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Sobre o carnaval

Pode ser que você goste ou não de carnaval, mas que você acaba sendo obrigado a conviver com isso em fevereiro, é fato! Mesmo não assistindo televisão, ficando longe dos sambódromos ou pontos onde blocos carnavalescos costumam passar, algum resquício de carnaval sempre aparece.  

Como o samba e o carnaval têm suas origens na rua, então têm espaço no Per Raps! Por isso, resolvemos mostrar um pouco da origem dessa festa em São Paulo. Enjoy! 

 “Do lundu africano dos negros bantos que vieram em navios negreiros para o Brasil trabalhar nas lavouras cafeeiras aos desfiles dos carnavais dos dias atuais, a história do samba teve seus altos e baixos. O samba vem pra São Paulo marginalizado e oprimido junto à vinda do negro para a capital após a instauração da Lei Áurea em 1888.

Antes disso, o que se via pela região paulistana a respeito de carnaval aparecem nas Atas da Câmara de São Paulo em sessão de 13 de fevereiro de 1604 a respeito do “entrudo”, que nada mais era que um folguedo*, alegre e mais violento. 

 Em meados de 1905, aumenta a popularização da folia nos bairros de Brás, Pari, Barra Funda, Água Branca e Lapa, que agregam a classe baixa, essencialmente negra, constítuida de trabalhadores das industrias que se estabelecem nesses lugares. A partir dai, acontece o primeiro desfile com cordões e blocos na região do Brás. 

Começa o aparecimentodo modo negro de se fazer carnaval que ia desde a sua batucada ao seu modo de vida, dentro dos cordões de São Paulo. É da Barra Funda, que sai o primeiro cordão carnavalesco. Formado por negros que procuravam ali manter suas tradições perdidas dentro dos navios negreiros, os cordões foram transformados em escolas de samba durante a administração do prefeito Faria Lima. Ele trouxe o modelo carioca de se fazer carnaval, que chamou a atenção da elite. 

No entanto, a escola de samba hoje não é mais o núcleo de tradição cultural que era nos áureos tempos de cordões em São Paulo. Com o passar dos anos, a cultura negra e escola de samba foram se afastando.”

by E. Ribas

“…Negro paga imposto

Negro vai à guerra

Negro ajudou

A construir a nossa terra

Temos a pergunta

Não nos leve a mal

Por que só no triduo de momo

Que o negro é genial?

 Camisa Verde e Branco – 1982 (*ilustração E. Ribas)

 

Post dedicado a Deise Giovanini (Feliz aniversário!)


Feira Preta 2008

Sétima edição da Feira Preta ocorreu no último final de semana

Uma visita à Feira Preta 2008, por Wagner Cerqueira* 

“Ta vendo, a gente tem que mudar pra cá logo, assim não precisamos ir embora tão cedo. Você viu como ta bom lá dentro?”

Esta foi uma frase do diálogo de duas negras lindas, cheias de estilo e cabelos bem trabalhados, que voltavam para suas casas ali por volta das 17h15 do último domingo (14). Elas são apenas duas entre centenas de pessoas que vêm do interior de São Paulo, e até mesmo de outros estados, para curtir uma das confraternizações negras mais esperadas da cidade de São Paulo: a Feira Preta.

O evento, presente no calendário da cidade desde 2001, traz diversas atrações musicais (passando por todos os gêneros que representam a cultura negra), exposições, oficinas, saraus e, neste ano, a novidade foi uma série de palestras sobre empreendedorismo, ligada ao programa Qualifica. O programa faz a ponte entre iniciativa privada e produtores de artesanato, com o intuito de melhorar o trabalho de microempresários e empreendedores negros.

Logo na entrada, o público era surpreendido por um baile de black music, claro, que fazia muita gente dançar ao som de clássicos do rap internacional. Entre as mais comemoradas quando lançadas nas pickups do DJ Puff, estavam Dead Wrong, de Notorious B.I.G., e swingadas baladas de R&B que faziam as meninas puxarem seus pares para pista.

Seguindo em frente por um amplo corredor bem decorado, encontramos belas telas do artista plástico Guilherme Scabim, além da exposição cultural e educativa sobre a religião Nagô (Candomblé), recebendo todo o respeito que merece. 

Grupo Umojá durante apresentação

Grupo Umojá durante apresentação (www.umojabrasil.wordpress.com)

Mais à frente, uma malandra, no bom sentido da palavra, e bem representada Roda de Samba, levada pelos Amigos do João e seus convidados. Neste espaço, as negras encantavam a rapaziada com muito samba no pé. Nos intervalos, perdiam o rumo com as rodadas e encaixes de braços dos negros ao som do mais que tradicional samba rock.

Isso sem contar no coro que se fazia quando eram recitados os mais conhecidos sambas da nossa história. Aqueles que marcaram momentos, sejam eles em casa, em festas com a família e amigos ou numa roda de samba pela Bela Vista e arredores.

Logo ao lado, um espaço para o pessoal recarregar as energias. Um pátio dedicado à alimentação do povo, com crepes, hot dog’s e sanduíches sendo vendidos ao público. Refrigerantes, águas, cervejas e batidas hidratavam a galera para voltar ao samba.

Este mesmo local dava vista para o palco principal da festa, o Palco da Preta. Mas, antes de falar disso, vale, e muito, a pena falar de alguns artistas que ali estiveram, como a já’ da casa’ aula de samba do Moskito; um desfile do público que freqüentou a feira, até o som cheio de swing e romantismo de Walmir Borges.

Walmir Borges ainda não é muito conhecido do público em geral, mas é um ídolo entre os adoradores do gênero black. Ele, que já fez parcerias com Alcione, Paula Lima (ele assinou a direção musical do CD Sinceramente e do DVD Samba Chic), Alexandre Pires, Wilson Simoninha (Walmir Borges foi responsável pelos arranjos do DVD MTV Apresenta: Simoninha Canta Jorge Ben Jor, em 2005), e chamou a atenção pela inovação e talento de nada mais nada menos que Philip Bailey, do Earth, Wind and Fire, com quem participou do show aqui em Sampa e de quebra foi convidado para ir a Los Angeles gravar uma música.

Esta prévia do currículo deste grande artista já o apresenta, e bem. Melhor que isso para apresentá-lo foram as canções do seu trabalho solo: “Jóia Rara”, “Casinha de Sapê” e “Favelas do Brasil” estavam em seu repertório, mas a balada e romântica “Morada do Sol” fez com que casais se abrassassem e dançassem juntos ao longo do pátio principal. 

Após este show, veio a atração mais esperada, Dona Ivone Lara. Como o nome propriamente diz, Dona, tomou conta do palco com toda a sua alegria, poesia, experiência e beleza. Isso mesmo. Beleza. Uma jovem senhora bem vestida e maquiada, soltou a bela voz que, como esperado, era acompanhada por quase todos os presentes no pavilhão do Anhembi.

Dona Ivone lara mostrou todo o seu vigor no palco

Dona Ivone lara mostrou todo o seu vigor no palco

Foi mágico presenciar na primeira fila do palco senhoras e senhores aparentando a mesma idade da Dona Ivone Lara, cantando frase a frase, palavra a palavra, letra a letra de todas as músicas que lá em cima do palco eram interpretadas por ela.

A cada final de música ou refrão, uma senhora negra, de cabelos traçados entre pretos e laranja, colocava suas mãos sobre o rosto como se buscasse algum momento de sua vida que estava lá no fundo de suas lembranças, e após alguns segundos, levantava os braços aplaudindo Dona Ivone Lara como se aquele gesto fosse um “Muito obrigado, amiga!”.

E foi assim do inicio até o encerramento da apresentação, com o hino: “Um sorriso negro, um abraço negro/ Traz felicidade/ Negro sem emprego, Fica sem sossego/ Negro é a raiz da liberdade”, cantado por todos e acompanhado somente por dedilhados no violão. Nesse clima amistoso, Dona Ivone Lara se despediu dando a sua grande colaboração para a Feira Preta.

Após esta “missa do samba”, o palco foi fechado pelo show da escola de samba Tom Maior e IIu Oba de Min. Próximo das 22 horas, o público deixou o local satisfeito com o banho de cultura que receberam ali e pela bela festa que participaram.

Ponto positivo: Estrutura montada com reforma do piso do pátio principal, a bela cobertura do ambiente, banheiros sempre limpos e organização do evento.

Ponto negativo: Preço do estacionamento (R$20,00).

 

*Wagner Cerqueira é um parceiro do blog Per Raps, e sempre que pode, sugere pautas e temas para abordarmos. Fizemos o convite para que ele escrevesse sobre a Feira Preta 2008, importante evento que reúne diversos elementos da cultura negra em um mesmo local.

Como os elementos da cultura de rua não faltaram nesta festa, então o Per Raps tem a obrigação de contar seus detalhes. Registramos aqui o nosso agradecimento pela colaboração de Wagner Cerqueira. Obrigado!

Você foi à Feira Preta 2008? Comente o que achou da edição desse ano!

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