Blog de informações sobre hip hop, rap brasileiro e cultura de rua

Pedro Gomes e a profissionalização do rap – Parte II

Pedro...

O documentário Freestyle sairá em DVD ainda este ano (Divulgação)

O Per Raps publica agora a segunda parte da entrevista de Pedro Gomes. Nela, o jovem cineasta fala sobre a produção do documentário Freestyle: Um estilo de vida, que já rendeu diversos prêmios e teve exibições por todo o mundo. Para quem ainda não teve a oportunidade de assistir, o vídeo deve sair em DVD no segundo semestre.

Nesta segunda parte, Pedro também fala sobre a vontade de trabalhar com um grupo paulista, sua conexão com a marca Nike e a viagem que fez à China no ano passado. Tudo isso e mais um pouco você confere aqui, a partir de agora.  Confira!

Freestyle: Um estilo de vida

Quando eu comecei a capturar as imagens eu ainda estava na faculdade, e pensei justamente naquela idéia de dar um retorno pra cultura hip hop. Eu estava lá estudando cinema e pensei em fazer um documentário sobre rap. Fiquei com essa idéia na cabeça durante um bom tempo. Aí no terceiro ano de faculdade já tinha a Rinha dos MCs, e era bem na época que eu produzia a festa (junto com Pentágono e Criolo Doido). E eu pensei: “Mano, eu conheço os melhores MCs de freestyle do Brasil”. E é uma cena interessantíssima, é louvável a parada. Aí eu peguei uma câmera boa pra época e comecei a fazer sozinho, eu e a câmera. Aí um tempo depois eu convidei dois amigos pra me ajudarem, o Henrique Danieleto e a Stefanie Mota, e a gente começou a ir junto fazer as entrevistas.

Tínhamos umas 30 horas de material e eu já tinha começado a editar quando surgiu a idéia do PAC. Foi engraçado porque eu fiquei sabendo pelo Bocada Forte – quando a matéria subiu já tinha passado o prazo de inscrição, mas foi prorrogado por uma semana. Aí eu escrevi o projeto em três dias, anexei um cd com o que eu já tinha de imagem e foi aprovado. E foi muito legal, foi a primeira vez que eu tive grana pra fazer um projeto, eu me empolguei. Resolvi gravar tudo de novo, em alta qualidade, pra ficar foda mesmo. Aí já chamei uma equipe de umas oito pessoas: técnico de som, fotógrafo, câmera, assistente. Com isso, refiz os depoimentos, fomos pro Rio filmar a Liga dos MCs, que pela primeira vez tinha uma edição nacional.

O objetivo maior era que o rap gostasse. O lançamento do vídeo foi muito legal. Nós fizemos na Cinemateca, que é um cinema muito clássico de São Paulo, ali na Vila Mariana, em uma sala muito louca, novinha, que acabou de ser construída pelo BNDES, toda high tech, animal. No dia, estava chovendo pra caramba em São Paulo, alagou tudo, e a sessão era às 20 horas. Quando deu o horário, não tinha ninguém. Aí fui lá conversar na direção e os caras lá são muito rígidos, fazem tudo certinho, com cronograma. Eu perguntei se podia atrasar meia horinha e eles aceitaram. Na sala lá cabem 300 pessoas. Quando deu 20h30, tinham 500 pessoas pra assistir. Aí nós enchemos uma sessão, fizemos uma fila pra outra e abrimos uma sessão extra. Foi foda!

O pessoal gostou pra caramba, a galera mais velha, que eu respeito muito a opinião, também gostou e eu fiquei muito feliz com isso. E mandei pra vários festivais, pros que eu tinha grana pra mandar, porque é caro. E aí no Brasil ganhou prêmios, passou na França, na China, no Japão. E ele foi meu pontapé inicial, aí que eu comecei uma carreira mais sólida. No segundo semestre vamos lançar o DVD do filme, que vai ser vendido junto com um CD com músicas dos MCs que participaram. Vai ser uma edição limitada.

Sonho

Eu falo pra todo mundo que o meu próximo projeto tem que ser uma ficção, um filme mesmo, senão eu vou ficar sendo conhecido como documentarista e não é isso que eu quero. Eu quero criar bagagem suficiente pra conseguir uma grana pesada e fazer um documentário dos Racionais. Mas tudo bonitinho, com o aval dos caras, para ir às salas de cinema – coisa grande. Quero mostrar várias coisas que têm que ser ditas sobre Racionais e as pessoas não falam. A gente não tem noção do que é o Racionais. O rap (no geral) não tem essa noção, do que é vender um milhão de cópias. O segundo que vende mais, vende 30 mil, olha a disparidade. A gente não sabe o que é ganhar um prêmio de Escolha da Audiência da MTV. Quando você esta vivendo o processo, como o rap vive o Racionais, não da para perceber a evolução, percebe-se com mais clareza quem vê de fora e esporadicamente. Por isso, tenho esse sonho de mostrar para os de dentro e para os de fora, quão grande é o Racionais.

Pedro....

Pedro é formado em cinema pela PUC (Arquivo)

Nêgo tem que saber a real, por exemplo (guardadas as devidas proporções): o mestre Chico Buarque vende muito, escreve demais e tem uma forte participação social na sua arte. Os Racionais vendem muito, escrevem demais e têm uma forte participação social em sua arte, ou seja, os dois têm o mesmo valor? Não! Mas, porque a mídia não trata os daqui como os de lá? É isso que quero dizer. Os caras que estudam a música, os críticos, os formadores de opinião, eles têm que reconhecer o que é esse fenômeno chamado Racionais.

Em outubro de 2008, a Rolling Stone publicou uma lista dos 100 maiores artistas da música brasileira. E lá estava Mano Brown na 28ª posição na frente de nomes como: Tom Zé, Cazuza, Marisa Monte, Lulu Santos, Clara Nunes, Martinha da Vila, João Bosco, Djavan, Zeca Pagodinho, Daniela Mercury e por aí vai…

Nike

No dia do meu aniversário, no ano passado, um cara fodão do marketing de lá me ligou e me chamou pra ir pro escritório dele, porque ele queria me conhecer. Na minha cabeça eu achei que era por causa de trampo. Aí eu cheguei lá, ele me apresentou o escritório, a empresa, e trocando idéia de boa, ele me contou: “A gente vai escolher 64 pessoas no Mundo pra acompanhar o lançamento da marca na China e queremos que você seja uma delas”. O cara me falou isso do nada. E eu fiquei em êxtase, claro. Pra ele viajar é normal né, mas pra mim…E eu topei, claro.

Eles buscaram meu nome pela internet. Uma coisa que eu acho que ajudou é que a Liga dos MCs teve um apoio da Nike e eu estava lá filmando. Então acho que alguém me viu e chegou nele. Aí ele conseguiu o documentário, gostou, entrou no meu MySpace, gostou também e acabou me chamando. Aí a gente foi pra China e foi a experiência mais surreal da minha vida. Ficamos lá seis dias e foi louco, tinha 64 cabeças muito pensantes, todo mundo ali produzindo. Nossa missão era falar de algo quando voltasse, a gente resolveu fazer uns vídeos.

Foi o lançamento da Nike Sportswear, que é voltada pra cultura de rua. E a partir dessa viagem rolou uma afinidade profissional e pessoal com os caras e eu estou fazendo coisas com eles até hoje.

Crítica

Tenho uma filosofia sobre críticos que é a seguinte: eu dou valor a dois tipos de críticos. Um, os que têm um claro conhecimento sobre o assunto e dois, os que já realizaram algo sobre o assunto. Porque mano, senão fica muito fácil e cômodo, dormir o dia inteiro, acessar a internet no final do dia, ver meus trabalhos, ir pra balada à noite e começar a falar deles. Algumas pessoas falaram mal do meu doc, mas dessas quantas são Ph.D em hip-hop, ou quantas já fizeram um filme sobre a cultura? Entende meu raciocínio? Aí aparecem pessoas criticando o CD de alguém, um show, uma rima… Você pesquisa um pouquinho a biografia dessa pessoa e percebe que ela nunca gravou um disco, sequer sabe o que é colocar voz em uma música, não sabe o que é um timbre, um loop, um sample, mas já se acha afiada para criticar.

E, tem outra também, depois dessa peneira toda só aceito as criticas construtivas, requisito numero 1 para se criticar: “não confunda a obra com o autor”. O fato de eu não gostar de uma pessoa não é padrão para eu analisar sua obra e a recíproca é verdadeira. Eu gosto de um monte de gente que faz rap ruim por aí. Então, resumindo… critiquem-me, critiquem o Pentágono, o Kamau, o Emicida, mas antes disso passem por 10% do que eles passaram… Gravem cd’s independente, façam boas rimas, gravem vídeos, lotem seus shows e, depois, pensem em criticar a obra dos caras (ou a minha).

Não vamos nem falar de dinheiro para não polemizar, cada qual sabe o que seu coração diz. Mas, se o cara ta feliz trabalhando o dia inteiro, todos os dias da semana, ganhando pouco, aturando playboy chato mandando e sobrevivendo no limite. Azar o dele. Eu quero é mais.

___

Emicida citou Pedro em sua nova mixtape

Emicida citou Pedro em sua nova mixtape (Ênio César)

Durante a entrevista que nos concedeu alguns meses atrás, Emicida contou uma história de como Pedro Gomes o ajudou em um momento e foi importante para a sua carreira. Na recém lançada mixtape “Pra quem já mordeu um cachorro por comida, até que eu cheguei longe”, inclusive, o MC fez uma homenagem ao Pedro na última faixa – Ooorra (aquela que deu nome à mixtape). Se liga:

EMICIDA

“Eu conheci os caras do Pentágono em 2006, quando colava na Rinha direto, e o Pedro chegou em mim um dia e falou de um evento que chamava Liga dos MCs e me chamou pra ir pra lá. Eu falei que até queria, mas era no Rio de Janeiro, né. E ele me disse que ia dar um jeito de a gente ir pra lá. Aí ele se ofereceu pra pagar tudo do bolso dele e eu ofereci metade do prêmio se eu ganhasse. E a gente foi, fomos de avião, ele fez questão de fazer tudo certinho, do jeito como tinha que ser.

Chegando no Rio eu já tava na maior pressão, pensando que não podia perder, porque era mó responsa né, o cara tava me bancando. O prêmio era de R$ 1.000, nem era ‘a grana’, mas eu precisava ganhar, e ganhei. Foi foda. Ganhei também uma outra batalha lá que chamava o Rei do Microfone, que também rendeu uma graninha, umas roupas, aí a gente dividiu tudo.

E nessas meu nome foi aparecendo em mais eventos de Freestyle. Teve também o Hutuz, a galera lá começou a prestar atenção em mim, foi legal. E antes da final ia ter um evento que o Max B.O. me chamou pra rimar em São Paulo, no Jardim Jangadeiro, na zona sul. Eu não tinha como não aceitar. Aí eu e o Pedro voltamos pra SP, eu cantei aqui e depois voltamos pro Rio de novo.

Então por esse período ele me agenciou mesmo, cuidou de toda parte de produção, de estar onde a gente tinha que estar. Foi muito louco, eu gosto muito do Pedro por isso, ele é tipo meu irmão”.

9 Respostas

  1. Este cara realmente vale a pena prestar atenção no que ele, diz, faz, vive!

    Salve o Pedro, salve seu trampo!

    Primeira linha.

    maio 9, 2009 às 17:16

    • Vida longa aos que trabalham com seriedade e verdade! E com o Pedro é por aí mesmo, o Rap brasileiro agradece a sua disposição irmão.
      Muita luz! E Viva ao Per Raps!

      maio 12, 2009 às 23:00

  2. parabens irmao

    maio 11, 2009 às 03:10

  3. Rastaman

    Gostei da segunda parte, sem o ego as coisas ficam melhores hehehehe.. quem tem talento tem talento, não só o doc freestyle quanto o L.A.P.A são presentes pra quem curte RAP.

    Uma coisa que ainda me deixa encucado é o fato da NIKE invadir a CHINA com 64 cabeças (influentes/cabeça pensante ???) pra lançar algo das ruas (claro que um tenis da nike, camisa, calça, todo mundo quer, até eu que não sou bobo).

    O problema é quando não enxergamos uma segunda intenção quando estamos nos dando bem. Claro, Tô ganhando o meu, viajando de avião e ainda tenho talento hehehehe..

    Neguim ta sendo Enganado e tem gente que acha que é a tal da globalização chegando na CHINA!

    Parece que não tem muito a ver esse papo, mas quanto mais eu vivo, mais eu acredito que o mal deva ser cortado pela raiz!

    Só ouvir Comando Selva, opssssss. Comando Selva nem é divulgado nesse site, falta de talento será? ahahahahaa, baixa na internet e comece a abrir sua mente e não aceitar certas migalhas que nos dão.. nada contra, tb não sou bobo e nunca viajei de avião.. afinal, sou tb uma cabeça pensante ahahahahahaha. Catch a Fire Mr. Babylon !

    maio 11, 2009 às 16:19

  4. Falta mais gente como o Pedro na cena.
    Pessoas com uma visão mais apurada, pro baguio realmente crescer.
    Salve Pedro! Salve Per Raps!
    Tamujunto.

    maio 11, 2009 às 18:29

  5. Rastaman

    tamempi só pedrada hehehe pesadão, gosto muito do teu blog. cheguei nesse aki graças ao teu. vc, dubstrong entre outros malucos que apresentam as pedras, max. respect. vcs fazem a diferença sem saber.. a mix da NIKE do de la soul pqp!! gosto pra caramba de vcs que apresentam as pedras.. inspira e tudo hehehehe.. nem vou falar do podcast do kljay no bocada forte. hehehe, todo mundo aki.. mas to ligado que vcs não podem se expressar muito pra não se queimar. como eu não to nem ai, explano mesmo.. mesmo que o maluco fique bolado. e essa nike ta foda ahahahahahah sabadão tem dezarie na fundição, eu sei que vc gosta muito hehehehe

    maio 11, 2009 às 19:59

  6. boladaforte

    Entrevista com o empresariado, como se o negócio do rap já tivesse dado certo. Da hora! KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK. Só tem maluco nesse país mesmo. Quem lançou o disco? Ele ou o hexágono? Nada contra o Pedro, mas tem gente fazendo bem mais pelo rap, e nem espaço acha pra continuar de pé. Se for praticar esse jornalismo de amizade, sai fora! Dando moral pra grandes grupos de mídia e falando de uma cena que na real não existe. Enterraram o rap vivo faz tempo, truta. Lembra de São Bernardo.

    maio 12, 2009 às 02:46

  7. Rastaman

    Ta vendo só, é só abrir a caixinha do papo reto e tirarmos as máscaras que neguim ja sai eXplanando como se estivesse no MIC. Não sou MC, talves nunca nessa vida eu me torne um (até pq. sei meu lugar tb..) se eu gosto de boa musica é óbvio que teria que produzir algo a altura da minha própria cobrança.
    Por isso que vou no show da dezarie felizão.. qualquer músico da banda (midnite pra quem não sabe) toca muito mais do que os milhares de falsos artistas daqui do BRASIL e mesmo assim são humildes e nos tratam/enxergam como Irmãos ( de verdade ) tocam pra kct, até surdo pira com o swing dos caras, a voz nem vou comentar nem as letras. Humildade na Conduta então faça por ONDE. RASTAFARI ALERTA ( papo dos doidões da C.O.N.E )

    maio 12, 2009 às 16:40

  8. Caracas, pouca bagagem o cara tem então. Muito boa a matéria

    Sikera – diretamente da Tailândia brasileira

    maio 12, 2009 às 23:19

Deixe um comentário