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Como foi o Indie Hip Hop 2008

casa cheia

O resultado do sucesso do Indie Hip Hop 08': casa cheia

A edição deste ano do festival Indie Hip Hop se foi deixando saudades e já cria novas expectativas quanto ao ano que vem. Com o Sesc Santo André lotado com quase 3 mil pessoas, no sábado e no domingo, o público brasileiro (pessoas de vários estados vieram especialmente para o evento) assistiu a grandes apresentações dos grupos brasileiros e ao esperado show de Talib Kweli, principal atração do evento, que não decepcionou ninguém e agitou a galera com performances de mais de uma hora nos dois dias. Uma pena é saber que, para ver algo semelhante, realmente teremos que esperar até o final do ano de 2009.

A apresentação que abriu o festival veio com o peso e a qualidade de quem também poderia tê-lo fechado. Doncesão e Dr. Caligari (heterônimo de Dj Caíque), ambos da zona norte da Capital, fizeram um show cheio de “fúria” e energia. Acompanhados no palco por alguns membros da 360 Graus Records, os dois, que lançaram seus discos nesse ano, transformaram a desconfiança de quem ainda não conhecia os trabalhos dos dois, em aplausos.

Doncesão e sua banca marcaram a abertura do Indie 08' (D. Cunha)

Doncesão e sua banca marcaram a abertura do Indie 08' (D. Cunha)

Doncesão e Dr. Caligari cantaram músicas dos seus álbuns, Primeiramente e É o Terror, respectivamente, e agitaram a galera principalmente com os sons “Eu deixo a vida suspirar”, “Davi, o verdadeiro gigante”, ambas de Doncesão, e “A nossa hora” e “Querem me corromper”, de Dr. Caligari, que fechou o show mandando um sonoro “vai se f@#$%” para aqueles que não acreditam no rap nacional. Doncesão, muito emocionado, desceu do palco durante uma das músicas e, perto da galera, gritou uma frase que resgata as raízes da cultura: “Se eu posso, vocês também podem!!!”.

Na seqüência, o MC Sombra, ex-SNJ, trouxe ao Indie uma pitada da velha escola do rap nacional, e apresentou seu disco solo lançado recentemente, Sem Sombra de Dúvidas. Mesmo não sendo freqüentemente associados ao cenário do rap alternativo, Sombra e o SNJ têm uma grande parcela de contribuição por serem pioneiros em apresentar um discurso positivo no rap nacional, e são influência para muitos MCs que hoje fazem parte do jogo.

Expulsos do 5° Andar, mas agora no Subsolo (E. Ribas)

Expulsos do 5° Andar, mas agora no Subsolo (E. Ribas)

A última apresentação nacional do sábado foi a volta do principal grupo de rap alternativo do país: o Quinto Andar, que parou de pagar o condomínio e foi morar no Subsolo. A reunião de um mês em um sítio no interior de São Paulo resultou em um trabalho bem pouco parecido com o estilo do Quinto Andar. Os temas podem ser recorrentes, mas a abordagem é totalmente diferente. “Já não é como antes…”, diz Kamau na rima “Ordem de Despejo”.

Os beats agora têm mais peso e chegam a ser sombrios, em alguns pontos lembrando até o rapper inglês, Roots Manuva. Shawlin, Xará, Pai Lua, Kamau, Lumbriga Tremosa, Gato Congelado e Matéria Prima dominaram o palco com suas rimas e tiveram o Dj Mako completando o grupo e incrementando a performance com seus riscos. Durante o show, Lumbriga sintetizou a impressão do público em um recado para a galera: “O som é esquisito, mas vocês vão se acostumar”.

O segundo dia de Indie Hip Hop começou literalmente com uma Manada passando. Para ser mais específico, o Projeto Manada estava no palco apresentando os sons do seu novo CD, Urbanidades. Enquanto os MCs Macário e Prizma disparavam suas rimas esbanjando presença de palco, os MCs/Djs Leco e Mister Venom transitavam entre o front do palco e a responsa das pickups. 

Os MCs Macário e Prizma mostrando os sons de "Urbanidades"

Os MCs Macário e Prizma mostrando os sons de "Urbanidades"

Com certeza, nesse trabalho o som está mais pesado. O slogan do grupo, “imagine uma manada entrando em seus ouvidos”, corresponde exatamente ao que rola no palco; rappers de peso com rimas conscientes e provocativas embaladas por beats empolgantes.

Em seguida, o “prata da casa” Enézimo convidou a banca do Pau-de-dá-em-doido, de Santo André, para participar de seu show e apresentar as músicas de seu disco solo, Um cara de sorte. Ele mandou alguns sons sozinho, acompanhado pelo Dj Nato, e depois chamou seus parceiros para dar seqüência à festa: Arnaldo Tifu, Preto R, Sagat, Stefanie, Carlus Avonts e Max Musicamente subiram ao palco e esbanjaram energia, cantando, dançando e acompanhando Enézimo.

O MC Enézimo representouo rap do ABC Paulista (E. Ribas)

O MC Enézimo representouo rap do ABC Paulista (E. Ribas)

Ao final, Max Musicamente ainda emendou um freestyle que arrancou gritos e aplausos empolgados da platéia, ao comparar o preço dos ingressos do Indie com o de outros show de artistas estrangeiros quando vêm ao Brasil. Crítica extremamente válida, em tempos em que shows de rap chegaram a custar 300 reais.  

Antes da última e derradeira apresentação de Talib Kweli em terras tupiniquins, o público que compareceu ao Indie assistiu ao show mais aguardado entre as atrações nacionais: o do MC Kamau, que lançou seu primeiro disco solo, Non Ducor Duco, no meio deste ano. Como o disco já está há algum tempo na rua, era de se esperar que as novas músicas fossem cantadas em coro pelos fãs do rapper, que acompanharam cada palavra de “Vida”, “Só” e “A quem possa interessar”, principalmente.

Outro ponto alto foram as participações: primeiro a de Parteum, em “Dominum”, reeditando mais uma vez a parceria que já resultou em diversas composições veneradas pelo fã de rap; e a de Emicida, que rimou com Kamau em “Komwé”, ainda disparou “Triunfo” e viu sua música, que só saiu na internet, ser a mais cantada do festival.

Talib Kweli, aquele que busca a verdade (E. Ribas)

Talib Kweli, aquele que busca a verdade (E. Ribas)

Talib Kweli

Se compararmos os dois dias de apresentação, percebemos que foram dois Talib Kweli no palco: um mais tímido no sábado, e um que se sentiu em casa, no domingo. O MC de Nova-Iorque mostrou porque é tão celebrado por aqueles que apreciam o rap, com um setlist de tirar o fôlego.

Dos clássicos aos sons do trabalho mais recente, Eardrum. Uma das faixas do último CD que mais empolgou foi “Hostile Gospel”, seguida também por “Hot Thing”, música produzida por Will.I.Am, que participou de forma virtual no show, cantando o refrão na tela ao fundo do palco.

Apesar de ninguém ter certeza se a parceria com Mos Def, em Blackstar, seria mencionada, houve a grata surpresa de alguns sons serem tocados. “Definition” e “Respiration” balançaram o Sesc. Outro sucesso foi a rima de Talib em um som de Kanye West, “Get ‘Em High” (que também conta com a colaboração de Common).

No entanto, o destaque em termos de empolgação ficou para uma produção de Kanye West, “Get By” (do álbum Quality, de 2002), que teve a parte do refrão feita por um coral, cantado por várias pessoas: “This morning, I woke up, Feeling brand new/ and I jumped up, feling my highs, and my lows, in my soul, and my goals/ Just to stop smokin, and stop drinkin/ And I’ve been thinkin: I’ve got my reasons/ Just to get (by)”.

Dj Chaps ao fundo e Talib Kweli mostrando os sons de Eardrum

Dj Chaps ao fundo e Talib Kweli à dir. mostrando os sons de Eardrum (E. Ribas)

A única coisa que parece não ter funcionado da melhor maneira foi a comunicação entre público e MC, já que às vezes não rolava a interação esperada. Em uma das vezes, Rodrigo Brandão auxiliou Talib e traduziu uma frase, pedindo para o público fazer o máximo de barulho possível. Aí sim, a resposta foi imediata.

Em uma apresentação passada, mais especificamente a do grupo Jurassic 5, o MC Kamau fez a tradução do que era dito pelos rappers, e isso funcionou muito bem. Uma homenagem à velha escola foi feita por Talib Kweli e o Dj EQ, que tocaram clássicos do rap e chamaram b-boys ao palco para ilustrarem essa parte do show. Falando em homenagem, Talib fez questão também de homenagear nos dois dias o Dj Primo. “This one is for you, Primo!”

R.I.P. Dj Primo

Kamau revelou em vários momentos que aquele era um show muito especial para ele. O principal motivo foi a ausência de alguém que participou de todo processo do disco e era ainda uma das figuras mais queridas e respeitadas no rap brasileiro. Dj Primo morreu em setembro deste ano, vítima de uma pneumonia, e foi, sem dúvida nenhuma, o grande homenageado do Indie Hip Hop 2008.

Não só Kamau, como todos os grupos envolvidos, incluindo Talib Kweli, prestaram homenagens ao amigo, em formas de músicas, palavras…e até uma performance especial do Dj Kl Jay dedicada à Primo, com imagens suas no telão. Muita emoção na frente do palco, onde estavam os pais e familiares de Alexandre Muzzilo Lopes, o Dj Primo.

* Texto e fotos por Daniel Cunha e Eduardo Ribas.
** Props to Karolina (pelo vídeo), do blog Fita K7.

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8 Respostas

  1. Oga

    Parabéns amigos do Per Raps, ótima resenha!

    Grande abs

    dezembro 19, 2008 às 06:15

  2. Per Raps tá de parabéns! Matéria sensacional! E o voto já tá computado! hehehe Abraços, rapaziada! (*Nota no Últimas do Bocada Forte)

    dezembro 19, 2008 às 11:22

  3. Underlock

    Bacana pra caramba…é legal lermos algo que vimos.
    Uma matéria nesse estilo para eventos anteriores iria ser muito bom (só pra recordar)

    Abraço

    dezembro 20, 2008 às 04:55

  4. chega logo Indie 2009…
    parabéns pelo excelente blog !!

    dezembro 20, 2008 às 19:07

  5. doncesao

    salve rapa!!! ae venho aki mais uma vez elogiar o trampo de vcs , parabens pelo trabalho ! vamo q vamo !

    dezembro 21, 2008 às 23:57

  6. Salve galera sou de Curitiba e a gente tem um prog no youtube… se puderem conferir la no blog tem uns video do que rolou no Indie
    SCRATCHNASRUAS.BLOGSPOT.COM

    ABS!!!!

    dezembro 23, 2008 às 12:40

  7. douglas souza

    salve, galera! tudo bom por ae? parabens pelo trabalho, ficou loko hein?! olha só, tem como vcs me mandarem uma lista de cantores de hiphop? se tiver blz, se nao der, ta bom tambem! ate a proxima, fiquem com deus.

    fevereiro 23, 2009 às 22:34

  8. Diogo

    Parabéns pelo site,

    Eu gostaria de saber qual foi a musica q tocou depois de Gangstarr – Full Clip. Valeu!

    abril 28, 2009 às 00:49

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