informações sobre os artistas e podem ser vistas ao clicar na imagem. Como um cartão postal a figura vira e mostra o verso com informações. Este tipo de divulgação da street art é feito pela primeira vez no mundo e nossos artistas estão lá!

Fonte: Revista Elementos


Sobre o carnaval

Pode ser que você goste ou não de carnaval, mas que você acaba sendo obrigado a conviver com isso em fevereiro, é fato! Mesmo não assistindo televisão, ficando longe dos sambódromos ou pontos onde blocos carnavalescos costumam passar, algum resquício de carnaval sempre aparece.  

Como o samba e o carnaval têm suas origens na rua, então têm espaço no Per Raps! Por isso, resolvemos mostrar um pouco da origem dessa festa em São Paulo. Enjoy! 

 “Do lundu africano dos negros bantos que vieram em navios negreiros para o Brasil trabalhar nas lavouras cafeeiras aos desfiles dos carnavais dos dias atuais, a história do samba teve seus altos e baixos. O samba vem pra São Paulo marginalizado e oprimido junto à vinda do negro para a capital após a instauração da Lei Áurea em 1888.

Antes disso, o que se via pela região paulistana a respeito de carnaval aparecem nas Atas da Câmara de São Paulo em sessão de 13 de fevereiro de 1604 a respeito do “entrudo”, que nada mais era que um folguedo*, alegre e mais violento. 

 Em meados de 1905, aumenta a popularização da folia nos bairros de Brás, Pari, Barra Funda, Água Branca e Lapa, que agregam a classe baixa, essencialmente negra, constítuida de trabalhadores das industrias que se estabelecem nesses lugares. A partir dai, acontece o primeiro desfile com cordões e blocos na região do Brás. 

Começa o aparecimentodo modo negro de se fazer carnaval que ia desde a sua batucada ao seu modo de vida, dentro dos cordões de São Paulo. É da Barra Funda, que sai o primeiro cordão carnavalesco. Formado por negros que procuravam ali manter suas tradições perdidas dentro dos navios negreiros, os cordões foram transformados em escolas de samba durante a administração do prefeito Faria Lima. Ele trouxe o modelo carioca de se fazer carnaval, que chamou a atenção da elite. 

No entanto, a escola de samba hoje não é mais o núcleo de tradição cultural que era nos áureos tempos de cordões em São Paulo. Com o passar dos anos, a cultura negra e escola de samba foram se afastando.”

by E. Ribas

“…Negro paga imposto

Negro vai à guerra

Negro ajudou

A construir a nossa terra

Temos a pergunta

Não nos leve a mal

Por que só no triduo de momo

Que o negro é genial?

 Camisa Verde e Branco – 1982 (*ilustração E. Ribas)

 

Post dedicado a Deise Giovanini (Feliz aniversário!)


J-Dilla mudou minha vida (1974-2006) – III

Nuts, Rodrigo Brandão, Daniel Sanchez, Munhoz, Rump, Parteum, Tamenpi e Nave

Nuts, Rodrigo Brandão, Daniel Sanchez, Munhoz, Rump, Parteum, Tamenpi e Nave

8 histórias e uma influência

“O Jay Dee já era presente na minha vida, antes até de eu pensar exatamente em produzir minhas coisas ou de eu estar atento pra quem ele era”. Essa frase de Tiago Munhoz – conhecido apenas pelo seu sobrenome, seus trabalhos como MC (hoje no Contra Fluxo) e sua produção de beats – exemplifica bem o primeiro contato com Dilla. Não só ele, como várias outras pessoas curtiam suas produções, sem saber exatamente de quem eram. Isso aconteceu também com o produtor curitibano Nave. “Comecei ouvindo os sons do A Tribe (Called Quest) e do Busta (Rhymes), as músicas que eu mais gostava eram nos beats dele, e quando descobri fui saber mais sobre o trampo dele“, relembra.

Imagine a sensação de descobrir que a maioria dos sons que você mais curtia eram produzidos por uma mesma pessoa? Para o Dj Tamenpi serviu de incentivo para ir atrás de outros sons. “Quando fui ligando uma coisa a outra, vi que era ele que tinha produzido vários dos meus sons prediletos. Daí foi só pesquisa, peguei tudo que o cara fez e piro com grande parte desses sons”. Mas se um disc-jóquei gosta de um tipo de música, então aqueles que estão na pista saberão do que se trata. “Nos meus sets, com certeza uns cinco sons que o cara produziu você vai escutar!”

Esse contato com as produções do até então Jay Dee se mostrou tão poderoso, que mudou alguns caminhos. “O primeiro contato foi no segundo do Pharcyde, Labcabincalifornia. Eu já gostava do grupo, tinha o álbum de estréia, mas quando ouvi esse disco minha vida mudou, fiquei com uma fita K7 rolando no carro sem parar por mais de ano, juro!“, relembra nostálgico o MC Rodrigo Brandão, do Mamelo Sound System. O trabalho de produção desse álbum do Pharcyde acabou se mostrando importante para outras pessoas também.

“Eu sempre tive a mania de ler a ficha técnica dos álbuns que comprava, não foi diferente com Labcabincalifornia. O primeiro single do álbum, “Runnin’ “, foi lançado em agosto de 1995. Quando o álbum saiu em 1996, o primeiro impulso foi ver o que o ilustre desconhecido de Detroit havia feito no resto do álbum”, conta o MC/produtor Parteum. A partir desse trabalho tão diferente e inovador, fica difícil não ser influenciado. “Levo para vida o que senti quando ouvi ‘Bullshit’ pela primeira vez, o bumbo desquantizado, a caixa na frente, mais a frente dos outros elementos, um clap secundário cheio de reverb. Era uma outra noção de espaço”, completa.

Para outros, a lembrança é mais específica e relembra que a assinatura de Jay Dee no início era outra. “Ouvia suas produções para o De La Soul, Pharcyde, A Tribe Called Quest quando ele assinava beats como Ummah (coletivo de produtores de Detroit)”, afirma o paulistano e hoje internacional, Dj Nuts. Os mais novos, como é o caso do MC/produtor (Tiago) Rump, de 22 anos, tiveram um contato com trabalhos mais recentes, mas não menos importantes e inovadores. “Comecei a ouvir quando saiu o Jaylib. Levou um tempo pra eu entrar na vibe, foi quando eu conheci o trampo dele e o do Madlib. Com o tempo fui buscando tudo que ele tinha lançado. Quando o promo do Donuts vazou na net, uns dois meses antes do lançamento, não tive dúvidas de que ele era o melhor produtor de hip hop pelos meus padrões do que deveria ser um produtor”.

A importância de uma figura que partiu prematuramente do “jogo” que mais amava se mostrou mais traumática para alguns. Mas o ponto que une todos se dá em relação às influências. No caso de Munhoz, a primeira opção seria a mais apropriada. “Eu não lidei bem com a partida do Dilla. Nunca imaginei na minha vida que fosse me emocionar com a morte de alguém que eu nem conheci. E não lidei bem com a morte do DJ Primo, que foi alguém que eu tive contato, tocamos juntos, tinha uma história”.

Mas o que James “Dilla” Yancey tinha de tão diferente de outros nomes que estavam produzindo em sua época? “Se ele tivesse parado depois de produzir o já citado Pharcyde e do The Love Movement, do A Tribe Called Quest, teria seu nome na história garantido. Mas isso foi só o começo! Depois vieram De La Soul, Erykah Badu, Busta Rhymes, Common, D’Angelo, Soulquarians, e por aí vai. Sem falar no trabalho solo autoral, nas fitas Fantastic, Vol.1 (Slum Village) e Ruff Draft… Creio que ele é o equivalente no hip hop ao que um Thelonious Monk representa pro jazz”, vislumbra Rodrigo Brandão.

Além do trabalho com grandes nomes, Dilla trouxe inúmeras inovações ao modo de se produzir um beat. Quem explica melhor é Rump. “Não é algo fácil de traduzir em palavras, mas parece haver uma profundidade nos beats do Dilla, muito maior do que a média; uma busca por achar os timbres que casem perfeitamente; baterias programadas meticulosamente fora do tempo; uma mistura precisa do convencional com o não convencional, às vezes incorporando cadências de música clássica em suas bases, às vezes usando acordes que em nada se encaixam nas regras de harmonia tradicional”, teoriza.

Para quem pensa que Jay Dee só foi importante para a música rap, se engana. Pelo menos é o que o Dj Tamenpi pôde constatar. “O cara criou um estilo de beat. E num é só no rap que nêgo considera! Já troquei idéia com produtores de música eletrônica de Detroit que adoram o estilo do cara. O estilo dele influencia todo mundo. E com essa morte tão cedo, ele meio que se tornou uma lenda. Geral reconhece e paga pau”. Já Rump acredita que a importância vai além das imposições de estilo da indústria e do público. “Acho que transcende o underground e o mainstream, pelo menos em relação aos produtores. Tem muito produtor underground daqui, da Holanda, da África do Sul e de outros lugares tendo o Dilla como uma das principais referências.”

Quem tem as produções do saudoso produtor como norte, acaba sendo reconhecido facilmente, segundo o produtor Nave. “Quando você ouve Hocus Pocus e os beats do 20syl, você entende a importância dele. Ouve Kamau e Parteum, você entende a importância dele”. A partir dessa referência chamada J-Dilla, pode-se perceber uma finesse característica nos beats. “Quase tudo no rap que tem algum requinte, sofisticação, talvez não existiria se não fosse por ele”, completa Nave. Outro produtor, Munhoz, vai ainda além. “Velho, ele é o produtor dos produtores! Acho que ele deve ser comparado aos grandes. Influenciou tanto quanto os caras que o influenciaram, como o Premier ou o Pete Rock”.

B+)

J-Dilla e Madlib fazem compras de discos no Brasil (foto: B+)

A passagem de Dilla pelo Brasil

Para falar da vinda de J-Dilla ao país é preciso se abrir um parênteses nesta história. Você conhecerá um pouco melhor da parceria do produtor e MC com outro companheiro de funções, Madlib, no trabalho denominado Jaylib.

Jaylib – “Champion Sound”

Jaylib – Ao Vivo 2004

http://stonesthrow.com/jukebox/jaylib-live-2004.mp3″

O disco começou a ser idealizado a partir do momento em que Madlib rimou em uns beats do Dilla, que estavam em uma fita do Dj J Rocc. Isso chegou aos ouvidos de Dilla, em Detroit, que perguntou: Quem é esse cara rimando nos meus beats? Como Dilla já conhecia Madlib, entrou em contato. A partir daí, a parceria se concretizou. O MC paulistano Kamau comenta especialmente sobre a parceria entre Dilla e Madlib, que na opinião dele, não poderia dar errado. “Dois dos maiores sampleadores das mais diversas fontes se unindo pra fazer música. Claro que o resultado seria esperado e cabuloso! Nada mais apropriado que o nome do disco: Som de Campeão”.

O mais curioso em “Champion Sound” é a produção de metade dos beats pro Madlib com rimas de Jay Dee e outra parte com rimas de Madlib e beats de Dilla. O álbum foi lançado oficialmente em 2003, e serviu para firmar a parceria que aconteceu em dois pontos específicos: Detroit (Dilla) e Los Angeles (Madlib). Eles adotaram um sistema de gravação de trilhas e compartilhamento dos arquivos a distância, o que agilizou o processo de produção.

Nave é direto na opinião sobre o álbum. “É aquela parada que quando ouve-se os samples você manda o tradicional ‘filha da p…!’!”. Ele aproveita para confessar a importância dessa parceria para ele, além do que ela de fato representou. “Ouvi muito, volta e meia ouço. Acho que foi o encontro da amizade com uma dose bem grande de insanidade e genialidade”, conclui.

Jaylib na pista por Mr. Mass/França (via Stones Throw)

Jaylib na pista por Mr. Mass/França (via Stones Throw)

Mas o segredo para o sucesso vai além, na opinião de Kamau. “Admiração e respeito. Dois dos melhores produtores a pegar o microfone, na minha opinião. Estilos únicos se complementando em batida e rima”. A relação entre o som produzido na parceria Jaylib ultrapassa barreiras da relação com a música. “Sou muito fã dos dois e já conversei com um deles. Mas mesmo assim ambos mudaram minha vida. Se o rap é minha vida, mudaram mesmo!”, completa. Munhoz confessa que a parceria Dilla/Madlib lhe rendeu boas lembranças. “O Jaylib, me lembra o DJ Primo, foi um disco que ele tocou muito, que ele gostava muito, e que me remete a uma época boa da minha vida”.

(Fecha parênteses)

De volta à história, o responsável por trazer Dilla ao Brasil foi Rodrigo Brandão. No entanto, essa não é uma tarefa nova para ele, que traz as atrações do Indie Hip Hop, além de alguns outros artistas para se apresentarem ao longo do ano. Quem relata a história, é o próprio Rodrigo. “A coisa rolou por conta da Primeira Mostra De Filmes Hip Hop De São Paulo, em 2005. O Keepintime* tava na programação, e o B+ era o diretor convidado. Como o Madlib participa da fita, surgiu a idéia e a oportunidade de trazê-lo pra se apresentar na festa de abertura do evento. É pública a timidez e notória a aversão por palcos do Loopdigga, então já foi uma surpresa ele topar fazer o show. Quando a Suemyra* escreveu dizendo que apesar de estar com a saúde frágil, o Jay Dee viria junto, pra realizar o sonho de conhecer o Brasil, e que então tratava-se do Jaylib ao vivo, nossas expectativas ficaram ainda maiores!”

No entanto, a apresentação acabou não se concretizando. Para o fã de Dilla, Daniel Sanchez, a expectativa no dia era grande. “Eu lembro que eu encontrei o (Dj) FZero na porta e disse: veio ver o Madlib? Ele: nada, vim aqui pra ver o J-Dilla!“. O Dj Nuts foi um dos que chegou a ter contato com Dilla em terras brasucas e conta como foi. “Meu contato com ele foi breve. Ele descobriu no Brasil que estava doente e teve que ir embora no dia de sua apresentação! Ele nem tava tão animado quando foi comprar disco e também para comer”.

J-Dilla e Madlib apresentando o projeto Jaylib, por Scott Dukes

J-Dilla e Madlib apresentando o projeto Jaylib, por Scott Dukes

Quem segue contando a história, é Rodrigo. “Na véspera do acontecimento ele passou mal, teve que ser hospitalizado aqui e só pode ser transferido pro centro médico interno do LAX (aeroporto de Los Angeles) depois que o doutor brasileiro falou com o enfermeiro-chefe de lá e com o médico particular do ‘Mr. Yancey‘, devido à gravidade da doença dele. Durante os dois dias e pouco em que esteve aqui, pouca gente encontrou com ele, mas quem viu não esquece”. Parteum teve essa chance por meio do próprio Rodrigo Brandão, que o chamou para conhecê-lo. “Troquei idéia, entreguei vinil, mixtapes. O Madlib me trata bem, quando me encontra, por conta daquele dia”.

“No fim, o Madlib subiu acompanhado apenas pelo Dj Eric Coleman, e fez um show que até hoje divide opiniões: alguns amaram, outros se decepcionaram. Mas a verdade é que não deve ter sido nada fácil pra ele encarar a parada preocupado, sem o parceiro que, vale ressaltar, era um monstro no palco”, pontua Rodrigo Brandão. Apesar de ter gostado da apresentação de Madlib, foi difícil para Daniel Sanchez esconder a decepção por não ter visto seu ídolo no palco. “Fui no show, no palco avisaram que ele teve que voltar“. No fim das contas, o estado de saúde de Jay Dee o impediu de aproveitar a passagem pelo Brasil. “Por aqui ele ficou no quarto de hotel fazendo fumaça e comendo pizzas”, comenta o Dj Nuts.

Dilla voltou para os Estados Unidos, foi internado e por lá ficou. Chegou a produzir músicas em seu quarto no hospital, e inclusive finalizou o álbum “Donuts” neste mesmo lugar. No dia 10 de fevereiro de 2006, James “Dilla” Yancey partiu. Para aqueles que o consideravam, ficou a boa lembrança e o respeito. Além disso, restaram as homenagens. Tamenpi conta o que rola nos Estados Unidos e fala também sobre os discos clássicos de Dilla que disponibiliza em seu blog todo ano. “Sempre na semana que faz anos da morte do cara, rolam várias festas nos Estados Unidos, só com os caras que colavam com ele. E vê-se uma movimentação no mundo todo em lembrar do cara. É aquilo, o maluco virou uma lenda no hip-hop. Eu homenageio no blog porque é uma forma de deixar os discos do cara sempre por ali, pra quem quiser, baixar. Porque vale a pena pra car%#@!”.

O reconhecimento também serve para se manter a memória dessa lenda. “Penso que se algum dia o rap se levar a sério ao ponto de termos um museu, o nome de James Dewitt Yancey tem de estar lá. Ele trabalhou para que falássemos de Jazz, Stereolab e Busta Rhymes na mesma sentença. Ele trabalhou para que os beats fossem mais cheios, para que mudanças de tempo fossem populares em rap. Trabalhou com Daft Punk bem antes de Kanye West. Ajudou na construção de diversos álbuns clássicos. O legado é inegável”, diz Parteum.

O fã Daniel Sanchez publicou dois vídeos em homenagem a Dilla, que tiveram milhares de visitações do Brasil e do mundo. “Quando criei os vídeos, um em homenagem e o outro um remix, não imaginava a repercussão que teria. Pude ter uma dimensão real da importância do músico pro mundo do hip hop. Quando digo ‘mundo do hip hop’ me refiro ao planeta Terra como um todo”.

O Dj Nuts prestou uma homenagem que se tornou famosa no mundo inteiro. Recriou em uma apresentação do Brasilintime, a versão brasileira do Keepintime*, o beat de Runnin’, do Pharcyde, e com produção de Dilla. Isso faz lembrar a importância de Dilla para Nuts. “Ele foi um dos primeiros a usar música brasileira em seus beats. O uso de Stan Getz com a música ‘Saudade vem correndo’ acabou sendo o tema que reconstruímos para a noite do Brasilintime ao lado do Dj Primo e o Pupillo (baterista do grupo Nação Zumbi)”.

Caso J-Dilla ainda estivesse vivo, provavelmente estaria na ativa, segundo Rodrigo Brandão. “Sem dúvida, o Dilla é um dos artistas mais talentosos, inovadores e criativos que já pisaram na Terra, então me parece claro que ele estaria emanando música boa sem parar!”. Munhoz também é da mesma opinião – “Com certeza estaria fazendo música! Morreu fazendo música”. Já o curitibano Nave, aposta que ele elevaria o nível do rap. “Seria melhor porque teria mais rap bom sendo feito, mais classe, mais originalidade”. Tamenpi ressalta o amor de Dilla pelo que fazia. “Acho que estaria vindo pedra atrás de pedra. Ele era fo%@! E não parava, amava muito o que fazia”.

De segmento, ficam as bases que surgem a cada dia e são creditas a Dilla, além do trabalho do jovem Illa J. Nave tem gostado do que ouve do garoto. “Tenho ouvido, e muito. Tem gosto de nostalgia, é algo como ‘O estilo clássico Jay Dee nos beats’”. O produtor e MC, Rump, faz uma análise completa. “Gostei do disco do Illa J, mesmo do EP anterior, que ele mesmo produziu a maior parte dos beats. Acho que ele tem que ter cuidado para não fazer a carreira em cima do nome do irmão, mas acho ele talentoso, assim como tantos outros caras de Detroit (Dwele, Elzhi, Guilty Simpson, Black Milk, Waajeed). Detroit é a cidade de onde mais parece vir coisa nova e de qualidade hoje, e a sonoridade tem muito a ver com o que foi criado pelo Dilla”.

*Traremos informações sobre esses assuntos em textos futuros.

simpsons-dillajay-dee-simpsons-iiEssa história não poderia terminar sem um agradecimento especial à todos envolvidos nesta série de posts “J-Dilla mudou minha vida (1974-2006) – partes I, II, e III”. Obrigado pela atenção, paciência, informações e dicas e a prontidão nas respostas.

“Nada disso tem valor, se você não faz por amor”/ Paulo Napoli – “Com amor”

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The Suite For Ma Dukes EP

Capa do álbum orquestrado "Suite For Ma Dukes", à venda no iTunes

Capa do álbum orquestrado "Suite For Ma Dukes", à venda no iTunes

Mais um projeto em apoio a Ma Dukes, mãe de J-Dilla, chega às praças. Dessa vez, um álbum com versões orquestradas de grandes produções de James Yancey, em prol de sua família e de inúmeras fundações que visam o tratamento do Lúpus.

O álbum é na verdade um EP, The Suite For Ma Dukes EP, idealizado por Carlos Nino e Miguel Atwood Ferguson. São 4 faixas, incluindo “Fall in Love”, do grupo Slum Village. Adquira o seu no iTunes.

Se você quiser saber mais sobre J-Dilla, o Per Raps separou alguns links bem interessantes. Acompanhe:

> Texto da revista Vibe Magazine com um player so de sons produzidos por Jay Dee. Clique!

> “Slick Boy e Sir Moog”, texto escrito em 2006 por Parteum para o site Coquetel Molotov, de Recife.

> Listagem de uma série de sites no mundo que homenagearam Dilla esse ano no blog do Rump.

> Texto publicado sobre os 3 anos sem “Mr. Yancey” no Central do Rap.


J-Dilla mudou minha vida (1974-2006) – II

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A foto clássica foi tirada por Roger Erickson

…pra quem é Hip-Hop e entende disso aqui, Dilla era o nosso Coltrane” – Parteum (18/07/2006)

O legado de Dilla

No dia 10 de fevereiro de 2006, James “Dilla” Yancey partiu. Deixou saudades, e incentivou sua mãe a iniciar uma luta. Maureen Yancey, a Ma Dukes, passou a arrecadar fundos para uma instituição destinada a pessoas que também possuem lúpus, a doença que levou Dilla. “O propósito dele na Terra era vir aqui e nos dar a música que ele tinha em sua mente e em sua alma”, confessa Ma Dukes em uma entrevista para a revista Vibe. (13/02/09)

Os diversos tributos feitos não permitiram que Ma Dukes se livrasse das pendências financeiras. J-Dilla deixou 2 filhas, Ja’Mya, de 7 anos, e Paige, de 9, além de problemas não resolvidos com o imposto de renda e questões legais relativas aos seus beats. Mesmo após 3 anos de sua morte, a família do MC e produtor não recebeu um centavo sequer do governo de Detroit. Segundo os advogados de Dilla, isso ocorre porque ainda há uma dívida pelos gastos do tratamento médico.

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Outro problema é que muitos músicos se utilizam das batidas de Dilla sem a devida permissão. Isso, pois Dilla criava os beats e simplesmente entregava para os amigos. Os advogados dizem que, até Busta Rhymes, parceiro de Jay Dee, se utilizou indevidamente de algumas produções.

Ele lançou uma mixtape que foi baixada gratuitamente na internet e não permitia a arrecadação por meio dos downloads. Ma Dukes lembra que Busta pagou para Dilla há anos pelos beats. O que parece é que esses advogados não sabem bem do que falam, já que cuidam do caso desde a época em que Dilla era vivo. E também não falam dos shows, que os diversos parceiros do rapper fazem para arrecadar fundos.

Uma homenagem que pode ser vista é o filme de Michel Gondry, “Dave Chappelle’s Block Party” (2006). No filme, o apresentador Dave Chapelle conta com nomes como Erykah Badu, Common, Mos Def, Talib Kweli, The Roots, Dead Prez, Fugees e muitos outros para um daqueles shows que fecham o quarteirão e os americanos costumam fazer. Foi lançado um mês após a morte de Dilla e foi dedicado a ele. (Você encontra cópias desse DVD nas grandes galerias em SP, nas outras praças há exibições no canal Telecine Cult e encomendas pela internet)

Em resumo, a situação acontece por causa principalmente de uma grande burocracia. Só que isso também tem a ver com o sistema de leis norte-americano, que hoje impede que a mãe de Dilla use o nome do próprio filho, seja para a sua fundação em benefício àqueles que possuem lúpus ou qualquer outra coisa. Aliás, em 2006 Ma Dukes passou por um teste, que comprovou que ela também possuia a doença que levou Dilla. Você pode ajudar adquirindo a camiseta acima no site da Stones Throw Records, além disso a renda está sendo arrecadada com parte da venda dos sons de Dilla no iTunes.

John "Illa J" Yancey por iNickel Photography

John "Illa J" Yancey por iNickel Photography

Um pouco sobre John “Illa J” Yancey e seu álbum Yancey Boys

“Eu era apenas uma criança em Detroit, sentado lá nas escadas da nossa casa, vendo ele (Dilla) fazer as primeiras batidas para o Slum Village“, relembra Illa J. O garoto teve acesso às faixas, que nunca tinham sido usadas por ninguém, e fez o álbum. Isso tudo rolou por meio do pessoal da Delicious Vinyl, que assinou com Illa J, e já tinham trabalhado com Dilla nos sons clássicos, “Runnin” e “Drop”, do grupo Pharcyde.

Frank Nitty, que era parceiro de J-Dilla, apresenta um teoria bem interessante em um dos sons do disco “Yancey Boys”, na faixa chamada “Alien Family”. “Meu parceiro Dilla era um extraterrestre, sabe? De um lugar desconhecido, um alien! Todos que conheciam Dilla sabiam que ele tinha um lance com aliens por alguma razão.” Frank continua relacionando idéias e também faz um comentário da família Yancey, “é como se fossem os Jackson 5 de Marte!”. Para justificar o talento do jovem Illa J, ele conclui sua “tese”. “E fazer parte dessa família, faz de Illa J um alien também!”.

É bem verdade que algumas pessoas ficaram desconfiadas, pois sabem que a responsa de Illa J é muito grande. Há quem diga que seria o mesmo que surgir um irmão mais novo de Jay Z, que se chamasse Zee J. Seja qual for o caminho de John Yancey, o nome de seu irmão sempre estará associado ao seu. Sobre o CD, muitos se surpreenderam, principalmente aqueles que tinham expectativas baixas. Mas no geral, é um bom trabalho.

Yancey Boys tem grande êxito, porque consegue mostrar bem os dois irmãos. Os beats de J-Dilla neste trabalho mostram por que ele é um dos maiores beatmakers de todos os tempos, enquanto o caçula Illa J mostra grande potencial e uma sensibilidade incrível ao lidar com o material póstumo do irmão. Nada de grandes dramas ou músicas lamentando a morte de Dilla: a homenagem aqui é da forma que ele com certeza preferiria: rimas, beats e paixão, muita paixão pelo rap. ” – Trecho da resenha de Felipe Schmidt, leia no blog Boombap-rap.

Agora é esperar para ver o que John “Illa J” Yancey terá a acrescentar à música. O que se sabe é que a responsabilidade pelo fardo é grande. Adquira o seu CD do “Illa J:Yancey Boys” aqui.

Fontes: The Source, Vibe Magazine e site Stones Throw Records.

Na terceira e última parte da homenagem a James “Dilla” Yancey, você conhecerá histórias de influências na vida de pessoas aqui no Brasil. Além disso, você saberá um pouco mais sobre a breve vinda do rapper em 2005 ao país, e sua grande parceria com Madlib. Continue acompanhando!


J-Dilla mudou minha vida (1974-2006)

Homenagem a James D. Yancey a.k.a J- Dilla (divulgação Nike)

Homenagem a James D. Yancey a.k.a J- Dilla (divulgação Nike)

“O produtor favorito do seu produtor favorito” – The Source (06/04/06)

Você já ouviu falar no nome de James Dewitt Yancey? Talvez seja mais fácil chamá-lo de Jay Dee ou J-Dilla. E então, algo vem a sua mente? Se sim, muito bem. Caso contrário, não se desespere, pois você está prestes a saber um pouco da história de um grande homem que amava o que fazia. Faleceu há três anos e se estivesse vivo, hoje teria 35. Mas essa não é uma boa hora para a tristeza, e sim para celebrar a vida.

Filho de Beverly Yancey , professor de técnicas vocais e baixista, que por sua vez era amigo de Berry Gordy, fundador da gravadora Motown. A mãe, Maureen, ou Ma Dukes, era uma cantora daquelas com capacidade de ir do gospel ao jazz, passando até pela ópera. O pequeno Yancey foi encorajado a se manter longe das ruas e de encrenca, se aproximando da música seja em um coral ou de seus primeiros e preciosos discos.

Ele foi integrante do lendário Slum Village, grupo em que – o até então Jay Dee – passou a ser mais conhecido como MC e também produtor. Trabalhou com os mais diversos grupos, como Pharcyde, De La Soul, Busta Rhymes, A Tribe Called Quest , Talib Kweli, Common, Erykah Badu e vários outros.

Queria ser como Pete Rock, e admitiu isso sem problemas. Em 2001, passou a usar o nome J-Dilla, principalmente para se diferenciar de Jermaine Dupri, que em sua abreviação de nome também era um J. D (Jay Dee). Iniciou sua carreira solo com o conhecido “Fu&% the Police”, que é um som obrigatório em muitas festas.

Dilla era um cara reservado, que estava além dessas brigas de underground e mainstream. Ele tinha uma postura mais voltada para os artistas alternativos, mas nunca se pronunciou contra os gangstas. Tinha seus luxos, exemplo disso é um Cadillac que ele tinha, carinhosamente chamado por ele de “Dillalade”.

J-Dilla; mais que um músico, um cientista da música (by B+)

J-Dilla; mais que um músico, um cientista da música (by B+)

Quem fala mais sobre o lugar que J-Dilla ocupava é um grande fã seu, o jovem produtor e MC, Tiago Frúgoli, o Rump. “Acho que transcende o underground e o mainstream, pelo menos em relação aos produtores. Tem muito produtor underground daqui, da Holanda, da África do Sul e de outros lugares tendo o Dilla como uma das principais referências. Do outro lado, você vê em depoimentos que caras que nem o Pharrell, K. West, Just Blaze que o Dilla, apesar de nunca ter tido as vendas que eles têm, tem uma considerável influência no trabalho deles.”

Criou clássicos modernos e redefiniu fronteiras antes bem delimitadas. Dedicado, cheio de disciplina e criatividade, colocou Detroit, sua terra natal, no mapa muito antes de Eminem tê-lo feito em 99′. O MC e produtor paulistano, Parteum, dá a dica do teor das rima de Dilla, e traduz uma de suas provocações em uma letra. “Um salve para o meu chegado Killagan. E todos os meus irmãos representando Detroit mais do que doze Eminems” (por causa do grupo D12, que faz parte da banca de Eminem) – Reunion, Slum Village. No entanto, sempre esteve longe das massas. Diziam que ele poderia reproduzir a batida de qualquer produtor, mas ninguém poderia reproduzir os beats de Dilla.

Parteum também assume o significado do trabalho de Dilla em sua carreira. “Assim como o trabalho de Pete Rock e o Premier, a música de J Dilla ainda influencia a construção rítmica dos instrumentais que crio. O uso de frequências com pouco ataque nas linhas de baixo, o que tem a ver com Reggae e Tecnno de Detroit, a tradição do Sloppy Drumming, essa parada de não quantizar os beats, a idéia de criar música híbrida: 1/3 eletrônica – 1/3 sampleada e recortada – 1/3 acústica (O remix para “I Try” de Macy Gray é um bom exemplo)”.

O rapper não poupa palavras e diz qual a real importância do que Jay Dee fez para a música. “Eu acredito que quando o assunto é produção, esse cara criou uma escola. É um músico para ser estudado pelo conjunto da obra, assim como grandes nomes do Jazz”, explica. E o que esse produtor e MC de Detroit fazia de tão diferente? “Um dia ele estava sampleando e recortando tudo, outro dia ele tocava os instrumentos… Ainda no começo da carreira ele levou a idéia de filtragem de samples para um outro lugar. Um exemplo: O uso de Holding You, Loving You (Don Blackman) em Go Ladies (Fantastic Vol. 2). É claro que Pete Rock, Beatminerz e o próprio Q-Tip usaram esse mesmo recurso anteriormente, mas o fato de ele combinar o corte dos samples, recriar melodias e filtrá-las faz toda a diferença.“

Em 2002, descobriu que possuia um problema muito raro: lúpus, uma doença autoimune que pode ser fatal. Nesse meio tempo, Dilla continuou trabalhando e fazendo turnês pelos Estados Unidos e pelo mundo. Três anos depois, precisou ser internado por complicações.

Percebendo que a morte estava chegando, pediu à sua mãe todos seus equipamentos para continuar fazendo aquilo que mais amava, música. Agora ele tinha à sua disposição pick-ups, mixerers, parte de seus discos, uma MPC, e seu computador. Finalizou o álbum “Donuts” dentro do hospital, que acabou sendo lançado 3 dias após sua morte.

Teve a chance de vir para o Brasil em 2005 junto de Madlib. Chegou até a comprar discos, mas não conseguiu se apresentar por causa da doença.

E como seria se ele ainda estivesse vivo? Parteum responde. “Seria mais respeitado como MC, e a família não estaria sofrendo tanto para controlar o espólio*. Tinha uma parada meio RZA nas divisões que ele fazia ao rimar. Tinha a inversão do sujeito, predicado e complementos. Um bom exemplo é o verso de The Official (Jaylib); as frases são curtas e diretas, existe uma conexão entre o primeiro e o segundo verso, mas de tempos em tempos o sujeito da ação descrita só aparece depois, finaliza.

* Mais informações sobre isso no próximo post.

Fonte: The Source, The Vibe Magazine e o site Stones Throw.

Neste clipe, aparecem os MC’s Common, Will.I.Am (Black Eyed Peas), Black Thought (Roots), Frank N Dank, Talib Kweli, e o irmão mais novo de Dilla, John (a.k.a Illa J) como o MC. Ma Dukes também aparece de forma discreta neste video.

Acompanhe mais comentários de Parteum e Rump sobre J-Dilla, além de outras histórias; a parceria com Madlib (Jaylib) e o legado que ficou para suas duas filhas, sua mãe (Ma Dukes) e seu irmão, Illa J. Tudo isso, no próximo post!


Dica de filme: Sobre Cafés e Cigarros + Relatos da Invasão

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O Per Raps tinha como idéia dar dicas além da música, mas em 08′ isso não foi possível. Para marcar a mudança, logo de cara indicaremos um filme que na verdade não fala de hip hop, mas tem no elenco duas grandes estrelas do rap mundial: RZA (a.k.a Bobby Digital) e GZA (a.ka The Genius) , do Wu-Tang Clan.

O filme chama “Sobre Cafés e Cigarros” (Coffee & Cigarettes, 2003), filmado no período de 17 anos (sim, isso mesmo!) em preto e branco e com diversas histórias que se relacionam ao tema prosposto no título do filme: aquele momento que você pára no meio do dia e vai tomar um café ou fumar um cigarro. Geralmente são nesses breaks que rolam as melhores conversas!

De humor inteligente e idéias aparentemente sem sentido, essa película possui no elenco nomes como Roberto Benigni, Steve Buscemi, Iggy Pop, Tom Waits, Cate Blanchet, Jack e Meg White, da banda de rock White Stripes. Acompanhe abaixo uma crítica feita por Marcel0 Janot, do canal Telecine Cult, sobre esse filme.

Agora vamos falar da história citada no começo do post, chamada Delirium. No diálogo, você acompanha uma idéia que os primos RZA e GZA trocam em uma lanchonete enquanto bebem chá. RZA fala que há 2 anos vem estudando plantas medicinais e que cortou a cafeína de sua vida, pois segundo ele, a substância faz muito mal à saude. E sobre seu novo hobbie, mostra seus porquês. “Pra mim, música e medicina seguem juntas como dois planetas em volta do Sol”, filosófa Bobby Digital em uma de suas primeiras falas.

Depois de um brinde feito pelos dois ao lendário Wu-Tang Clan, aparece um garçom, que acaba sendo reconhecido como Bill Murray. Cabe aqui um ps; Bill Murray é um excelente ator e participou de ótimos filmes como “Feitiço do tempo” (Groundhog Day), “Os excêntricos Tenenbaums” (The Royal Tenenbaums), “Encontros e Desencontros” (Lost in Translation) e vários outros. Seguindo…Na hora, os primos lembram de cara do trabalhos do ator em “Os Caça Fantasmas” (1984).

Bill, mostra que entende de rap e reconhece os primos os chamando de “trouble makers” (baderneiros). Enquanto conversa, toma café direto da chaleira! Bizarrices à parte, se inicia uma prosa sobre cafeína e delírios que ela supostamente causa. No fim, Bill Murray até pede conselhos pra RZA a respeito de seu pigarro e ganha uma receita personalizada pra se tratar.

Os primos-rappers ficam na dúvida se devem deixar gorjeta ou não pro garçom “especial”. A situação toda é absurda, mas bem engraçada, assim como as outras histórias que compõem esse filme. Pra quem tem acesso, o Telecine Cult estava passando “Sobre Cafés e Cigarros” outro dia desses. Se não, o blog CinemaDown tem a película pra download. Enjoy!

E aproveitando a dica do André Maleronka, ai vai a estréia do primeiro clipe do Relatos da Invasão.

Acompanhe também a entrevista que André fez com o grupo:

“Antes mesmo do lançamento da estréia do grupo da zona Norte, um dos melhores e mais orgânicos encontros entre rap e samba já feitos, a música “Jaçanã Picadilha” virou sucesso. “Tivemos ajuda do DJ King, que ouviu a música, entrou em contato com a gente pra pegar, tocou e fez virar um hit nas festas. Ele teve a coragem de chegar e tocar a música. Depende muito dos DJs, mas acho que eles têm que fazer isso, colocar as coisas que gostam no trabalho – se preocupar com a arte” declara Pampa, o DJ do grupo…”

Continue a ler no Overmundo.


Pega leve, De Leve (?)

O MC De leve se apresentou ontem (22/01) na Campus Party e acabou saindo do palco vaiado. O motivo? Um dos jovens que assistia o show se sentiu “ofendido” com o conteúdo da letra “Mexico”. Provavelmente, esse garoto, conhecido como Virbickas, não conhece nada do trabalho do rapper, que é marcado por letras irônicas e sarcásticas.

No vídeo gravado no show e que mostra a discussão, De Leve é interrompido com a insatisfação do garoto. A platéia, que era formada por jovens blogueiros e interessados em internet, passou a engrossar o coro de vaias. O MC parou o som que fazia com a banda Leme (seu projeto paralelo) e começou a conversar com o garoto insatisfeito.

Por fim, a banda Leme saiu do palco e todos aplaudiram o término do show. Em um primeiro momento, parece um grande mal entendido, já que poucos ali pareciam conhecer o trabalho de De Leve. A organização do evento ainda não se pronunciou sobre essa questão.

Uma observação importante a se fazer foi a da jornalista e blogueira Flávia Durante: “O irônico é que o De Leve foi um dos primeiros artistas brasileiros a usar a internet de uma forma bacana, distribuindo mp3 gratuitamente (arranjando treta com sua gravadora na época) e utilizando o Creative Commons. Todo mundo tinha um mp3zinho do saudoso Quinto Andar em seu HD, era uma verdadeira febre no Soulseek. ” Faltou ai usar a tecnologia pro bem, talvez pesquisando quem é o De Leve (e assim conhecendo seu humor e engajamento com as questões da internet) antes de criticar. Pra que serve ferramenta de busca no notebook ou no iPhone?

O ocorrido gerou diversas reações pela blogosfera, em sua maioria favoráveis ao MC carioca. Quem saiu prejudicado nessa história foi a parcela do público que desejava ouvir o som da banda Leme. Alguns chegaram até a questionar se os nerds não têm senso de humor. Um outro comentário interessante foi do blog Em Busca da Palavra Justa, de Rodrigo Savazoni: “Toda tentativa radical de cerceamento à liberdade de expressão é, em resumo, um atentado à sociedade e à inteligência”.

Em suma, houve uma falha da organização por contratar uma banda que o público não aprecia. Assim como também houve um grande desrespeito por parte do público por vaiar uma banda que foi contratada para tocar. Não gostou do som? Ligue seu mp3 player ou reclame para a organização. E que não venham dizer que não gostam de rap, já que o nerdcore, feito por geeks e nerds, é extremamente apreciado por muita gente. Talvez se trouxessem o MC Frontalot teriam obtido mais sucesso!

Ps.: O De Leve disse o que achou disso tudo no blog dele: “…tá tranquilo, tem nada não, essas coisas acontecem.” Leia o post completo no blog Dicamelim.

Para quem não conhece, acompanhe a letra “ofensiva”:

Mexico, De Leve

Mulé, cê quer um papo cabeça liga pro Pedro Bial
não me formei na PUC, fugi da federal
não quero falar sobre física quântica
filosofia, democracia, poesia romântica
nada de kant ou schoppenhauer
nao quer que cante, paga um chopp e dá 1 real aí
não leio jornal há dois anos e nçao assino a veja
mas posso fingir que sei se cê pagar uma cerveja
não li o último do Paulo Coelho
nem a biografia do roberto marinho
mas com certeza não vão mostrar
todas as verdades que nem fizeram com o Maurício MArinho
tô legal de nexo eu gosto de sexo
consciente ou inconsciente eu continuo perplexo
sem poder fazer nada e sem ganhar um por fora
então esquece todos seus problemas agora e

Mexe o cu, Mexe o cu, Mexe o culote!
e as gatinhas…
Mexe o cu, Mexe o cu, Mexe o culote!

Mulé esquece mensalão, esquece seu salão
esquece meu dinheiro e não o seu cartão
sabe que eu tô durão e que o que eu ganho no mês
só dura uma semana então porisso sou seu freguês
mulé, pra que escova progressiva
quando é mais barato alisa-la com saliva?
não, não precisa ficar agressiva
eu te amo feia assim mesmo, você é minha diva
mas eu preciso de um novo sapato
o último que eu comprei era o mais barato
não dá pra ficar de chinelo fingindo humildade
mamãe disse que eu já passei da idade, então…

Mexe o cu, Mexe o cu, Mexe o culote!
criançada…
Mexe o cu, Mexe o cu, Mexe o culote!

Mulé, cê não tá gorda, é mentira do espelho
cê num tem essa celulite que aparece no joelho
cê não tem estria, tá linda
agora come a feijoada porque ela não tá fria ainda
não comrpa renew nem anti-ruga
cê tá no Brasil não dá pra fazer sua fuga
pra terras européias com mulheres menos véias
cês trocam de produtos mas não trocam suas idéias
outras trocam idéias demais, querem intelectuais
não o Zeca Camargo, mas
cuidado pra não se decepcionar por demais
e depois que provar ver que o gosto era amargo
cê tem direito de comer dobradinha,
figo e mocotó amigo até inchar seu umbigo
pode acreditar no que eu digo
quem gosta de osso é cachorro eu nem ligo, e…

Mexe o cu, Mexe o cu, Mexe o culote!
e as gatinhas…
Mexe o cu, Mexe o cu, Mexe o culote!


Videocast do Parteum

O produtor e MC, Parteum, costuma registrar em sua câmera os bastidores de shows, de mixagens, de sessões de estúdio, além de bate-papos com os amigos e afins. Para quem não conhece, o videocast que ele grava já está na sétima edição. Essa é na verdade uma ótima forma de conhecermos mais um pouco dos “processos” por traz de um beat, de uma letra ou até da própria personalidade do rapper.

Neste episódio, você confere trechos de mixagem da mixtape Magus Operandi, shows no Rio Grande do Sul e na Praça da Sé (em São Paulo) um breve depoimento do “avô-herói” do MC, uma pequena session de skate e a apresentação do som “A Bagunça das Gavetas”, que rolou na CCJ, em Sampa no fim de 08′.

“Decifre-me por meio dessas linhas/ Imaginárias linhas nos separam feito prófase, metáfase, anáfase, telófase
afaste-me do mal/ Quero mais do que o lamento no final, deixe-me…”
(trecho de “A Bagunça das Gavetas”, por Parteum)

O Per Raps trará em breve mais informações sobre a fita mixada Magus Operandi, a sexta mixtape de Parteum. Por enquanto, acompanhe as notícias no blog do MC, Minhas Paradas Sempre Funcionam De Vez em Quando.


Paródias

Para começar bem o ano de 2009, por que não algumas paródias de clipes de rap? Escolhemos alguns para você se divertir, mas não incluiremos o original para não poluir o post. Lá vai:

O primeiro é “First Asian Boy”, uma paródia de “American Boy”, originalmente gravado pela inglesa Estelle com participação de Kanye West;

Agora é a vez dos egípcios tirarem um barato com o mesmo som, agora chamado de “Egyptian Boy”:

Nobots, “One Hit Wonder”; paródia de Flobots com “Handlebar” (falamos deles no final de 08′, lembra?):

Até a cantora canadense Alanis Morissette tirou um barato regravando o clipe “My Humps”, do Black Eyed Peas:


Divulgação de Pesquisas

Para o mercado de vendas e até para as faculdades de comunicação, as pesquisas são extremamente importantes. A pesquisa mostra o gosto do público, aponta tendências e uma série de outros fatores que, se levados em consideração, poderão dizer muita coisa. Em vista disso, publicamos o resultado de 3 das 4 pesquisas que o Per Raps realizou ao longo de 2008. Analise os dados com calma e tome suas conclusões a respeito.

Dj EQ ao fundo e Talib Kweli mostrando os sons de Eardrum

Dj EQ ao fundo e Talib Kweli mostrando os sons de Eardrum

O que você achou do Indie Hip Hop 2008?
Muito bom: 63%
Chega logo, Indie 2009!: 20%
Já fui em edições mais empolgantes: 14%
Normal : 13%
Bom : 0%

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Gostou da Arte do Barulho, o novo CD de Marcelo D2?
Já ouvi trabalhos melhores do D2 : 40%
Sim: 33%
Só salva a produção: 15%
Não: 8%
As rimas são as mesmas: 5%

Kanye West no palco de sua super produção, "Glow in The Dark"

Kanye West no palco de sua super produção, "Glow in The Dark"

Gostou de 808’s & The Heartbreak?
Kanye fugiu da sua essência: 55%
Sim: 29%
Nem vou ouvir!: 7%
Não: 5%
Tanto faz: 4%


A História do Indie Hip Hop no Sesc – Parte II

Além de MC e produtor de eventos nas horas vagas, Rodrigo Brandão é ainda um dos maiores conhecedores de hip hop do Brasil, e tem contato direto com monstros da história da cultura, como o próprio Afrika Bambaata. Por esse e outros motivos, sua opinião sobre o atual momento do hip hop no país deve ser considerada essencial para entendermos a época de ‘vacas magras’ em que o hip hop se encontra por aqui.

Na segunda parte da matéria exclusiva com ele, você confere, além dessa visão, outras informações sobre a edição do festival Indie Hip Hop deste ano, que terá a participação de Talib Kweli, e ainda uma novidade sobre o eterno Sabotage, considerado por Brandão um dos padrinhos do festival. Para os fãs do grupo Mamelo Sound System, ele adiantou que sua parceira Lurdez da Luz está finalizando um EP de nove músicas, que será lançado no ano que vem.
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Preconceito

“Sempre existiu muito preconceito em relação ao hip hop, que muitas vezes até se justifica, por um pensamento recorrente de: ‘ah não, esses boy tão vindo aqui pra tomar’, existe muito ainda esse tipo de atitude. Fora isso existe, do outro lado, preconceito mesmo com o hip hop, com rap, por parte de quem é de fora, do olhar exterior. Por um lado interno do hip hop ainda existe muita má organização, muito preconceito, muita falta de noção de que as coisas tem quem andar pra frente e você tem que se relacionar.

Se você for parar pra pensar, tanto musicalmente quanto em termos de atitude mesmo, pensando em grana, o hip hop lá fora só virou grande do jeito que está hoje porque foi aprendendo ao longo dos anos a englobar informação e samplear estilos de música cada vez mais variados, e ainda valorizar a coisa nova, a coisa ‘fresh’. Aqui no Brasil é o contrário.

Mano Brown fotografado nos batidores de um show por João Wainer

Mano Brown fotografado nos batidores de um show por João Wainer

O tempo todo, até hoje, a maioria das pessoas tá tentando imitar o Racionais, que é do caralho, eu sou fãzasso dos caras, original pra caralho, mas o melhor jeito de você ser fã de Racionais é você se espelhar na atitude, na independência, no histórico dos caras, mas tentar espelhar aquilo ali dentro do que você é. Eu amo o Mano Brown, é o meu herói com certeza, mas eu vou meter uma bombeta igual à dele, vou falar as gírias iguais a dele? Não vou, vai ser ridículo, vai ser até pior porque eu vou estar tentando sugar o que o cara é e tentar me aproveitar do que ele conquistou.

E aí, enquanto isso não acontecer, realmente os caras que tão olhando de fora vão ter razão de olhar com preconceito pro hip hop. Junta isso ao que aconteceu na Sé no ano passado, aí fodeu. Porque o que aconteceu? O rap já era considerado esquisito naquela época, mas tinha uma coisa que era super popular, que é o Racionais. Eu estava no palco, vi o que aconteceu e foi bola cantada na caçapa.

Naquele dia, a polícia de São Paulo foi ali pra bagunçar, tava ali pra criar um evento que tornasse a situação do Racionais e conseqüentemente do hip hop em geral, muito pior. Porque é um troço que é contestador, que não se curvou, e aí pensaram: ‘os caras vão cantar na Sé no palco principal do maior evento de cultura da cidade…então agora mesmo que nós vamos acabar com isso aí!’.

E o que a gente ouve falar, não é uma informação que alguém do Racionais me falou, é que eles tão tendo dificuldade pra marcar show. E isso se reflete em toda a história, ninguém está conseguindo marcar show de rap. Contratante de rap lembra do episódio com a polícia, pensa que vai dar errado. Infelizmente isso ecoa e o que acontece é que o grupo mais importante, que chegou mais longe fazendo rap no Brasil, agora se vê numa sinuca de bico. E se eles que são a ponta de lança da história estão travados, tudo que vem atrás está travado também.

Então o hip hop no Brasil está numa situação extremamente complicada, em termos de conseguir sobreviver mesmo. E nas periferias, com a invasão do funk, o que acontece é que o pessoal do funk aceita o rap, mas o pessoal do rap não aceita o funk, então tende ao lance do hip hop ficar cada vez mais apertado, cada vez mais fechado.

Indie Hip Hop / Trabalho

A verdade é que o festival já me toma muito mais tempo do que eu gostaria. Se tiver que partir de mim essa idéia de ampliar, fazer outra edição, levar pra outro estado, aí que eu não vou fazer meu som mesmo. E na verdade, tudo que me move é fazer música. O meu sonho é que existisse um circuito de festivais de rap e também de outro tipos de som que englobassem o hip hop, e eu não precisasse fazer isso.

Eu acredito na parada da seguinte forma: se eu tenho a oportunidade de fazer, eu vou fazer até onde der pra mim, porque eu já estou fazendo mais do que eu gostaria, entendeu? Se eu pudesse, queria estar fazendo turnê do Mamelo pelo Brasil inteiro. Ao mesmo tempo, se você tem paixão por uma cultura e enxerga isso, um pouco eu vou fazer, mas eu não vou parar minha arte, aquilo que eu acredito, pra virar arauto de uma cultura.

Querendo ou não, é uma cruz que eu tenho que carregar também. O ano inteiro chega gente pedindo pra tocar no Indie, pedindo pra participar, quando na verdade o lema é: não dá pra ajudar quem não se ajuda. Tipo assim, quem tá fazendo o seu trabalho corretamente e direito, é natural acabar sendo convidado.

Enéas aka Enézimo lançará o CD "Um cara de Sorte" no Indie 08'

Enéas aka Enézimo lançará o CD "Um cara de Sorte" no Indie 08'

Vou te dar um exemplo palpável disso, que é a rapaziada de Santo André, do Pau-de-dá-em-Doido. Eu já conhecia o Enéas de muito tempo, ele é do Armageddon, aí no ano passado a gente foi fazer um show do Mamelo na prefeitura de Santo André, num projeto que chama Canja Com Canja. Aí chegou o Enéas, me entregou a mixtape do Pau-de-dá-em-Doido e falou: ‘a gente acabou de lançar. Escuta aí!’. E eu falei: ‘valeu’. Ele não virou pra mim e falou que queria tocar, que isso, que aquilo.

Aí eu escutei o trampo, achei bacana, apresentei pro pessoal do Sesc, eles também gostaram. Os caras foram, entraram no elenco do festival, fizeram um show do caralho, uma puta surpresa pra quem não conhecia o trabalho deles, se destacaram. Esse ano os caras continuam na correria, então é gente que tá trabalhando e é natural que isso acabe crescendo e ecoando.

Isso é a coisa de uma cultura, de uma teia de gente trabalhando pra coisa funcionar. E acho que enquanto não tiver mais Enéas, mais Kl Jays, mais Djs Natos, mais Rodrigos e mais Per Raps, o bagulho não vai rolar, tá ligado? Eu acho que quando tiver todo mundo trabalhando pra coisa dar certo, aí sim a gente vai se encontrar e dominar os espaços que existem pra ser dominados.

Eu acho que a coisa tem que partir mais nesse sentido de: ‘o que eu posso fazer pra crescer o meu e o de todo mundo?’. O Kl Jay é um exemplo disso. Ele poderia ter feito uma mixtape só com música gringa, ou até com algumas coisas nacionais, mas não, ele fez questão de fazer só com música brasileira e ainda chamou um monte de gente que não está nos vinis que ele usou pra participar também.

Kl Jay, um exemplo a ser seguido no Hip Hop (divulgação)

Kl Jay, um exemplo a ser seguido no Hip Hop (divulgação)

O cara criou oportunidade pro trabalho de um monte de gente ser mostrado dentro do trabalho dele. Esse é o tipo de mentalidade. Ele vai parar de discotecar, de fazer o Sintonia, pra produzir evento? Não vai. Mas vai, dentro do possível, produzir evento que ele possa participar e trazer mais gente, o meu ponto de vista é o mesmo.

O que mais falta é gente trabalhando pro hip hop. Ao mesmo tempo que é legal que a coisa é muito de rua, tem essa falsa aura de facilidade, que é só pegar um mic, rimar Brandão com sangue bom e já era. E na verdade não é isso, existe toda uma história de lírica de rap, de fonética, de dialogar aquilo com uma musicalidade, porque senão vira um discurso só, tem ainda a coisa de habilidade de Dj, e tudo isso tem uma sintonia fina que faz parecer fácil mas que é muito difícil.

Tem uma música do Beans de uns anos atrás em que ele fala isso, o problema é que tem “too many emcees and not enough listeners” (“muitos MCs e poucos ouvintes”). Tem muita gente querendo ser artista e poucos fãs, pensando: ‘pô, eu gosto do bagulho então vou trabalhar com isso, vou produzir evento’. É essa história.

O hip hop é uma cultura que nasceu de uma atitude de você fazer as coisas por você mesmo, e agora chegou num ponto que tá ao contrário, nego tá querendo ser carregado no colo e não fazer nada por si mesmo. Acho que as pessoas que tão chegando agora tem que sacar de pensar: ‘beleza, isso aqui mexeu comigo de certa maneira a ponto de eu querer fazer parte disso, então eu vou buscar retribuir pra cultura, além de só buscar tirar da coisa’.

Critérios

A partir de 2005, começamos a trabalhar com uma regra: o artista tem que ter lançado um disco oficial no ano, e ter tido destaque. Nas últimas três edições, funcionou desse jeito. O grande problema é que nós estamos na era do mp3. Esse ano, quem lançou disco e fez barulho ao longo do ano foi só o Kamau, principalmente, e na seqüência o Doncesão e o Dr. Caligari, ambos com o Dj Caíque.

Então chegou uma hora que eu me reuni com um pessoal do Sesc e perguntei: ‘nós vamos usar essa regra pra ajudar ou pra atrapalhar’? Porque do jeito que estava combinado não ia dar muito certo, só iam ter esses shows aí. Então abriu-se a exceção no seguinte sentido: quem já tem uma certa relevância no cenário e vai estar com disco oficial sendo vendido no dia do evento, pôde participar. Com isso abrimos pra participação do Enézimo, do Projeto Manada e do Subsolo, que vão estar com cd à venda no Indie. O único cd que já chegou, desde o dia em que a gente marcou foi o Sombra (além de Kamau, Doncesão e Caligari). A regra tem que ser moldada de acordo com a realidade, e eu acho que o festival está se tornando até mais do que uma coisa de passar quem fez barulho no ano, mas uma plataforma de lançamento.

Curitiba

Eu cheguei até a apresentar o material do Savave pro pessoal do Sesc, porque o som é bacana, o show é bacana e o formato do trampo é muito original, com o cd pequenininho. Mas aí ficou aquela história de que aquilo ali também pode ser considerado uma mixtape, e aí se abrisse, tinha vários outros trabalhos e ia complicar essa seleção.

Outro cara que foi uma pena, que eu só tive a certeza de que ele estava prensando o cd depois que o elenco já estava fechado, é o Nel Sentimentum. E Curitiba é foda porque é o seguinte, todo ano desde o Hieroglyphics os caras fecham um busão e vem. Então eles tem uma representatividade na parada e a gente tem mó vontade de colocar alguma coisa de lá e de Santo André também, que a primeira vez que teve alguma coisa foi o Pau-de-dá-em-Doido no ano passado, porque o pessoal de lá vai pra caramba e a gente tem essa vontade de dar espaço pra rapaziada até pra retribuir esse amor que vem de lá.

Alternativo x Gangsta

Pros gringos que vêm tocar aqui, em geral, o que pauta o evento é o nome do artista, a representatividade que ele tem, e o caráter do rap dele. Por exemplo, eu sou muito fã do Scarface, mas não vou tentar trazer o Scarface pra tocar no Indie, não dá né, é outro ponto de vista. É até bom deixar claro que o nosso festival é uma festival de rap alternativo, então o artista tem que ter o mínimo de identificação com essa proposta. A coisa do gangsta não nos diz respeito mesmo, até tem várias coisas que eu gosto, mas não é o caráter do Indie.

Homenagem ao rapper Sabotage pelos Racionais MC´s em 2003

Homenagem ao rapper Sabotage pelos Racionais MC´s em 2003

É aquela história, não tem como rotular a verdade de ninguém, tem cara que nasceu aquilo, viveu aquilo e a arte do cara é cabulosa. O Sabotage foi um exemplo claro disso. A lírica dele era 100% gangsta, mas o jeito que o cara fazia a coisa, a mensagem que ele passava, ele se encaixaria facilmente na proposta do Indie e eu considero ele um dos padrinhos do festival.

Eu acredito que, com a morte do Sabota, morreu muita esperança no rap brasileiro, porque ele era um cara que misturou todo mundo. Era uma época em que estava todo mundo muito próximo de um jeito que nunca aconteceu antes e nem depois. A perda dele foi maior do que só da pessoa dele, do talento e do artista cabulosíssimo que ele era, mas também foi a perda de uma pessoa que estava literalmente fazendo o equilíbrio da parada. E dia 24 de janeiro completa meia década sem ele. Cinco anos depois, não aconteceu nada.

(O produtor Rica Amabis, do Instituto, estava junto durante a entrevista e informou que o disco com músicas póstumas e inéditas do “Maestro do Canão” está na fase final de produção e deve sair até o meio do ano que vem. Aguardem.)


A história do Indie Hip Hop no Sesc

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O festival Indie Hip Hop entra em sua sétima edição neste ano com o status de único grande evento destinado ao rap alternativo no Brasil. Além de concentrar grupos e artistas nacionais do gênero, a marca registrada do Indie é a presença anual de um conceituado artista de fora do país. Em 2008, o presente ao público que estará no Sesc Santo André, no ABC paulista, nos dias 13 e 14, é nada mais nada menos do que Talib Kweli, MC nova-iorquino que lançou o aclamado disco Eardrum no ano passado e parceiro de Mos Def no clássico álbum Blackstar.
 
O MC Rodrigo Brandão, do grupo paulista Mamelo Sound System, tem uma relação direta com o festival e participa da organização desde o início do Indie. Ele falou ao Per Raps para contar algumas histórias sobre o evento e ainda falar um pouco da edição deste ano, matéria que você confere em duas partes.
 
Brandão começou a se envolver com a produção de eventos de rap em 1999, com a vinda de Afrika Bambaataa para tocar em uma festa de São Paulo. Após o contato com o precursor da cultura hip hop, as conversas tomaram um rumo um pouco diferente do que ele esperava, o colocando na linha de frente da produção de eventos de rap alternativo com a participação de artistas estrangeiros, em virtude de seus contatos e da vontade de fortalecer a cena nacional.
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Rodrigo Brandão, MC do Mamelo Sound System

Produção de eventos
 
“Nós não somos uma produtora, não temos uma equipe, sou eu e minha mulher. Eu escrevo os projetos, faço os contatos com o pessoal do meio artístico, monto as propostas, e ela fica com a parte de orçamento, de contratar o pessoal. Pintou um trampo, a gente contrata uma rapaziada freela que a gente sabe que é sangue bom, que funciona, e faz aquele trampo. Não é uma produtora, mas é um jeito de fazer que a gente viu que funciona.
 
Minha mulher é fotógrafa, dirige clipe, tá dirigindo documentário, e eu também, se eu pudesse viver de fazer meu som, é o que eu queria, mas no Brasil é muito difícil. Então entre trampar no banco pra pagar as contas e fazer um evento que vai acrescentar na cultura aqui e ainda pode te trazer contatos no meio, te fazer evoluir, eu prefiro ficar com essa parte de eventos.
 
Eu penso muito por esse lado também de acrescentar na cultura porque é uma coisa que rola lá fora bastante, a história do ‘pay dues’. Você chegar na cultura e pensar ‘como eu posso engrandecer essa cultura’. Mas aqui no Brasil rola o contrário, é sempre gente chegando pra tirar dinheiro dali ou pra não gastar, pra entrar de graça nas festas. Então eu acho legal, se você acredita nisso, você tentar trabalhar para que a cultura cresça.

O MC Posdnuos, do De La Soul, no palco do Indie em 2006

O MC Posdnuos, do De La Soul, no palco do Indie em 2006 by Sérgio Carvalho

Esse é o nono ano que a gente tá trabalhando com isso, ano que vem completa uma década trabalhando desse jeito: trazendo artistas de hip hop estrangeiro, tanto pro pessoal daqui poder ver, sacar o show, e também pra terem acesso e poderem evoluir no que fazem.

Tem o lado também de usar os gringos como escada, tá ligado? Porque os caras não levam a gente pra lá nunca, né? Então isso serve pelo menos pro pessoal daqui poder ter uma oportunidade de se apresentar com um equipamento legal, com uma luz legal e pra um público um pouco maior, que não sairia de casa só pra ver esse grupo. Então, a gente também tem que saber disso e tentar equilibrar, usando eles como escada. Na consciência de terceiro mundo, é quase uma obrigação a gente usar eles um pouquinho também, porque os caras vêm pra cá, tiram mó barato, ganham em dólar, voltam pra casa deles felizes e a coisa aqui continua do mesmo jeito.

Não tem patrocínio. O Sesc prefere otimizar e fazer uma coisa deles, com um evento grande no final do ano bem feito. O que acontece é o seguinte: é muito difícil você equalizar ideologia com corporativismo. Se eu tenho a oportunidade, como eu tenho no Sesc, de fazer o evento sem precisar de patrocínio de empresas, de marcas, eu prefiro, porque não é meu perfil, até esse momento, negociar com pessoas desse meio corporativo. Não tem muito a ver comigo.

Se chegasse alguém de alguma marca grande falando que o festival é muito louco e que eles vão bancar o evento do jeito que a gente faz, é claro que eu aceitaria: ‘Lindo, Sr. Marca grande. Passa o dinheiro pra cá, seu logo vai estar lá, tá tranqüilo’. Só que o que acontece é que em geral esse pessoal tende a não querer apoiar aquilo que você já faz, do jeito que já acontece e dá certo, mas sim ‘comprar o seu c…’, ta ligado? Então iria virar o “Tal marca grande Hip Hop”. E aí não é, não é o que a gente quer. Na hora que esse tipo de mentalidade chegar em quem investe o dinheiro aqui, de apoiar os eventos da forma como são, aí a gente começa a conversar.

Aori já subiu ao palco do Indie em 2005 e 2006 by Acauã Novais

Aori já subiu ao palco do Indie em 2005 e 2006 by Acauã Novais

Muitas vezes você vê festival corporativo, o cara brasileiro que vai tocar tá com o som baixinho, aí entra o gringo com o som bombando. No Indie isso não rola. Desde o começo, a primeira banda tem o mesmo som que o Talib vai ter, tá ligado? Coloca pelo menos em condição de igualdade e usa os caras nesse sentido, porque muita gente não sairia de casa pra ir até o Sesc Santo André só pra ver o show do Doncesão, por exemplo, mas essas pessoas todas vão lá pra ver o show do Talib. E vão acabar vendo o show do Doncesão e os outros shows que vão rolar nesse ano.
 
O que é bom ressaltar é que tudo isso só aconteceu por pura necessidade. Ninguém hora nenhuma quis, produção de evento é um saco. Tem que ficar marcando passagem, o maluco não quer, aí desmarca, tem que ficar marcando horário de passagem de som, então tem toda essa parte técnica. A gente faz por necessidade, porque se não fizer, não tem quem faça pela gente. Melhor fazer do que ficar chupando o dedo, mas eu preferia que tivesse alguém fazendo e poder colar só pra tocar. O Indie nasceu, em 2002, dessa necessidade extrema”.  
 
O começo
 
“Em 99, quando a parada começou, foi quando veio o Bambaata pra cá pra fazer uma festa do extinto Club Lov.e. A gente também foi chamado pra tocar e, através do contato com o Bambaata, nessa primeira vez, ele percebeu que aqui tinha uma galera que gostava do som, e lá fora a coisa do old school não estava tão valorizada. Ele falou que tinha que vir um pessoal e a gente falou: beleza, vamos fazer.
 
Ele disse que ia falar pessoalmente com uma galera pra fazer, e através do contato dele rolou o DuLôco 99, nos SESCs Belenzinho e Itaquera, um evento que foi muito legal e até hoje ecoa. Só que aí no ano seguinte, a gente tava jurando que o Sesc ia querer fazer de novo, mas eles recusaram com o argumento de que não tinham o costume de reeditar projetos, porque a marca do evento poderia ficar maior do que a marca do Sesc.
 
Aí em 2000, no perrengue, conseguimos trazer o Rahzel no final do ano. Em 2001 apareceu, do nada, um contato do Pharcyde, um outro maluco que morava aqui, que trampava com a Ninja Tune, tinha o canal do Kid Koala, e as coisas foram rolando de uma maneira meio tortuosa.
 
Aí em 2002 rolou com um produtor daqui, que trabalha com rock. Ele falou pra mim que o pessoal de uma agência gringa que ele trabalhava tinha oferecido uns artistas de rap. Era essa rapaziada do Quannum, por isso o primeiro ano foi Lyrics Born, e o segundo foi Blackalicious, que foram justamente os dois primeiros anos do Indie”.
 
Indie Hip Hop

“O Indie surgiu em 2002 em um momento conturbado. Por um lado, era o auge de umas festas de playboy, que só rolava uns black pop, e por outro lado, o rap nacional também tava num momento bem forte. No segundo semestre de 2002 saiu o Nada como um dia após o outro dia, dos Racionais, que tava estouradasso, e ainda tinha RZO, Xis, e outros grupos que também estavam num momento bom, então existia esperança de que esses caras conseguiriam alcançar o tamanho dos Racionais.

A coisa do rap nacional mais tradicional tava muito forte e não sobrava espaço pro tipo de rap que eu faço. A parada do Mamelo e de toda essa rapaziada de rap alternativo: não existia show, não tinha aonde se apresentar, não tinha nada. Então, o Indie também nasceu com essa idéia de a gente ter um evento nosso pelo menos uma vez por ano, trazer alguém de fora…e a história foi essa.
 
A idéia foi começar um festival que fosse de rap, mas nessa linha mais alternativa, com mensagens mais positivas. A primeira edição se chamou Nos Porões do Hip Hop e a partir do segundo passou a ser Indie. Também por causa dessa história do Sesc não querer, a princípio, reeditar eventos, então a gente pensou nesse começo em fazer o evento uma vez por ano, cada vez com um nome diferente (risos). Mas aí a partir do segundo ano eles curtiram a idéia, viram que dava certo e resolveram continuar fazendo.
 
Aí começou a rolar, no segundo ano teve Blackalicious, e a partir do terceiro ano aconteceu um negócio que fez muita diferença pra gente, que foi uma menina da Caxemira criada na Califórnia, chamada Suemyra Shah, que veio pra cá fazer intercâmbio na Bahia. Lá na Bahia, conheceu o Dj Primo, e através dele, ela chegou em São Paulo, entrou em contato com a cena daqui, e ficou muito a fim de começar a fazer alguma coisa.
 

Através do Primo e do Kamau ela chegou até mim, a gente marcou, trocou idéia, e ela (que é uma pessoa muito legal, muito bem intencionada), curtiu a proposta do festival. Eu levei ela no Sesc Santo André pra conhecer, ver que é um negócio sério, fazer uma reunião com a equipe de lá. Aí ela ficou a fim, disse que queria fazer e falou: ‘Vamos começar essa parceria com um pessoal que é amigo meu, o Hieroglyphics.” A partir daí, foi sempre tudo com ela.
 
Como ela também tinha essa vontade de fazer coisas com alto nível de qualidade com preço mais barato possível, fácil acesso, bateu totalmente com a idéia da gente. Eu acredito que pra coisa crescer no Brasil tem a ver com você colocar o máximo possível de cultura, um negócio de melhor nível possível, ao preço mais barato possível, do jeito mais acessível. Desde então a gente têm trabalhado com ela.
 
A Suemyra conhece muita gente de muitos estilos de rap porque ela trabalhou muito tempo na TV do Al Gore promovendo eventos de rap. Então ela conhece muita gente, e esse pessoal que tem a ver com o espírito do festival é até o pessoal mais próximo dela, então acaba sendo uma coisa natural. Se tiver que trabalhar com outros tipos de artistas, ela tem contato também, mas a filosofia passa por aí.

Então foi isso. Em 2004 veio Hieroglyphics, em 2005 teve a 1ª Mostra de Filmes Hip Hop de São Paulo, que veio o Madlib e até veio o Jay Dee, mas ele teve que voltar porque passou mal aqui; Jurassic 5 no final do ano, De La Soul em 2006. Em 2007 teve a 2ª Mostra com Pete Rock, e no final do ano, o Pharoahe Monch. A gente tentou fechar o Talib, tava conversando com ele, não fechou porque ele não respondeu até o dia que a gente precisava, aí o Pharoahe Monch já tava engatilhado, fechamos com ele, e no dia seguinte o Talib ligou topando, mas já era tarde.
 
O que aconteceu é que de lá pra cá, a coisa das festas de playboy acabou, rap nacional também acabou entrando numa situação meio complicada com a invasão do funk na periferia de São Paulo, e aí no final das contas, sobrou a gente, tá ligado? O único evento que rola, se você pegar a agenda anual, as coisas que eu sei que rola de show de rap é Hutuz, que é outra coisa, outro ponto de vista dentro da história, e o Indie.
 
E o Hutuz realmente não tem muita intersecção com esse tipo de rap que a gente faz, o máximo ali é o Kamau, que ganhou o prêmio desse ano, mas o resto da galera não é nem cogitada pra tocar ou pra ganhar os prêmios do Hutuz. Já no Indie a gente até tem uma rapaziada desse rap nacional mais tradicional participando, mas com uma mensagem positiva.
 
Porque uma das poucas restrições que o Sesc é: discurso de gangster realmente não interessa a eles propagar, porque vai contra a filosofia da instituição. E particularmente vai contra o que eu acredito na vida também, eu não tenho a mínima intenção de destinar o tempo da minha vida na terra a propagar isso no mundo, acho que tem coisas que podem ser propagadas e vão fazer a coisa ficar mais legal”.
 
Sonhos de consumo

Grupo The Roots

Grupo The Roots

“O que a gente gostaria que tivesse acontecido é ter vindo o Del na época que veio o Hieroglyphics, mas até o empresário dele é separado. E tem outras coisas que a gente ainda quer que venham no decorrer dos próximos anos, como Mos Def, The Roots, e outros. Vamos trabalhar pra isso”.
 
Edição mais marcante
 
“Pra mim foram momentos. Por exemplo, na primeira edição, na hora que acabou o show do Mamelo, a gente desceu do palco e encontrou o Sabotage inteiro vestido de terno branco. Ele abraçou a Lurdez (Da Luz) de um lado, eu de outro, segurou a gente e falou: ‘Esse show foi demais, me passa um pouquinho dessa energia positiva!’, e foi a última vez que eu vi ele na vida… isso pra mim é inesquecível.
 
Ainda ter tido a oportunidade de se apresentar com o Black Alien e o Dj Primo, todo mundo junto, também é inesquecível. Ainda tem o show do Jurassic, que foi foda, todo mundo pirou, mas particularmente, pra mim, o show do De La Soul foi o que mais emocionou até agora, porque faz parte da minha formação musical. Tem cinco grupos que eu considero que me fizeram estar aqui até hoje: Beastie Boys, Run DMC, Public Enemy, A Tribe Called Quest e De La Soul. Então, um show deles de uma hora e meia, tocando coisas que eu nunca tinha visto nem em vídeo, aquilo ali é coisa que nego não esquece”.

Gostou das informações sobre o Sesc Indie Hip Hop? Continue acompanhando o Per Raps para ler a parte II dessa história, além de muito mais!

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O efeito na voz de T-Pain

Um dos segredos de T-Pain a.k.a "Chapeleiro Maluco" é o auto-tune

Um dos segredos de T-Pain (a.k.a Chapeleiro Maluco) é o auto-tune

Atendendo a pedidos, que não foram poucos ou muito menos diretos, cá está um post sobre o tal efeito que o MC e cantor norte-americano T-Pain (a.k.a Chapeleiro Maluco) utiliza. Há duas formas principais de distorcer a voz, assim como o rapper faz, que vamos explicar aqui: por meio do programa auto-tune ou com uma Talk Box.

Além disso, o novo álbum de Kanye West, 808’s and Heartbreak, possui um conceito que passa pela utilização do auto-tune em quase todas as faixas. West afirmou que gosta do efeito que essa ferramenta produz e inclusive deixou isso claro em seu blog oficial.

Lembrando que esse recurso não é novo. Ele já foi utilizado por artistas de vários estilos musicais, como a diva pop, Cher. Acompanhe abaixo alguns vídeos para ilustrar melhor essa história toda.

T-Pain antes da “fama” cantando sem o efeito na voz, no som “Send me an e-mail”, junto de J-Shin e com a presença discreta e calada de Tila Tequila:

Agora, já em 2008, o rapper usa e abusa da traktana em parceria com o Dj Khaled e Kanye West, no som “Go Hard”:

Para que você entenda como o auto-tune funciona, vamos traduzir de forma livre um vídeo bem informativo ( e em certo ponto até engraçado) que achamos na internet. O responsável é um cara que  se denomina como “IT Gângster”, que lembra o tatuador japonês do Miami Ink, Yoji Harada, com a voz do ator Keanu Reeves.

“Salve, aqui é o IT Gângster! T-Pain arrasou nas paradas musicais ultimamente com o seu vocal computadorizado. Eu vou te mostrar como “fazer” esse efeito usando um laptop e a internet. Primeiro veremos o que a internet diz que o T-Pain usa como efeito de voz. De acordo com este site, T-Pain usa um programa chamado auto-tune. Essa tecnologia já existe há bastante tempo e faz “correções” (da voz) em tempo real.

Isso significa que, se você não consegue cantar perfeitamente sozinho, então o computador corrigirá sua voz na nota correta. T-Pain explora isso ajustando o som de forma que você ouça o efeito computadorizado na voz. Há uma versão demonstrativa do software, dê o download e confira! Vamos ver, quero auto-tune 5, vou escolher a versão para garage band (banda de garagem). Escrevo meu e-mail, clico aqui e instalo o auto-tune.

Logo depois, vai abrir o meu projeto “garage band”. Vou gravar algo aqui, então fique atento. (Gravação de um trecho de som do T-Pain). Certo, agora vamos aplicar um pouco da mágica do T-Pain. Vou escolher o plug-in do autotunes que instalei. Vou ajustar o que cantei, aumentar a velocidade, ir nas opções e mudar o “Pitch Tracking” para a opção “Relaxed” (relaxado). Agora é só salvar tudo e ver como ficou! (Som com o efeito autotune do rapper T-Pain).

É assim que se soa igualzinho ao T-Pain! Só aqui, no IT Gângster.”

O roqueiro do Foo Fighters, Dave Grohl, usando o Talk Box

O roqueiro do Foo Fighters, Dave Grohl, usando o Talk Box

Já a Talk Box funciona produzindo uma amplificação com um dispositivo que direciona o som através de um tubo. Ela é ligada geralmente em guitarras, teclados ou pianos, e o som emitido no tubo é ‘modelado’ conforme a nota que o músico está tocando. É como se fosse a voz do instrumento falando.

O produtor Sabzi, que faz os instrumentais dos respeitados grupos Blue Scholars e Common Market, ambos de Seattle, na costa oeste dos EUA, tem um vídeo no qual ele mostra o funcionamento de uma Talk Box, inclusive de como ela foi utilizada em uma de suas músicas. Como o vídeo é grande – tem quase dez minutos -, avance até os 6:35 caso queira ver apenas a parte da Talk Box.

O vídeo é na realidade uma entrevista sobre produção musical concedida para o site crossfader.com, dividido em três partes. Para aqueles que se ligam no assunto e entendem inglês, Sabzi é uma ótima referência pelos seus últimos trabalhos lançados com os dois grupos, bastante elogiados pela crítica especializada americana. Esse mesmo vídeo contém ainda demonstrações de como foram feitas algumas músicas do produtor, então vale a pena conferir.

Para provar que não se trata de nenhuma novidade, disponibilizamos aqui também um pequeno vídeo do mestre Stevie Wonder cantando com uma Talk Box e um piano em um programa de televisão norte-americano, há algumas décadas atrás.

Para terminar, acompanhe aqui uma das músicas que já vazaram na internet do álbum 808’s & Heartbreak, de Kanye West, que possui vocais repletos de efeitos do auto-tunes.

Kanye West – Love Lockdown (808’s & Heartbreak)
http://thetapeisnotsticky.com/uploads/2008/10/love-lockdown.mp3″