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Novidades de 09: Rump

Rump se aventura na “Sincronicidade” de beats e rimas – E. Ribas

Seguindo a série de entrevistas com os grupos e MC’s que lançarão seus trabalhos entre o fim de 2009 e começo de 2010, o Per Raps conversa desta vez com um MC de Sampa: Tiago Frúgoli aka Rump.

O jovem professor de piano/estudante de mandarim/beatmaker/MC já lançou o disco “Progressivo”, além da mix digital “Pós-gressivo”, a Fênix Negra Beat Tape e beats para alguns grupos,  agora o MC ataca com o EP “Sincronicidade”, que ainda não tem data exata para lançamento.

Nesse novo trabalho, Rump toca teclados em todas as faixas, se utilizando de samples apenas como timbres de bateria. Serão 12 faixas que totalizam 25 minutos: 5 rimas, 5 instrumentais e 2 sons cantados. O EP estará disponível para download gratuito, e o CD terá 4 faixas bônus: um som com o Caio (Elo da corrente), e 3 remixes do disco, feitos por Henrique Rezende, M. Takara e Suzi Analogue.

Acompanhe também o “Não canso de ouvir”, com o Rump e uma entrevista concedida ao Per Raps em novembro do ano passado, clicando aqui.

Per Raps: Na sua opinião, o que o Rump amadureceu do “Progressivo” e “Pós” até os dias de hoje (liricamente e sonoramente)?
Rump: Me vejo em um outro momento, liricamente e sonoramente. Principalmente sonoramente. Amadurecer, melhor ou pior, é relativo. Continuo fazendo o som que tenho vontade, e me vi num novo momento, trampando mais com teclados, fazendo um som diferente do que fiz nos últimos lançamentos. Daí vem a ideia de juntar algumas faixas e lançar algo novo.

Per Raps: As ideias cabeçudas ainda fazem parte da ideia das rimas? Elas terão algum tema como fio condutor ou serão independentes?
Rump: O disco tem menos rimas do que antes, mas as ideias, cabeçudas ou não, continuam na mesma linha. Não sou muito um MC de tema, do tipo que escolhe algo e escreve uma rima inteira sobre aquilo. Respeito também essa arte, mas não é a minha. Às vezes há um tema, mas não tão explícito. Continuo misturando diferentes referências e escrevendo simplesmente sobre coisas que penso e ideias que tenho.

Per Raps: De onde surgiu a ideia de convidar o Caio, do Elo da Corrente, para uma das faixas extra do novo EP?
Rump:
Acho que o essencial para uma colaboração dar certo está na interação entre os dois lados, bem mais do que o talento de cada um dos participantes. Mais do que pela sua perícia em rimar sobre bases, acho que fiz o convite pela identificação que tenho com suas rimas e pela amizade que temos. Já tínhamos feito um som juntos, e por estarmos ambos em outros momentos, achei que faria sentido.

Per Raps: Você acredita que não usando samples tem mais autonomia ou essa é uma opção profissional ou musical?
Rump: Acho que beats tocados ou sampleados têm o mesmo valor. Na verdade, até continuo produzindo beats a partir de samples, a Fênix Negra Beat Tape foi toda feita desse jeito. Mas estava com vontade de fazer tudo a partir dos teclados dessa vez. Os únicos samples são os timbres de bateria. É claro que não ter samples facilita a parte burocrática na possibilidade de licenciar alguma faixa para ser usada como trilha, mas esse não é o motivo principal da minha escolha.

Per Raps: Quem você convidou para cantar nesse trabalho e como surgiu a ideia dos remixes? Foi fácil escolher quem faria isso?
Rump: Fora as faixas bônus, o EP praticamente não tem participações. A única é a do Vico Piovanni, que compôs e gravou comigo a faixa “Come Down”. A ideia era conseguir transmitir bem a minha visão, por isso a única participação é a de um amigo que conheço desde a escola e que estudou música comigo depois. Nas faixas bônus, a ideia era criar um contraste entre a minha visão e a visão de outros músicos.

Por isso chamei o Caio para rimar num beat meu feito a partir de um sample, ou seja, que foge da estética do EP. E chamei três produtores que confio para remixarem faixas do disco. o Maurício Takara é um dos músicos que mais chama a minha atenção nesse estágio da música brasileira. Admiro a maneira que ele consegue conciliar elementos orgânicos e eletrônicos na sua música. O Henrique Resende tem trocentas bases de RAP no computador, mas nunca coloca nada na rua. Chamei ele porque acho que minha produção hoje defintivamente vem do hip hop, mas tem muitas outras influências, enquanto ele me parece estar mais próximo da sonoridade pura do hip-hop da primeira metade dos anos 90.

Por fim, a Suzi Analogue, da Filadelfia, me impressionou desde a primeira vez que a ouvi. Vejo a produção dela com influências mais parecidas com a minha, mas suas faixas tendem a trabalhar menos com loops e mais com variações que permeiam a música inteira. O jeito que ela cria climas em seu som é impressionante.

Rump por ele mesmo

Rump ataca agora com o EP "Sincronicidade" - por Marina Frúgoli

Per Raps: Foi fácil realizar o processo todo de produção do “Sincronicidade” em casa? Quais as principais dificuldades?
Rump: Nunca é fácil, né? (risos) Quis, mais ainda do que antes, tomar conta do processo todo, então além de fazer as bases em casa, gravei todos os vocais e mixei e masterizei as faixas. Independente da suposta qualidade maior que eu poderia obter finalizando o disco num estúdio, quis que também nisso o disco tivesse a minha visão. Sei que estou sendo repetitivo nesse ponto, mas para mim, não faz sentido lançar um trabalho artístico se não for com o intuito de realmente imprimir minha visão e meu momento nesse trabalho. Qualidade é sempre relativo. Uns vão falar isso, outros aquilo, vão falar que você acertou aqui e errou ali, mas acho que o que cada artista tem de mais valioso é a sua verdade. Certo e errado mudam com o tempo, não adiantaria eu tentar me adequar. Não posso garantir que todo mundo vai achar meu disco bom, mas tenho certeza de que é um trabalho que carrega uma verdade.

Per Raps: Mais uma vez você irá disponibilizar um trabalho seu para download. Apesar do debate sem fim sobre esse assunto, você acha que esse será o futuro da música? Se tivesse a chance de cobrar alguns centavos, apenas para cobrir as despesas da gravação, você o faria?
Rump: Todo mundo tem algo a dizer sobre o futuro da música. Não posso falar do ponto de vista de um artista que sempre vendeu milhões e agora está vendo esse número cair. Mas do ponto de vista de um artista novo que tem como principal objetivo ser ouvido, sinto que disponibilizar sua música no seu próprio site, com uma qualidade decente é a melhor escolha. Uma vez que o público aprende a ter a música que quiser de graça, não adianta eu tentar contrariá-lo. Mas sei também que assim como eu, existem pesoas que compram música. Porque ter um disco físico não é a mesma coisa do que ter um arquivo em mp3, não só pela qualidade de som. Por causa dessas pessoas, que continuam comprando, coloquei as faixas bônus só no CD.

Per Raps: Pretende fazer mais shows ou vai manter a sua postura anterior?
Rump: Eu nunca fui contra shows ou algo do tipo! (risos) Só não corri tanto atrás disso quanto de outras coisas. Eu dou aulas de música, faço uma faculdade de outro assunto… Acabo não correndo tanto atrás disso quanto outros emcees, mas continuo disposto a tocar em festas ou eventos do tipo. Ainda não é uma ideia concreta, mas eu queria montar um show que além de um Dj, tivesse o Vico (que gravou comigo em “Come Down”) tocando baixo, e que eu além de fazer as rimas, tocasse teclado e usasse um sampler. Não exatamente o show de RAP no qual uma banda faz as bases, mas também não exatamente o show de um emcee rimando com um Dj virando as bases.

capa Sincronicidade
Quem se interessou pelo novo trabalho do Rump, poderá encontrar este EP após o lançamento oficial nos seguintes endereços:

Sigilo Skate Shop – R. 24 de Maio, 62, loja 311
Colex Oficial – R. 24 de Maio, 116. Loja 33
Espaço à – R. Purpurina, 207 – V. Madalena

Mais sobre o Rump:
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Entre Instrumentos e Sequenciadores
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