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J-Dilla mudou minha vida (1974-2006) – II

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A foto clássica foi tirada por Roger Erickson

…pra quem é Hip-Hop e entende disso aqui, Dilla era o nosso Coltrane” – Parteum (18/07/2006)

O legado de Dilla

No dia 10 de fevereiro de 2006, James “Dilla” Yancey partiu. Deixou saudades, e incentivou sua mãe a iniciar uma luta. Maureen Yancey, a Ma Dukes, passou a arrecadar fundos para uma instituição destinada a pessoas que também possuem lúpus, a doença que levou Dilla. “O propósito dele na Terra era vir aqui e nos dar a música que ele tinha em sua mente e em sua alma”, confessa Ma Dukes em uma entrevista para a revista Vibe. (13/02/09)

Os diversos tributos feitos não permitiram que Ma Dukes se livrasse das pendências financeiras. J-Dilla deixou 2 filhas, Ja’Mya, de 7 anos, e Paige, de 9, além de problemas não resolvidos com o imposto de renda e questões legais relativas aos seus beats. Mesmo após 3 anos de sua morte, a família do MC e produtor não recebeu um centavo sequer do governo de Detroit. Segundo os advogados de Dilla, isso ocorre porque ainda há uma dívida pelos gastos do tratamento médico.

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Outro problema é que muitos músicos se utilizam das batidas de Dilla sem a devida permissão. Isso, pois Dilla criava os beats e simplesmente entregava para os amigos. Os advogados dizem que, até Busta Rhymes, parceiro de Jay Dee, se utilizou indevidamente de algumas produções.

Ele lançou uma mixtape que foi baixada gratuitamente na internet e não permitia a arrecadação por meio dos downloads. Ma Dukes lembra que Busta pagou para Dilla há anos pelos beats. O que parece é que esses advogados não sabem bem do que falam, já que cuidam do caso desde a época em que Dilla era vivo. E também não falam dos shows, que os diversos parceiros do rapper fazem para arrecadar fundos.

Uma homenagem que pode ser vista é o filme de Michel Gondry, “Dave Chappelle’s Block Party” (2006). No filme, o apresentador Dave Chapelle conta com nomes como Erykah Badu, Common, Mos Def, Talib Kweli, The Roots, Dead Prez, Fugees e muitos outros para um daqueles shows que fecham o quarteirão e os americanos costumam fazer. Foi lançado um mês após a morte de Dilla e foi dedicado a ele. (Você encontra cópias desse DVD nas grandes galerias em SP, nas outras praças há exibições no canal Telecine Cult e encomendas pela internet)

Em resumo, a situação acontece por causa principalmente de uma grande burocracia. Só que isso também tem a ver com o sistema de leis norte-americano, que hoje impede que a mãe de Dilla use o nome do próprio filho, seja para a sua fundação em benefício àqueles que possuem lúpus ou qualquer outra coisa. Aliás, em 2006 Ma Dukes passou por um teste, que comprovou que ela também possuia a doença que levou Dilla. Você pode ajudar adquirindo a camiseta acima no site da Stones Throw Records, além disso a renda está sendo arrecadada com parte da venda dos sons de Dilla no iTunes.

John "Illa J" Yancey por iNickel Photography

John "Illa J" Yancey por iNickel Photography

Um pouco sobre John “Illa J” Yancey e seu álbum Yancey Boys

“Eu era apenas uma criança em Detroit, sentado lá nas escadas da nossa casa, vendo ele (Dilla) fazer as primeiras batidas para o Slum Village“, relembra Illa J. O garoto teve acesso às faixas, que nunca tinham sido usadas por ninguém, e fez o álbum. Isso tudo rolou por meio do pessoal da Delicious Vinyl, que assinou com Illa J, e já tinham trabalhado com Dilla nos sons clássicos, “Runnin” e “Drop”, do grupo Pharcyde.

Frank Nitty, que era parceiro de J-Dilla, apresenta um teoria bem interessante em um dos sons do disco “Yancey Boys”, na faixa chamada “Alien Family”. “Meu parceiro Dilla era um extraterrestre, sabe? De um lugar desconhecido, um alien! Todos que conheciam Dilla sabiam que ele tinha um lance com aliens por alguma razão.” Frank continua relacionando idéias e também faz um comentário da família Yancey, “é como se fossem os Jackson 5 de Marte!”. Para justificar o talento do jovem Illa J, ele conclui sua “tese”. “E fazer parte dessa família, faz de Illa J um alien também!”.

É bem verdade que algumas pessoas ficaram desconfiadas, pois sabem que a responsa de Illa J é muito grande. Há quem diga que seria o mesmo que surgir um irmão mais novo de Jay Z, que se chamasse Zee J. Seja qual for o caminho de John Yancey, o nome de seu irmão sempre estará associado ao seu. Sobre o CD, muitos se surpreenderam, principalmente aqueles que tinham expectativas baixas. Mas no geral, é um bom trabalho.

Yancey Boys tem grande êxito, porque consegue mostrar bem os dois irmãos. Os beats de J-Dilla neste trabalho mostram por que ele é um dos maiores beatmakers de todos os tempos, enquanto o caçula Illa J mostra grande potencial e uma sensibilidade incrível ao lidar com o material póstumo do irmão. Nada de grandes dramas ou músicas lamentando a morte de Dilla: a homenagem aqui é da forma que ele com certeza preferiria: rimas, beats e paixão, muita paixão pelo rap. ” – Trecho da resenha de Felipe Schmidt, leia no blog Boombap-rap.

Agora é esperar para ver o que John “Illa J” Yancey terá a acrescentar à música. O que se sabe é que a responsabilidade pelo fardo é grande. Adquira o seu CD do “Illa J:Yancey Boys” aqui.

Fontes: The Source, Vibe Magazine e site Stones Throw Records.

Na terceira e última parte da homenagem a James “Dilla” Yancey, você conhecerá histórias de influências na vida de pessoas aqui no Brasil. Além disso, você saberá um pouco mais sobre a breve vinda do rapper em 2005 ao país, e sua grande parceria com Madlib. Continue acompanhando!